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2 O LUGAR SOCIAL DE PRODUÇÃO DA RBH

2.3 A RBH E A CONSTRUÇÃO DO NÓS HISTORIOGRÁFICO

Portanto, fizeram parte destas mudanças uma nova normatização, a indexação da revista a padrões internacionais, uma nova relação institucional com a FAPESP, a impressão em uma nova editora, a Editora Marco Zero e, sobretudo, a redefinição do Conselho Editorial da revista. Notadamente dominado por historiadores da USP e da UNICAMP e de uma segunda geração de fundadores da ANPUH. Isto se explicita na proeminência de nomes como Déa Ribeiro Fenelón, Edgar Salvadori De Decca, Marcos A. Silva e José Jobson Arruda, tanto na organização editorial da RBH quanto na influência política, institucional e intelectual que vão exercer não só no PPGH a que estavam ligados, mas também no interior da ANPUH e da RBH. Esta redefinição editorial se expressa mediante o estabelecimento de novas relações institucionais da revista com as instituições de fomento à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, como indica o Conselho de Redação em editorial publicado nos números 8/9 da RBH:

A realização desse projeto, que implicou alterações profundas na editoração da RBH, não teria sido possível sem a confiança e a ajuda inestimável da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Com esse apoio pudemos alterar os padrões de editoração, tornando a REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA da ANPUH um veículo capaz de abrigar e incentivar os debates historiográficos brasileiros, além de divulgá-los também no exterior. (CONSELHO DE REDAÇÃO, RBH, 1984/85, p. 1)

Este é outro elemento muito importante para se pensar a constituição destes lugares de produção de conhecimento histórico no país. A atuação das agências de fomento à pesquisa e a obrigação que elas colocavam de divulgação das pesquisas patrocinadas com bolsas. A FAPESP terá um papel central neste processo, uma vez que grande parte dos historiadores que publicaram na RBH neste período

tiveram o financiamento desta instituição. Assim como alguns outros vão ser financiados pela CAPES e CNPq.

No biênio seguinte, 1985-1987, sob a presidência do historiador da UFMG Caio César Boschi29, esta tendência se acentua com alguns nomes estabelecendo-

se, nessa nova configuração da geografia disciplinar da historiografia produzida no país, como pontos incontornáveis. Neste momento há a entrada em cena no Conselho Editorial da Revista de mais três historiadores: Déa Ribeiro Fenelón, professora da UNICAMP, Anna Maria Martinez Corrêa professora da UNESP – Assis30 e Michael

Hall, professor da UNICAMP, e a saída de Edgard Salvadori De Decca. Permaneceram José Jobson Arruda e Marcos Antonio Silva da USP. Contudo, a saída de De Decca da Editoria da RBH não é aleatória e muito menos inocente (voltaremos a este ponto um pouco mais adiante). Por enquanto prossigamos com a RBH e sua formatação ao longo deste biênio. Os quatro números publicados naquele biênio trazem os seguintes temas: Terra e Poder (Nº 12), Cultura e Linguagens (Nº 13), Instituições (Nº 15) e Sociedade e Cultura (Nº 16). Como os temas podem sugerir, a grande novidade trazida pelos editores da revista é a introdução de temas, problemas, objetos ancorados numa perspectiva “culturalista”, ou melhor, a emergência de abordagens culturais de novos e velhos temas candentes na produção historiográfica daquele período, além da permanência dos temas e áreas de pesquisa já estabelecidos no biênio anterior. Nestes quatro números há a publicação de artigos que versam sobre o cotidiano das cidades e dos trabalhadores, sobre suas vidas fora e dentro das fábricas, sobre seus momentos de lazer e diversão, bem como a abordagem de temas diretamente ligados ao campo daquilo que começava a ser nomeado à época como “Nova História Cultural”, tais como música, sexualidade, a cultura popular, etc.

Continua predominando nestes números a produção da USP e da UNICAMP com 26 textos de autores ligados ou com passagem pelo programa uspiano

29 O historiador Caio César Boschi era, à época, professor da UFMG desde o ano de 1973. Fez sua

formação em nível de doutorado em meados da década de 1970 na USP, sob orientação da Professora Maria Regina Rodrigues Simões de Paula. Cf.

http://www.escavador.com/sobre/926823/caio-cesar-boschi . Acessado em 27 de fevereiro de 2016,

às 22:02 h.

30 A historiadora Anna Maria Martinez Corrêa é professora da UNESP – Assis desde 1967. Fez sua

formação em nível de mestrado (USP) e doutorado (UNESP – Assis) no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, sob a orientação de Eduardo D’Oliveira França. Cf.

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4780489U8 Acessado em 27 de

e 16 pelo programa unicampista. Dos 15 textos restantes, quatro são de autores ligados a PUC-SP, três a UFF, os autores ligados a UFPB e a UFRJ contribuem com dois textos cada instituição, e a UFMG, UnB e UNESP – Assis comparecem com um, cada. Os textos publicados são tanto dos professores destes programas como de seus orientandos, bem como dos editores da Revista e seus orientandos que passam a ter um volume maior de publicações neste período, notadamente àqueles ligados à área de Ensino de História, na qual Déa Fenelón e Marcos A. Silva fazem uma dobradinha, não só publicando artigos de sua autoria, mas fazendo publicar vários de seus orientandos e orientandos de seus orientandos que vão ajudando a sedimentar a área de Ensino de História em torno de seus nomes e de alguns outros historiadores que orbitavam em torno deles e dos programas aos quais estavam filiados, a exemplo de Ernesta Zamboni, Elza Nadai e Maria Antonieta de Moraes Antonacci31.

Voltemos então a saída de Edgard De Decca da editoria da RBH. Esse, sem dúvida, um dos acontecimentos mais incisivos deste período. Os caros leitores entenderão o porquê. Como afirmei anteriormente, a saída de De Decca não foi aleatória ou inocente. Uma vez que Edgard De Decca havia sido convidado ainda em 1985 pela Editora Paz e Terra para dirigir a coleção “Oficinas da História”. É na direção desta coleção que ele usará toda sua influência política e institucional para levar a cabo o seu projeto de “renovação da historiografia nacional” a partir dos marcos estabelecidos pelo seu grupo dentro do PPGH da UNICAMP. De Decca vai se referir a este processo da seguinte maneira, em entrevista de 2001, já numa tentativa de cristalizar uma dada memória de sua atuação política e institucional neste processo de “renovação” da historiografia brasileira:

Eu considero uma felicidade minha ter sido responsável pela viabilização da tradução da obra do Thompson no Brasil, The making of the english labor class, quando dirigia a coleção Oficinas da História, na editora Paz e Terra. Com ele, começamos a aprofundar a questão

31 Para uma discussão mais aprofundada sobre a constituição da área de Ensino de História no Brasil,

em especial nas páginas da RBH, até o ano de 2001 conferir a tese de doutorado da Historiadora Margarida Maria Dias de Oliveira. Estudo no qual a autora destaca a importância da RBH para a constituição desta área no Brasil e o papel das redes intelectuais ligadas aos programas da USP e da UNICAMP neste processo. Cf. OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. O Direito ao Passado. Tese de Doutorado. Recife: UFPE, 2003. Há outro ponto a se destacar na emergência da área de ensino de História neste momento, principalmente entre os quadros da USP e da UNICAMP, a criação de um currículo mínimo para o ensino de História para a rede de ensino do Estado de São Paulo. A disputa em torno da concepção de curriculum e da ou das concepções de história que o norteariam produz uma disputa política e institucional bastante acirrada entre os algumas redes intelectuais que haviam se formado inter e intrainstitucionalmente.

do fazer-se dos sujeitos históricos, como os sujeitos históricos se constituíam; esse era o nosso projeto. Nós não vamos estudar os grandes sujeitos, mas os sujeitos anônimos, os “pequenos sujeitos”. Então o nosso projeto tinha um horizonte bastante nítido nesse aspecto. E nós tínhamos um respaldo intelectual enorme. Com o Thompson, com o Hobsbawn, você nunca está mal acompanhado, sempre tem uma retaguarda muito boa. Eu mesmo me correspondi várias vezes com o Thompson. Ele ficava bravo comigo...eu enchia o saco dele, procurando resolver problemas da tradução do seu livro... Apesar disso ele acabou me ajudando, porque era um livro difícil de ser traduzido. Eu fiz a revisão técnica e o livro foi publicado em três volumes em 1987. Depois desta publicação, ainda fui responsável por outro importante livro de Thompson, Senhores e caçadores, estudo indispensável sobre as relações entre a lei e o crime... A Unicamp já tinha um projeto de pós-graduação e pesquisa e dirigindo a coleção Oficinas da História tive a chance de divulgar algumas teses do nosso departamento e também a bibliografia internacional que se dedicava a este tipo de história “vinda de baixo” (sic). (MORAES e REGO, 2002, p. 272.)

De Decca, portanto, vai utilizar o espaço que lhe é concedido por uma editora comercial, uma das maiores do país a época, a Paz e Terra, para efetivar e divulgar o projeto unicampista de “renovação da historiografia nacional” para um público mais amplo do que aquele alcançado pela RBH. Neste sentido, as escolhas editoriais de De Decca para a publicação na coleção serão as mesmas que já havia praticado, junto com Déa Fenelón à frente da editoria da Revista. Ou seja, ele será o responsável por traduzir para o português e publicar a obra de E. P. Thompson no Brasil, evidenciando com isso uma postura teórica e metodológica que privilegiava a “história vista de baixo”. Postura essa que vinha sendo praticada tanto no programa da Unicamp quanto nas páginas da RBH com a ajuda de seus colegas de departamento, em especial Déa Fenelón. De Decca, aliás, vai se servir da contribuição de uma das suas orientandas, Denise Bottman, para fazer a tradução do principal livro de Thompson, A formação da classe operária inglesa, para o português. Ele será o responsável também pela tradução e publicação de outro importante livro para o estabelecimento desta perspectiva teórico-metodológica no país, que é Os excluídos da História de Michele Perrot.

No entanto, é importante fazer uma marcação metodológica em relação a fala de De Decca, para que possamos relativizá-la. Ela é uma fala em retrospectiva, feita no início dos anos 2000 e editada para compor um livro de entrevistas que tinha como objetivo configurar um “painel” da historiografia brasileira até então, produzido a partir das falas, relatos e conversas com alguns nomes desta produção

historiográfica selecionados e vistos pelos organizadores do livro como incontornáveis para a configuração do campo no país32; uma vez que segundo Moraes e Rego “a

legitimidade deste grupo se baseia na relevância de sua produção historiográfica e na autoridade e trajetória profissional de cada um deles, reconhecidas de maneira geral pela comunidade e fora dela” (MORAES e REGO, 2002, p. 18). Neste sentido, De Decca busca construir uma narrativa linear, quase monolítica de sua trajetória e das estratégias que, junto com seus colegas de departamento, haviam montado para “renovar a historiografia brasileira”. Ou seja, ele busca afirmar uma dada memória do programa da UNICAMP e apresenta-la como a memória de toda a historiografia brasileira daquele período.

Nesta memória construída por De Decca há algumas zonas de silêncio, como por exemplo a pouca relevância que ele vai dar a presença da obra e do pensamento de Michel Foucault entre os historiadores daquele período, em especial entre os da UNICAMP. Neste sentido há um duplo silenciamento operado por De Decca em relação a Foucault: primeiro em relação a sua própria produção historiográfica, em especial ao livro O Silêncio dos Vencidos, onde usa um vocabulário e uma metodologia claramente inspirada no filósofo francês, mas que não reconhece e nem explicita em momento algum de sua entrevista. Segundo, ao referir a “renovação” unicampista quase que exclusivamente à leitura de Thompson. Silenciando, mais uma vez, a presença do pensamento de Foucault na historiografia daquele momento, em especial aquela produzida a partir do Foucault de Vigiar e Punir, da sociedade disciplinar. Este Foucault se fará presente não só na produção de De Decca, como dito acima, mas também de alguns de seus orientandos como, por exemplo, na obra Do Cabaré ao Lar de Margareth Rago33. Isso devia-se ao fato de

32 Os historiadores entrevistados por Moraes e Rego são, pela ordem das entrevistas dispostas no livro:

Maria Yedda Linhares, Edgar Carone, Emilia Viotti da Costa, Boris Fausto, Fernando Novais, Evaldo Cabral de Mello, José Murilo de Carvalho, Maria Odila Leite da Silva Dias, Ciro Flamarion Cardoso, Luiz Felipe de Alencastro, Edgard De Decca, Angela de Castro Gomes, João José Reis, Nicolau Sevcenko e Laura de Mello e Souza. Um traço os une, a formação universitária, acadêmica de todos eles e o exercício da carreira nas pós-graduações, com exceção de Evaldo Cabral de Mello, diplomata de carreira. Neste sentido, estes nomes são colocados, também, como modelos daquilo que passou a ser nomeado no Brasil de historiadores profissionais. São antes de tudo, modelos de sujeito historiador.

33 Para uma análise mais apurada destas questões Cf. RAMOS, Igor Guedes. Genealogia de uma

operação historiográfica: as apropriações dos pensamentos de Edward Palmer Thompson e de

Michel Foucault pelos historiadores brasileiros na década de 1980. 2014. 543 f. Tese (Doutorado em História), Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista, Assis/SP, 2014. ______. Algumas falas sobre Michel Foucault, Edward P. Thompson e sua

apropriação pelos historiadores brasileiros. In: Simpósio Nacional de História, XXVII, 2013, Natal.

boa parte das obras de Foucault já terem sido traduzidas no país, desde a década de 1970, e já havia uma produção nacional de historiografia, só que feita por não historiadores – no sentido empregado a este termo, nesta tese, a do profissional formado nos programas de pós-graduação em história –, circulando desde então34.

Enquanto que as obras de Thompson ainda não haviam sido traduzidas, como afirma o próprio De Decca.

Desta maneira, é preciso ver a fala de De Decca como um discurso estratégico com o sentido de constituir uma dada memória que desse visibilidade aos autores estrangeiros que corroboravam e legitimavam a postura teórica e metodológica adotada na UNICAMP, sobretudo aqueles que melhor lhes servia como arma teórico-metodológica para atacar seus desafetos uspianos, em especial àqueles que interpretavam o passado a partir das teorias marxistas, em especial o marxismo estruturalista de matriz althusseriana, as vulgatas stalinistas e aquelas que no Brasil ainda bebiam na fonte do Partido Comunista Brasileiro – PCB, a exemplo da obra de Jacob Gorender, e na leitura de Caio Prado Jr., a exemplo de Fernando Novais e as discussões em torno do comércio metropolitano e o pacto colonial. Neste sentido, a visibilidade que De Decca vai dar a E. P. Thompson como o principal autor que contribuí para promover a “renovação” da “historiografia brasileira” do período tem um caráter muito mais político que teórico; pois, desta maneira, ele utilizava alguém oriundo do próprio marxismo para combater os marxistas brasileiros. Traduzir Thompson para o português, significava, neste sentido, dispor aos historiadores brasileiros uma arma intelectual de combate ao marxismo estruturalista de corte althusseriano e às vulgatas stalinistas ainda largamente utilizadas para explicar a realidade brasileira, e que ainda era bastante presente no país, em especial entre parte dos historiadores da USP. E uma arma investida de grande capital simbólico, uma vez que forjada nas próprias hostes marxistas e buscando renová-lo a partir de uma matriz culturalista.

Além disso De Decca foi responsável por publicar vários de seus colegas de departamento, como ele mesmo afirma, no sentido de afirmar a UNICAMP como o

historiográfica brasileira pós-década de 1980: um campo de batalha para modernos e pós-moderno.

Revista de Teoria da História, Goiás, Nº 7, 2012, pp. 128-155.

34 Ver, por exemplo, as obras de Jurandir freire Costa, Ordem médica e norma familiar, e Roberto

Machado, D(a)nação da norma. Cf. MACHADO, Roberto (Org.). Danação da norma: a medicina social e constituição da psiquiatria no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978. COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

lugar de renovação da historiografia brasileira. Nesse sentido, ele usou todo o poder institucional que capitalizou para dar visibilidade a historiografia produzida naquele programa, enfim para se estabelecer como um dos historiadores responsáveis pela guinada historiográfica que a historiografia profissional, acadêmica vinha atravessando, ou melhor, para dizer que a renovação que a UNICAMP promovia era a da própria historiografia brasileira. É por causa desta presença institucional e ação política de De Decca que Thompson se tornará uma leitura obrigatória e referência fundamental para algumas áreas de produção do conhecimento histórico no país, em especial a História do Movimento Operário, a História Social do Trabalho e a História Social da Escravidão. Há de considerar-se, também, que grande parte desta visibilidade adquirida por Edgard De Decca está relacionada a recepção e circulação de sua obra, hoje pinçada pela memória disciplinar da área à condição de clássica, O Silêncio dos Vencidos35.

De Decca, por exemplo, vai ser um dos responsáveis pela visibilidade que a História Social da Escravidão vai ganhar no Brasil a partir de então ao publicar a tese de doutorado de uma de suas colegas de departamento: Silvia H. Lara, na mesma coleção Oficinas da História, onde já havia publicado os trabalhos de Thompson. A publicação da tese de Lara, Campos da violência: estudo sobre a relação senhor- escravo na capitania do Rio de Janeiro, 1750-1808, estudo também claramente marcado pelo cruzamento do vocabulário thompsoniano com o de Michel Foucault, aquele dos corpos dóceis, do poder marcando e configurando o corpo dos escravos, respondia à formação de uma forte rede intelectual, política e institucional que buscava mover a produção historiadora para longe do espaço institucional da USP e das tradições historiográficas por ela encampadas, em especial a marxista estruturalista e uma certa imagem da tradição dos Annales. Buscava consolidar também a pós-graduação como o espaço legítimo, hegemônico não só de produção do conhecimento histórico, mas, também, como lugar central de validação do mesmo. Isto parece estar em consonância com aquilo que afirma o historiador Igor Guedes Ramos, em tese recém defendida, sobre a apropriação dos pensamentos de E. P.

35 Para um exemplo de como ocorreu esta circulação entre os pares e qual a importância da obra O

Silêncio dos Vencidos. Cf. RAMOS, Igor Guedes. Genealogia de uma operação historiográfica: as

apropriações dos pensamentos de Edward Palmer Thompson e de Michel Foucault pelos historiadores brasileiros na década de 1980. 2014. 543 f. Tese (Doutorado em História), Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista, Assis/SP, 2014.

Thompson e Michel Foucault pela historiografia produzida na maior parte dos PPGHs do Brasil ao longo dos anos 1980:

Em meados da década 1970, surgiu uma sistemática exigência de critérios, normas e procedimentos mínimos que definiram o lugar da produção historiográfica brasileira: criação, avaliação e regulação de instituições específicas de produção, implantação e maior estabilidade das linhas de fomento, normatização dos cursos de pós-graduação (implantação de linhas de pesquisa, sistema de seleção de ingressantes, estabelecimento de prazos, cumprimento de créditos, etc.); e, o que mais interessa aqui, comprometimento com a pesquisa em arquivos e a fundamentação em um número maior e variado de fontes (“fim do ensaismo”). Isto teve como um dos efeitos a procura de outras concepções teóricometodológicas que ajudassem a “dar conta” das “novas fontes” e dos “novos critérios” exigidos, favorecendo a penetração da História Cultural, da linguística, da antropologia, dos pensamentos de Foucault e de Thompson, etc.. (GUEDES, 2015, p. 2013)

Contudo, este discurso que procura estabelecer a centralidade dos programas de pós-graduação como o lugar privilegiado de regramento do conhecimento histórico e locus, por excelência, de profissionalização do historiador também não se constituiu de forma tão pacífica. Neste sentido, a constituição da nova História Social da Escravidão no país parece nos dar uma dimensão e fornecer um dos exemplos de como se processou esta construção. Em especial a partir da polêmica historiográfica estabelecida entre Jacob Gorender, Silvia H. Lara e Sidney Chalhoub que se inicia um pouco antes da efeméride dos cem anos da abolição da