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A Redemocratização (1945-1964)

4. PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL

4.2. PARTIDOS POLÍTICOS NA REPÚBLICA

4.2.3. A Redemocratização (1945-1964)

Do ponto de vista histórico, nascia para o Brasil o que fora convencionalmente chamado de Estado Novo: um período de reconstrução das bases democráticas no rearranjo político governamental. A Terceira República.

Seguindo o mesmo descortínio mundial de repulsa aos regimes nazifascistas, autoritários e totalitários, ruídos com o fim da Segunda Guerra Mundial pelos países aliados vitoriosos, o Presidente Getúlio Vargas, pressionado, decretou a anistia dos presos políticos, pelo Decreto 7.474, de 18 de abril de 1945, e convocou eleições presidenciais e legislativas no mesmo ano, pela Lei Constitucional nº 9, de 28 de fevereiro, o Ato Adicional que promovera diversas alterações no texto da Constituição Federal de 1937.

Nesse contexto, restabelecidas foram as agremiações partidárias, por via do Decreto-Lei nº 7.586, de 28 de maio de 1945322, o novo Código Eleitoral, batizado como “Lei Agamenon”, em referência e homenagem à participação do Ministro de

321 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

Paulo: Alfa-Omega, 1980. p. 77.

Justiça Agamenon Magalhães, também responsável pela nomeação da Comissão designada a sua confecção323.

Com a revogação expressa do Decreto-Lei anterior, de nº 37/1937, que extinguira os partidos políticos em seu art. 142, a “Lei Agamenon” tratou dos partidos políticos em capítulo à parte, determinando sua criação, agora em âmbito nacional e não mais regional, mediante adesão de, no mínimo, dez mil assinaturas de eleitores distribuídos em pelo menos cinco Estados, cada qual com o mínimo de quinhentas assinaturas (art. 109). Dispôs também sobre novas diretrizes ao alistamento eleitoral e ao processo e controle das eleições, estabelecendo, de imediato, a data de 2 de dezembro de 1945324 para a realização das eleições presidenciais, do Conselho Federal e da Câmara dos Deputados e a data de 6 de maio de 1946 para as eleições de Governadores dos Estados e membros das Assembleias Legislativas (art. 136).

Outros vários pontos positivos ao sistema partidário no ordenamento jurídico brasileiro foram trazidos pela “Lei Agamenon”. Em síntese, além de encerrar a política dos governadores, com a vedação de partidos estaduais, teria colocado uma pá de cal na trajetória das oligarquias regionais e, especialmente, em qualquer hipótese de admissibilidade à candidatura avulsa. Exigiu, expressamente, a obrigatória filiação a partido político ou a aliança de partidos caso eventual candidato manifestasse interesse em concorrer nos pleitos eleitorais subsequentes (art. 39).

Em âmbito local, autorizava apenas a instalação de Diretórios dos partidos políticos, desde que devidamente registrados no Tribunal Regional do Estado correspondente (art. 110).

Era proibido um candidato concorrer por mais de um partido ou coligação partidária aos cargos regidos pelo princípio proporcional, exceto para os cargos regidos pelo princípio majoritário, onde era autorizado a concorrer simultaneamente para os cargos de presidente, senador e deputado federal num mesmo Estado ou em mais de um Estado (arts. 39 a 42).

Além disso, ao vedar o registro de partido com programa contrário aos princípios democráticos ou aos direitos fundamentais do homem,

323 José Linhares, como Presidente, e Vicente Piragibe, Lafayette Andrada, Miranda Valverde e

Hahneman Guimarães, como membros.

324 Receando a hipótese do novo Presidente eleito promover alterações nos interventores em

exercício nos estados, as eleições estaduais acabaram sendo antecipadas para a mesma data da eleição federal, 2 de dezembro de 1945.

constitucionalmente assegurados, a “Lei Agamenon” desencadeou o cancelamento de quinze partidos provisórios dentre os trinta e um existentes, além da supressão do Partido Comunista pelo Tribunal Superior Eleitoral e da cassação de seus parlamentares pela Lei nº 211, de 7 de janeiro de 1948.

Privilegiou, por fim, os partidos políticos no tratamento do “mecanismo das sobras”. O Código Eleitoral precedente, instituído pelo Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, ao criar o sistema de representação proporcional, havia determinado que o processo de eleição fosse processado por dois turnos simultâneos de votação, em uma só cédula. Em primeiro turno, estariam eleitos os candidatos que obtivessem, num primeiro momento, sucesso no quociente eleitoral, ou seja, no resultado da divisão do total de eleitores participantes do pleito eleitoral com o número de lugares a serem preenchidos no círculo eleitoral e, num segundo momento, eleitos seriam aqueles que fossem vitoriosos no resultado obtido pela divisão do quociente eleitoral com o número de votos conquistados pela legenda, desprezando-se em ambos as frações (quociente partidário). No segundo turno de votação, por sua vez, eleitos seriam todos “os outros candidatos mais votados, até serem preenchidos os lugares que não o foram no primeiro turno” (art. 58, item 8º). Criou, assim, um novo tratamento ao popular “mecanismo das sobras”.

De fato, é inegável admitir o quão valorosas foram as disposições do Código Eleitoral prescrito pelo Decreto-Lei nº 7.586/45, a “Lei Agamenon”, para a legitimidade das agremiações partidárias.

No que tange ao “mecanismo das sobras”, CAMPELLO DE SOUZA325 repudiava, veementemente, a inovação implementada, por acreditar que promovia distorções significativas no sistema de representação política, privilegiando-se partidos políticos específicos.

Nesse contexto, entendia que o Partido Social Democrático – PSD se favorecia em âmbito nacional, assim como a UDN em alguns poucos Estados, e o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB e o Partido Comunista – PC no Distrito Federal. Além disso, por autorizar um candidato a concorrer a um mesmo cargo político em diversos estados, naqueles em que fosse vencedor também conseguia garantir a elegibilidade de vários outros candidatos de menor expressão política que, por si só, jamais se sagrariam vencedores no quociente eleitoral e no quociente partidário pela

325 CAMPELLO DE SOUZA, Maria do Carmo Carvalho. Estado e partidos políticos no Brasil (1930 a

quantidade de votos recebida. Como exemplo, destacou a candidatura de Getúlio Vargas ao Senado por cinco estados e a Deputado Federal em nove estados, lembrando que ele teria sido vencedor, respectivamente, em dois e sete estados, beneficiando uma lista interminável de candidatos escassamente votados pelo cômputo do “mecanismo das sobras”. In verbis:

Como candidato a deputado federal, Getúlio teve 116.712 votos no Distrito Federal; 119.055 em São Paulo, 11.291 no Rio Grande do Sul, onde se elegeu Senador com 461.913 votos; 32.012 em Minas Gerais. Além disso, foi o único deputado eleito pelo PTB na Bahia, com 10.032 votos; no Rio de Janeiro, com 20.745; e no Paraná, com 8.648 votos. Graças ao mecanismo das sobras, deram-se casos como o de Barreto Pinto, eleito pelo PTB do Distrito Federal com 537 votos. (Fonte: T.S.E. Dados estatísticos, 1964).326

Enfim, sem embargo aos efeitos produzidos ao sistema eleitoral por esse novo “mecanismo das sobras”, examinando-se a formação do sistema de partidos da época é possível destacar que reorganizados foram: o Partido Social Democrático – PSD, que já havia publicado o seu estatuto partidário em 9 de maio de 1944; assim como a União Democrática Nacional – UDN, registrada em 10 de novembro de 1944, embora com atividade social manifestada desde abril do mesmo ano; e o Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, além do já existente, e renovado, Partido Comunista Brasileiro – PCB, embora dois anos após, em 1947, tivesse retornado à clandestinidade, até 1980327.

O Partido Social Democrático – PSD consagrou-se como o maior partido do Estado Novo ou da Terceira República. Conseguira se organizar em todos os Estados para as eleições de 1945, atendendo os prescritos da Lei 7.586/45, a “Lei Agamenon”. Teve formação na base varguista implantada pelos núcleos estatais de interventorias, a partir da idealização e institucionalização proposta pelo interventor mineiro Benedito Valadares. Elegeu o candidato à Presidência da República General Eurico Dutra, em 02 de dezembro de 1945, com o total de 55,3% dos votos. Influenciou fortemente a feitura da nova Constituição Federal, já que conquistara

326 CAMPELLO DE SOUZA, Maria do Carmo Carvalho. Estado e partidos políticos no Brasil (1930 a

1964). São Paulo: Alfa-Omega, 1976. p. 120.

327 De qualquer modo, interessante as observações de JEHÁ (2009, p. 76) em face do destaque que

o Partido Comunista Brasileiro havia alcançado com as eleições de 1945. Teria obtido sucesso em 5% dos votos para a Câmara dos Deputados, assumindo 14 cadeiras legislativas e sucesso em quase 10% dos votos nas eleições presidenciais com o seu candidato Uedo Fiúza.

maioria absoluta na Assembleia Constituinte de 1946, mantendo-se, inclusive, como a maior bancada no Congresso Nacional328. Defendia ideais liberais, numa versão mais atualizada e melhorada em relação ao Partido Republicano – PR da Primeira República, porém sob mesma bandeira do oficialismo intransigente e da política do governismo fiel, de predomínio rural e semirrural, absolutamente conservadores e ordeiros, e não reformistas. Afinal, conforme rememorado por FERREIRA FILHO329, era um partido das “camadas mais tradicionalistas das vilas do sertão, dos latifundiários, dos grandes cafeicultores, dos plantadores de algodão, cana, cacau, dos criadores de gado, mas também, em São Paulo e no Rio, de uma burguesia industrial quase ‘neutralista’”.

A União Democrática Nacional – UDN foi embrionada de modo clandestino por diversos e miscigenados grupos dos setores urbanos, antigas oligarquias tradicionais, liberais, socialistas e economistas que se apresentavam absolutamente contrários ao regime varguista330. Nesse deslinde encontravam-se os colaboradores com o desfecho da Revolução de 1930, mas que, pelo próprio Presidente, haviam sido traídos, ou os que com ele se desentenderam, ou aqueles que haviam assinado o “Manifesto dos Mineiros”, ou, ainda, os que não teriam aceitado a organização firmada sob a Constituição de 1937331. Para se adaptar à “Lei Agamenon”, tiveram que se associar a outras agremiações, quais sejam, o Partido Republicano, Partido Libertador e Esquerda Democrática, fomentando, segundo destacado por CAMPELLO DE SOUZA “a ladainha do ‘amorfismo ideológico e programático’ tão cara ao jornalismo político brasileiro”332. Com o seu registro oficial em 31 de outubro de 1945, pela Resolução TSE nº 296, passaram a representar a base empresarial sediada no liberalismo da classe média urbana e política mais culta das grandes cidades, robustecida de tendências renovadoras e progressistas, além da alta burguesia, dos latifundiários, dos industriais e dos

328 VILELA, Renata Rocha. Partidos políticos e regulamentação: limites e benefícios da legislação

partidária no Brasil. 2014. Dissertação (Mestrado em Direito do Estado) – Universidade de São

Paulo: Faculdade de Direito, São Paulo, 2014. p. 32.

329 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Os Partidos Políticos nas Constituições Democráticas: o

Estatuto Constitucional dos Partidos Políticos no Brasil, na Itália, na Alemanha e na França. Imprensa da Universidade de Minas Gerais: Revista Brasileira de Estudos Políticos; Estudos Sociais e Políticos, vol. 26, 1966. p. 62.

330 Com o mesmo detalhamento, FERREIRA FILHO (ibidem), lembrou se tratar de um partido mais ou

menos liberal, “apoiado pela burguesia culta das cidades, mas nos lugarejos do interior é o partido do ‘coronel’, que não pôde ou que não quis filiar-se ao PSD, antes que seu rival direto o fizesse.”.

331 CAMPELLO DE SOUZA, Maria do Carmo Carvalho. Estado e partidos políticos no Brasil (1930 a

1964). São Paulo: Alfa-Omega, 1976. p. 108-115.

grandes proprietários, não obstante também congregassem eleitorado rural e semirrural, progressistas. Formava o núcleo de oposição ao interventorismo e ao nacionalismo e de defesa da abertura de investimentos internacionais, com organizações já previstas junto aos diretórios nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e Rio de Janeiro. Segundo SCHMITT333, foi a segunda maior agremiação, com a segunda maior bancada no Congresso Nacional até 1962.

O Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, assim como o PSD, foi concretizado por simpatizantes do governo provenientes dos sindicatos e dos quadros do Ministério do Trabalho, tanto de setores organizados quanto urbanos. Era o seu fiel escudeiro, apoiando os candidatos pessedistas na disputa das eleições presidenciais de 1945, 1955 e 1960334. Diferenciava-se apenas no modo de estruturação intrapartidária que, em razão do modo hierarquizado, centralizado e antidemocrático de ser, além de prejudicar a plena autonomia dos seus diretórios estaduais e municipais, nas eleições de 1945 teria conseguido concorrer para a Câmara dos Deputados em apenas quatorze unidades da federação. Em razão das propostas reformistas, populistas e nacionalistas que defendiam, significativo crescimento experimentaram no segundo governo de Getúlio Vargas, quando reeleito Presidente da República por essa legenda nas eleições de 1950335. Também elegera Jango para a vice-presidência por dois pleitos consecutivos (1955 e 1960, com 44,3% e 41,3 dos votos, respectivamente)336. Constituiu a terceira maior bancada partidária que mais cresceu do ponto de vista eleitoral, suplantando a UDN em 1962.

De acordo com o lembrado por ARINOS337, importante também destacar a existência, na sequência, do Partido Socialista Brasileiro – PSB, ex-esquerda democrática, de caráter intelectual forte melhor definido que o dos udenistas (UDN)

333 SCHMITT, Rogério. Partidos Políticos no Brasil (1945-2000). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

p.15-16.

334 SCHMITT, ibidem, p.17

335 Devido à forte pressão dos liberais integrantes da UDN, dos militares anticomunistas e dos

empresários ligados ao capital externo que buscavam a renúncia do Presidente, Getúlio Vargas se suicidou, desencadeando a obrigatória abertura de novo pleito eleitoral. Em razão da comoção popular instalada em face do titulado “herói popular”, restaram vencedores os candidatos getulistas Juscelino Kubitschek (PSD) para a Presidência da República e o ex-Ministro do Trabalho João Goulart (PTB) para a Vice-Presidência da República (VILELA, 2014, p. 35).

336 SCHMITT, loc.cit.

337 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

e representação da posição socialista democrática, embora com dificuldades de penetração na massa popular, na classe trabalhadora, de base eminentemente comunista. E o Partido Trabalhista, com base eleitoral sólida, formada a partir do proletariado menos esclarecido, “presos à tradição da propaganda ditatorial e levados, por patriotismo ou outras razões, a não votar com os comunistas”338 que, de um modo geral, os hostilizavam, tanto quanto os socialistas em geral.

Segundo JEHÁ339, o PSB constituía-se de setores restritos e homogêneos da intelectualidade moderada de esquerda, tendo sido “espremido eleitoralmente, à direita, pela UDN, com quem disputava no terreno do liberalismo político, e, à esquerda, pelo PCB e até pelo PTB, com quem competia no campo do liberalismo econômico e social”.

Embora o PSD, a UDN e o PTB disputassem a preferência do eleitorado, comandando o cenário político no período de 1945 a 1964, JEHÁ também acrescentou a existência do Partido Republicano – PR e do Partido Social Progressista – PSP, além de várias outras legendas menos expressivas, consideradas “nanicas” e criadas em face da permissão conferida pelo sistema proporcional da “Lei Agamenon” (art. 38, §1º), que seriam:

(...) o Partido Democrata Cristão – PDC, surgido na onda da democracia cristã que se espalhou pelo mundo após o final da 2ª Guerra Mundial; o Partido Libertador – PL, fundado sob a influência da história do gaúcho Raul Pilla, federalista e libertador desde antes de 1930; o Partido da Representação Popular – PRP, rescaldo integralista, fundado por Plínio Salgado, pelo qual concorreu à presidência em 1955; o Partido Trabalhista Nacional – PTN, o Partido Orientador Trabalhista – POT e o Partido Proletário do Brasil – PPB (...) formados com objetivos muito semelhantes de explorar a retórica social que já estava tão em moda no período; o Partido Republicano Trabalhista – PRT, também formado sob a moda trabalhista e sem qualquer preocupação com um discurso próprio; o Partido Social Trabalhista – PST, mera dissidência pessedista criada para acomodar o maranhense Vitorino Freire para a disputa pela vice- presidência da República e, 1950, quando o PSD decidiu lançar Altino Arantes para concorrer ao cargo; o Movimento Trabalhista Renovador – MTR, criado pelo gaúcho Milton Ferrari para concorrer

338 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

Paulo: Alfa-Omega, 1980. p.91.

339 JEHÁ, Pedro Rubez. O processo de degeneração dos Partidos Políticos no Brasil. 2009. Tese

(Doutorado em Direito do Estado) – Universidade de São Paulo: Faculdade de Direito, São Paulo, 2009. p. 77.

à vice-presidência da República, em 1960, quando a aliança que lançou Jânio Quadros (PDC/UDN) dividiu-se na definição do candidato a vice e assistiu ao lançamento da candidatura do udenista Milton Campos; o Partido da Boa Vontade (PBV), liderado a partir do Rio de Janeiro por Alziro Zarur, que se desgastou em função do apoio dado ao golpismo lacerdista; e o Partido Republicano Democrático – PRD, “ressuscitando o discurso pseudo-avançado socialmente e ironizado por Osório Borba já na Constituinte de 1933/1934”.340

Na síntese do necessário, tem-se que o Partido Republicano – PR também gravitava na base partidária do oficialismo do governo federal. Constituía-se de origem rural e semirrural, com orientação conservadora e características bastante próximas do PSD, daí porque, em razão da força política apresentada por esta agremiação partidária, tinha o seu desempenho bastante ofuscado.

Não exatamente ofuscado, mas nitidamente fraco era como se mostrava, por sua vez, o desempenho do Partido Social Progressista – PSP. Originado da fusão do Partido Popular Sindicalista – PPS, do Partido Republicano Progressista – PRProg e do Partido Agrário Nacional – PAN, nas eleições de 1945, por exemplo, não havia conseguido ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados, sequer obter sucesso na indicação de um candidato à Presidência da República, exatamente como proposto pelo PAN.

O Partido Socialista Brasileiro – PSB também integrava uma legenda de dissidentes da União Democrática Nacional – UDN, que teria se consolidado a partir das eleições de 1950 como a quarta maior força política nacional, sob a liderança do paulista Ademar de Barros341.

Para SCHMITT342, a classificação subsequente às três maiores bancadas partidárias teria sido: (1) o PSP, com a quarta maior legenda, porque, embora com base eleitoral mais concentrada em São Paulo, sob a liderança de Ademar de Barros, governador paulista por dois mandatos, teria conquistado efetivamente a terceira posição nas eleições à presidência de 1955 e 1960, com 25,8% e 18,8% dos votos, respectivamente, além de ter elegido o potiguar João Café Filho à vice-

340 JEHÁ, Pedro Rubez. O processo de degeneração dos Partidos Políticos no Brasil. 2009. Tese

(Doutorado em Direito do Estado) – Universidade de São Paulo: Faculdade de Direito, São Paulo, 2009. p. 78.

341 JEHÁ, ibidem.

342 SCHMITT, Rogério. Partidos Políticos no Brasil (1945-2000). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

presidência em 1950, com 35,1% dos votos, e conquistar o terceiro lugar da vice- presidência de 1955 com o deputado federal distrital Dalton Coelho (13,9% dos votos); (2) o PR, com a quinta maior legenda e base eleitoral concentrada em Minas Gerais e Bahia, havia integrado praticamente todos os Ministérios; (3) o PDC, com a sexta maior legenda, concentrava-se no Paraná, onde elegeu Nei Braga para governador em 1960, Pernambuco e São Paulo, alcançando a quinta posição na Câmara dos Deputados em 1962 e a presidência com Jânio Quadros em 1960, com 48,3% de votos; (4) o PTN, com a sétima maior sigla, detinha a sexta maior bancada de deputados federais; (5) o Partido Libertador – PL evidenciava-se a oitava maior legenda; e o (6) PST, a nona maior sigla, com o senador maranhense Vitorino Freire no quarto lugar da vice-presidência de 1950, com 7,6% dos votos, e Miguel Arraes no Governo de Pernambuco em 1962.

Na sequência, o autor ainda destacou o PSB, com o ex-deputado federal alagoano Aurélio Viana alcançando o Senado pela Guanabara em 1962; o PRP, com o paulista Plínio Salgado, em quarto lugar na eleição presidencial de 1955, com 8,3% de votos; o PRT, dissidente do PTB, com a única cadeira no Senado conquistada pelo carioca Aarão Steinbruch; e o PCB, com a quarta maior bancada na Câmara dos Deputados (14 deputados), além de Luiz Carlos Prestes no Senado Federal e Yedo Fiúza no terceiro lugar das eleições presidenciais, com 9,7% de votos.

Do ponto de vista ideológico, distribuindo-se as siglas no eixo esquerda- direita, SCHMITT343 sustentou como legendas de centro o PSD, o principal à legitimação democrática, assim como o PDC e o PL. A UDN ocupava incontroversamente a direita, consistindo num partido de apoio ao governo e não ao regime democrático propriamente dito, assim como o PR e o PRP. A esquerda, por sua vez, tinha a posição hegemonizada no PTB, assim como no PCB, no PSP e nas pequenas siglas trabalhistas PTN, PSP, PRT e MTR.

Em suma, portanto, as agremiações partidárias que teriam se institucionalizado, com, inclusive, atendimento aos pressupostos legais controlados pela Justiça Eleitoral nesse período de abertura à democracia representativa teriam sido:

343 SCHMITT, Rogério. Partidos Políticos no Brasil (1945-2000). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. p.

Tabela 2 - Apresentação e situação jurídica dos partidos políticos no período de 1945 a 1964

Partido/Sigla Sede Registro

União Nacional do Trabalho - UNT

Rio de Janeiro Deferido provisoriamente em 11.9.1945, porém cancelado em 4.5.1948.

Partido Nacional Evolucionista –

PNE

Rio de Janeiro Deferido provisoriamente em 19.10.1945, após atendimento de diligência; cancelado em