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3 PERSPECTIVA DA POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO(PNH) E O

3.1 A REALIDADE CONTEMPORÂNEA DA POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO

Em Outubro de 2003, foi realizada a Conferência Nacional das Cidades, da qual resultou a criação do Conselho das Cidades e a aprovação das diretrizes para nova Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (BRASIL, 2004a, p. 12), visto que a criação do Ministério das Cidades determinou a criação da Política de Desenvolvimento Urbano. Isto contribuiu em 2004 para que fosse criada a Política Nacional de Habitação (PNH) aprovado pelo conselho das cidades, propondo a criação do Sistema Nacional de Habitação (SNH) 24. Portanto, aqui destacamos a PNH de Interesse Social que tem como objetivo diminuir o problema habitacional no país, por meio da elaboração de planos habitacionais nacional, estaduais e municipais, dimensionando o déficit habitacional, buscando viabilizar a elevação dos recursos destinados à produção habitacional de baixa renda para a população brasileira.

Inicialmente a Política Nacional de Habitação (PNH) foi criada tendo como base o déficit habitacional no país, que se constituiu por agravação histórica devido aos problemas habitacionais, em decorrência do êxodo rural, industrialização e o desemprego, a consequência foi à disputa por espaço que não beneficiava a todas as classes sociais. Em 2000, 88,2% do déficit habitacional urbano do País correspondiam a famílias com renda de até cinco salários mínimos (BRASIL, 2004a, p. 17).

Sá e Barbosa (2002, p.10) relatam “a expansão dos centros urbanos, com forte aglomerações populacional, fez crescer extraordinariamente a necessidade de construção de habitações e infra-estruturas, a fim de adequar as cidades às novas relações sociais”.

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O Sistema Nacional de Habitação (SNH), tem como principal foco, o Desenvolvimento Institucional (DI), o Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento da Habitação (SIMAHAB), e o Plano Nacional de Habitação (PlanHab) (FERNANDES;SILVEIRA, 2014, p. 8). O SNH está associado à criação de dois subsistemas: habitação de interesse social e habitação de mercado.

Enquanto seus objetivos específicos identificam-se:

1) universalizar o acesso à moradia digna em um prazo a ser definido no Plano Nacional de Habitação, levando-se em conta a disponibilidade de recursos existentes no sistema, a capacidade operacional do setor produtivo e da construção, e dos agentes envolvidos na implementação da PNH; 2) promover a urbanização, regularização e inserção dos assentamentos precários à cidade; 3) fortalecer o papel do Estado na gestão da Política e na regulação dos agentes privados; 4) tornar a questão habitacional uma prioridade nacional, integrando, articulando e mobilizando os diferentes níveis de governo e fontes, objetivando potencializar a capacidade de investimentos com vistas a viabilizar recursos para sustentabilidade da PNH; 5)democratizar o acesso à terra urbanizada e ao mercado secundário de imóveis; 6) ampliar a produtividade e melhorar a qualidade na produção habitacional; e 7) incentivar a geração de empregos e renda dinamizando a economia, apoiando-se na capacidade que a indústria da construção apresenta em mobilizar mão-de-obra, utilizar insumos nacionais sem a necessidade de importação de materiais e equipamentos e contribuir com parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) (BRASIL, 2004a, p. 31).

Cabe destacar que a Política Nacional de Habitação (PNH) tem como princípios: 1) Direito à moradia firmando na Declaração dos Direitos Humanos (1948) e na Constituição Federal (1988), evidencia que “o direito à moradia deve ter destaque na elaboração dos planos, programas e ações, colocando os direitos humanos mais próximos do centro das preocupações de nossas cidades” (BRASIL, 2004a, p. 30);

2) A moradia digna como direito e vetor de inclusão social, diz respeito a ser garantido “padrão mínimo de habitabilidade, infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade, transporte coletivo, equipamentos, serviços urbanos e sociais” (BRASIL, 2004a, p. 30); 3) A questão habitacional como uma política de Estado, apreende que “o poder público é agente indispensável na regulação urbana e do mercado imobiliário, na provisão da moradia e na regularização de assentamentos precários” (BRASIL, 2004a, p. 30), portanto, deve ser, uma política “pactuada com a sociedade e que extrapole um só governo; gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade e articulação das ações de habitação à política urbana” (BRASIL, 2004a, p. 30).

4) A gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade, traz a possibilidade do controle social e transparência nas decisões e procedimentos” (BRASIL, 2004a, p. 30-31), essa participação conta com representantes dos segmentos sociais, através do conselhos municipais, estaduais e federais de habitação.

5) A articulação das ações de habitação à política urbana de modo integrado com as demais políticas sociais e ambientais (BRASIL,2004a, p.31).

Além dos princípios, se tem como diretrizes da política de habitação, o que se caracteriza por:

a) Garantia do princípio da função social da propriedade; b) Promoção do atendimento à população de baixa renda; c) Promoção e apoio às intervenções urbanas articuladas territorialmente; d) Estímulo aos processos participativos locais; e) Articulação coordenada e articulada dos entres federativos; f) Atuação integrada com as demais políticas ambientais e sociais; g) Definição de parâmetros técnicos e operacionais mínimos de intervenção urbana; h) Estímulo ao desenvolvimento de alternativas regionais (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2010, p. 36).

Assim, é reconhecido que para se intervir na questão da habitação, deve- se contar com a “participação de todos os agentes públicos e privados, da sociedade organizada, dos setores técnicos e acadêmicos na formulação e implementação da Política Nacional de Habitação” (BRASIL, 2004a, p.31). Isto, porque envolve toda a organização de diferentes setores da sociedade, como o envolvimento do setor privado, por exemplo, na construção de unidades habitacionais.

Os recursos aplicados nessa área são arrecadados através de impostos federais e repassados aos estados e municípios, que devem aplicar para diminuição do déficit habitacional em sua realidade, assim é identificado, esse processo somente acontece pela “promoção e apoio à criação de fundos e planos habitacionais nos Estados, Distrito Federal e Municípios de forma a viabilizar a implementação e articulação de recursos e programas no âmbito do PNH” (BRASIL, 2004a, p. 31). Entretanto, ainda, se tem discutido sobre a importância da gestão e planejamento dos recursos destinado à habitação, aquilo que posteriormente será aplicado, e para isso deve contemplar “a criação e ao aprimoramento de mecanismos e práticas de planejamento e gestão, da modernização organizacional, da capacitação técnica de agentes público” (BRASIL, 2004a, p. 32).

Para tanto, a Política Nacional de Habitação prevê uma implantação gradual. A viabilização dos seus instrumentos, recursos e programas demandam certo tempo [...] alguns aspectos da estratégia de implementação que, vão garantir a sincronia entre a conclusão do planejamento para o enfrentamento do déficit do setor e as ações concretas (BRASIL, 2004a, p. 8).

Por isso, é importante conhecer o déficit habitacional do país, além de serem disponibilizados “[...] programas com créditos onerosos e subsidiados para ampliar o acesso da população de baixa renda a unidades habitacionais por meio da construção de novas unidades” (BRASIL, 2004a, p. 43).

Para se materializar, a PNH passou a ser regida pelo Ministério das Cidades, tendo enquanto instrumentos em sua implementação: “o Sistema Nacional de Habitação (SNH), o Desenvolvimento Institucional, o Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento da Habitação, e o Plano Nacional de Habitação” (BRASIL, 2004a, p. 29).

Nesse sentido, além de possuir uma ampla organização, a política traz como objetivo proporcionar moradia digna para as pessoas com baixa renda, portanto, considera-se que esse objetivo de fato é complexo, em especial na realidade de ser contrário ao crédito imobiliário é uma luta contra o mercado. Para se garantir, a luta pela moradia como responsabilidade do Estado, cabe destacar-se como mecanismo fundamental, o Plano Nacional de Habitação (PLANHAB) que traça metas e objetivos para a questão habitacional no país. Desse modo, a partir de cenários e projeções realistas e da construção de metas de atendimento crescentes, “o PLANHAB apresenta instrumentos capazes de apresentar resultados positivos para o enfrentamento das necessidades habitacionais presentes e futuras” (BRASIL, 2009a, p. 3).

O Plano Nacional de Habitação (PLANHAB) realiza um mapeamento dos déficits habitacionais, apresentando os resultados nas áreas que necessitam de intervenção no país, já se este também se integrada ao plano estadual e municipal, o qual depende do número de habitantes por município e deve contemplar uma secretaria ou departamento semelhante para atender as demandas da comunidade decorrente dos problemas de habitação.

A Política Nacional da Habitação, também tem como componentes principais: Integração Urbana de Assentamentos Precários, a urbanização, regularização fundiária e inserção de assentamentos precários, a provisão da habitação e a integração da política de habitação à política de desenvolvimento urbano, que definem as linhas mestras de sua atuação (BRASIL, 2004a). Segundo esse pressuposto, não basta apenas construir para resolver as necessidades habitacionais, há um conjunto de elementos que precisam ser articulados para atingir o objetivo de disponibilizar acesso à habitação como direito, isto é, “moradia digna como direito e vetor de inclusão social garantindo padrão mínimo de habitabilidade, infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade, transporte coletivo” (BRASIL, 2004a, p. 45).

Na contemporaneidade, a concepção de habitação que norteia a Política Nacional de Habitação tem como premissa a garantia de moradia digna que contemple a inserção urbana, infraestrutura, equipamentos comunitários, ou seja, uma visão que vai muito além da ideia de habitação apenas como “casa” englobando o direito à habitar com dignidade (FERNANDES; SILVEIRA, 2014, p. 3).

Percebe-se que somente a moradia digna não basta, há serviços indispensáveis para o desenvolvimento do ser humano como: educação, saúde, lazer, cultura, emprego e transporte, sendo condicionantes e determinantes sociais para uma qualidade de vida.

Para se discutir a habitação articulada aos demais direitos, a política estabelece que nenhuma unidade habitacional deve ser entregue aos beneficiários, sem ter sido realizado anteriormente o trabalho técnico social.

O trabalho social é um dos eixos fundamentais quando se realiza uma intervenção. As pessoas têm o direito de saber o que vai acontecer com elas e de poder opinar sobre o seu futuro. O trabalho social tem essa função e hoje é um componente obrigatório, representando investimentos da ordem de 2,5% dos recursos totais de uma obra (BRASIL, 2011, p. 6).

Isso significa que este trabalho, tem um valor total de 2,5% de toda a construção para poder ser realizado, contudo, o trabalho técnico social, deve ser desenvolvido a partir de um projeto que envolva diversos profissionais com um orçamento de custo, o que nos leva a refletir que ainda, possui um valor muito baixo do orçamento da obra, sendo planejado no que se define em “um período de curto tempo com orçamento limitado”.

Contudo, o trabalho técnico social é destinado para os beneficiários, aqueles que se inseriram no PMCMV com renda até R$1600,00 (um mil e seiscentos), os beneficiários serão acompanhados por um período, até se adaptarem no novo imóvel, isso exige uma equipe multiprofissional e multidisciplinar (assistente social, enfermeiro, psicólogo, educador físico etc.) que vão trabalhar em especial na viabilização de geração de renda e diversos assuntos que abrange a realidade social do público alvo, sempre referenciando a participação dos beneficiários. Assim, é desenvolvido “[...] com o objetivo de garantir a melhoria das condições de geração de trabalho e renda para aquele público” (BRASIL, 2011, p. 6).

O trabalho técnico social é importantíssimo, pois se uma família antes estava morando em condições precárias sem saneamento básico, sem convívio social e sem emprego, ao ir residir em uma unidade habitacional, esta população vai ter dificuldades ao se adaptar, em especial para o pagamento das novas despesas de condomínio, água e luz do imóvel, por isso o trabalho de geração de renda é indispensável. Assim, a própria independência financeira da unidade familiar, é um dos objetivos centrais do trabalho técnico social, pois, a família ao realizar o pagamento da prestação da casa, torna está uma “prestação simbólica [...] que é importante para promover o sentimento de pertencimento [...]” (BRASIL, 2011, p. 7).

Desta forma, o trabalho técnico social nos mostra que a remoção das famílias que residem em locais inapropriados e inseri-lás em programa habitacional, não é a solução para viabilizar o acesso da habitação como direito, mas antes se deve conhecer a história de vida dos usuários e, portanto as suas necessidades reais concretas. É evidente que essas famílias terão que se adaptar aos novos imóveis e a estratégia de geração de renda vinculada as demais dificuldades que encontraram, é uma das funções do trabalho técnico social.

Um dos desafios há serem superados no trabalho técnico social, é a terceirização25 que esta envolvida na disponibilização dos recursos humanos ao serem implementados nos programas das Secretarias ou Departamentos de habitação. Reconhecendo que, a política de habitação depende da cobertura ampliada de diversos setores da sociedade, sendo ambos os setores governamentais e não governamentais, essa relação tem a finalidade de orientar “o planejamento das ações públicas e privadas que visam melhor direcionar os recursos para atender às demandas habitacionais” (FERNANDES;SILVEIRA, 2014, p. 8).

Portanto, os desafios e possibilidades na materialização da Política Nacional de Habitação são constantes, em especial, se considerarmos a realidade contemporânea da questão habitacional e demais políticas públicas sociais brasileiras.

Desse modo, entendemos que vivemos em um contexto que nos impõe a necessidade de analisar a realidade das comunidades locais, anteriormente à implementação dos programas e projetos habitacionais, exige um mapeamento, escuta, articulação com os movimentos sociais nesses espaços sobre a questão habitacional, para serem evitadas inúmeras consequências para o cotidiano da população inserida. Não basta apenas garantir o acesso ao imóvel sem os demais serviços básicos, isso evita o que tem sido percebido na atualidade, pois, a maioria das moradias populares tem se localizado em espaços isoladas das cidades.

3.2 O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA (PMCVM) E SUA CONTRIBUIÇÃO