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A prática docente antecipada assistida, visando inovação

Buscando Nova Pousada

Princípio 1. A prática docente antecipada assistida, visando inovação

do processo ensino-aprendizagem-conhecimento, promove desenvolvimento profissional no licenciando, mesmo durante o curso de formação inicial, permitindo o desencadear da constituição do sujeito-professor, com autonomia profissional.

A partir da segunda turma de Didática por mim assumida81, alguns universitários se

mantiveram como voluntários, formando um ‘núcleo’ de um trabalho mais duradouro. A partir desse grupo inicial, os alunos novos iniciavam o trabalho formando ‘parcerias’ com outros mais experientes. Ao relembrar sua permanência como estagiário no Clube de Ciências, Vicente

parece até envaidecido com a experiência que teve.

Eu me sinto (...) em um certo ponto privilegiado (...) quando eu entrei no Clube de Ciências, porque eu iniciei fazendo um trabalho com duas pessoas, dois profissionais que eu respeito muito (...). Então, elas me deram um grande apoio, um grande apoio mesmo. Elas me deixaram à vontade. Até mesmo porque essas duas pessoas são biólogas. E geralmente tinham alunos na turma que queriam fazer trabalhos de Exatas. Trabalhos de Química, Física. E eu por ser da área de Exatas - na ocasião eu fazia o curso de Química - já ficava com esses alunos. Tinha o acompanhamento delas e ao mesmo tempo elas me deixavam à vontade para trabalhar com os alunos. E isso (...) fazia com que eu me sentisse mais à vontade (...) Tanto é que quando eu retornei (...), no 2º semestre de 82, eu ainda trabalhei com elas. Era um trabalho que acontecia de uma forma que eu era estagiário mas ao mesmo tempo orientava o grupo de aluno menor do que o grupo de alunos (...) [que] elas orientavam (...). Mas com isso já iniciava, já era um trabalho de iniciação. Claro, sempre buscando apoio nelas. (...) Depois fui me soltando e não teve grandes problemas.(Vicente, 1997)

Vicente inicia seu estágio enquanto aluno de Didática com duas colegas mais experientes, de área diferente da sua. Ao mesmo tempo que recebe orientação, recebe também a incumbência de orientar um subgrupo dentro de um grupo maior, coordenado pelas duas colegas. Ele se sente à vontade para trabalhar com os alunos, ou seja, já vai tendo alguma autonomia de ação. Sabe que a qualquer momento pode discutir, pode tirar dúvidas, pode pedir sugestões... mas já está também deixando o professor Vicente se manifestar e se desenvolver. Ao ter compromisso com um pequeno número de alunos e poder contar com o apoio sempre que necessário, Vicente foi se soltando, ou seja, foi tomando iniciativas, tendo alguma autonomia... Ele sentia a liberdade necessária para ir se constituindo professor, de um jeito próprio. Nesse sentido, entendo, com FREIRE (1999:121)que

81 Trabalhei com turmas de ‘Didática de Ciências’ do 2º semestre de 1979 até o 1º semestre de 1983, inclusive. No 2º semestre desse ano assumi, por solicitação do Departamento responsável, uma turma de Prática de Ensino de Ciências. No ano seguinte, além da Ecologia, assumida desde março 1979, estava também responsável pela coordenação do primeiro projeto interinstitucional de formação continuada, financiado pela CAPES e precisava deixar alguma coisa, pois não havia disponibilidade de tempo para tudo. Decidi, então, não assumir turmas de Didática, a partir de 1984.

A autonomia (...) é processo, é vir a ser. Não ocorre com data marcada. É nesse sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas de liberdade.

Essa prática de liberdade para tomadas de decisão e para o desenvolvimento da autonomia profissional progressiva, fundamentada à época em ROGERS(1977), LEWIN(1973) E DEWEY(1976) possuía como marcas o caráter coletivo da discussão constante e de tomadas de decisão no grupo, a produção coletiva, que envolvia a construção de normas, critérios, limites, desafios... na interação com o outro, também defendida por PIAGET em suas obras como importante na construção progressiva de autonomia, em oposição à heteronomia, quando as normas, limites, regras... são colocadas ao indivíduo ou ao grupo por elemento externo KAMII (1988).

No Clube de Ciências, as parcerias costumavam se dar no sentido de reunir alunos universitários de sub-áreas diferentes com o intuito de que a interação ocorresse de modo mais efetivo, até porque tínhamos a preocupação da ciência ‘globalizada’, como comentei no início deste capítulo. Esse qualificativo ‘globalizada’ referia-se a uma discussão presente à época sobre Ensino Integrado de Ciências ou Ciência Integrada... Nós resolvíamos o problema, procurando abordar o estudo do fenômeno como um todo, buscando os vários enfoques, independente das fronteiras de área. Exemplificávamos com o fenômeno da digestão, que carrega em si aspectos físicos e químicos, além dos biológicos... e que precisaria ser compreendido nesse aspecto amplo. Fernando tem consciência de sua mudança nesse sentido:

(...) Através da Professora Cristiane82, eu comecei a trabalhar

também com Ciências... E, nesse primeiro momento, eu estava fazendo o Curso de Matemática, trabalhando um pouco com Ciências, um pouquinho com Matemática, eu já começava a vislumbrar uma idéia de multidisciplinaridade, de interdisciplinaridade, da coisa não muito compartimentalizada. Posteriormente, em função do trabalho que a gente começou a desenvolver, eu me envolvi com um grupo de Matemática, a partir de uma Olimpíada que foi realizada, e aí em função da necessidade das crianças terem um programa definido, ter a matéria Matemática... mas também nós professores, tendo essa visão menos compartimentalizada, mais geral, nós começamos também a construir uma proposta de ensino de Matemática – específica de ensino de Matemática – mas com essa visão mais global. E também com todos os aspectos que a gente discutia na época, como

a necessidade do lúdico, a necessidade do material concreto. (Fernando, 1997)

Assim como Vicente, Fernando forma parceria com uma colega mais experiente que, apesar de ser uma aluna de Matemática, estava trabalhando com vegetais, provavelmente por ter sido opção das crianças. Mas trabalhava numa visão mais ampla de Ciências, o que permite a Fernando perceber hoje que foi aí que passou a ter uma visão menos compartimentalizada de Ciências, que mesmo trabalhando especificamente com Matemática, um pouco mais tarde, no Grupo de Matemática,83 também assume essa

visão mais interdisciplinar da própria Matemática, o que se caracterizava como algum avanço, além de trabalhar aspectos outros que estavam em voga naquele momento.

Há, expresso no episódio acima, um movimento de Fernando, no sentido de sua própria constituição de professor, ao perceber uma ênfase menos compartimentalizada no ensino de Ciências que fazia em parceria e buscar também em Matemática uma visão mais ampla, mais global dos aspectos estudados. Ele situa melhor como se dava essa prática docente já antecipada e assistida:

(em 1982...) Logo que eu fiz matrícula, eu entrei no Clube e como aluno de Matemática. No primeiro ano eu fiquei acompanhando. No primeiro ano, não, no primeiro semestre. (...) Eu ia aos sábados. Acompanhava a Cristiane. (...) No 1º semestre, fiquei trabalhando com ela na orientação de projetos, atividades de redescoberta... No 2º semestre eu fui desenvolver o projeto num grupinho de crianças. Eu lembro que era um trabalho com vegetais, crianças de 3ª série. No ano seguinte, aconteceu a Olimpíada e a gente ia iniciar o trabalho de matemática. Aí a Cristiane saiu e o Tadeu também assumiu (...) a Direção do Centro. Aí eu disse: ‘- o que é que eu vou fazer agora com Matemática? Eu não sei o que trabalhar... Mas aí, como a idéia tinha ficado (...), eu fui para a biblioteca, peguei uma porção de livros, procurei e fiz várias atividades. No princípio, atividades soltas... Depois, com o passar do tempo, passei a fazer uma relação entre essas atividades, de forma que nós tivéssemos uma programação. (Fernando, 1997)

Fernando, numa situação similar a de Vicente, acompanhou sua parceira nas atividades que desenvolvia, durante o primeiro semestre para, no segundo, assumir

83 O Grupo de Matemática era um grupo de estudantes universitários que trabalhavam com alunos do Ensino Fundamental e Médio oriundos da Olimpíada de Matemática promovida pelo Clube de Ciências e Departamento de Matemática, através do Prof. Tadeu Oliver Gonçalves. O Prof. Fernando, mesmo enquanto aluno, participava e mais tarde ficou na coordenação, não só da Olimpíada como do grupo de alunos e de colegas que formavam o Grupo de Matemática.

alguns alunos daquela turma, já orientando projetos de investigação, sob orientação de sua parceira.

Por contingência de seus colegas mais próximos, Fernando viu-se, em semestres posteriores, de repente sendo o “mais antigo” em Matemática. O primeiro sentimento foi de uma certa apreensão: - O que é que eu vou fazer agora? Apesar de sentir-se só a idéia tinha ficado e ele assumiu o desafio de buscar, de tentar fazer. Mesmo que de início as atividades tenham ficado um tanto soltas, Fernando depois construiu uma relação entre elas... Estava tendo iniciativas, buscando alternativas, tomando decisões, estava produzindo... Fernando estava, progressivamente, constituindo-se um profissional com alguma autonomia no seu modo de ser professor... Havia tido um modelo inicial: a Cristiane, mas não parece reproduzir, simplesmente o modelo, pois é capaz de produzir... O assunto é outro, o grupo é outro... o que ficara fora a idéia... Parece tratar- se do processo de imitação na perspectiva tanto de SCHÖN (1992) quanto de VIGOTSKI (1989), que não apresentam nem lidam com a imitação como mera cópia ou reprodução, mas como elemento inerente a um processo de interação com o outro, de “modelação”, no qual ocorre a presença de um modelo inicial, imprescindível, mas não rígido, flexível, a partir do que o sujeito re-cria, re-inventa, colocando a sua marca, construindo a sua singularidade.

Esse era o modo de introduzir os alunos de “Didática de Ciências” ou alunos universitários que, como Fernando, buscavam espontaneamente o Clube, ou seja, através de parcerias, ao mesmo tempo estudando e discutindo aspectos teóricos sobre ensino- aprendizagem-conhecimento de Ciências e Matemática, numa abordagem que procurava não dissociar conteúdo forma, ensino-pesquisa, teoria-prática. Quando o trabalho havia crescido tanto que não me foi mais possível oferecer a turma de Didática de Ciências, abríamos inscrições para ‘estagiários’ no Clube de Ciências, introduzindo-os de modo coletivo e depois cada um começava a trabalhar com uma turma de crianças, em parceria com um colega mais experiente. Geraldo foi um desses alunos ‘pós-didática’. Conta que

(...)Tudo começou em abril de 1988. (...) nós participamos da 1ª reunião. (...) foi uma reunião rápida para que a gente pudesse ter mais ou menos idéia do que é que era(...) No outro dia (...) [a coordenação] nos deixou para conversar com a professora Anita, que era um membro do Clube de Ciências (...) há muito tempo (...). Um dos critérios de seleção era a gente (...)

participar (...) de várias sessões de estudo para nos fundamentar teoricamente(...). Continuamos essas reuniões, sob a orientação da professora Anita e foi até uma seleção muito interessante. À medida que os estudos iam sendo intensificados, o número de interessados ia diminuindo, tanto que foi a partir desse trabalho que ficou só (...) eu (...) selecionado como um estagiário mesmo. (Geraldo, 1997)

A introdução do candidato a estagiário passou a ocorrer, portanto, por meio de uma série de encontros para estudos, que já ficavam a cargo de membros mais antigos da equipe. Dificilmente os novos estagiários tinham algum tipo de bolsa logo de início, configurando-se muito mais como uma iniciativa pessoal, visando algo mais para a sua formação. Entendo que nesse período, a opção pelo trabalho também se tornava de algum modo mais consciente, pelo fato de não ser vinculado a nenhuma disciplina. Um indício disso foi o fato de que outros candidatos se afastaram à medida que as sessões de estudo foram ocorrendo. O fato de não haver bolsa inicial era outro fator que colocava em prova a decisão do interessado. De algum modo, creio que as condições existentes demandavam algumas característica subjetivas dos candidatos.

A bolsa veio depois de um ano. Era (...) uma Bolsa de Trabalho.(...) Bom, mas o que eu realmente estava interessado era em fazer o estágio e saber o que é que eu realmente poderia fazer enquanto um profissional na área de Ciências. E foi a partir daí que eu realmente tomei “gosto” pelo que realmente hoje eu faço. (Geraldo, 1997)

Alguma estrutura nessa época já nos possibilitava algumas bolsas para os estudantes. Não havia para todos. Por isso, era bastante comum os alunos universitários ficarem sem bolsa alguma por um ou dois semestres. Era ao mesmo tempo um período de iniciação, começando já a trabalhar em parceria com um dos orientadores já formados, enquanto entrava em disponibilidade alguma bolsa.

Mesmo sem bolsa, Geraldo começa a trabalhar com os alunos do ensino fundamental e médio, em parceria com Luci84, licenciada plena em Biologia. Nessa

ocasião, o Núcleo já dispunha de vários profissionais formados e experientes na proposta de trabalho, que vão introduzindo os novos universitários interessados em ali estagiar.

84 Luci foi minha aluna de Didática e fez parte do primeiro convênio com a Secretaria de Educação, integrando o grupo por mais de dez anos. Hoje é professora universitária no Centro de Ciências Biológicas e não estava fazendo parte do grupo, no momento da entrevista.

[A coordenadora] me chamou e disse que eu estaria agora sob a orientação de um Professor-Orientador, que no caso foi a Professora Luci, (...) e que a partir do mês de agosto desse ano de 1988 ela nos orientou no trabalho aqui no Clube de Ciências. E nós ficamos sob a orientação dela até (...) mais ou menos por volta de abril a maio de 89. (Luci, 1997)

Geraldo conta que foi a partir daí [do estágio] que eu realmente tomei gosto pelo que (...) hoje eu faço.

Nessa época o Clube de Ciências já contava com um grupo fixo de orientadores, resultado de acordos bilaterais UFPa – Secretaria Estadual de Educação e UFPa – Secretaria Municipal de Educação de Belém. Esses orientadores eram professores já formados que tinham iniciado no Clube de Ciências como estudantes universitários ou como recém-graduados.85 Anita é que estava, então, recebendo os novos estagiários e coordenando as sessões de estudos.

É possível analisar nessa relação formativa de parceria pelo menos dois movimentos formativos importantes: o do aluno universitário, que ia se constituindo professor na interação com seu orientador e com as crianças e a constituição do professor-orientador como formador, lidando ao mesmo tempo com o estagiário novo e com a criança, na situação concreta de aula e fora dela, na preparação da aula e dos materiais, nas discussões e reflexões sobre e nas situações de ensino-aprendizagem- conhecimento. (ZEICHNER, 1993; SCHÖN, 1992).

Geraldo foi o único dos entrevistados que parece ter se impacientado com o tempo de parceria e ‘ansiado’ por sua independência, por sua autonomia... É provável que essa ansiedade tenha sido decorrente de características subjetivas suas ou de sua orientadora ou até mesmo de ambos ou, quem sabe, resultante de algum processo- expectativa gerado durante as sessões iniciais de estudos pelas quais havia passado para ingressar. O certo é que Geraldo clamou por independência, por autonomia...

(...) Nós já sentíamos a necessidade de não estar mais com orientação da Professora, porque nós já criávamos naquela época a intenção de fazer as coisas independentemente, se é que podíamos fazer independentemente ainda

85 Dentre os entrevistados Sara, Vicente, Fernando e Georg haviam sido alunos de ‘Didática de Ciências’. Geraldo, Carlos e Beth entraram como estudantes de Licenciatura, em diferentes épocas. Anita entrou em 82, recém-formada e como estagiária. Só foi absorvida como professora-orientadora com a assinatura do 1º convênio, no começo de 84. Sara e Georg, apesar de terem sido alunos de Didática, afastaram-se logo após, e depois retornaram. Sara voltou depois de 12 anos e Georg depois de 5.

sob orientação e eu ainda não estava com o curso totalmente concluído. (...) Era mais ou menos assim: tudo o que eu fazia de produção escrita, as discussões que nós fazíamos, a produção, tudo o que nós fazíamos na época, eu tinha que prestar contas ao meu Orientador. Coisas, assim, tipo uma ficha de atividades que nós trabalhávamos e que eu tinha certeza que estava certa, estava adequada, estava bem elaborada, mas eu tinha que apresentar, eu tinha que prestar contas à minha Orientadora. E eu começava a me inquietar com aquilo. Porque eu tinha que estar: ‘ -olha, Professora Luci, está aqui. E ela também dizia: mas tá bom Geraldo, tu já pegaste o fio da meada, já está bem, etc. Eu disse: olhe, professora, no ano que vem, em 90, eu quero a minha turma para (...) trabalhar, porque eu (...) a expressão que eu usei foi (...): eu quero sair da barra da sua saia. Eu gostaria de estar independente para fazer o meu projeto, para escrever. Tanto que no ano de 1990 (...) nós trabalhamos com uma turma específica, nós trabalhamos com uma turma de Zoologia (...) (Geraldo, 1997).

Foi tão intensa a sede de independência de Geraldo que ao assumir a primeira turma desenvolveu um trabalho de Zoologia, ao invés de Botânica, como vinha desenvolvendo com Luci. Finalmente, saía da barra de sua saia!

Geraldo também associa de algum modo sua autonomia com a produção, a criatividade e a segurança no que fazia... eu tinha certeza que estava certo, estava adequado, estava bem elaborado...Parece não ser contra a orientação que se colocava, mas sim a favor de assumir uma turma sua, de modo independente, mesmo sem estar formado. Parecia haver alguma característica subjetiva que o fazia ansiar por autonomia, porque nós já criávamos naquela época a intenção de fazer as coisas independentemente, se é que podíamos fazer independentemente, sob orientação e eu ainda não estava com o curso totalmente concluído. Por outro lado, o anseio evidenciado pode ter sido desencadeado pelas sessões de estudo e outras atividades interativas de formação de que vai participando no grupo.

Geraldo ilustra, portanto, uma fase em que os universitários eram introduzidos por meio de sessões de estudo que, de algum modo, permitiam algumas informações sobre o trabalho e um certo direcionamento para o estágio pretendido. Esse sistema parece que ainda atendia bem a iniciação dos universitários novos.

Lembro de um grupo de estagiários que eu mesma orientei, trabalhando com eles e um grupo de crianças, à guisa de um curso em serviço. Trabalhei com uma turminha de crianças que estavam sendo orientadas por uma estagiária já iniciada, discutindo os

projetos de cada grupinho de crianças. Apenas para ilustrar, gostaria de narrar uma situação de aula.

Era um retorno de feriadão. As crianças da turma de Viviane estavam desenvolvendo pequenos projetos. Levei os universitários para a sala e pedi que cada grupo de crianças contasse o seu trabalho. Juliana estava, com mais dois colegas, acompanhando a metamorfose de girinos. Tinham coletado as larvas no subsolo de um dos prédios do Campus e os haviam acomodado em um aqua-terrário de vidro, para que pudessem acompanhar as transformações que fossem ocorrendo. No último encontro antes do feriado, as crianças perceberam que a maioria dos girinos já possuía as patas traseiras. No retorno do feriado não havia nenhum girino, nem vivo, nem morto...

E Juliana contou tudo. Era nosso primeiro pedido aos estagiários: antes de escrever, as crianças deveriam contar oralmente, verbalizar, como dizíamos... E eu puxava as discussões em termos de hipóteses explicativas, como eu costumava dizer. “Se eles já tinham as perninhas de trás, poderiam ter surgido as da frente, naqueles dias de feriado. Então, eles se transformaram em sapo, porque como girinos eles ficavam dentro da água e água ainda tinha ali... se eles se transformaram em sapos, não conseguiam mais se alimentar como antes, porque saíram da água. Como não tinham comida, poderiam ter morrido – o que não parecia ser, porque já haviam procurado na terra – ou ter pulado o terrário para procurar o que comer.”

Perguntas daqui e dali e Juliana e seu grupo respondendo, levantando hipóteses, fazendo perguntas... Até que Juliana disse: “Bem, a gente pode começar tudo de novo. Só que daí vocês vão ter que me arrumar um daqueles ‘panos de mosquiteiro’ e um elástico bem forte pra eu amarrar bem firme no terrário, pra que eles não pulem para fora, mas possam respirar."

Episódios como esse são inúmeros. Mais rico ainda se tornava o trabalho com os