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PARTIDOS POLÍTICOS NO IMPÉRIO

4. PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL

4.1. PARTIDOS POLÍTICOS NO IMPÉRIO

No período imperial brasileiro, os grupos ou facções já existentes desde o Brasil Colônia, que se formavam em torno da Constituinte de 1823, defendiam ideais de força absolutamente opostas. Para ARINOS226, três bases políticas diversas preponderavam.

A primeira inclinava-se ao interesse de um fortalecimento do poder da Coroa, eram monarquistas providos de interesses bastante conservadores, como José Bonifácio, que sustentava a bandeira pela ordem constitucional. Pautava-se, em sua maioria, por juízes de primeira instância, jurisconsultos e altos representantes da Igreja acima dos cinquenta anos de idade227.

A segunda, proferida por deputados titulados como “exaltados” ou democratas228, firmava-se a partir de um sentimento vasto por liberdade, defendendo a limitação do poder real, como era o caso da emenda proposta por Ferreira França, com sustentação por um governo federalista, mesmo diante da inexistência de ambiente favorável a essa proposta. Constituía-se de uma minoria, formada pelo clero e por pequenos proprietários rurais.

A terceira sustentava posição de centro, cujos seguidores acabavam sendo considerados independentes e defensores de uma doutrina moderada, voltada para uma constitucionalização de direitos sem que prejudicado fosse o poder e a governabilidade do Monarca.

226 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

Paulo: Alfa-Omega, 1980. p. 26-28

227 Otávio Tarquínio de Sousa, apud ARINOS, ob.cit., p. 26

228 Ainda assim inscritos sob várias denominações distintas, por ARINOS (1980, p. 27/28) ou nas

bases de sua pesquisa, como “puros”, “anarquistas”, “republicanos” ou ainda “revolucionários”, juntamente, com os grupos declarados “moderados” e os “restauradores” ou “corcundas” assumiam agrupamentos de denominação genérica de Grupos de Oposição, desprovidos de qualquer base eleitoral, com força principal não efetivamente em eleitores, mas “numa imprensa efêmera e desatinada” [sic].

Assim, no Império é que a vida político-partidária em si começa a tomar forma, precisamente, a partir da abertura da primeira sessão preparatória da Câmara dos Deputados, em 29 de abril de 1826, e da primeira sessão legislativa da Assembleia Geral Legislativa, composta pela Câmara dos Deputados e pela Câmara dos Senadores, em 06 de maio do mesmo ano. “Antes dessas datas, havia somente deputados brasileiros eleitos para participar das Cortes Gerais Portuguesas de 1820, sem que eles tivessem influência no processo legislativo brasileiro”229.

Importante ponderar que se legalizaram, efetivamente, apenas no Segundo Reinado (1840-1889).

De início, eram dois: o Partido Liberal e o Partido Conservador que começaram a se desenvolver, para alguns doutrinadores, em meados de 1831; para outros, apenas no período da reação monárquica de 1837 ou, melhor dizendo, na legislatura parlamentar de 1838.

Segundo ARINOS230 (op.cit., p. 25):

Foi sob a égide desta lei [a Constituição outorgada de 1824], reformada em 1834, no sentido liberal, pelo chamado Ato Adicional (nome imitado ao modelo napoleônico dos Cem Dias) e restaurada no sentido conservador pela lei de 12 de maio de 1840, que interpretou aquele Ato, que se processaram a arregimentação e a vida dos Partidos políticos no Império.

Relata o autor que o Partido Liberal, antes mesmo do Partido Conservador, teria tomado corpo com os movimentos liberais de revolta ao absolutismo e de introdução por uma reforma constitucional de teor federativo que se instalava nas Províncias do Primeiro Império, especificamente logo após a Abdicação de Dom Pedro I. Revelavam-se grupos políticos de ideologia liberal ou republicana que teriam se formado antes mesmo da Revolução de 7 de abril de 1831 e não a partir dela, como sustentado por Américo Brasiliense231.

229 VILELA, Renata Rocha. Partidos políticos e regulamentação: limites e benefícios da legislação

partidária no Brasil. 2014. Dissertação (Mestrado em Direito do Estado) – Universidade de São Paulo: Faculdade de Direito, São Paulo, 2014. p. 15.

230 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

Paulo: Alfa-Omega, 1980. p. 25.

231 Joaquim Nabuco, aos dois, divergia; acreditava que tanto o Partido Liberal quanto o Partido

Conservador teriam se formado apenas com a reação monárquica de 1837, por vezes, com a formação da legislatura de 1838 e não em momento distinto (ARINOS, 1980, p. 28-30).

Embora o federalismo no Brasil Império não tivesse encontrado espaço suficiente para prosseguimento, assim como os esforços à finalização do Poder Moderador232 e à institucionalização de um Senado eletivo e temporário233, a concentração e a organização política liberal estabelecida desde a apresentação do projeto de reforma em 1831 teriam sido vitoriosas com a edição do Ato Adicional, pela maioria, de 1834234. Assim se verificava a conquista com a instalação do Poder Legislativo Provincial, tão reclamado, e a extinção do Conselho de Estado – embora de forma temporária, já que restabelecido teria sido referido Conselho em 1841, com a Lei nº 234 de 23 de novembro.

Os liberais que representavam os interesses da burguesia urbana, do capitalismo comercial e dos progressistas intelectuais escritores, jornalistas, professores e magistrados, a merecer destaque Aureliano, Alves Branco, Limpo de Abreu, Montezuma, Castro e Silva e Chichorro, acabaram predominando na Câmara e nos sucessivos Gabinetes desde o Ministério de 10 de outubro de 1833 até o de 19 de setembro de 1837, consolidando a existência do Partido Liberal235.

Entretanto, as interferências desagregadoras e anárquicas que passaram a sofrer, somadas à formação da legislatura de 1838-1841 na entrada do Segundo Império por conservadores ligados aos interesses agrários, em especial dos lavradores de café do sul – que teria se tornado a base econômica nacional, suplantando o açúcar do norte –, motivaram a origem e a formação subsequente de

232 A lista dos poderes políticos no Império enumerava-se em Poder Legislativo, Poder Moderador,

Poder Executivo e Poder Judicial, todos sendo expressão natural e necessária da soberania nacional. A novidade, se comparada à estrutura da clássica tripartição de poderes, foi a criação do Poder Moderador que, segundo PIMENTA BUENO (1857, p. 31), em quase todas as constituições faz parte do poder executivo. De acordo com o enfatizado pelo autor, “enfim, a conveniencia de que exista um poder legitimo que incessantemente vele sobre a manutenção da independencia, equilibrio e harmonia dos outros poderes politicos, dá nascimento ao que é denominado moderador” [sic].

233 Afinal, a Constituição Federal de 1824, outorgada pelo Imperador, teria legalizado o estamento

público-burocrático da criação do seu Poder Moderador, de um Conselho de Estado e um Senado vitalício (CAVALCANTI, 1975, p. 52 e ss.)

234 A Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834, que tinha a intenção de estabelecer um impulso liberal mais

moderado. Fato é que devido à ausência de um processo de institucionalização entre as elites de diferentes níveis de um mesmo movimento, acabou fortalecendo ainda mais as elites de nível intermediário, caudilhas, locais, existentes nas províncias, mantendo-as na centralização federativa. Os órgãos de representação política, as Assembleias Provinciais, receberam atribuições legislativas e de controles que predominavam, inclusive, na nomeação dos Presidentes da Província, exigindo de todos que seguissem exatamente as ordens do governo central, sob pena de vigorosa resistência, com aparência absoluta de legalidade (CAVALCANTI, 1975, p. 54- 55).

235 Gabinetes no período imperial brasileiro, constituídos nos Ministérios, condizem à nomenclatura

apresentada pela doutrina para explicar como se operacionalizava a regência do governo estabelecido no período do Império Brasileiro.

outra agremiação partidária: o Partido Conservador. Conforme assinalado por ARINOS:

Era chegado o momento de liberais da direita e antigos restauradores da esquerda se unirem num pensamento comum de ordem pública e de defesa dos grandes interesses econômicos ligados à lavoura. Este é o movimento de formação do Partido Conservador, que, tendo à frente o inquieto Vasconcelos, nasceu sob o signo mais feliz para um Partido de ordem: o signo da conservação que não rejeita o progresso236.

Forte defensor da monarquia, o Partido Conservador logo ganhou simpatia e, em razão disso, assentos nos Gabinetes do Imperador, destacando-se com força e poder muito maiores que os do Partido Liberal.

Obviamente que a discórdia surgiria, mergulhando a política brasileira no período da Conciliação. Vale dizer, num período que teve início em 1847, com a instalação, pelo Imperador, de um Conselho de Ministros misto, composto por políticos liberais e conservadores, justamente para controlar a acirrada disputa de poder que se fomentava237.

Entretanto, mesmo diante da tentativa do Imperador de se estabelecer um Gabinete Liberal – o Governo de Paula Souza, como ficou conhecido à época238 –, para apaziguarem os ânimos dos liberais, sua preocupação com a chegada de

236 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

Paulo: Alfa-Omega, 1980. p. 34.

237 Referido Conselho era regido por um Presidente, criado segundo o Decreto nº 523, em 20 de julho

do mesmo ano. Nesse contexto, consagrava-se a implantação de um sistema parlamentarista ao regime monárquico de governo, que permanecera vigente até a adoção do sistema presidencialista pelo regime republicano, iniciado em 15 de novembro de 1889 e legitimado com a Constituição Republicana de 1891.

238 Os Gabinetes do Império consistiam numa denominação dada ao conjunto dos Ministérios

(Secretarias de Estado) que o integravam. No segundo Reinado, compunha-se do Presidente do Conselho de Ministros (também nominado como “Chefe do Gabinete”, “Presidente do Gabinete” ou, verdadeiramente, “Primeiro-Ministro”), criado pelo Decreto 523/1847 e respectivos Secretários de Estado. Inicialmente, integravam o Gabinete seis Secretarias de Estado: a Secretaria de Estado de Negócios do Império; a Secretaria de Estado de Negócios Estrangeiros; a Secretaria de Estado de Negócios da Fazenda; a Secretaria de Estado de Negócios da Justiça; a Secretaria de Estado de Negócios da Guerra e a Secretaria de Estado de Negócios da Marinha. Em 28 de julho de 1860, com o Decreto nº 1067, outra Secretaria foi criada, a Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Era costume denominar cada Gabinete a partir de um “apelido” extraído do nome do Presidente do Conselho de Ministros. Tanto quanto o Gabinete de Paula Souza, ocupado pelo ex-Deputado e Senador pela Província de São Paulo, Francisco de Paula Souza e Mello (na grafia original de seu nome), em 31 de maio de 1848, também é possível extrair da doutrina especializada (NABUCO, s/d) citações como o Gabinete Paraná, que faz referência ao período em que o Marquês do Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão, teria sido Primeiro-Ministro (6 de setembro de 1853), Gabinete Ferraz, do ex-promotor de Justiça, Juiz de Direito e Presidente da Província do Rio Grande do Sul Ângelo Moniz da Silva Ferraz (1859-1861).

eventuais reflexos da Revolução de 1848, na França, consistentes numa explosão republicana e, consequentemente, fim da monarquia, forçaram-lhe a substituir referido Gabinete Liberal pelo Gabinete Conservador de Olinda239, abrindo margem à luta, sanguinolenta, de Praia, em Pernambuco.

O auge do Ministério da Conciliação foi em 1853 e perdurou até 1858. Mas, consoante ARINOS240, naquele momento histórico “a situação geral do país (...) não suscitava nem alimentava teses divisionistas”, não se justificando a permanência de um processo violento para viabilizar os interesses da ala progressista da burguesia, que além de pertencer a uma mesma classe social não tinham problemas em choque.

Valem os parênteses: mesmo com os antagonismos partidários da época, curioso verificar que as alianças partidárias já eram pensadas e praticadas desde então na história brasileira. Provavelmente não da mesma forma àquelas verificadas nos dias atuais, mas, inegavelmente, existiam. A esse fato, insta destacar a doutrina de ARINOS241, notadamente sobre os comentários acerca do ambiente favorável provocado na Câmara em 1850, pela chegada de “um daqueles momentos de estabilidade em que o liberal se confundia com o conservador”. Somente após dez anos é que o restabelecimento das identidades partidárias alcançaria êxito, revertendo o quadro anterior: o triunvirato liberal, formado por Teófilo Ottoni, Francisco Otaviano e Saldanha Marinho, se sagrava vencedor nas eleições de 1860, equilibrando as forças com o “famoso triunvirato conservador que, dizia-se, por tantos anos governara o Império: Eusébio, Itaboraí, Uruguai”.

A formação dos partidos políticos não se limitou à ideologia dessas duas frentes partidárias, liberal e conservadora, apenas.

Com o pós-eleição de 1860, quatro novas agremiações partidárias se firmaram: o Partido Progressista, o Novo Partido Liberal, o Partido Liberal Radical e o Partido Republicano.

239 Como explicitado ao final da nota de rodapé anterior, tratava-se de um Gabinete que levava o

nome do Marquês de Olinda, Pedro de Araújo Lima, o então Presidente do Conselho de Ministros, nomeado em 4 de maio de 1857.

240 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

Paulo: Alfa-Omega, 1980. p. 38-39.

O Novo Partido Liberal e o Partido Republicano, segundo ARINOS242, teriam se formado a partir dos movimentos de esquerda, inclusive porque “prosseguia, dentro dos quadros parlamentares, a evolução para a esquerda que levou da Conciliação ao Progressista, deste ao liberalismo radical de 1868, até que a ala esquerda deste último se tornou solidamente republicana”.

Enfim, o Partido Progressista era formado por integrantes das alas liberais e de dissidentes conservadores, considerados moderados. Antes mesmo de se formar partido era conhecido como a “Liga”, a “Liga Progressista”, fruto da liquidação da Conciliação. Nasceu exatamente durante a legislatura de 1861. Sustentava, como objetivo de organização estatal e sistema político propriamente dito, a oposição pela reforma da Constituição, pela eleição direta, pela descentralização política e pelo exclusivismo nos cargos públicos. Defendia, de outro lado, a regeneração do sistema representativo e parlamentar a partir da implantação em definitivo da divisão de poderes políticos, a responsabilização dos ministros de Estado pelos atos do Poder Moderador, a defesa dos direitos e interesses locais da província e do município, a reforma e correta execução da lei eleitoral com garantia de qualificações verdadeiras, a eleição com garantia à real expressão da vontade nacional e representação das minorias, dentre outros.

O Partido Liberal-Radical e o Novo Partido Liberal, embora este em menor dimensão, “se assemelhavam muito mais a facções mais progressistas do Partido Liberal então existente do que a qualquer outra coisa.”243

O Novo Partido Liberal teve sua formação em 1869, a partir da união de liberais históricos e progressistas insatisfeitos com a dissolução, pelo Imperador, em 1868, do Ministério Progressista criado em 1866. Eram considerados centro-liberais e, assim como os progressistas, também defendiam a responsabilização dos ministros pelos atos do Poder Moderador. Constituíam projetos seus a descentralização política nos moldes das condições sustentadas pelo Ato Adicional de 1834244; a supressão da vitaliciedade dos senadores e sua incompatibilidade,

242 ARINOS DE MELO FRANCO. Afonso. História e Teoria dos Partidos Políticos no Brasil. 3ª ed. São

Paulo: Alfa-Omega, 1980. p. 42.

243 JEHÁ, Pedro Rubez. O processo de degeneração dos Partidos Políticos no Brasil. 2009. Tese

(Doutorado em Direito do Estado) – Universidade de São Paulo: Faculdade de Direito, São Paulo, 2009. p. 46.

244 O Ato Adicional de 1834, que consistiu na edição da Lei nº 16, em 12 de agosto, foi conquistado

por forte pressão dos setores políticos liberais. Tinha por objetivo promover a alteração da Constituição Política do Império e na Lei de 12 de outubro de 1832, de modo que garantida fosse maior autonomia às Províncias, inclusive para a criação de Assembleias Legislativas próprias, no

juntamente com os deputados, de exercerem diversos cargos públicos; a reforma eleitoral por eleições diretas na Corte, nas capitais das províncias e nas cidades integradas por mais de 10 mil almas; e a independência do Poder Judiciário, dentre outras prerrogativas. Seus integrantes foram os fundadores do Clube da Reforma e do Jornal Reforma, ambos na Capital do Império, jungidos ao poder de difusão de seus ideais.

O Partido Liberal Radical, por sua vez, foi constituído em 1868, no ano anterior ao Novo Partido Liberal. Sustentavam ideias ainda mais ousadas, como a extinção, de vez, do Poder Moderador, e não simplesmente a imposição de responsabilidades aos Ministros pelos atos do Imperador. Proclamavam, também, a eletividade dos senadores e a implementação de mandatos por tempo determinado, assim como dos Presidentes das Províncias. Reclamavam, tal qual o Novo Partido Liberal, a instituição do sufrágio direto e generalizado, dentre outros.

Em 1870, final do Império, nasceu o Partido Republicano, especificamente em 3 de dezembro, com o famoso texto “Manifesto Republicano”, apresentado na primeira edição do jornal “A República” por um grupo de políticos paulistas liderados pelos fundadores do Clube Republicano, Quintino Bocaiúva e Saldanha Marinho. Foi o primeiro e principal organismo partidário formado com o intuito de se combater a monarquia, num período em que o governo imperial sofria sucessivas crises e a política cafeeira da região sul brasileira o inverso: forte ascensão e destaque. Os liberais descontentes com a queda do Gabinete Liberal de 1868 defendiam ideais positivistas, republicanos e federalistas, justamente porque acreditavam serem esses os caminhos à verdadeira representação política e não a monarquia. Raízes dessa base partidária logo se fincaram no Partido Republicano Paulista – PRP, fundado em 03 de julho de 1873, na Convenção de Itu, em São Paulo e no Partido Republicano Mineiro – PRM, instituído em 1888.

Importante destacar que embora existentes, a doutrina apontava os partidos políticos como instituições minoritárias, sem vínculo popular. Isso porque a representação política se ligava, como já ressaltado, à vontade do Imperador, especificamente nas nomeações por ele promovidas a partir dos candidatos

lugar dos Conselhos Gerais existentes, dotadas de atribuições administrativas e legislativas bastante significativas. Na prática, não teria trazido a efetividade esperada: o poder centralizador do Imperador permanecia na pessoa dos Presidentes Provinciais que nomeava e a quem todos deviam obediência.

sugeridos pelos chefes dos partidos políticos ou, ainda, por seus candidatos próprios. Conforme anotado por CAVALCANTI245:

No que toca aos partidos políticos, sabe-se que, no decorrer da Conciliação, eles haviam, de certa forma, se desvinculado de seus pressupostos socioeconômicos, visto que, de resto, tais pressupostos estavam coincididos e harmonizados. Por isso, tem razão Faoro quando diz que os partidos, naquele período de Conciliação, constituída “instituições minoritárias, sem vínculo popular, cuja autoridade se formava pela ligação com o imperador.”.

Para compreender respectiva fragilidade partidária, conveniente se faz, ainda que em breves linhas, traçar as características do sistema eleitoral da época. Nada se mostrava favorável à constituição de um sistema de partidos com seriedade.

As eleições se processavam de modo indireto ou de duplo grau, porque “a massa dos cidadãos ativos ou qualificados246, reunida em assembléias paroquiais, escolhia os eleitores de Província e, estes, por sua vez, escolhiam os representantes da nação e da Província” [sic].

E, além disso, o sistema eleitoral, durante praticamente todo o Império, obedecia ao modo distrital, de divisão das Províncias em círculos eleitorais para cada tipo de eleição (deputado geral ou deputado provincial), segundo os critérios da lei247. Adotava-se o modo distrital puro, majoritário de eleição248.

245 CAVALCANTI, Themistocles Brandão (Diretor de Pesquisa); CINTRA, Miguel Ulhôa; MARINHO,

Armando de Oliveira; AZEVEDO, Helvécio de Oliveira (Pesquisadores). O voto distrital no Brasil:

estudo em torno da conveniência e da viabilidade sua adoção. Rio de Janeiro: FGV, 1975. p. 64.

246 Que jamais podiam ser da natureza escrava ou do sexo feminino, exatamente como era

normalmente estabelecido em todo o mundo, assim como os mendigos e os civilmente incapazes (CAVALCANTI, 1975, p. 65).

247 O Decreto Lei nº 842, de 19 de setembro de 1855, que teria introduzido o Sistema Distrital no

Brasil, conhecido como a “Lei dos Círculos”, dividiu as Províncias em distritos uninominais, conferindo, em outras palavras, o direito de um deputado geral, apenas, ser eleito por distrito (aquele que obtivesse a maioria absoluta dos votos, se existente mais de um candidato concorrendo por círculo, ou escolhesse o distrito ou círculo que iria representar, caso se elegesse em mais de um círculo) e um ou mais deputados distritais serem eleitos para as Assembleias Provinciais, já que “a divisão dos círculos era outra e, dependendo do quociente eleitoral, poderia haver mais de um deputado por distrito, o que ocorria na maioria dos casos” (CAVALCANTI,

op.cit., p. 78). O objetivo era manter o esquema clássico de representação no Legislativo desde

então, qual seja, “impedir que as maiorias provinciais esmagassem as maiorias locais e parciais” (CAVALCANTI, ibidem). Além de existirem impedimentos a certos agentes para se elegerem, porque considerados incompatíveis com o exercício da atividade legislativa, na apuração de votos o governo também manipulava a outra parcela do problema, garantindo-se um triunfo seguro, invariavelmente.

Quando não processado pelo voto distrital, o sistema eleitoral se consolidava nos termos dos mandos e dos desmandos desejados pelo Imperador. O Poder Moderador, previsto na Constituição Federal de 1824 e a ele atribuído, conferia poderes suficientes para emitir decisão final sobre qualquer matéria, inclusive sobre ponderações contrárias do Legislativo, proferidas no regime de governo parlamentarista vigente à época.

Assim, no período do Primeiro Império, as eleições se fundamentavam em