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A posição do bem-sucedido nas organizações

3. LISTA DE GRÁFICOS

5.2 As reportagens

5.2.4 A posição do bem-sucedido nas organizações

A terceira categoria de análise trata da posição que o bem-sucedido ocupa nas organizações. Aqui não poderia haver indícios mais claros de que ele está no topo. Para perceber isso, fizemos a contagem dos repertórios usados para qualificá-lo dentro das companhias, como pode ser visto no Apêndice M e no quadro 2.

Quadro 2 – A posição do bem-sucedido na organização conforme Exame

Posição do bem-sucedido na organização Número de citações

Presidente 25

Outros nomes para o posto mais alto 11

Referências à alta posição, sem o nome da função 4

Vice-presidente 14 Diretor 22 Dono de negócio 13 Vendedor 2 Designações diversas 9 TOTAL 100

Fonte – Elaborada pela autora da tese.

Das cem referências a cargos ou funções do bem-sucedido encontradas nas reportagens, houve vinte e cinco mencionando diretamente os presidentes (TRABALHAR..., 1971; NO QUE DEU..., 1975; UMA NOVA..., 1988; SEU NOME..., 1990; HÁ UM ABISMO..., 1993; ROSSETTO, 1996 a; FONTOURA, 1996 b), além de outras onze que usavam diferentes denominações para falar do posto mais alto da companhia: três superintendentes, três CEOs, um homem-chave da empresa, dois executivos-chefe e dois principais executivos (TRABALHAR..., 1971; CASTANHEIRA, 1996; MENDES, 1995; BERNARDI, 1997 a; COEHN, 1998 b). Por quatro vezes o texto trazia sinais de que a pessoa bem-sucedida está no ápice da hierarquia organizacional, sem dizer claramente o nome da função ocupada: numa delas, falava em postos de liderança; em outra, afirmava haver apenas um pequeno grupo capaz de demitir o personagem, de onde se conclui que ele tinha cargo alto; numa terceira, falava em subir na empresa e, na última, em chegar ao topo da companhia (É PRECISO..., 1990; BERNARDI, 1997 c; GARCIA, 1998 b).

Outras vinte e duas citações diziam respeito a diretores (sendo dois diretores gerais, um diretor de marketing, um diretor comercial, um diretor de vendas, um diretor de área internacional dentre outros) (BARTOLOMÉ e EVANS, 1980; O EXECUTIVO..., 1990;

ASSEF, 1994; CASTANHEIRA, 1996; MENDES, 1995; BERNARDI, 1998). Treze personagens descritos nas reportagens eram vice-presidentes, dois dos quais vice-presidentes executivos, um vice-presidente de finanças, um vice-presidente de business, um vice- presidente de recursos humanos, um vice-presidente de apoio logístico e um vice-presidente de subsidiária (COMEÇAR..., 1989; A TURMA..., 1992; MARIACA, 1995; STEINBERG, 1998). Outras treze menções diziam respeito a proprietários de negócios, ainda que se usassem nomes distintos para caracterizá-los: quatro eram chamados de empresários, três de proprietários, dois de donos, dois de sócios e um de empreendedor (MENDES, 1995; ROSSETTO, 1996 a/b; A TEORIA..., 1992; MARIACA, 1995; SGANZERLA, 1996; RESPONDA..., 1989).

Por nove vezes utilizaram-se cargos variados para qualificar esse indivíduo (NO QUE DEU..., 1975; SGANZERLA, 1996; CASTANHEIRA, 1996; FONTOURA, 1996 a): um assistente da presidência, um professor de administração, um coordenador de seleção e desenvolvimento, um membro do conselho, um coordenador de marketing de produtos, um executivo de marketing e desenvolvimento, profissionais liberais, um controller corporativo e até o Donatário da Capitania de Pernambuco, usado como ilustração de alguém que tornou a terra produtiva e alcançou excelentes resultados, mas não foi reconhecido por isso, na matéria que critica a indústria do fracasso (CALDEIRA, 1995). Ainda que tratando de funções tão distintas, uma delas inclusive de caráter político, todas essas nove citações mostram pessoas ocupando posições de relevo; nenhuma delas está no chão de fábrica, nenhuma trabalha na base operacional ou na linha de frente da organização. Isso apoia os resultados encontrados e a constatação de que, para a Exame, o bem-sucedido frequenta um meio restrito e privilegiado, nas empresas: o topo.

Também a reforçar essa constatação está o fato de que o cargo de vendedor, o mais baixo na hierarquia organizacional dentre os mencionados, foi citado em apenas duas ocasiões (vendedor de seguros e computadores e vendedor de ações na bolsa) (TRABALHAR..., 1971) para falar de bem-sucedidos.

Quanto a essa questão, cabe ainda lembrar que, de acordo com o que é mostrado na publicação, para alguém ser considerado uma pessoa de sucesso não basta ocupar altas posições. É preciso ocupá-las em grandes companhias, organizações de relevo e de prestígio que agreguem ao indivíduo qualidades que ele valoriza, como uma espécie de sobrenome

nobre ou pedigree. Sua importância é frequentemente medida em termos de faturamento, número de funcionários e área de atuação. Boa parte delas é, portanto, multinacional. Algumas das citadas incluem Nestlé, Shell, Avon, Arthur Andersen, New Holland, Rhodia, Xerox, Credicard, Young & Rubicam, Chrysler. Dentre as nacionais, estão TAM, Votorantim, Itaú Seguros, Abril, Vila Romana, Gradiente e Tec Toy entre outras. Quando a organização de que trata a matéria é menos conhecida, às denominações de cargos seguem-se dados que a caracterizam: “[...] aos cinquenta e oito anos, personagem de histórias atribuladas, ele já é proprietário de quatro empresas, que faturaram cerca de oitenta milhões de dólares no ano passado” (A TEORIA..., 1992, p. 44) ou “[...] o empresário gaúcho Fávio Scaf, cinquenta e quatro anos, presidente do Grupo Edel, de construção, seguros e shoppings, com um faturamento de duzentos milhões de dólares em 1995 [...]” (ROSSETTO, 1996 a, p. 81). A ideia é que o porte da companhia venha, assim, a legitimá-la, transferindo para o profissional em questão boa parte de seus atributos. A essa noção de tamanho, a empresa acopla sentidos de potência, nobreza ou perfeição, oferecendo-se como principal referência do indivíduo, fonte de identidade, amor e reconhecimento que suaviza seu sentimento de fragilidade e atende seus anseios narcisistas (FREITAS, 2000; 2006).

De qualquer forma, fica claro que, segundo Exame, o bem-sucedido ocupa posições para as quais há nomes diferentes em distintas estruturas organizacionais (presidente, diretor, superintendente, CEO, dono). No entanto, elas mantêm em comum uma característica evidente: referem-se a quem está no topo das organizações.