• Nenhum resultado encontrado

4 A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA SECRETARIA

4.2 FUNDAMENTOS LEGAIS DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO

O estágio é o momento de aprendizagem do acadêmico a partir do conhecimento teórico vivenciado na instituição de ensino. Conforme a Lei federal nº 11.788, de 25 de setembro de 2008 que regulamenta o estágio em todas as áreas do conhecimento, no art.1º compreende-se: “estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma” (BRASIL, 2008). Contudo, mas que um condicionante para adquirir o diploma é parte integrante do processo de formação profissional dos acadêmicos nas diversas áreas.

O estágio é componente fundamental do processo de formação profissional a exemplo do Serviço Social, pois permite ao acadêmico o contato direto com a realidade social concreta, os desafios e as possibilidades que se apresentam à futura profissão. Para o

41A incorporação da intersetorialidade nas políticas públicas trouxe a articulação de saberes técnicos, já que os especialistas em determinada área passaram a integrar agendas coletivas e compartilhar objetivos comuns (NASCIMENTO, 2010, p. 96).

acadêmico, o estágio significa uma primeira aproximação vivencial no mundo do trabalho, no qual desenvolve habilidades e competências profissionais. O estágio é o espaço de aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social (BURIOLLA, 2003).

No Serviço Social, o estágio sempre esteve presente na formação acadêmica, desde a criação das primeiras escolas42, na década de 1930, sendo parte integrante e obrigatória do curso (BURIOLLA, 2003). A partir da década de 1940, o próprio Serviço Social brasileiro passa a receber influência norte-americana, através da utilização das abordagens de Serviço Social de Caso, Grupo, Comunidade e Supervisão de Estágios (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011). Este contexto, o processo de formação passa a atender as demandas que visam ampliação do mercado de trabalho. Os estágios eram entendidos como preparação para os postos de trabalho, neste período, constituíram-se como articulação entre a teoria e a prática no processo de formação profissional, conforme as normatizações da Organização Internacional do Trabalho – OIT (CNE/CEB 35/2003).

Assim, a primeira legislação específica de estágio em Serviço Social foi a Lei N.º 1.889/53, regulamentada pelo Decreto N.º 35.311/54 que previa exigências mínimas para garantir qualidade no ensino, destinado carga horária para aulas teóricas e práticas. Pressupondo aos cursos de Serviço Social que tinham duração de três anos, estruturar-se em três etapas: 1ª) parte teórica, 2ª) mediação entre a teoria e a prática; 3ª) preponderância da prática. Somente na década de 197043 que o Conselho Federal de Educação implementou a legislação para a regulação dos estágios, ao mesmo tempo sendo regulamentado o Currículo Mínimo do Curso de Serviço Social, através da Resolução N.º 242/7044 do Conselho Federal da Educação (CFE) em que surge a preocupação de relacionar a prática e teoria, que ambas devem ser consideradas relevantes para o aprendizado em estágio.

Na década seguinte é regulamentado o Novo Currículo Mínimo do Curso de Serviço Social, através do Parecer N.º 412/1982 do Conselho Federal da Educação (CFE) homologado pela Resolução N.º 06/1982 definindo, o estágio supervisionado obrigatório com a duração de, no mínimo 10% de duração do curso e orienta a duração mínima do curso de 2.700 horas e

42 A primeira fundada no ano de 1936 em São Paulo e a segunda um ano depois(1937) no Rio de Janeiro. 43

A Lei n.° 6.494 de 07 de dezembro de 1977 dispõe que o estagiário é o aluno matriculado e com frequência em disciplina específica; que o estágio deve acontecer em conformidade com o currículo e com o calendário escolar e para tanto deve ser construído o Termo de Compromisso entre as instituições de ensino e o local de realização deste. Esta Lei estabelece que o estágio não crie vínculo empregatício e o estagiário pode receber bolsa, ou seja, estabelece a possibilidade de estágio remunerado (através de concessão de bolsa). Estabelece ainda o seguro contra acidentes pessoais; e uma jornada de estágio compatível com a Universidade e com a instituição (local de realização do estágio) (BRASIL, 1977).

44

No Art. 7º consta que à teoria do Serviço Social cabe proporcionar uma visão integrada com vistas à ação social, unindo a ordem teórica à ordem prática. No Art. 9º consta que os estágios práticos, base profissional do curso deveriam articular-se com os estudos teóricos (BURIOLLA, 2003).

do estágio de 270 horas. Ainda, ocorre a regulamentação da Lei N.º 6.494/82 através do Decreto N.º 87.497/80, sendo estabelecido o estágio enquanto momento de aprendizagem social, profissional e cultural, onde o estagiário participa de situações reais de vida e trabalho. É realizado junto a pessoas jurídicas e sua coordenação fica a cargo da Instituição de Ensino. Estabelece ainda que a Instituição de Ensino decide sobre carga horária, duração, definição dos campos de estágio, supervisão, organização, avaliação, dentre outros aspectos (BURIOLLA, 2003).

Em 07 de junho de 1993 é aprovado a Lei de Regulamentação da Profissão e o novo Código de Ética Profissional dos/das Assistentes Sociais pela Resolução nº 273 do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). A supervisão em estágio passa a ser contemplado como atribuição privativa, sendo resguardado a este: “VI – treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social” e,

Art. 14. Cabe às Unidades de Ensino credenciar e comunicar aos Conselhos Regionais de sua jurisdição 52 Lei n º 8.662 os campos de estágio de seus alunos e designar os Assistentes Sociais responsáveis por sua supervisão. Parágrafo único. Somente os estudantes de Serviço Social, sob supervisão direta de Assistente Social em pleno gozo de seus direitos profissionais, poderão realizar estágio de Serviço Social (CFESS, 1993, p. 51-52).

Em 1996, a Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) aprova as Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social, definindo o estágio obrigatório como “atividade curricular obrigatória, caracterizada pela inserção do aluno no espaço sócio- institucional objetivando capacitá-lo para o exercício do trabalho profissional, o que pressupõe supervisão sistemática” (CRESS, 2009, p. 56).

Neste contexto, de regulamentação da denominada Lei dos Estágios N.º 11.788, no âmbito de Serviço social foi criada a Resolução Nº. 533/2008 do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) regulamenta a supervisão direta45 de Estágio no Serviço Social, que deve se estabelecer na relação entre a unidade acadêmica e a instituição que recebe o acadêmico. A supervisão direta deve ser realizada por assistente social integrante do quadro de recursos humanos nos campos de estágio, devendo ser desenvolvido “[...] na mesma instituição e no mesmo local onde o estagiário executa suas atividades de aprendizado, assegurando seu acompanhamento sistemático, contínuo e permanente, de forma a orientá-lo adequadamente”

45

A supervisão de estágio é atividade privativa do assistente social, em pleno gozo dos seus direitos profissionais, devidamente inscrito no CRESS de sua área de ação, sendo denominado supervisor de campo o assistente social da instituição campo de estágio e supervisor acadêmico o assistente social professor da instituição de ensino (CFESS, 2008, art.2º). Da mesma forma que compete aos Conselheiros Regionais de Serviço Social a fiscalização do exercício profissional do profissional do Serviço Social supervisor nos referidos campos de estágio (CFESS, 2008, art.6º).

(CFESS, 2008, art.5º). A partir desse pressuposto, considera-se a diversidade de campo em que o estágio pode ser realizado, sendo estes órgãos públicos e/ou privados, instituições de ensino, dentre outros. Para Burrriola (2001, p.13) o estágio é concebido como um campo de treinamento, um espaço de aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social, onde um leque de situações, de atividade de aprendizagem profissional se manifesta para o estagiário, tendo em vista sua formação.

Nessa condição de foi aprovada em 2010, a Política Nacional de Estágio (PNE), produto da discussão iniciada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social em oficinas regionais de graduação (ABEPSS, 2010) a política prevê reflexões sobre os princípios norteadores do estágio; as atribuições dos sujeitos e instâncias envolvidas; a construção de parâmetros quantitativos da relação professor/aluno na supervisão acadêmica do estágio supervisionado obrigatório; orientações quanto ao estágio não obrigatório; estratégias de operacionalização do estágio supervisionado e uma discussão sobre as tensões e desafios do estágio (ABEPSS, 2010). Define-se a importância da tríade de estágio, o que segundo Lewgoy (2010) ao discutir a supervisão de estágio, apresenta um termo para definir o conjunto de sujeitos envolvidos nesta relação, o aluno estagiário, o professor-supervisor e o supervisor de campo, formando com isso a tríade.

A supervisão de campo possui o compromisso em acompanhar e orientar os estagiários em relação a ação profissional, apresentando a avalição quantitativa e qualitativa quanto ao seu desempenho, mantendo contato direto com o professor- acadêmico na instituição de ensino. Portanto, aos (às) supervisores (as) de campo cabe a inserção, acompanhamento, orientação e avaliação do estudante no campo de estágio, em conformidade com o plano de estágio, “elaborado em consonância com o projeto pedagógico e com os programas institucionais vinculados aos campos de estágio; garantindo diálogo permanente com o(a) supervisor(a) acadêmico(a), no processo de supervisão” (ABEPSS, 2010, p. 20).

Já a supervisão acadêmica compete o papel de manter a comunicação entre o estagiário e o profissional assistente social, isto é, os (às) supervisores (as) acadêmicos (as) compete o papel de orientar os estagiários e avaliar seu aprendizado, em constante diálogo com o(a) supervisor(a) de campo, visando a qualificação do estudante durante o processo de formação e aprendizagem das dimensões teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico- operativas da profissão, em conformidade com o plano de estágio(ABEPSS,2010, p. 19).

Esses dois elementos de supervisão46: a de campo e acadêmica, ambas tem a finalidade de contribuir com o conhecimento do estagiário, conforme o código de ética da profissão “ Art. 21- informar, esclarecer e orientar os/as estudantes, na docência ou supervisão, quanto aos princípios e normas contidas neste Código”(CFESS,1993,p.37). As supervisões são momentos de esclarecimentos que o estagiário realiza questionamentos sobre o exercício profissional e os desafios da condição de trabalhador assalariado do assistente social. Deste modo, conforme Santana (2012, p. 4) “o processo de supervisão deve estar organizado de modo a propiciar ao estagiário a vivência e a análise crítica do processo de trabalho do Assistente Social, em todas as suas fases e dimensões”.

O estagiário tem a obrigação em cumprir as condicionalidades da legislação de estágio de estágio e completar carga horária definida para o mesmo, devendo respeitar o código de ética, lei de regulamentação da profissão e as dimensões teórico-metodológica, ético política e técnico operativo, inclusive informar ao supervisor acadêmico qualquer irregularidade que possa ocorrer no estágio. Este realiza os demais documentos obrigatórios para a efetivação da disciplina de estágio, entre estes o diário de campo de acordo com Lima e Mioto (2007, p. 95) pelas observações efetuadas, o diário de campo tem uma larga utilização entre os Assistentes Sociais e é exigido para os estudantes de Serviço Social que estão em estágio curricular; sua utilização, no entanto, está muito além das possibilidades que a produção de um diário de campo pode oferecer para a intervenção profissional.

Cabe destacar que o estagiário não se insere como um empregado e sim com um estudante, que está ali para aprender como se desenvolve a ação profissional. As leis foram criadas para assegurar a qualidade para o acadêmico que passara a pertencer a outro espaço fora da universidade, como estabelece Buriolla (2001, p. 17) “percebe-se que esta legislação existente sobre o estágio, tanto geral quanto especifica, confere, na sua execução, um caráter de „proteção‟ e de formação prática do aluno”. Juntamente, ao papel do estagiário envolvem- se duas dimensões distintas, mas não excludentes de acompanhamento e orientação profissional: uma supervisão acadêmica, tida como prática docente e, portanto, sob responsabilidade do professor-supervisor no contexto do curso, e a supervisão de campo, que compreende o acompanhamento das atividades práticas do aluno pelo Assistente Social, no contexto do campo de estágio (OLIVEIRA, 2004).

46

Esta supervisão é sistemática e realizada conjuntamente por professor supervisor e por profissional do campo, apoiada em planos de estágio elaborados de forma integrada pelas unidades de ensino e organizações que oferecem estágio. (LEWGOY et.al, 2011, p. 7).

Sobre o curso de graduação em Serviço Social do Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais (DCJS) da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), o processo de estágio está organizado em três componentes curriculares definidos por: Estágio Supervisionado em Serviço Social I, II e III, respectivamente que atendem ao Regimento estabelecido e seus objetivos47, para regulamentar à realização de estágios nesta instituição. Desse modo, o Regimento de Estágio Supervisionado em Serviço Social, possui enquanto condicionalidades, os seguintes elementos:

Art. 5º. O Estágio Supervisionado compreende a realização de 525 horas de atividades, subdivididas em três componentes curriculares, ofertados em três semestres letivos subseqüentes, conforme PPC [Projeto Político-Pedagógico] [...]. § 2º. Cada componente curricular prevê a realização de 175 horas, sendo 75 horas de atividade teórica, em sala de aula, e 100 horas de atividade prática, em campo de estágio.

Art. 6º. Para matricular-se no componente curricular de Estágio Supervisionado em Serviço Social I e iniciar a realização do Estágio Supervisionado do Curso de Graduação em Serviço Social o(a) acadêmico(a) deve ter integralizado uma carga horária mínima de 945 horas/aula (UNIJUÍ, 2011, p. 39).

Este estágio é regido pelas normas elaboradas pela UNIJUI e pelo Colegiado do Curso de Graduação em Serviço Social e desenvolvido a partir das diretrizes definidas por este, estando de acordo com as Diretrizes Curriculares de 1996 para os cursos de formação em Serviço Social (ABESS/CEDEPSS, 1997), em nível nacional que prevê 100 horas de horas práticas no campo de estágio sob a supervisão direta e 75 horas teóricas sob a supervisão acadêmica de um profissional assistente social, docente da Unidade de Formação Acadêmica (UFA) (CRESS, 2009).

No componente curricular Estágio Supervisionado em Serviço Social I tem-se a inserção do estagiário no espaço sócio-ocupacional do Serviço Social, na medida em que este possa realizar o reconhecimento das demandas e usuários atendidos; identificar instrumentos e técnicas do Serviço Social, bem como o planejamento da ação desses profissionais. No decorrer do Estágio Supervisionado em Serviço Social II está definido aprender, refletir e operacionalizar elementos constitutivos do processo de trabalho do assistente social; desenvolver atitude investigativa, propositiva e criativa sobre a realidade institucional; a construção do objeto de trabalho e a reflexão sobre o contexto social e as implicações da

47 São objetivos do Estágio Supervisionado : I – realizar o contato direto com a prática profissional, vivenciando as diferentes realidade que envolvem o contexto de exercício da profissão; II – possibilitar a interação entre teoria e prática no processo de formação do acadêmico; III – dialogar com os diversos sujeitos sociais que interagem na construção do espaço de atuação do profissional; IV – produzir novos desafios para a reflexão, qualificando o processo de formação acadêmico-profissional; V – produzir a interação direta com os profissionais da área, trazendo suas preocupações e demandas para o universo da reflexão acadêmica; VI – construir e elaborar um projeto de investigação e intervenção situando o dentro das políticas sociais específicas e VII – exercitar o comportamento e a postura ético-profissional.

realidade local, etapa em que será construída a proposta interventiva sobre o que por ser identificado no campo de estágio. Por fim, o Estágio Supervisionado em Serviço Social III contempla elementos relacionados à conjuntura atual (local, regional e global), as demandas e os desafios e possibilidades para o Serviço Social neste espaço sócio-ocupacional, a partir da implementação do projeto de intervenção e a análise de seus resultados.

Portanto, o estágio Supervisionado em Serviço Social é um processo fundamental para a formação profissional do estagiário, pois lhe proporciona contato direto com o exercício profissional, bem como a realidade institucional em que se realiza o trabalho profissional e as possíveis formas de enfrentamento no âmbito da profissão. Desta forma, apresenta como uma de suas premissas oportunizar ao (a) estudante o estabelecimento de relações mediatas entre os conhecimentos teórico-metodológicos e o trabalho profissional, a capacitação técnico operativa e o desenvolvimento de competências necessárias ao exercício da profissão, bem como o reconhecimento do compromisso da ação profissional com as classes trabalhadoras, neste contexto político-econômico-cultural sob hegemonia do capital (ABEPSS, 2010).

4.3 O PROJETO DE INTERVENÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO