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CAPÍTULO IV – A CRISE NO MUNDO DO TRABALHO, INFORMALIDADE

4.4 A relação da CUT com o trabalho informal nos anos 90

O nosso propósito desde o início da pesquisa era entrevistar dirigentes das duas

principais centrais sindicais do país: a Força Sindical e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) que são representativas pelo expressivo número de sindicatos filiados, representando milhares de trabalhadores em todos os segmentos da economia. Por conta disso, exercem grande influência política, contam com ex-militantes e sindicalistas que ocupam cargos no parlamento e no executivo. Sendo assim, tanto a CUT quanto a Força Sindical conquistaram sólidos espaços institucionais com a participação em fóruns, comitês, conselhos, ministérios, secretarias, além dos eventos em que as duas centrais são protagonistas, como por exemplo: as festas e shows realizados no dia do trabalhador86, as agências de recolocação de trabalhadores

86 A Força Sindical realiza Shows com cantores de renome nacional e sorteia carros e apartamentos provenientes

de doações dos empresários, assim consegue atrair milhares de pessoas que estão interessadas nos artistas e nos sorteios. Nos últimos anos a CUT também realiza Shows, porém não faz sorteios de prêmios. Os

no mercado de trabalho, as marchas que geralmente são realizadas por questões nobres como o aumento do salário-mínimo, reforma agrária, reforma tributária, contra ou a favor de algumas reformas propostas pelo governo quando demandam a articulação dos atores sociais tais como: patrões, trabalhadores e o governo, entre outras.

Não foi por outro motivo que a nossa intenção era escutar e analisar no âmbito desta dissertação a visão das duas centrais sindicais sobre o trabalho informal de rua em São Paulo, a principal cidade brasileira, e quais eram as políticas desenvolvidas pelas centrais para organizar e encaminhar em comum acordo as reivindicações dos trabalhadores informais nos anos 90.

Infelizmente não foi possível entrevistar nenhuma liderança da Força Sindical. Entramos em contato telefônico e enviamos dezenas de e-mails. Chegamos a falar pessoalmente com o secretário-geral da Força, o Sr. Juruna. Entretanto, a entrevista não foi agendada. A pedido da secretaria de imprensa, enviamos por e-mail as perguntas e apesar da nossa insistência as mesmas não foram respondidas. Logo, a pesquisa ficou incompleta sem a posição desta conceituada central sindical que teve papel relevante nos debates ideológicos ou pragmáticos com a CUT e também disputava acirradamente a ampliação dos espaços no movimento sindical durante a década de 90. A nosso juízo, a Força poderia contribuir significativamente para organizar os trabalhadores informais na cidade de São Paulo. Sem a entrevista não tivemos acesso a documentos que representam a visão da central por meio das resoluções dos congressos.

Por outro lado, representando a Central Única dos Trabalhadores (CUT), tivemos a oportunidade de entrevistar87 o ex-presidente da CUT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC por dois mandatos e atual deputado federal Vicente Paulo da Silva que fez questão por intermédio da sua assessoria parlamentar de agendar uma entrevista no escritório político em São Bernardo do Campo-SP.

A primeira pergunta para o ex-sindicalista foi relacionada à atuação da CUT junto aos trabalhadores da economia informal em São Paulo.

Vicentinho salientou que durante a sua gestão na década de 90, foi definida uma nova concepção sindical denominada “Sindicato Cidadão” no qual os sindicatos não deveriam ficar atrelados as questões econômicos e coorporativas, era fundamental os companheiros das direções dos sindicatos se envolverem com outras políticas sociais, evitando que a CUT e os sindicato formassem “guetos”. Assim podemos citar algumas iniciativas como o Fórum

protestos são realizados pelos sindicatos e movimentos sociais que se assumem enquanto esquerda.

Nacional de Lutas que reuniu a CUT, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), a Central de Movimentos Populares (CMP), a União Nacional dos Estudantes (UNE), setores progressistas da igreja católica, era uma necessidade dos sindicatos se abrirem para outras questões que são importantes para o conjunto da sociedade, movimento pela melhoria da educação, saúde pública, combate ao racismo, meio ambiente, reforma agrária, moradia, etc.

Conforme comentou Vicentinho:

Quando eu era o presidente da CUT, a direção da central percebeu o avanço e o crescimento da informalidade que representa precarização. É uma situação delicada, mesmo assim a CUT apoiou a formação do Sindicato da Economia Informal88, tivemos muitos problemas com a violência interna no sindicato, mesmo assim nós prestamos solidariedade para os companheiros, estivemos juntos.

A segunda pergunta abordou a mudança de postura da CUT, entre os anos 80 e 90. Na década de 80, a CUT era mais ligada aos movimentos sociais e estava mais próxima das demandas populares. Já na década de 90, a central agiu de forma institucional, negociando com o governo e também com os empresários questões que a central não admitia discutir na década de 80.

Para o ex-sindicalista:

Na primeira metade dos anos 80, o sindicato lutou para melhorar as condições de vida dos trabalhadores em um período muito difícil. Era a Ditadura Militar, não tínhamos liberdade para organizar os companheiros e reivindicar pelos nossos direitos. As greves no ABC foram importantes para impor o fim do Regime Militar. As assembleias do sindicato eram realizadas nos bairros, e quando o sindicato sofreu intervenção o companheiro Lula89 e outros membros da diretoria foram presos. Foi a

vez do sindicato receber o apoio das comunidades que arrecadou alimentos, participou ativamente dos movimentos convocados pelo sindicato.

Na década de 90, a pauta dos sindicatos era outra, a política neoliberal visava a flexibilização dos direitos. Aí os sindicatos tiveram que se organizar para impedir a retirada dos direitos e conquistas. Para evitar o isolamento propusemos o “Sindicato Cidadão”, a Agência de Desenvolvimento Solidário, a Rede Unitrabalho. Volto a frisar os sindicatos não poderiam virar “guetos”. Era um risco muito grande somente focar a pauta salarial das categorias.

O terceiro questionamento versou sobre as polêmicas propostas de revitalização do centro e a expulsão dos camelôs do centro histórico da cidade. Qual era a opinião da CUT? Vicentinho expressou que se lembrava muito bem da posição truculenta dos empresários que queriam expulsar os trabalhadores. Fez questão de mencionar a posição do

88 No ano 2000, quando João Felício era o presidente da CUT, foi lançada uma ampla pesquisa denominada:

“Mapa do Trabalho Informal: Perfil socioeconômico dos trabalhadores informais na cidade de São Paulo”.

89 Luis Inácio Lula da Silva foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC durante a década de 1970. Ele

foi o principal líder das greves no final dos anos 70 e início da década de 80, posteriormente fundou o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), foi deputado constituinte, e três vezes derrotado nas eleições para presidente da República, porém em 2002 foi consagrado nas urnas presidente do país e reeleito em 2006.

Sindicato dos Bancários de São Paulo através da concepção do sindicalismo cidadão desenvolveu um belo trabalho chamado Projeto Travessia. Naquela ocasião, o presidente dos bancários era o companheiro Gilmar Carneiro. Este projeto trabalha com os menores abandonados, crianças sem nenhuma expectativa que ficam no centro de São Paulo. Agora expulsar os trabalhadores não tem nenhum cabimento, é uma política preconceituosa, quando o cidadão não tem emprego se torna um estorvo, incomodadores.

Vicentinho disse: “Foi na gestão da Marta90 que eu ajudei a fundar o sindicato dos sofredores de rua com a participação dos trabalhadores que recolhem o material reciclável, o presidente Lula, prestigia sempre o almoço de Natal destes trabalhadores.”

A quarta indagação referiu-se à possível posição da CUT no processo de revitalização do centro tradicional de São Paulo.

Vicentinho foi categórico ao expressar que a CUT não é tutora de outros movimentos sociais, a central propõe políticas, articula-se com outras entidades que tem afinidades com as lutas do povo e dos trabalhadores em geral. Até os sindicatos filiados à CUT, têm a liberdade de se posicionar. Podem ou não seguir as orientações democraticamente votadas nos congressos, encontros. Ele disse que como a CUT é uma central democrática plural, existem as tendências, disputas entre as correntes e não é fácil praticar a democracia.

Na quinta pergunta aproveitamos a crítica de um dirigente dos camelôs que verbalizou: “No passado as centrais sindicais eram mais presentes, atualmente eles (as centrais) dão um apoio amarelo”. Pedimos a opinião do ex-presidente da CUT sobre esta afirmação.

Vicentinho disse respeitar as críticas, apesar de não saber em que momento e o que motivou esta impressão do sindicalista. Também discursou enaltecendo o papel das centrais sindicais no Brasil e no Canadá, que são os únicos países em que as centrais mantêm estreita relação com os movimentos sociais. Nos outros países que conheço cada um cuida dos seus interesses, enquanto categoria, classe e no caso do Brasil o movimento sindical ampliou a sua ação em outros campos e isso foi positivo. Hoje os sindicatos estão mais sensíveis a outros problemas que afetam a vida dos trabalhadores.

Diante dos desdobramentos da entrevista, a última pergunta foi sobre a atuação parlamentar do deputado Vicente Paulo da Silva e as propostas que tramitam no congresso nacional para melhorar as condições de vida dos trabalhadores mais vulneráveis do ponto de vista socioeconômico.

O deputado foi enfático ao falar dos programas sociais do governo federal como a Bolsa Família e o Fome Zero, o crescimento da geração de empregos formais proporcionados pelo bom desempenho econômico, o apoio do Ministério do Trabalho por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social para formar cooperativas de trabalhadores, fornecer microcrédito, apoio do governo para a agricultura familiar, a redução de impostos em setores importantes que empregam muitos trabalhadores, etc.

O deputado Vicentinho91 ressaltou que o presidente Lula vetou a emenda 3 que com certeza iria aumentar a informalidade e a precarização. Se fosse sancionada entraria em vigor esta emenda como Lei e muitos trabalhadores assalariados que são pessoas físicas se tornariam pessoas jurídicas e teriam que pagar a Previdência Social, não tendo direito a férias, décimo terceiro, e muitos outros direitos. Aí sim que a informalidade iria aumentar. Os empresários estavam interessadíssimos em que esta emenda fosse aprovada e, através da bancada patronal, fizeram pressão no Congresso. A imprensa ficou de plantão, esta emenda não favorecia os trabalhadores.

Vicentinho declarou que:

Eu tenho um projeto que já passou por todas as comissões cabíveis no Congresso para reduzir os impostos das empresas que contratem os trabalhadores com carteira assinada, incentivando a formalização. O lado patronal tem uma visão maniqueísta, querem precarizar as condições de trabalho. É comum dizerem que pagando todos os impostos quebram as empresas, falando do Custo Brasil, argumentam que os impostos são elevados, são muitas taxas e obrigações e se não sonegarem acabam quebrando. Para os empresários quanto menos pagar salários, impostos e encargos, maior é o lucro.

Todavia, percebemos na entrevista o elenco de realizações que Vicentinho protagonizou, enquanto dirigente da CUT. De fato se reorganizou para enfrentar os novos tempos, principalmente a agenda de políticas neoliberais, a mudança do perfil dos trabalhadores e uma postura diferente dos sindicatos que deveriam reivindicar menos e serem mais propositivos. Do ponto de vista institucional a CUT foi ocupando espaços em que não concordava em participar na década de 80. Nos anos 90 a Central sentou para discutir com o governo, por exemplo, a reforma da Previdência Social, a reestruturação produtiva com os capitalistas, etc. Vicentinho era o presidente da CUT nesta época e participou efetivamente destas transformações na Central que ganhou mais visibilidade na mídia. Hábil e inteligente ele fazia questão de opinar, polemizar, criticar e fazer por intermédio da CUT forte oposição

91 O deputado Vicentinho e a sua assessoria parlamentar foram gentis e elegantes ao conceder a entrevista.

Porém, devemos salientar que Vicentinho tem o dom da comunicação, é carismático, sempre bem humorado, além de contar com um raciocínio muito rápido. Outra característica dele é o leque expressivo de histórias e trocadilhos que ilustram a sua passagem pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC e também na CUT, atualmente atua discretamente no Congresso Nacional compõe a base governista que sustenta politicamente o governo Lula. Vicentinho foi reeleito deputado federal pelo PT.

às políticas do governo Fernando Henrique Cardoso.92 Isto contribuiu para a projeção da figura de Vicentinho em âmbito nacional. Sobre os mais variados assuntos ele era requisitado para opinar e fez isto com extrema competência.

Em outras palavras o que nos interessa é a economia informal de rua na cidade de São Paulo na década de 90, e as políticas cutistas para este setor da economia que reúne milhares de trabalhadores e vários interesses. De acordo com a entrevista concedida, durante os dois mandatos de Vicentinho à frente da CUT, podemos verificar que as ações de aproximação com os sindicatos dos camelôs foram muito tímidas. Segundo o ex-sindicalista foi na sua gestão que fundaram o Sindicato da Economia Informal. Entretanto, fundar sindicato de ambulantes não significa tarefa árdua, pois estas entidades não tiram o cobiçado imposto sindical ou fragmentam a base territorial de sindicatos já constituídos93. Os sindicatos oficiais contam com a carta sindical e, portanto, tem o monopólio da arrecadação e a base territorial. Dezenas de sindicatos e associações dos trabalhadores ambulantes se formaram nos anos 90 sem necessariamente ocorrer contestações judiciais, entre os ambulantes. O grande embate é político, de concepção na defesa dos interesses da categoria.

Por outro lado, tampouco, visualizamos orientações por intermédio das Plenárias e Congressos da CUT nos anos 90 que fizessem menção aos trabalhadores da economia informal. Esta situação configura a baixa representatividade dos informais nas instâncias da Central e, mais do que isso, a direção da CUT não estava no mínimo sensibilizada com o crescimento dos trabalhadores que materializavam a precariedade do mundo do trabalho nas ruas da cidade de São Paulo, inclusive bem próximo da sede nacional da CUT no bairro do Brás, tradicional reduto dos ambulantes e do comércio popular.

Paradoxalmente, os trabalhadores informais não foram “percebidos” pela principal e mais combativa central sindical brasileira na década de 90, na gestão de Vicentinho que foi o principal protagonista e incentivador do “Sindicato Cidadão”. O que verificamos é a total ausência de solidariedade e apoio material como infraestrutura, sustentação política para o fortalecimento dos camelôs que lidam na sua labuta com o público em lugares com expressivo

92 Eminente sociólogo da Universidade de São Paulo (USP) durante o Regime Militar (1968-85) lecionou nas

mais renomadas Universidades da América e da Europa. De volta ao Brasil ocupou cargos públicos importantes como Senador da República, Ministro de Estado, até ser eleito Presidente da República em 1994 e reeleito em 1998.

93 De acordo com o Ministério do Trabalho existem no Brasil, aproximadamente 18 mil sindicatos a maioria de

trabalhadores. É importante frisar a acirrada luta para formar novas entidades geralmente fragmentando sindicatos de categorias já existentes. Esta situação é um dos motivos da violência que ocorre no meio sindical. Não podemos esquecer que milhares de sindicatos são cartoriais, ou seja, têm a função de bater o carimbo e a garantia por Lei de arrecadar o imposto sindical dos trabalhadores de uma região o que configura monopólio da representação.

fluxo. Eles estão sempre na mídia e todos os prefeitos da cidade de São Paulo, sancionaram leis e decretos para “regulamentar” a atividade ambulante. Ou seja, esse conjunto de trabalhadore não é invisível. A maioria da população sabe de cor e salteado onde estão os bolsões que concentram os camelôs na cidade.

Para finalizar, a década de 90 foi um desastre para os trabalhadores, pois o desemprego disparou, causando desassossego para os pais de família que não encontravam meios para sustentar suas proles através de um emprego com carteira assinada. A situação não era diferente para os jovens decepcionados com a falta de oportunidades. O desaguadouro para uma parcela dos trabalhadores que não enveredou para o mundo do crime foi a economia informal.

Neste momento crucial para os trabalhadores, as centrais e os sindicatos voltam-se para os interesses corporativos das suas respectivas categoriais profissionais, defendendo com unhas e dentes os empregos que ainda eram preservados e em algumas situações contribuindo para flexibilizar conquistas históricas, reduzindo a quantidade de cláusulas das convenções coletivas, realizando acordos e parcerias questionáveis com os empresários. Afinal os impostos compulsórios e a fundamentação dos discursos sindicais precisam de uma base material cristalizada nos trabalhadores com carteira assinada, mesmo que estes não representem a maioria da classe trabalhadora. Além disso, estão cada dia mais afastados dos sindicatos cuja retórica deixou de ser envolvente como era no passado, pois a força dos sindicatos é coletiva. Esta solidariedade está cada dia mais comprometida com o avanço inexorável do individualismo que ganha dimensão com a era neoliberal94.

Podemos afirmar que a CUT não tinha projetos políticos para os trabalhares informais e tudo que foi realizado nas palavras do seu dirigente não correspondeu minimamente à demanda histórica e imediata dos trabalhadores mais vulneráveis. É óbvio que não queremos responsabilizar as Centrais e os sindicatos pelas péssimas condições deste conjunto de trabalhadores. Mas não resta dúvida que poderiam ter ampliado o debate e os encaminhamentos com as entidades sindicais que representam os informais e careciam de apoio mais consistente do movimento sindical organizado e, principalmente das centrais sindicais que possuem peso nos debates e fomentam a reflexão sobre os mais variados temas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, a informalidade representa as atuais tendências de precarização do uso e da remuneração da força de trabalho, associada com a modernidade da reestruturação produtiva capitalista. Nesta conjuntura, inclui-se a ampliação da desregulamentação neoliberal dos direitos sociais e trabalhistas em meio ao avanço da revolução tecnológica.

Nosso objetivo não foi estigmatizar os camelôs como vítimas. Apenas constatamos que este conjunto de trabalhadores labora sem as garantias mínimas de cidadania, pois a maioria não é reconhecida de forma legal, pelo simples motivo de não deter o Termo de Permissão e Uso (TPU) para ocupar o espaço público. Uma parcela ínfima dos informais contribui para a Previdência Social. Mais do que isso, praticamente todos os prefeitos que assumiram a gestão da cidade de São Paulo nos últimos cem anos enviaram propostas para o poder legislativo tratando das questões inerentes ao trabalho ambulante na cidade. Porém poucos foram os prefeitos que tentaram organizar e legitimar o trabalho informal de rua na cidade.

O mapa: Comércio Informal de Rua nos Anos 90, espacializa o território ocupado pelo comércio ambulante, justamente nesta região em que houve maior concentração de milhares de camelôs, comercializando inúmeras mercadorias, como por exemplo, alimentos: cachorro quente, churrasco grego, algodão doce, pipoca, milho verde, amendoim, cocada, pé de moleque, trufa, bolos, frutas, suco, água, picolé, sorvete, cerveja, refrigerante, etc; cd; pilhas; caneta e lapiseira; perfumes falsificados baratos; ferramentas como: martelo, marreta, metro, prego, furadeira, maquita, etc; brinquedos; cotonete; pente; escova; roupas: camisa, camiseta de time de futebol, jaquetas, calças, bermudas, cintos (a maior parte de origem duvidosa); revistas; agendas; antenas para televisão; tênis de marcas famosas made in China: Nike, Mizuno, Puma, Adidas, entre outros produtos.

A economia brasileira dos anos 90 na cidade de São Paulo foi o cenário perfeito para o crescimento do comércio informal de rua com destaque para o centro histórico. Podemos contextualizar, apontando por meio das baixíssimas taxas de crescimento econômico durante as décadas de 1980 e 1990. A queda abrupta nos ganhos de produtividade foram fatais para a geração de empregos formais, justamente neste período, com destaque para os anos 90 em que é introduzida a agenda de políticas neoliberais, além das metamorfoses que aconteceram no âmbito empresarial na gestão das empresas apoiadas nas novas tecnologias da era informacional.

A mudança do perfil socioeconômico da cidade de São Paulo que foi verificada a partir da segunda metade dos anos 70 tornou-se mais complexo e intenso nos anos 90, pois a cidade que gerava milhares de empregos no setor industrial por várias décadas, passou a perder musculatura no segmento, com o processo de descentralização do parque industrial brasileiro, motivado pelos altos custos de manter fábricas na cidade, a elevada valorização dos terrenos, congestionamentos quilométricos, sindicatos combativos e trabalhadores mais conscientes que exigiam melhores salários, sem esquecer da guerra fiscal que incentivou centenas de empresas a saírem de São Paulo. Obviamente que estas transformações tiveram