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4 A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA SECRETARIA

4.3 O PROJETO DE INTERVENÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO

A partir dos três níveis de estágio do curso de graduação em Serviço Social do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais (DCJS) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), realizados na Secretaria de Habitação no município de Ijuí/RS. No decorrer do Estágio Supervisionado em Serviço Social II, desenvolvido no período de Agosto a Novembro de 2013, elaborou-se o projeto de intervenção48 “Aluguel Social e Emancipação”, o qual foi operacionalizado no Estágio Supervisionado em Serviço Social III, no período de março a junho de 2014.

O benefício eventual49 Aluguel Social no município de Ijuí/RS, tem um número crescente de usuários exigindo uma intervenção sobre os problemas habitacionais vivenciados por essas famílias, assim foi construído através da articulação entre Secretaria de habitação e a

48 O projeto de intervenção pode ser considerado como um trabalho de síntese entre conhecimento e ação, voltada para o enfrentamento de questões que requerem respostas técnicas e políticas, guiadas por uma ―ética de emancipação humana (ABEPSS, 2001).

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Dizem se tratar de situações suplementares e provisórias aqueles cobertos pelo benefício eventual, termina por afirmar que esses benefícios devam atender, suprir ou compensar a deficiência de alguma coisa, o que se daria de modo temporário e não definitivo: situações imprevisíveis e improváveis oriundas da ocorrência de morte, de nascimento, do estado de vulnerabilidade e, por fim, da circunstância de calamidade pública (BOVOLENTA, 2011, p. 383).

Câmara de Vereadores sendo aprovada com alterações, a Lei nº 5921 de 28 de março de 2014, pertencente ao município de Ijuí-RS que consiste em conceder o benefício temporário, conforme especificado a seguir:

Art. 1º. Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a conceder o benefício do aluguel social a famílias em situação de vulnerabilidade temporária e/ou risco social, menores abrigados, por ocasião de sua maioridade, ou ainda resultantes de TAC`s - Termo de Ajuste de Conduta - próprios do Executivo Municipal ou do Ministério Público Estadual ou Federal (IJUÍ, 2014).

A lei do aluguel social determina como condicionalidade de acesso: estar em vulnerabilidade social “temporária”, sendo que o beneficiário não poderá ter um imóvel próprio ou cedido por terceiros. O responsável por manter o usuário no aluguel social é a Prefeitura Municipal, no qual repassa o valor de até R$ 400,00 para o proprietário do imóvel, sendo que as demais despesas de energia elétrica, água e manutenções, ficam a cargo do beneficiário.

Cabe destacar também que o benefício é efetivado a partir de um contrato de responsabilidade de ambas as partes, usuário e prefeitura municipal, sendo que o usuário somente acessa se apresentar as seguintes demandas:

Art. 6º Será dada preferência de inclusão no benefício à família que possua no

mínimo uma das seguintes condições:

I - alta vulnerabilidade social;

II - maior risco de habitabilidade;

III - presença de crianças de zero (0) a doze (12) anos de idade; IV - famílias com crianças em situação de acolhimento institucional por falta de

moradia digna;

V - pessoas com deficiência, idosos a partir de sessenta (60) anos ou doentes;

VI - famílias chefiadas preferencialmente por mulheres;

VII - famílias com maior número de dependentes; VIII - famílias cuja renda mensal per capita seja inferior a um quarto (1/4) do salário mínimo nacional VIII - demais situações definidas pelo Conselho Municipal de Habitação (IJUÍ, 2014).

Segundo Couto (2009) um dos grandes desafios hoje colocados aos assistentes sociais consiste em formular projetos que materializarão o trabalho a ser desenvolvido. Cada vez mais, é requisitado ao assistente social identificar aquilo que requer a intervenção profissional, bem como reconhecer de que forma essa intervenção irá responder às necessidades sociais que, transformadas em demandas, serão privilegiadas nos processos de trabalho nos quais a profissão é requerida.

O projeto de intervenção “Aluguel Social e Emancipação” teve como o objetivo “realizar ações socioeducativas, a fim de contribuir no processo de emancipação das famílias inseridas no aluguel social no município de Ijuí-RS”. Tendo como meta identificar as

dificuldades de acesso a habitação das famílias inseridas no aluguel social, incluindo a possibilidade de inserção dos provedores familiares na inserção no mercado de trabalho e promover debate reflexivo com os chefes de famílias inseridas no aluguel social, objetivando a compreensão da habitação como direito social e política pública.

Enquanto público alvo consistiu em um grupo de beneficiários que estão inseridos no programa aluguel social, totalizando 18 beneficiários que residiam em diferentes espaços geográficos da cidade, contemplando 15 do sexo feminino e 3 do sexo masculino, com faixa etária de 22 anos aos 60 anos de idade que passaram a acessar o benefício eventual.

É importante destacar que o aluguel social, o qual tem impacto na vida das famílias inseridas. Consultando o dicionário Aurélio vemos a palavra “aluguel” significa “cessão do uso e gozo de prédio [...] prestação de serviços, por tempo determinado ou não, mediante de pagamento; locação. Remuneração paga em virtude dessa cessão” (FERREIRA, 2010, p. 37). Em decorrência disso, o aluguel social é algo temporária e emergencial, é uma condição imposta até o usuário regularizar sua situação, pode-se evidenciar que o aluguel social tem uma função fundamental na vida do usuário para não deixá-lo desamparado.

Entende-se o não acesso à habitação como uma das expressões da questão social, que se manifesta de acordo Iamamoto (2012, p. 114) “no processo da produção da vida social na sociedade burguesa”. Assim, a desigualdade social produzida pela acumulação do capital, fica evidenciada nas relações sociais principalmente no fato desses usuários permanecem excluídos da sociedade, necessitam acessar programas e projetos sociais para serem “membros dessas”, na medida em que se percebe uma relação contraditória entre os direitos constitucionais e a realidade da política de habitação no Brasil.

Referente à metodologia do projeto de intervenção aluguel social, teve a formação do grupo com ações sócio educativas que de acordo com Sperotto (2009, p. 83). “a dinâmica grupal oferece um espaço de transformação, tanto individual quanto coletiva, capaz de dar a direção para mudanças em diversos campos sociais”.

A operacionalização deste projeto, contemplou à etapa de formação do grupo em que se desenvolveu busca de usuários e seleção de documentos sobre o benefício, sendo realizadas as seguintes etapas: a busca ativa e as visitas domiciliares. Na primeira etapa foi desenvolvida busca dos usuários inseridos no aluguel social através de cadastros de documentos dos beneficiários na secretaria de habitação e a segunda etapa foi o contato telefônico e a visita domiciliar para localizar esses beneficiários.

Conforme Amaro (2007, p. 13) a visita domiciliar “é uma prática profissional, investigativa ou de atendimento”. Esta técnica foi relevante, pois possibilitou identificar as

dificuldades de acesso à moradia do público alvo, sendo consideradas expressões da questão social, através da observação e escuta. A partir das visitas domiciliares, foi possível localizar as famílias e convidá-las para participarem do grupo a fim de se discutir o acesso à habitação, visto que anteriormente essas famílias residiam em locais inapropriados como área de risco que se define como instabilidade do terreno e construções a margens de rios, encostas com risco de deslizamento, áreas insalubres contaminadas e nas áreas de preservação permanente50 que são compreendidas como áreas cobertas por vegetação que não podem sofrem a intervenção da ação humana.

A partir do projeto de intervenção foram realizados quatro encontros grupais quinzenais realizados no período de Março à Junho de 2014, num órgão público que cedeu o espaço para a realização das atividades, no qual foram esclarecidas dúvidas e viabilizadas orientações sobre a lei municipal aluguel social por meio de seus deveres e direitos dos beneficiários, em especial a condicionalidade de ser um benefício eventual. Além disso, foi realizado debate reflexivo com os beneficiários sobre o direito à habitação, sendo representado a partir de vídeos, dinâmicas, diálogo e produção de cartaz. Sendo que essa foi a mais significativa contribuição do projeto de intervenção, isto é, promover a compreensão da habitação como um direito social visto que anteriormente os beneficiários desconheciam esse entendimento.

Nas atividades realizadas, constatou uma participação quantitativa dos beneficiários, evidenciado a partir das reflexões e falas referidas no grupo, além de ser percebida uma excelente frequência durante os encontros e efetivamente de propostas coerentes sobre esses assuntos na percepção dos usuários.

Perceberam-se muitos desafios para garantir o benefício aluguel social, pois, quando a secretaria municipal de habitação entra em contato telefônico com as imobiliárias muitas acabam recusando-se em alugar os espaços para esses usuários, afirmando que poderiam causar danos ao imóvel. Sendo possível identificar um preconceito social, perante esses usuários em situação de vulnerabilidade socioeconômica, o que dificulta a inserção do usuário num imóvel temporário.

Outro desafio foi referente à condição de contribuir para a emancipação social e humana a partir da inserção dos usuários no mercado de trabalho, conforme foi referido em um dos objetivos do projeto de estágio, entretanto, não se concretizou, pois as maiorias dos beneficiários estavam inseridos no mercado informal e em decorrência do pouco tempo de

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realização do projeto não foi possível articulação com outros setores como o Sistema Nacional de Empregos (SINE) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC).

Portanto, o projeto de intervenção foi embasado na lei municipal nº 5921, em seu referido artigo 4°, que prevê a formação de um grupo com as famílias inseridas no aluguel social: “Fica a família beneficiada pelo Aluguel Social condicionada a responsabilidade de participar do grupo de emancipação familiar a ser desenvolvido pelo serviço social da Secretaria Municipal de Habitação, passando informações ao Conselho Municipal de Habitação” (IJUÍ, 2014).

Ainda, salienta-se que os beneficiários do aluguel social terão prioridade na seleção do PMCMV, por estarem nesta condição de vulnerabilidade social e, portanto, viabilizar o acesso à moradia é algo emergencial a essas famílias. Desta forma, entende-se que o projeto de intervenção foi extremamente relevante para os beneficiários, foi possibilitou a estes terem conhecimento de seus direitos e deveres e viabilizar por meio do grupo o acesso de informações a fim de garantir o acesso à habitação como direito social contribuindo na cidadania desses sujeitos.

Da mesma forma que contribuiu para o trabalho do/a assistente social na medida em que o profissional e o estagiário conheceram as situações reais cotidianas dos usuários e a realidade das demandas habitacionais no contexto local, possibilitando ao mesmo tempo a defesa de valores e princípios do código de ética e do projeto ético político da profissão, dentre estes, o compromisso profissional “em democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos/as usuários/as” (CFESS, 1993, p. 30, art. 5º ) para garantir a emancipação e autonomia dos usuários atendidos.

4.4 DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL