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O sentido do sucesso: um problema

3. LISTA DE GRÁFICOS

3.3 O sentido do sucesso: um problema

A revisão bibliográfica sobre o assunto evidenciou a predominância de trabalhos em que a noção de sucesso, ligada a aspectos materiais e extrínsecos, é criticada. Poucos são os que analisam essa ideia sem questioná-la, contestá-la ou mostrar os problemas que acarreta. O uso de termos como “[...] armadilha” (O´NEIL, 1993, p. 12; TANURE, CARVALHO NETO e ANDRADE, 2007, p. 166) e “[...] prisioneiro” (TANURE, CARVALHO NETO e ANDRADE, 2007, p. 168), e de expressões como “[...] condenação ao sucesso” (GAULEJAC, 2007, p. 216), “[...] prisioneiros do sucesso” (EVANS, 1996, p. 22) e “[...] vítima do próprio sucesso” (PAHL, 1997, p. 104) demonstra um pouco da muita restrição que existe quanto ao tópico. Esses autores, assim como os que serão citados nos próximos parágrafos, comentam a noção de sucesso tratando de épocas diferentes e realidades distintas. Partem também de múltiplas perspectivas, mas foram aqui reunidos indiscriminadamente porque apontam consequências que, embora variadas, mostram-se igualmente danosas à felicidade do indivíduo, aos resultados organizacionais ou ao bem-estar da sociedade como um todo, e é sobre elas que nos concentraremos.

Em termos dos estudos ligados às organizações, por exemplo, Callaman (2003) discutiu um resultado indesejável que o foco no sucesso, visto em termos puramente objetivos, é capaz de trazer. Segundo ele, apesar do discurso que pede funcionários proativos e críticos, as empresas recompensam a conformidade, valorizando quem se dispõe a apresentar lealdade cega à organização. Assim, executivos podem se dispor a violar padrões éticos e legais, tomando ou aceitando passivamente decisões equivocadas, em nome de uma carreira bem- sucedida, o que ficou evidente com escândalos recentes como o da Enron. Chusmir e Parker (2001), por sua vez, sustentam que as empresas não têm conseguido preencher distintos sistemas de valores, como os de homens e mulheres, por não reconhecerem que o sucesso não é o mesmo para ambos os gêneros. Kim (2005) chegou a uma conclusão próxima, ao perceber que a noção de sucesso que orienta as carreiras dos empregados é comumente desconsiderada quando da definição de intervenções organizacionais, como incentivos de desempenho ou sistemas de mobilidade. Também para o autor, é preciso levar em conta suas interpretações pessoais sobre o assunto.

Simon (1996) fez comentários desfavoráveis a respeito do discurso organizacional sobre o sucesso, nada neutro em termos de gênero e problemático para as mulheres. Num ambiente de trabalho organizado masculinamente, seria difícil para elas alcançar o sucesso conforme assim o definem: pela habilidade de levar vidas equilibradas e gratificantes. Na mesma direção, Pahl (1997) acusa a visão social do sucesso de ser individualista, masculina, unidirecional, inflexível, baseada em aspectos materiais e na mobilidade. Crítico ferrenho desse modelo, para o autor, a noção de sucesso trouxe mais complicadores do que soluções, porque a ânsia por ele acabou instaurando uma espécie de neurose coletiva moderna, em que quem mais trabalha é quem, teoricamente, menos precisaria fazê-lo. Junto a outros estudiosos, ele aponta que a busca pelo sucesso tem trazido efeitos nocivos para várias pessoas, inclusive aquelas que já o alcançaram, conforme mostram os dados que obteve em entrevistas com altos executivos.

Numa linha semelhante, Tanure, Carvalho Neto e Andrade (2007) se inquietaram com o aparente desequilíbrio na equação sucesso-felicidade de vários profissionais. Dedicando-se a investigar o universo dos bem-sucedidos, encontraram indivíduos bem posicionados social e profissionalmente, mas, muitas vezes, insatisfeitos em termos pessoais. Segundo os autores, 76% dos participantes do estudo não se consideram felizes – resultado inquietante tanto para quem precisa fazer as organizações funcionarem melhor, quanto para qualquer um com

mínimas preocupações humanísticas. Os sujeitos dessa pesquisa relacionaram essa insatisfação à assimetria na distribuição de seu tempo, com a carreira predominando sob a vida pessoal, à sensação de incompetência permanente, à ameaça ao orgulho vindo do reconhecimento social de sua posição, e ao peso do teatro corporativo, do qual participam em meio ao discurso empresarial que valoriza a qualidade de vida, mas em cuja prática “[...] ainda pega bem ser workahoolic” (TANURE, CARVALHO NETO e ANDRADE, 2007, p.83).

Korman, Wittig-Berman e Lang (1981), embora há mais de trinta anos, também pesquisaram executivos, encontrando reclamações de que não percebiam suas carreiras preenchendo necessidades pessoais, além de queixas quanto a fortes sentimentos de stress, menor habilidade para relacionamentos e perda de sentido em atividades cotidianas. Isso os preocupou porque carreiras executivas eram altamente desejáveis nos Estados Unidos, e o sucesso baseado em aquisições materiais e na supremacia competitiva se associava à satisfação pessoal, de forma que essas atitudes negativas de bem-sucedidos se mostravam grande fonte de angústia, eram contraproducentes para as organizações e poderiam trazer problemas sociais. Conforme os resultados da pesquisa, que desenhou um retrato desfavorável do sucesso, as fontes do que os autores chamaram de alienação pessoal estavam em expectativas frustradas, demandas por desempenhar papéis contraditórios, senso de controle externo e perda de associações afiliativas.

Tratando também da realidade dos bem sucedidos, O´Neil (1993, p. 21) analisou o que chama de “[...] sucesso mítico: poderoso elixir feito de riqueza, poder, privilégio e ausência de preocupação”, ligado ao American dream. Conforme o autor, essa noção de sucesso implica ideias questionáveis e assume pressupostos discutíveis, dentre eles a ilusão de que o sucesso é absoluto e definitivo (apesar de riqueza e poder não assegurarem felicidade eterna); o dinheiro é fundamental para o sentido do sucesso (o que transforma o dinheiro como padrão de valor moral puramente externo); o anseio por novas riquezas (se precisamos ser mais ricos e poderosos, instala-se um ciclo interminável de competitividade); a reação de ódio e amor diante do sucesso (seu alcance é satisfatório e ameaçador ao mesmo tempo, porque traz admiração e, junto a ela, inveja); o sucesso libertará o homem (se traz liberdade em relação a várias restrições, como o trabalho repetitivo e desumanizante, implica também circunstâncias supostamente libertadoras, às quais muitos se sentem presos). As consequências desse modelo foram reunidas, por O´Neil (1993, p. 27), sob a denominação de “[...] paradoxo do sucesso”:

segundo afirma, pessoas bem-sucedidas frequentemente sentem que suas conquistas profissionais não superam o sofrimento por que passam para alcançá-las. Estagnação, autoisolamento, alienação, problemas de saúde, vida familiar e espiritual comprometida e personalidades competitivas até mesmo no lazer apagam, muitas vezes, a satisfação pela realização e pelo crescimento.

Ainda sobre isso, Borges e Casado (2009) investigaram, num estudo que evidencia as consequências da luta pelo sucesso e da fuga do estigma de fracassado, o que diz a sétima arte sobre a carreira executiva. Diferente do pop management, em que ela é retratada pelo discurso do vencedor, nos filmes analisados pelas autoras o executivo é alguém com problemas para se adaptar às exigências da profissão, que toma decisões baseado em valores questionáveis, busca reconhecimento a qualquer custo e é incapaz de realizar trabalhos emocionais, chegando a apresentar comportamentos patológicos. Já Toledo (2006) observou os impactos das políticas de gestão das empresas na vida particular de jovens em início de carreira, retratando uma realidade permeada por angústia, cansaço e frustração. Para a autora, as organizações procuram comportamentos que fortalecem a ideologia do sucesso e, na busca de um comprometimento quase exclusivo, chegam a preterir quem tenta equilibrar vida pessoal e profissional. Segundo ela aponta, as pessoas, sendo seres relacionais, buscam reconhecimento e se submetem às demandas do mercado, com danos para sua felicidade e autonomia.

Há empresas se valendo disso para obter adesão acrítica e dedicação quase total dos funcionários. É esse, ao menos, o ponto de vista que defende Freitas (2006), para quem o poder das grandes organizações se constrói pela sedução e o carisma: em busca de identidade, dada a insegurança vinda da fragmentação de instâncias estabilizadoras, o funcionário veste a camisa da empresa, ainda que isso signifique que deva se despir de demais projetos de vida que não a incluam. Envolta em predicados humanísticos, a missão empresarial chama os empregados a se comprometerem e a dedicarem até a última gota de suor em nome de ideais que assumem como seus, muitas vezes, preterindo lazer, família ou demais interesses. Participando dos rituais, consumindo as histórias, admirando os heróis, usando a linguagem e buscando símbolos materiais que reforçam essa dinâmica, sentem-se membros desse seleto grupo cuja participação devem fazer por merecer. Nesse contexto em que se esperam resultados cada vez melhores, uma atmosfera de intensa competição acaba tornando o ambiente organizacional predatório, ao trazer relações humanas degradantes (FREITAS, 2000; 2005). Nesse cenário, amigos se tornam contatos, sonhos se transformam em projetos e

a existência pessoal passa a se resumir à carreira, ao trabalho, às organizações, estreitando ainda mais a relação entre o sucesso e o mundo produtivo e reforçando a ligação entre o termo e aspectos objetivos, como salário ou posição.

Ainda quanto aos custos dessa definição de sucesso, já há bastante tempo Ichheiser (1943) chamava a ideologia do sucesso de ilusão e se preocupava com uma educação que ensinava uma receita falaciosa (haja assim e tenha sucesso, quando na verdade fatores situacionais afetavam seu alcance). Merton (1968) via nessa ideologia uma fonte de anomia, indicando que pressões culturais rumo a uma vida bem-sucedida, sem que os meios para fazê-lo estivessem igualmente disponíveis para todos, levavam o indivíduo ao comportamento desviado. Coehn (1972) também via o sucesso ligado a um cenário anômico, o mesmo ocorrendo quando falava de fracasso. Ele enxergava que trabalho criativo, necessidades íntimas, relacionamentos e autorrealização eram negligenciados em busca do sucesso material, meta valorizada culturalmente.

Em termos mais recentes, Kasser e Ryan (1993) ligaram a procura por sucesso financeiro a consequências destrutivas, afirmando que o sonho americano poderia ser, na verdade, um pesadelo, com o que Swift (2007) parece concordar. Segundo a pesquisa do autor, o foco no sucesso financeiro é capaz de trazer felicidade, quando ligado a recompensas internas (dar suporte à família, receber justa compensação por seus esforços, sentir-se seguro e orgulhoso de suas realizações). Na mesma direção, Basuk (2001) alerta que o sucesso material baseado na industrialização não traz felicidade mas, também para ele, é esse o desejo da classe média norte-americana, que é maioria e deu o tom das maneiras e da moralidade do país, ditando uma visão-padrão que teria trazido, para o autor, pobreza espiritual e desarmonia.

De acordo com Huber (1987), se a ideia do sucesso ligada à questão da riqueza foi funcional à industrialização e ao crescimento econômico dos Estados Unidos, incentivando a ambição e, inicialmente, a moralidade das pessoas, por outro lado, o preço pago foi alto. Na ausência de critérios fixos determinados pela elite, pelo governo ou por outras instituições, o mercado é que definiu a medida material do valor de alguém; numa sociedade de tanta mobilidade, que outro critério poderia haver, a não ser o materialista? O dinheiro então estabeleceu seu status, e ganhá-lo se tornou essencial. Junto dessa visão do sucesso, veio a noção do homem como meio, não como fim, a ser usado conforme sua conveniência para ganhos pessoais. Relações se tornaram menos espontâneas e mais superficiais. Tornou-se difícil para as pessoas se

engajarem em relacionamentos devido, dentre outras coisas, à esterilidade emocional. O isolamento aumentou e, apesar do aparente ganho em liberdade, segundo o autor, as pessoas passaram a depender mais de avaliações externas: o caminho para o sucesso é relativo e o que se deve buscar é a aprovação dos outros, levando a necessidade de conformidade a níveis tirânicos e acarretando perdas quanto ao senso de identidade. Se antes o problema era ser respeitado, hoje está em ser aceito, e o fracasso pessoal é mais sentido porque não significa que não quiseram comprar seu produto, mas você.

Além disso, quando o sucesso é visto não como uma jornada, mas como um destino, sempre haverá pontos mais altos a atingir. Dessa forma, ele se torna fonte de status, mas também de stress, numa luta sem fim em que a inabilidade de lidar com situações ligadas à mobilidade, seja para cima ou para baixo, pode ocasionar o colapso físico. Por fim, tornando a autoafirmação econômica uma obrigação moral e a autorrealização um eufemismo para o egoísmo, segundo Huber (1987), esse conceito do sucesso contaminou até mesmo a esfera do lazer, impondo-se também no tempo livre: sendo o resultado do trabalho transformado em símbolos de lazer, este deixou de ser desinteressado e se ligou a fins de ascensão, abandonando as características de algo fora do universo produtivo voltado para a autogratificação e se tornando escravo do status ou instrumento de sucesso.

Ao comentar as aspirações da classe média norte-americana, espelho da mentalidade do país, Baritz (1989) também aponta consequências maléficas da adoção da riqueza como parâmetro de sucesso. Se o dinheiro é a medida pela qual uma pessoa se compara à outra, o que importa é o lugar de alguém na hierarquia econômica. Jogando por essas regras, fica claro que todo indivíduo de classe média tem, como destino final, o fracasso: sempre vai existir outra pessoa na frente dele. E sendo as relações humanas uma competição por postos, haverá ganhadores e perdedores em todo lugar, trazendo custos psicológicos como ansiedade e solidão, em relações mecânicas e vazias.

Detalhando um pouco mais os resultados desse modelo, o autor descreve o homem psicológico que substituiu o homem econômico e trocou competição por manipulação. Para Baritz (1989), esse tipo ocupa o que certamente seria o fim lógico da jornada norte-americana, e nisso e em muito mais os Estados Unidos foram modelo para o resto do mundo. Seu perfil é exatamente o que o mercado financeiro exige: isento de tudo o que o impede de pensar com clareza, vê na informação e na inteligência seu único suporte e, com isso, se afasta dos

sentimentos, inclinando-se à crueldade. Sua personalidade parece se dissipar com a ausência de guias. Modelo para estudantes e futuras gerações, ele despreza a política porque quer ser deixado em paz para acumular fortuna adicional e, também, porque a vida comunal não faz sentido, já que o outro não importa. Mede-se, assim como os demais, pelo prazer que oferecem. Liberado da cultura moral, ele abandonou todas as hierarquias, exceto a baseada em riqueza. Esse homem de mercado, que Baritz (1989, p. 315) chama de “[...] cidadão da república internacional do dinheiro”, está livre de antigas lealdades paroquiais e radicalmente sozinho, para aproveitar tudo o que, na visão do autor, o sucesso pode trazer: a felicidade produzida por objetos, a vida como trabalho, a inveja de estranhos e a liberdade para assistir às lutas dos outros, confortavelmente só.

Essa obsessão nacional por ganhar dinheiro e as pressões que a acompanham não são, individualmente, particulares à realidade norte-americana, mas, para Baritz (1989), todas juntas formam um quadro peculiar aos Estados Unidos, onde o problema parece mais grave. De acordo com o autor, um prejuízo adicional é que, num ambiente desses, a educação se torna um meio para servir aos objetivos de emprego e ascensão, sem preocupações com a reflexão e o coletivo, críticas que, como já foi dito, também fizeram pensadores brasileiros, sinalizando que o problema pode ser mais grave na realidade norte-americana, mas que nosso País não está isento dessas mazelas.

Considerando que este trabalho trata da importação de modelos, nesse ponto da análise cabe reparar que, numa comparação entre as pesquisas brasileiras e as estrangeiras aqui discutidas, é possível notar grande semelhança entre a maneira como o sucesso é definido no exterior e a forma como o enxergamos, no Brasil. Independentemente da origem dos estudos examinados, as críticas que se fazem a essa noção também se aproximam, dando indícios de que importamos um determinado sentido de sucesso e, com ele, os problemas que esse sentido ocasionou.

Subjacente a todos esses trabalhos, sejam nacionais ou não, antigos ou mais atuais, está a concepção de que o conceito de sucesso está ligado predominantemente a aspectos materiais, como renda e riqueza, além de elementos extrínsecos como reconhecimento, prestígio, status. Contudo, apesar desse sentido uniforme que lhe é atribuído, várias pesquisas já encontraram diferenças na definição do termo, variando conforme culturas (ROMNEY et al., 1979; STEINKAMP e HABTEYES, 1985; FAN e KARNILOWICZ, 1997; SWIFT, 2007; LEWIS

et al., 2010), gênero (PARKER e CHUSMIR, 1992; DANN, 1995; SIMON, 1996; CHUSMIR e PARKER, 2001; DYKE e MURPHY, 2006), ocupação (PARKER e CHUSMIR, 1992) ou gerações (STEINKAMP e HABTEYES, 1985; GEROLIMATOS e WORTHING 1999).

Esses estudos questionam a ideia de um sucesso padronizado, medido apenas por itens objetivos, e apontam que essa noção se liga, muitas vezes, a fatores além dos comumente associados a ela como, por exemplo, relações familiares e segurança (CHUSMIR e PARKER, 2001), equilíbrio (SIMON, 1996; DYKE e MURPHY, 2006), relacionamentos de amizade (STEINKAMP e HABTEYES, 1985), autorrealização (FAN e KARNILOWICZ, 1997) ou ainda realização do potencial emocional e criativo, conexões espirituais com o trabalho e paz de espírito (O´NEIL, 1993). Costa (2011), por exemplo, construiu um instrumento para avaliar a percepção de sucesso na carreira e percebeu que, mesmo dentro do universo corporativo, aspectos intrínsecos (percepção de competência, identidade, contribuição, cooperação, desenvolvimento, valores, criatividade) se mostraram mais importantes para a determinação da percepção do sucesso do que fatores externos como remuneração e promoção. A despeito disso, insiste-se numa noção relacionada a recompensas objetivas e materiais e aí estaria, para boa parte dos autores, um dos principais problemas do sucesso.

Acreditando nisso, muitos deles sustentam que o conceito deve ser estendido, passando a envolver essas distintas nuances, proposta que fica clara em vários estudos: para Steinkamp e Habteyes (1985), por exemplo, é preciso trabalhar a percepção de sucesso de alunos cujo background se choca com requisitos para a boa performance acadêmica. Problemas de pouco interesse na escola não implicam que eles não estejam motivados, mas que se motivam por elementos diferentes daqueles que a sala de aula ocidental valoriza (por exemplo, em vez de competição individual, solidariedade grupal). Salili e Mak (1988) chegaram a conclusões parecidas, defendendo que educadores terão melhores resultados com o ensino se conseguirem ampliar o conceito de sucesso de estudantes de baixo desempenho. Parker e Chusmir (1992) lembram que é preciso, também às empresas, expandir sua definição de sucesso. Para os autores, cabe às organizações entender o que isso significa para seus funcionários e funcionárias, e incluir em sistemas de recompensa aquilo que eles e elas valorizam como medida de sucesso. Em concordância com os dois, Simon (1996) afirma ser necessário desafiar a noção dominante de sucesso, alargando-a para que passe a incluir interesses femininos, capacitando as mulheres a prosperarem sem que precisem se tornar

clones do grupo dominante. Dyke e Murphy (2006) advogam igualmente que se acomode esse conceito multifacetado de sucesso, nele incluindo equilíbrio e relacionamentos, fatores que elas costumam considerar.

Ainda nessa linha que defende que o conceito passe a envolver outros elementos, Callanam (2003) acredita que a ideia de sucesso, mesmo quando direcionada para a carreira, deve também ser estendida, abrangendo aspectos subjetivos como satisfação individual e coerência com valores pessoais, porque essa perspectiva estreita que relaciona o termo somente a elementos objetivos acaba levando o indivíduo a comportamentos impróprios e antiéticos no trabalho. O´Neil (1993), por sua vez, aponta que essa noção vertical do sucesso já trouxe muitos problemas. Sustentando que somos vítimas de uma interpretação incompleta e deturpada do conceito, o autor defende a busca de uma definição para o termo de ordem diferente da correntemente aceita, mais profunda, saudável e capaz de integrar diferentes aspectos da personalidade, sendo sustentada por toda a vida. Também, de acordo com Pahl (1997), de fato é hora de rever essa concepção moderna de sucesso, que serviu como motor do iluminismo, mas já se esgotou, e buscar uma sociedade autossustentável e mais feliz. Dries, Peppermans e De Kerpel (2008) são outros que apostam numa ampliação do sentido do termo e na reavaliação dos critérios para se examinar o sucesso das pessoas porque, ao relacioná-lo a expectativas costumeiramente ligadas a dinheiro, poder e prestígio, estar-se-ia ignorando a realidade profissional que se apresenta, quando esses símbolos tradicionais parecem disponíveis para um número cada vez menor de pessoas, de forma que uma percepção mais diversificada acerca do que possa significar o sucesso é imprescindível. Afinal, como lembraram Siqueira e Freitas (2006), existem muitos candidatos para poucos lugares no topo ou, dito de outra forma, há pódios de menos para gente demais (ITUASSU e ITUASSU, 2011). Se por um lado a ideia de sucesso move as pessoas em direção a metas estabelecidas, para a grande maioria pode trazer também desgaste e frustração.

No entanto, apesar desse aparente acordo sobre os danos que um sucesso estreitamente ligado a elementos materiais e externos é capaz de trazer, e da consensual necessidade de se atrelarem a ele fatores de ordem intrínseca e subjetiva, nenhum desses autores aponta efetivamente como seria feita a extensão do conceito. Não fica claro nos estudos nem em que consistiria essa expansão, nem de que maneira seria obtida. Quem talvez mais de aproxime