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3 A RBH E A CONFIGURAÇÃO DO CAMPO HISTORIOGRÁFICO

3.3 CONFIGURANDO A GEOGRAFIA DISCIPLINAR DA

novos espaços e redesenhando antigos lugares e áreas

É, portanto, diante destas demandas que a RBH e a ANPUH adentram os anos 2000. Os limites de suas páginas e de suas instituições não comportavam ou suportavam mais à diversidade da historiografia produzida no Brasil. Ou melhor, a diversidade da historiografia profissional e acadêmica brasileira até o final dos anos 1990 ainda não havia se refletido nas páginas da RBH e, muito menos, nas diretorias da ANPUH. De forma a expressar a enorme e diversificada produção que vinha sendo produzida, sobretudo, nos programas de pós-graduação em História país a fora. Apesar das críticas e das acentuadas disputas internas a ambas instituições, tanto a ANPUH como a RBH ainda não haviam se aberto a esta diversidade. Sua representatividade ainda estava circunscrita predominantemente ao eixo São Paulo- Rio de Janeiro. A ANPUH vira o milênio sob a presidência de uma historiadora do programa da USP, Zilda Márcia Gricoli Iokoi e, no primeiro biênio deste novo milênio (2001-2003), será presidida justamente por outro historiador que, como vimos, foi um dos mais atuantes na construção desta centralidade da historiografia paulista sobre a historiografia nacional, Edgard Salvadori De Decca, da UNICAMP. Sob sua gestão a editoração da RBH ficará a cargo de uma de suas amigas e colega de formação, Maria Lígia Coelho Prado, professora da USP, que assim como De Decca havia sido orientanda de Carlos Guilherme Mota, e ela havia sido orientadora, no doutorado, de Zilda Márcia Gricoli Iokoi, presidente da ANPUH no biênio anterior. O que explicita, mais uma vez, as relações bastante próximas e as redes intelectuais que eram movidas por aqueles que ocupavam os principais postos de direção da Associação e da RBH, ainda predominantemente ligadas a USP e a UNICAMP.

No biênio 2001-2003 vão ser publicados 60 textos em quatro dossiês64. De

autores de 21 instituições diversas, muito embora a imensa maioria ainda sendo do centro-sul do país, notadamente das universidades paulistas, onde a USP continua sendo hegemônica entre os autores que publicarão na RBH naquele período, comparecendo com nada menos que 23 autores/historiadores ligados ao seu

64 Neste biênio serão publicados os seguintes dossiês: RBR Nº 42, Vol. 21, Espaços da Política; RBH,

Nº 43, Vol. 22, Tempos do Sagrado; RBH Nº 44, Vol. 22, Viagens e Viajantes e RBH Nº 45, Vol. 23, O Ofício do Historiador.

programa, dentre os 60 que aí publicaram. Naquele biênio a lógica de publicação foi praticamente a mesma dos anos anteriores, prevalecendo as redes intelectuais que formaram-se em torno de determinados historiadores oriundos dos programas da USP e da UNICAMP e que passavam a formar outros departamentos de instituições do centro-sul, mas que não haviam rompido com suas redes intelectuais anteriores, muito pelo contrário, as alargavam estendendo braços e tentáculos nos departamentos e cursos de pós-graduação para onde migravam depois de suas formações. Há, muito claramente, nos textos publicados um predomínio dos temas e objetos discutidos e trabalhados por estes historiadores nos seus programas de origem ou nos programas de seus orientadores, notadamente os programas das instituições paulistas que vão ser ainda no início do novo milênio àqueles que ditarão nas páginas da RBH os temas, objetos, problemas e abordagens dignos de publicidade historiográfica. Vai haver, naquele momento, uma clara ascensão de temas relacionados a chamada História Cultural, ou melhor dizendo, de temas que tratam de práticas e representações na esfera política, social, nas relações e trocas simbólicas entre grupos sociais diversos, no estudo do cotidiano e das práticas festivas e rituais em diferentes sociedades e tempos, assim como a presença de abordagens que privilegiam os excluídos da história, pensados a partir de suas práticas de significação e representação do mundo através das diferentes linguagens disponíveis. Há, portanto, uma ampliação dos temas abordados, dos objetos pesquisados e uma tendência maior ainda em o fazê- lo a partir do que se nomeava a época de História Cultural com uma forte influência dos estudos de Roger Chartier, Michel Foucault e Michel de Certeau, sobretudo as noções de prática, representações, cotidiano e discurso.

No biênio seguinte (2003-2005) este cenário se altera muito pouco, embora a ANPUH tenha sido presidida mais uma vez por um historiador ligado à Universidade Federal Fluminense – UFF, Luiz Carlos Soares. Apesar de Soares ter pouca ligação com os círculos e redes intelectuais até então hegemônicos na Associação, uma vez que fez toda a sua formação até o mestrado na UFF e o doutorado na University College London sob a orientação de Leslie Bettel entre os anos de 1983 e 198865.

Portanto, Soares é um historiador talhado e formado a partir de outras redes intelectuais e institucionais. Redes estas, à primeira vista, bastante distantes daquelas hegemônicas na Associação até então. Já o editor da RBH ao longo do biênio vai ser

65 Cf. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4783805E1 acessado em 30 de

o historiador da UNESP – Assis, Frederico Alexandre de Moraes Hecker que tinha uma forte ligação com as redes intelectuais hegemônicas na RBH até então, uma vez que havia feito toda a sua formação na USP ao longo dos anos 1980 e 1990 sob a orientação de Maria de Lourdes Mônaco Janotti66. Assim, Hecker é cria da USP e de

suas relações de saber e poder. Ao longo deste biênio foram publicados 47 textos de autores e/ou historiadores de 20 instituições distintas, mas ainda com uma visível hegemonia de autores ligados a instituições paulistas, notadamente a USP e a UNICAMP, que comparecem, respectivamente, com 15 e 10 autores ligados a seus programas de pós-graduação, ao que se soma mais quatro textos de autores da UNESP, o que corresponde, portanto, a quase 60% dos textos publicados oriundos de autores de instituições paulistas. Os quatro volumes publicados ao longo deste período vão trazer os seguintes temas: experiências urbanas, Brasil: do ensaio ao golpe, produção e divulgação de saberes históricos e pedagógicos e, por fim, História e manifestações visuais. Estes temas vão ser justificados da seguinte maneira pelo Conselho Editorial da RBH:

Apenas considerando o início dos nos 90 até os dias atuais, isto é, os últimos 32 números editados, a RBH publicou principalmente dossiês de teoria da história ou historiografia, cerca de 25% do total – o que atesta vivamente que o ofício do historiador, seus métodos e dificuldades, apresentam-se como a preocupação mais constante da comunidade. Espaço pouco inferior ocuparam os dossiês sobre política – nacional, internacional e/ou teórica – indicando a questão do poder como sempre parceira dos caminhos do pensamento. Como temática de época, registrando o encontro com objetos historiográficos menos tradicionais, os assuntos de gênero e família aparecem em terceiro lugar entre os dossiês mais publicados. Mas não se restringem a estes nomeados os temas centrais do período: tratou-se também de ensino de história, de religião, de viagens, de escravidão, de migrações, de história da América etc.

Levando-se em consideração essa distribuição temática que história do periódico legou, o Conselho Editorial que ora passa a dirigir a RBH, houve por bem reafirmar a conveniência de dar continuidade ao andamento editorial já consolidado, acrescentando como parâmetros a atenção com problemas sugeridos pela conjuntura e a cobertura de dossiês/temáticas ainda não aquinhoadas pelos números anteriores. (RBH, 2003, p. 08)

Temos, portanto, um conjunto de dossiês que retomam temas já trabalhados anteriormente pela revista como as experiências urbanas, a partir de

66 Cf. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4723143Y7 acessado em 30 de maio

abordagens tanto culturalistas quanto da perspectiva de uma história dos de baixo contemplado suas experiências a partir dos projetos de reformas urbanas empreendidos em algumas cidades brasileiras, passando por uma discussão, no segundo dossiê do período, que remete ao estudo do período pré-golpe e do golpe civil-militar de 1964 a partir de uma abordagem que tem no conceito de cultura política, bem como no de poder, entendido a partir das contribuições de Michel Foucault e da nova história política, como dois dos principais instrumentos de análise e inteligibilidade do passado brasileiro, em especial dos acontecimentos que vão de 1954 a 1964, em especial o golpe civil-militar. O terceiro dossiê deste período, “Produção e divulgação de saberes históricos e pedagógicos”, merece um destaque um pouco maior, em especial no tocante ao problema desta tese, pois ele vai abordar questões relacionadas tanto ao ensino de História como questões teóricas, metodológicas e epistemológicas acerca do saber histórico, algo que se colocava na ordem dos dias daquele período em que o dossiê foi publicado. Com três textos que discutem, respectivamente, a chamada “viragem cultural” a partir do que se nomeava de história do cotidiano; a relação do marxismo com as novas abordagens historiográficas, sobretudo as de viés culturalistas; e, por fim, uma discussão acerca da questão do testemunho67. Na apresentação deste dossiê, no Nº 48 da RBH, o

Conselho Editorial o apresentará da seguinte maneira

É possível que tal preocupação com questões teóricas decorra da tentativa de administrar a mais recôndita aspiração do historiador: a de lidar positivamente com a imprevisibilidade do conhecimento. O futuro não está compreendido pelo passado, e essa indeterminação angustia aquele a quem, por profissão, cabe confrontar o conhecimento adquirido com o devir. Toda e qualquer comunidade humana toma decisões sobre o seu futuro, e não o faz optativamente. Somos todos obrigados, para o bem ou para o mal, a optar. Daí o lugar especial destinado à imaginação nos estudos históricos. É pelo trabalho simultâneo da imaginação e da razão que o historiador encontra motivos para a refutação de sua instabilidade e princípio. Procedendo dessa forma, isto é, publicando sucessivos dossiês sobre questões teóricas da disciplina, a RBH tem aberto freqüentemente (sic) espaço para a aventura do saber, lidando sempre com o entender e o ensinar a história. Neste número, como em outros precedentes, contamos com a parceria de eficientes e inspirados autores para

67 Os textos referidos são os seguintes, respectivamente: NORBERTO, Luiz Guarinello. História

científica, história contemporânea e história cotidiana. In: Revista Brasileira de História. São Paulo: 2004, Vol. 24, Nº 48, pp. 13-38.; SENA JR., Carlos Zacarias F. de. A dialética em questão: considerações teórico-metodológicas sobre a historiografia contemporânea. In: Revista Brasileira de

História. São Paulo: 2004, Vol. 24, Nº 48, pp.39-72. e KOLlERITZ, Fernando. Testemunho, juízo

discutir aspectos teórico-metodológicos da historiografia contemporânea, que se constituem, muitas vezes, em impasses da nossa ciência. (RBH, 2004, p.07)

Contudo, apesar dos editores da RBH neste momento quererem apresentar as discussões de cunho teórico-metodológico e historiográfico com uma espécie de tradição de discussão da Revista, como vimos vendo ao longo das décadas de 1980 e 1990 muito pouco ou quase nada foi efetivamente pensado ou discutido nas páginas da RBH que realmente merecesse esse relevo dado por seus produtores nos anos 2000. É somente nesta década que aparece com maior intensidade discussões acerca do fazer historiográfico no país e a forma como os historiadores brasileiros vinham pensando a escrita da história. Nas décadas anteriores esta discussão ficava resumida aos novos problemas, novos objetos e novas abordagens, como se estes por si só, significassem uma discussão historiográfica aprofundada, sobretudo do ponto de vista teórico-metodológico e epistemológico, sobre o que vinha sendo fabricado em termos de conhecimento histórico no país. Esta maior preocupação, sobretudo de cunho epistemológico e historiográfico, de se pensar o fazer historiográfico, suas regras, suas formas e seus impasses é uma preocupação que emerge com certa centralidade nas páginas da Revista apenas nesta década. Voltaremos a tratar desta questão, de forma mais específica, um pouco mais adiante, no último capítulo desta parte da tese, dedicado exclusivamente a pensar a presença destas discussões de cunho mais teórico-metodológico e historiográficos nas páginas da RBH.

Por fim, o último dossiê publicado no biênio 2003-2005 se intitula “História e manifestações visuais” que apresenta uma discussão sobre o uso das imagens como elemento interpretativo para se conhecer o passado e as diversas formas que os historiadores contemporâneos a vem utilizando nas suas mais variadas expressões – fotografia, cinema, artes plásticas, documentário etc. – para narrar o passado de determinadas sociedades em períodos específicos. E o Conselho Editorial da Revista encerra seu período a frente da RBH justificando estas escolhas temáticas da seguinte maneira:

O número da RBH que o leitor tem em mãos encerra esse ciclo administrativo deste Conselho Editorial. Escolhemos dedicar os quatro números concernentes ao período aos temas história/cidades, história/poder, história/conhecimento e história/imagem. Diante das

perplexidades que contemporaneamente se apresentam ao entendimento da história, procuramos seguir as diretivas mais singulares de nossa profissão. Isto é, estudar com afinco os textos oferecidos à publicação e dar publicidade àqueles que mais estimulassem a reflexão.

Se as virtudes cívicas contribuem para a boa vida de todos, as virtudes editoriais devem contribuir para o aprimoramento de toda a comunidade de professores e pesquisadores. (RBH, 2005, p. 08)

Portanto, o biênio que tem Luiz Carlos Soares presidindo a ANPUH e que tem como editor da RBH, Frederico Alexandre Hecker, não altera substantivamente as redes intelectuais e institucionais hegemônicas na revista, muito embora possamos observar uma maior participação de autores ligados às instituições cariocas neste período, comparecendo com 8 textos publicados nos quatro dossiês. No entanto, como vimos, presenciou-se a emergência, ou melhor, a solidificação de uma nova tendência nas páginas da RBH, qual seja: as discussões teórico-metodológicas e historiográficas, empreendidas, sobretudo, a partir de um questionamento de cunho epistemológico acerca dos pressupostos do conhecimento histórico e da escrita da história, em especial na forma que ela vinha sendo feita e praticada no país. Esta é, sem dúvidas, a mudança mais significativa observada nas páginas da RHB ao longo dos anos 2000 até o término do biênio presidido por Soares, o ano de 2005.

No biênio seguinte, 2005-2007, a ANPUH retorna à presidência de um historiador nascido e forjado nos círculos institucionais e intelectuais Uspianos, a historiadora Eni de Mesquita Samara. Ela fazia parte das redes intelectuais que remetiam a Sérgio Buarque de Holanda, uma vez que sua orientadora havia sido Maria Thereza Shörer Petrone, assistente de Sérgio na cátedra de História do Brasil quando àquele foi professor catedrático na USP. A editora da RBH no período, a historiadora Maria Izilda dos Santos Matos, professora da PUC-SP, amiga de Samara, era também forjada como historiadora nos quadros da USP, tendo sido orientanda de José Jobson de Arruda, um dos principais nomes a catalisar e a mover as redes intelectuais hegemônicas na ANPUH e na RBH desde os anos 1980. Esta rede intelectual vai se fazer presente de forma bastante clara no Nº 51 da RBH, no segundo dossiê deste período, “Natureza e Cultura”, onde publicarão autores majoritariamente ligados aos círculos uspianos, e, sobretudo, claramente ligados às redes intelectuais da presidente da ANPUH e da editora da RBH, respectivamente, Eni de Mesquita Samara e Maria Izilda Matos. Publicarão neste número dois autores orientandos de Maria Izilda Matos no doutorado da PUC-SP, Valdecir Rezende Borges e Glaura Teixeira

Nogueira, duas orientandas de Maria Thereza Shörer Petrone, contemporâneas da formação de Eni de Mesquita Samara sob a orientação de Petrone, são elas: as historiadoras Maria Clara Tomaz Machado e Flávia Arlanch Martins de Oliveira. Assim como orientandos de Arnaldo Daraya Contier e José Jobson de Arruda que também havia sido orientador de Izilda Matos. A única exceção fora dos círculos e das redes intelectuais e institucionais uspianas entre os artigos publicados nesse dossiê é o texto da historiadora Regina Horta Duarte, que abre este número.

Neste período foram publicados 54 textos (entre artigos – em sua maioria –, resenhas e entrevistas) de autores e/ou historiadores de 30 instituições diversas e, pela primeira vez na RBH, de todas as regiões brasileiras. Muito embora ainda predomine às instituições do centro-sul como àquelas com maior volume de publicações. Mas já se pode observar uma diminuição da hegemonia das instituições paulistas neste momento. Uma vez que comparecem com menos da metade dos textos publicados no biênio, 25 ao todo, de historiadores ligados a seus quadros (10 da USP, em especial no dossiê acima citado, 5 da UNICAMP, 5 da UNESP, 4 da PUC- SP e 1 da UNIFESP). As instituições do Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais terão uma participação significativa nestes quatro volumes comparecendo com pouco mais da metade dos textos publicados por autores ligados às suas instituições. Muito embora, alguns deles com relações intelectuais bem próximas às redes intelectuais paulistas, notadamente as da USP e da UNICAMP. Exemplo disso são as historiadoras Regina Horta Duarte, que fez toda sua formação em nível de mestrado e doutorado na UNICAMP, mas que neste período já é uma reconhecida historiadora a nível nacional, atuando a partir da UFMG; o que se pode dizer também de Sandra Jathay Pesavento que havia sido orientanda de Suely Robles Reis na USP (fazendo parte, desta maneira da rede intelectual que têm como tronco comum, Sérgio Buarque de Holanda) que além de ter artigo seu publicado neste período, como também emplacará publicações de seus orientandos, em especial àqueles que trabalham com o tema cidades, no dossiê que aborda esse tema no Nº 53 da RBH. Além disto havia uma relação de proximidade e amizade entre Pesavento e Brescianni para além de comungarem dos estudos sobre o mesmo tema, cidades.

Quanto às temáticas e abordagens dos dossiês publicados neste período não há grandes alterações em relação aos números anteriores publicados nesta década. O primeiro dossiê deste biênio traz novamente a discussão de um tema bastante recorrente na revista, o poder. Sob o título: “Poder: tramas e tensões” os

historiadores que vão publicar na RBH discutirão este tema a partir das mesmas chaves explicativas e com os mesmos instrumentos heurísticos das discussões anteriores, tais como os conceitos de cultura política, o de poder como relação, e os de práticas e representações numa tentativa de pensar, a partir destes operadores “às questões do poder, da política, do fazer política e da ética”. O segundo dossiê: “Natureza e cultura” é o único a abordar um tema muito pouco visitado nas páginas da RBH, as relações entre natureza e cultura, pensando-as a partir das chaves explicativas daquilo que começa a ser nomeado como uma história ambiental, assim como das preocupações do presente para com a degradação do meio ambiente e as relações problemáticas do homem com a natureza, que estavam provocando transtornos não só de ordem local mas, sobretudo, graves ameaças à todo o planeta. O terceiro dossiê vai retomar a discussão de um tema bastante tradicional da historiografia produzida no Brasil, a escravidão. Tema este que dará título ao dossiê e que, apesar dos artigos esparsos publicados na RBH sobre este tema, só havia sido objeto de um dossiê pela revista em 1988, no seu número 16, na época muito em função das comemorações dos 100 anos da abolição. Neste dossiê, como vai afirmar o historiador da UFRJ, Manolo Florentino, na sua apresentação, que:

De início, chama atenção a diversidade temática mediante a qual fluem os estudos da escravatura. Hoje em dia já não soam tão estranhos estudos sobre a família escrava (tida antes como aspecto ancilar da história colonial), as irmandades negras, os mecanismos e padrões de alforrias, etnicidade, formas de controle social e de resistência, tráfico interno e externo de escravos, para não falar nos trabalhos acerca do negro no imediato pós-abolição. Melhor: são temas encampados por profissionais das mais diversas tendências teórico-metodológicas, embora não se possa dizer o mesmo do ponto de vista estritamente ideológico – já não viceja entre nós, por exemplo,