• Nenhum resultado encontrado

4 A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA SECRETARIA

4.4 DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA INTERVENÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

As políticas públicas podem ser definidas como o conjunto de ações desencadeadas pelo Estado com vistas ao bem coletivo. Em outras palavras, é um instrumento de planejamento, racionalização e participação. Os elementos das políticas públicas são o propósito da ação governamental, as metas nas quais se desdobra esse fim, os meios alocados para a realização das metas e, finalmente, os processos de sua realização. As políticas se

materializam pelas leis, orçamentos, planos, projetos e programas, que preveem ações específicas para o interesse público, bem como a forma de gestão e monitoramento (RAMOS, 2002).

No modo de produção capitalista, as políticas sociais públicas são resultado de “relações complexas e difusas que se estabelecem entre o Estado e a sociedade civil, no âmbito dos conflitos e lutas de classes que envolvem o processo de produção e reprodução do capitalismo, nos seus ciclos de expansão e estagnação contínuos” (NALIN, 2013, p. 132). As políticas sociais assumem caráter contraditório, podendo incorporar as demandas do trabalho e impor limites, ainda que parciais, à economia política do capital. Nessa perspectiva, ao garantir direitos sociais, as políticas sociais podem contribuir para melhorar as condições de vida e trabalho das classes que vivem do seu trabalho, ainda que não possam alterar estruturalmente o capitalismo (CFESS, 2010).

Assim, o Serviço Social atua “no contexto de relações mais amplas que constituem a sociedade capitalista, particularmente, no âmbito das respostas que esta sociedade e o Estado constroem, frente à questão social e às suas manifestações, em múltiplas dimensões” (YAZBEK, 2009, p. 3). Dessa forma, historicamente os assistentes sociais tem se inserido em distintos espaços sócio-ocupacionais51, atuando nas mais diversas áreas ou políticas sociais, tanto no setor público quanto privado.

No espaço sócio-ocupacional da habitação, o assistente social historicamente possui ligação direta ao trabalho nas comunidades iniciado nas primeiras escolas de formação em Serviço Social, “as primeiras escolas em São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente em 1936 e 1937, têm por base a doutrina católica, com ênfase no indivíduo, sendo que a questão social era compreendida como um problema de ordem ético-moral” (PAZ; TABOADA, 2010 Apud Nalin, 2013, p.138). Contudo, atuavam com foco na participação e organização comunitária a partir da influência norte-americana de Grupo que se concretizou em 1940, por entidades públicas e particulares. O trabalho comunitário mostrava-se mais rápido do que o trabalho individualizado, mesmo porque os profissionais e voluntários entravam nas comunidades carentes a fim de minimizar as múltiplas necessidades (NALIN, 2013).

A preocupação do Serviço Social, segundo Souza (1993 apud Nalin) era de reconstruir as comunidades urbanas que se “desestruturaram” com os novos modos de produção

51 [...] um produto histórico, condicionado tanto pelo nível de luta pela hegemonia que se estabelece entre as classes fundamentais e suas respectivas alianças, bem como pelo tipo de respostas teórico-práticas densas de conteúdo político dadas pela categoria profissional. Essa afirmativa fundamenta-se no reconhecimento de ser o trabalho profissional tanto resultante da história quanto dos agentes que a ele se dedicam (IAMAMOTO, 2009, p. 344).

capitalista, mais especificamente com a revolução urbano-industrial, que exigia muitas horas de trabalho nas fábricas, mas sem a contrapartida financeira, ou seja, com baixos salários. As famílias provenientes do campo ou imigrantes de outros países já não desempenhavam as antigas funções de organização econômica de produção.

No entanto, o trabalho educativo realizado pelo Serviço Social tem fundamentação em concepção de movimento higienista, ao mesmo tempo em que justificava a manutenção de certas populações à margem da cidade (GOMES; PELEGRINO, 2005). Desempenhavam um papel de caráter autoritário e opressor sobre as classes vulnerais na viabilização do assistencialismo e outros serviços “se tornavam agentes úteis ao disciplinamento dos cidadãos, haja vista o trabalho educativo, já que essas populações eram consideradas inadaptadas, incapazes, dependentes, exigindo uma intervenção social” (YAZBECK, 1999).

Na década de 70, o Serviço Social desenvolvia sua intervenção baseada na ajuda e do diálogo frente aos debates de um Movimento de Reconceituação da Profissão, cabe destacar uma dessas vertentes empregadas com esses usuários na área da habitação, a perspectiva psicologizante/fenomenológica “a vertente da reatualização do conservadorismo (ou fenomenológica) buscou desenvolver procedimentos diferenciados para a ação profissional (PIANA, 2009, p. 97). O uso da fenomenologia tinha uma direção como ajuda psicossocial e com isso os assistentes sociais negaram as doutrinas católicas, o que interessava era a interpretação de leitura da realidade, tem como embasamento a dicotomia da teoria e da prática. Em plena Ditadura Militar, com a promulgação do Ato Institucional n.º 5 (AI-5), em 1968, os assistentes sociais trabalham nas remoções de favelas, expedidas pelo Estado em várias cidades brasileiras, sem realizar nenhuma crítica, pois, se tinha o entendimento que remover esses barracos irá contribuir para amenizar problemas de violência e diminuir os problemas de saúde.

Nos denominados programas de interesse social registram-se, desde os anos 1970, os programas habitacionais carregavam o estigma de „moradia para pobre‟ de baixo padrão de qualidade, precário sistema construtivo e ausência de serviços de infraestrutura (RAICHELIS; PAZ; OLIVEIRA, 2008, p. 242). Em 1972 ocorreu o Primeiro Encontro Nacional dos profissionais da COHA e, “a partir daí estruturam-se equipes, definiram-se diretrizes e o arcabouço metodológico do trabalho social em habitação” (PAZ; TABOADA, 2010, p. 46 apud NALIN, 2013, p. 141). Nesse período, o trabalho tinha um caráter administrativo, burocrático voltado para a seleção da demanda e o acompanhamento da organização da comunidade, em especial da “constituição de associação de moradores nos conjuntos

habitacionais, para que essas pudessem administrar os espaços comunitários construídos nos conjuntos habitacionais (centros comunitários, por meio de comodatos)” (PAZ; TABOADA, 2010, p. 46).

Somente na década de 1980 ocorre uma ruptura do conservadorismo tanto pela aproximação com a teoria dialética crítica, assim como o início das lutas por redemocratização do país, cabe destacar à participação dos os assistentes sociais no Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU) e no Fórum Nacional pela Reforma Urbana (FNRU) se posicionando contra a remoção das favelas, além de prestar assessoria à diversos movimentos sociais na luta pela moradia digna e demais direitos sociais.

Essa perspectiva remeteu a profissão à consciência de sua inserção na sociedade de classes, gerou um inconformismo tanto em relação à fundamentação teórica quanto à prática, fazendo emergir momentos de debates e questionamentos que se estendem não exclusivamente ao que ocorre dentro da profissão, mas principalmente sobre as mudanças políticas, econômicas, culturais e sociais que a sociedade da época enfrentava, consequência do desenvolvimento do capitalismo mundial que impôs à América Latina seu modelo de dominação, da exploração e da exclusão (PIANA, 2009,p. 98).

No âmbito da profissão, gerou-se um desconforto na categoria que começou os debates do assunto como explica Barroco (2004, p. 35) “nas produções acadêmicas, nos encontros e debates das categorias [...] afirma-se como parte da trajetória de amadurecimento da tradição marxista no Serviço Social, especialmente no tratamento da questão ética”. O Serviço social e firma seu compromisso com a classe trabalhadora e nos meados da década de 90 surge o novo Código de ética profissional.

O assistente social, independente do espaço sócio-ocupacional em que atua, tem seu exercício profissional orientado pelo Projeto Ético Político, Lei nº de Regulamentação da profissão e o Código de ética, assim “é a partir de 1993 que o projeto profissional começa a ser tratado nacionalmente como o projeto ético-político” (BARROCO, 2004, p. 35).

O Projeto Ético Político representa uma imagem da profissão com seus valores, princípios e objetivos, estando entre “seus princípios norteadores a indissociabilidade entre as dimensões teórico metodológica, ético-política e técnico-operativa; articulação entre formação e exercício profissional” (GOULART, 2012, p. 11). Essas dimensões direcionam ação profissional do assistente social, relacionando a conjuntura atual em que o trabalho profissional é desenvolvido e definem a especificidade do objeto da profissão frente aos preceitos da sociedade capitalista.

Em função da crise econômica que se abateu sobre o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) nos anos 90, bem como pela abertura adotada pelo governo brasileiro da época, o

Brasil voltou a socorrer-se de recursos externos para o desenvolvimento de seus programas de prestação de serviços públicos (SILVA, 1989). A partir da parceria entre Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e governo federal brasileiro (neste período o Ministério da Fazenda, juntamente com a CAIXA, coordenava a PHIS) o trabalho social passou a ser um elemento importante nas intervenções públicas de urbanização, saneamento e construção de novas unidades habitacionais (NALIN, 2013)

Entretanto, desde 1996 o Serviço Social começou a ser inserido na habitação, recebendo o cargo de técnico social, habilitados a trabalhar com profissionais da habitação” (SANTO et.al, 2014, p.141), o que se intensifica e regulamenta-se a partir da criação do Ministério das Cidades em 2003 define a obrigatoriedade do trabalho social nos programas habitacionais juntamente com a política de habitação, sendo responsabilidade do poder público local, estadual ou municipal, concebido de forma parceria entre as instituições públicas envolvidos em programas ou ações.

O trabalho social tem em sua equipe técnica a obrigatoriedade do assistente social, devendo ser executado junto às famílias beneficiárias ou comunidades sujeitas à intervenção do poder público (PMCMV, Regularização Fundiária ou Reassentamento, entre outros) em sintonia com as obras físicas e dando continuidade por determinado período (NALIN, 2013). Este apresenta como objetivo geral,

Proporcionar a execução de um conjunto de ações de caráter informativo e educativo junto aos beneficiários, que promova o exercício da participação cidadã, favoreça a organização da população e a gestão comunitária dos espaços comuns; na perspectiva de contribuir para fortalecer a melhoria da qualidade da vida das famílias e a sustentabilidade dos empreendimentos (PORTARIA DA PMCMV nº. 465, de 3 de outubro de 2011).

Na política de habitação, os assistentes sociais se inserem nos programas habitacionais em equipes multidisciplinares, as quais compõem a estrutura organizacional das instituições, o que é fator positivo, pois, a articulação de ideias e experiências com outros profissionais na “coordenação e execução de programas e projetos é cada vez mais frequente e necessário em diferentes campos das políticas públicas ou mesmo em organizações não governamentais e com usuários a fim de demarcar alianças em torno de pautas e projetos comuns” (RAICHELIS, 2009).

Identifica-se que devido o assistente social ser trabalhador assalariado vende sua força de trabalho para sobreviver, como estabelece Iamamoto (2004, p. 21): “assim, o assistente social é também um (a) trabalhador (a) assalariado (a), qualificado (a), que depende da venda de sua força de trabalho especializada para a obtenção de seus meios de vida”, muitos

desafios são percebidos nos processos de trabalho. Neste âmbito, o processo de trabalho é compreendido como um conjunto de atividades prático-reflexivas voltadas para o alcance de finalidades, as quais dependem da existência, da adequação e da criação dos meios e das condições objetivas e subjetivas (GUERRA, 2000), assim entende-se não pode haver a dicotomia entre teoria e a prática, pois, uma embasa a outra, as quais formam às reflexões sobre a práxis profissional.

No processo de estágio desenvolvido na Secretaria Municipal de Habitação de Ijuí/RS foi possível identificar diferentes desafios sobre o trabalho do assistente social no espaço, entre estes se pode destacar: a burocracia nas atividades, a limitações de recursos, quadro profissional limitado e programas que não condizem com a realidade local, entre outros.

Ao considerar que a intervenção profissional está historicamente vinculada às sequelas da “questão social”, mas adquire novos contornos nesse processo de “esgarçamento” dos vínculos sociais, de desrespeito ao ser humano, de violência e perda de direitos, de privatização do público. De desemprego, o que rebate no trabalho profissional, envolvendo seus agentes como trabalhadores assalariados e assistente sociais (BARROCO, 2004, p.39).

Nesse sentido, o objeto de intervenção na habitação é condicionado ao objeto da profissão de serviço Social, as múltiplas expressões da questão social, pois, “o assistente social tem na questão social a base de sua fundação enquanto especialização do trabalho; ou seja, tem nela o elemento central da relação profissional e realidade” (FREITAS; MESQUITA 2010, p. 4). Assim, o assistente social é um profissional intelectual que passou por uma formação profissional para desvendar essas expressões, que dispõe o conhecimento qualificado para a realização do seu trabalho, independe se for à ordem pública ou privada.

A questão social é o objeto de intervenção do assistente social, e, se o usuário chegou até o assistente social é pelo fato de que seus direitos sociais foram violados, e para reverter essa situação o profissional intervêm com auxílio de seus instrumentos e técnicas juntamente com seu conhecimento. Contudo, observa-se que o assistente social não pode reduzir sua intervenção à sua dimensão técnico-instrumental, pois “significa tornar o Serviço Social meio para o alcance de qualquer finalidade” (GUERRA, 2000, p.11).

Desse modo, aos profissionais tem compromisso em contribuir para a efetivação de seus direitos sociais dos usuários, consiste no “espaço de trânsito entre o projeto profissional e a formulação de respostas inovadoras às demandas que se impõem no cotidiano dos assistentes sociais implica destacar categorias que possibilitem realizar esse trânsito” (MIOTO; LIMA, 2009, p. 36).

A intervenção do assistente social na política de habitação depara-se com diversas expressões da questão social, desde o usuário vivendo em condições sub-humanas, sem nenhum saneamento básico, desemprego, usuário em situação de vulnerabilidade socioeconômica, pobreza, fome, violência e fragilização de vínculos familiares. Segundo Braga et al (2014, p.2) “essa dificuldade de acesso à terra legal e urbanizada pelas famílias de baixa renda, alimenta um círculo vicioso de pobreza e informalidade que por sua vez impossibilita o acesso ao trabalho formal e demais serviços”. Assim, o profissional direciona sua ação em torno dessas múltiplas expressões, considerando que “em outros termos, desigualdades sociais sempre existiram e existirão, o que se pode fazer é minimizar as manifestações extremas da pauperização” (IAMAMOTO, 2012, p. 25), portanto, o assistente social promove a inclusão do usuário nos programas e projetos habitacionais garantindo seu acesso a rede de proteção e promoção social.

A política de Habitação se configura como atuação sócio técnica do trabalho, esta “área habitacional o Assistente Social tem responsabilidades especificas e crucial para dar um respaldo desigualdade habitacional” (SANTO et al, 2014, p.138). Entretanto, o assistente social atua em processos coletivos de trabalho, não desenvolve sua atua sozinho, a política habitacional engloba várias equipes multiprofissionais e ações intersetoriais, desde as políticas de saúde, assistência social, segurança, lazer, judiciário, e instituições que compõem a rede de serviços. Acionar uma rede consiste deste modo, em criar um processo comum de comunicação para todos os que estão envolvidos no problema e possuem um objetivo comum. A efetivação da rede implica na comunicação estruturada e ainda na estratégia viável e eficaz para articulação, intervenção e gestão dos processos (NEVES, 2009, p. 152).

Assim, o/a assistente social tem enquanto possibilidades de trabalho as práticas interdisciplinares e intersetoriais, pois este atua em processos coletivos em que a garantia do acesso de direitos, não depende unicamente de apenas uma intervenção profissional, mas da articulação de diferentes profissionais e políticas sociais públicas.

Para concretizar sua ação profissional o assistente social utiliza-se de um conjunto de habilidades instrumentais, em especial: visitas domiciliares e entrevista52, além da elaboração de estudos sociais, pareceres sociais e relatórios, pois “os desafios presentes no campo de atuação exigem do (a) profissional o domínio de informações, para identificação dos

52

A entrevista é um instrumento que acompanha o profissional desde o primeiro contato com o usuário até o encerramento da intervenção, e vai adquirido diferentes formas de operacionalização atendendo aos objetivos que o profissional planejou (SPEROTTO, 2009, p. 46).

instrumentos a serem acionados e requer habilidades técnico- operacionais” (CFESS, 2012, p. 31). A visita domiciliar é uma técnica utilizada no cotidiano de trabalho e, segundo Sperotto (2009, p. 60) “funciona como uma atividade profissional investigativa ou de atendimentos aos usuários dentro de seu próprio meio social ou familiar, logo, uma atividade que aproxima o assistente social do indivíduo”.

Identifica-se que o assistente social ainda realiza sistematização dos dados cotidianos de trabalho a partir das informações da fala dos usuários, observação e inclusive consultas nas legislações sociais brasileiras, os quais posteriormente servem para o registro em seu local de trabalho e contribuem para a viabilização do acesso à habitação.

As realizações de vistas institucionais também marcam a rotina de trabalho. Sendo que o profissional assistente social atua na SMH, acompanha os projetos habitacionais que o trabalho técnico social realiza “geralmente considera-se importante entrar em contanto com outras instituições que também prestem serviços de assistência aos membros do sistema que está sendo acompanhado” (SPEROTTO, 2009, p. 70). Essa demanda institucional que o assistente social realiza, permite ao mesmo estar em contato com a equipe-multidisciplinar do técnico social, sendo realizado após a entregue dos imóveis para os usuários condicionado pelo acompanhamento e orientações com atividades socioeducativas.

Outra possibilidade em seu trabalho é a elaboração de projetos, visto que “os projetos sociais podem tanto ser indutores de novas políticas públicas, pelo seu caráter demonstrativo de boas práticas sociais, quanto atuarem na gestão e execução de políticas já existentes” (STEPHANOU; MÜLLER; CARVALHO, 2003, p. 11). O assistente social também elabora projetos na área da habitação, voltando mais especificamente às condições de vida das populações que residem em determinado espaço, para isso o profissional dever ter o planejamento para promover projetos coerentes à demanda habitacional local. De fato, nas características históricas na área, os assistentes sociais se inserem nos espaços de gestão, execução e monitoramento da Política Habitacional, com a concepção de direito à moradia que vem ao encontro ao compromisso ético-político profissional, fundamentado nos princípios de justiça social, equidade, democracia e cidadania (BRAGA et al, 2014, p. 6).

Portanto, o assistente social possui compromisso ético político com a classe trabalhadora, condicionado pela “ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras” (CFESS, 1993, p.21, 3º princípio), que enfrenta diversos determinantes sócio-históricos para ser concretização, principalmente sobre a forma com que se regulamentaram os direitos sociais na Constituição Federal em plena ascensão dos preceitos

neoliberais no país. Assim, o exercício profissional do assistente social deve ter “posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” (CFESS, 1993, p.23, 5º princípio).

Enfim, considera-se que o trabalho do assistente social surge como uma especialização coletiva, sendo que não é um trabalho individual, conforme Braga et al (2014, p.7) o Serviço Social, como profissão especializada na dimensão sócio técnica de trabalho profissional tem entre seus princípios fundamentais, a importância de articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios pautados na emancipação dos sujeitos sociais e com a luta geral dos trabalhadores.

Dessa forma, o assistente social desenvolve um trabalho coletivo para contribuir na garantia do acesso à habitação como direito e não como favor, conforme a trajetória histórica da inserção do assistente social trouxe em suas reflexões, pois, “essa garantia de moradia não pode ser vista como um favor ou que não contemple as necessidades do usuário, pois a atuação do profissional do Serviço Social deve estar pautada na autonomia e ampliação dos direitos dos cidadãos” (SANTO et al, 2014, p.143).

O trabalho do assistente social contribui para a emancipação social e humana e posteriormente a emancipação política, na medida em que busca mediar o acesso das pessoas em situação de vulnerabilidade social na perspectiva de garantir condições necessárias à efetivação de direitos sociais e humanos que consolidam à cidadania e articula com os movimentos sociais que também lutam por esses objetivos.

Segundo Netto (1999) a dimensão política do projeto profissional é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o projeto se declara radicalmente democrático–considerada a democratização como socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida.

A consolação da cidadania é um dos compromissos ético-político dos assistentes sociais, visto que a trajetória da cidadania brasileira, com suas particularidades e conquistas, é marcada pelas fragilidades na garantia aos direitos. Sendo assim, a intervenção do assistente social se concretiza na luta contra a violação dos direitos humanos, sendo necessário reconhecer a realidade social concreta dos usuários que acessam as políticas públicas e