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ESCOLARES EUROPEUS DURANTE AS DÉCADAS DE 1980 E DE

2.1. A caracterização dos Manuais Escolares

2.1.1. A qualidade técnica e gráfica dos Manuais Escolares

Um dos aspectos que nem sempre é tido em consideração em investigações de análise de ME são as questões do ponto de vista técnico e gráfico. Mas sem dúvida que a dimensão analítica ligada ao campo da comunicação visual é fundamental para chegarmos a conclusões mais sólidas sobre a evolução do ME nas últimas décadas (Weinbrenner, 1992). Quando pretendemos analisar ME produzidos nas últimas duas décadas do século XX é fortemente notório o grande aperfeiçoamento a nível de design no ME. São vários os elementos de design que sofreram um crescimento na sua forma de utilização, tais como o grafismo das páginas e a utilização da cor. Seguin (1989, 53) confirma a nossa opinião:

“L’un des facteurs qui ont contribué le plus à l’évolution du livre scolaire, depuis les dernières décennies, est sans aucun doute l’utilisation et de la couleur (indépendamment du fait que les techniques de composition et d’impression se sont considérablement améliorées).”

Começando por centrar as nossas atenções de análise no texto de autor, quanto ao

corpo dos caracteres, verificou-se que a maioria dos ME analisados são adequados à

faixa etária a que se destinam, com uma dimensão equilibrada. Dos 62 ME analisados, 43 possuem um corpo de caracteres adequado e 19 não adequados59. Os ME dos países que se encontram desadequados à faixa etária quanto ao corpo dos caracteres são alguns dos ME da Espanha, da Inglaterra, da Suíça, da Roménia e da Polónia e todos os ME da Holanda, da Alemanha, da RDA e da URSS.

O nosso segundo aspecto de análise gráfica do texto de autor recaiu na

legibilidade, sendo igualmente na sua maioria de boa legibilidade (47 ME), 12 ME com

legibilidade razoável e apenas 3 ME com fraca legibilidade60. Destacam-se no grupo da

59

Considera-se adequado o corpo de caracteres do texto de autor que seja entre o tamanho 11 e o tamanho 14 e não adequado aqueles que são com tamanho inferior a 11 ou superior a 14.

60

Considera-se boa legibilidade quando os caracteres do texto de autor apresentam fontes mais redondas e mais geométricas de que é exemplo a Elvetica; de fraca legibilidade com a utilização de fontes mais orgânicas como a Linotext e de legibilidade razoável se são fontes com características que se situam entre as duas situações descritas anteriormente, ou seja, mais ou menos redondas e mais ou menos geométricas e/ou serifadas.

legibilidade razoável, os seguintes países: Espanha, Inglaterra, Holanda, Suíça, Roménia e Polónia. A República Democrática Alemã e a União Soviética são os territórios que evidenciamos com fraca legibilidade de texto de autor dos ME.

Relativamente à clareza da hierarquia, a maioria do corpus da nossa investigação apresenta essa clareza, o que ajuda a distinguir hierarquicamente os assuntos a tratar nas páginas de desenvolvimento de conteúdos (55 ME). Este facto é uma manifestação de cuidado na apresentação dos títulos e subtítulos com tamanhos e/ou tipos de letra diferentes. Apenas Portugal, a Roménia e a Polónia apresentam indicadores de falta de clareza de hierarquia dos assuntos a abordar, sobretudo em ME dos anos de 1980, com excepção da Polónia que ainda revela essa falta de clareza em 2 ME da década de 1990.

Concordamos com a ideia de Dale M. Willows transmitida por Silva (cit. em Silva, 1993, 210) relativamente à importância da análise dos documentos iconográficos nos ME:

“A ilustração é vista por vários autores de manuais, segundo Dale M. Willows, como “uma segunda maneira de comunicar e representar conceitos relacionados”.

De facto, a selecção iconográfica presente no ME revela muito sobre a didáctica e, igualmente, a qualidade de comunicação de ideias. Por isso, torna-se muito importante também este item de análise na nossa investigação. Assim, em relação à variedade da

selecção iconográfica dos documentos apresentados nos ME, distinguem-se as

seguintes áreas geográficas da Europa:

- os países em análise da Europa Ocidental e da Europa do Norte apresentam uma selecção iconográfica variada nos ME, com excepção apenas de 1 ME da Inglaterra e outro da Finlândia, ambos da década de 1980;

- a Europa de Leste distingue-se claramente na pouca variedade da selecção iconográfica, principalmente a Hungria, quer nos anos de 1980, quer nos anos de 1990; segue-se a Roménia e a Polónia, sobretudo na década de 1980, embora a Polónia também revele, ainda, essa pouca variedade nos inícios dos anos de 1990; e, finalemente, a URSS e a Rússia.

Relativamente ao equilíbrio entre a selecção iconográfica e o desenvolvimento

dos conteúdos verificou-se que praticamente todos os documentos iconográficos são

conteúdos. Tal apenas não acontece num ME da Roménia e num da URSS, da década de 1980. Porém, por vezes, acontece em alguns ME, a sequência dos documentos não corresponder à da apresentação do conteúdo no texto de autor do ME, privilegiando sobretudo um critério de organização gráfica das páginas, o que poderá dificultar a correlação entre os documentos apresentados e a sequencialização dos conteúdos.

Quanto à qualidade gráfica da selecção iconográfica, dos 62 ME em análise, 39 foram classificados como possuindo uma boa qualidade, apenas 14 sendo razoável e 9 considerados fracos. A Europa Ocidental e a Europa do Norte são as duas áreas da Europa que revelam, mais uma vez, maior qualidade gráfica, apenas as excepções da Espanha com 4 ME considerados somente razoáveis, 2 ME portugueses e unicamente 1 ME para países como Inglaterra, Holanda, Alemanha, Suécia e Finlândia. Porém, são todos ME da década de 1980, destes últimos países mencionados, facto que significa que houve uma evolução gráfica nos ME, até mesmo na Europa Ocidental e na Europa Nórdica entre os anos de 1980 e os anos de 1990. Pelo contrário, a Europa do Leste destaca-se como sendo a única área que possui ME de fraca qualidade na selecção iconográfica, sobretudo a Hungria com todos os seus ME em estudo, seguindo-se a Polónia com 2 ME, um para a década de 1980 e outros para a década de 1990; a Roménia e a URSS nos anos de 1980 e, finalmente, a Rússia.

O ME de História também sofreu alterações consideráveis como instrumento pedagógico-didáctico para aplicação de um determinado modelo pedagógico entre as duas décadas em estudo. Tal verifica-se quer do ponto de vista do desenvolvimento do texto de autor, quer pela quantidade e qualidade dos documentos seleccionados. O texto de autor predomina no ME da década de 1980 sobre qualquer outro elemento constituinte das suas páginas, não só pela sua extensão, mas sobretudo pela reduzida preponderância do documento no ME, principalmente na Europa de Leste e com muito menor incidência deste tipo de organização pedagógico-didáctica do ME na Europa Ocidental e na Europa do Norte. Ora, a conjugação destes dois factores, preponderância do texto de autor e escasso número e fraca qualidade de documentos, leva-nos a concluir pela aplicação de um modelo pedagógico-didáctico tradicional de base transmissiva de conhecimentos e de fraca incidência na análise de fontes. Constatámos que o aumento do número de documentos no ME da década de 1990, acompanhada de uma redução do tamanho do texto de autor, pelo contrário, indicia um modelo pedagógico-didáctico assente na análise de fontes e que caminha numa linha de

essencialidade no desenvolvimento do texto de autor. Estas alterações exigem o desenvolvimento da análise e interpretação pelo aluno e não meramente uma atitude passiva de recepção do conhecimento, ou seja, não é um modelo meramente transmissivo do conhecimento, mas também analítico e interpretativo, logo promotor do desenvolvimento de um conjunto de competências específicas da disciplina.

Assim, consideramos que a maior quantidade de documentos no ME na década de 1990 do que na década de 1980, é um indicador da manifesta evolução da importância da fonte histórica na didáctica da disciplina, bem como o papel que esta possui no desenvolvimento de um determinado modelo pedagógico. Uma vez que a didáctica da História tem como base a utilização da fonte histórica, a sua maior ou menor quantidade no ME constitui a sintomatologia pedagógico-didáctica da disciplina, ou seja, constitui um dado revelador do modelo pedagógico promovido também no ME. Iremos desenvolver este aspecto mais à frente no ponto 2.2.6. quando aludirmos às etapas metodológico-didácticas para o estudo da Guerra Fria.

Igualmente, a nossa análise permitiu-nos concluir sobre uma crescente preocupação de adequação do design do ME à faixa etária a que se destina entre os anos de 1980 e os de 1990. A franca melhoria da qualidade gráfica do ME tem repercussões na motivação do aluno perante o ME, pois um grafismo das páginas mais atractivo e mais apropriado à idade a que o ME se destina, quer no seu design da forma, quer no seu design da cor, constituem sempre elementos que influenciam o aluno no desenvolvimento de uma atitude empática com o ME. Assim, verificámos que houve uma progressiva adequação do ME à faixa etária do aluno a que se destina entre os anos de 1980, graficamente muito austeros na Europa de Leste e na Europa Ocidental e na Europa do Norte já com algumas preocupações de cor e de forma no ME. Nos anos de 1990 houve uma acentuada ascensão gráfica, por vezes, até com alguma profusão de cor mais excessiva, mas de facto muito chamativa da atenção do aluno.

Em resumo…

Desta análise retiramos sobretudo quatro conclusões:

- houve uma evolução positiva nas questões técnicas e gráficas entre as décadas de 1980 e de 1990 em todos os países em análise;

- a área geográfica da Europa que se destaca com menor qualidade técnica e gráfica é a Europa de Leste e, por oposição, a Europa Ocidental e a Europa do Norte revelam maior atenção para com estas questões;

- a Europa de Leste manifesta uma clara mudança de atitude perante estas questões a partir da década de 1990, sentindo-se um profundo contraste entre os ME da década de 1980 e os de 1990 com uma forte melhoria qualitativa no seu design;

- o ME revela diferentes modelos pedagógicos entre as duas décadas em análise, sendo sobretudo notória uma grande evolução pedagógico-didáctica nos ME da Europa de Leste.