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CAPÍTULO I – BREVE PANORAMA DO MERCADO DE TRABALHO NO

1.4 Globalização e desemprego na década de 90

Durante os anos 90, esteve em voga o tripé neoliberal23 caracterizado pela: privatização, abertura comercial e desregulamentação. A postura do governo federal principalmente os presidentes Fernando Collor24 e Fernando Henrique Cardoso facilitaram, sobretudo o livre trânsito de produtos e capital financeiro que, via de regra, levou à bancarrota inúmeras empresas sem contar outras que foram desnacionalizadas, destruindo cadeias produtivas que demoram décadas para serem arquitetadas. Ficou evidente que a abertura sem critérios expôs parcela significativa do empresariado a uma concorrência com as empresas transnacionais25 que em diversos casos tinham subsídios dos países de origem, mais que isso, encontrava o incentivo fiscal do governo brasileiro para entrar no território nacional. Segundo o governo, estas iniciativas eram primordiais para fomentar a concorrência no mercado brasileiro que estava paralisado pela acomodação do setor empresarial.

Não obstante, os trabalhadores foram surpreendidos com o ajuste liberal conservador que não manifestava os compromissos da acumulação fordista, caracterizado pela aliança entre os atores sociais (Estado, Trabalhadores e Empresários). Neste cenário o “deus mercado” é super valorizado, substituindo a regulação pública promovida pelo Estado. Por outro lado, a introdução da Terceira Revolução Industrial, também corroborou para a desestruturação de milhares de empresas, por conseguinte do inconsistente mercado de trabalho brasileiro que passou a conviver com elevadíssimas taxas de desemprego no início dos anos 90.

A partir do governo Collor, o desemprego iniciou uma trajetória de crescimento, interrompida no período de 93 a 95, durante a fase expansiva do Plano Real, e retomada após os sucessivos choques monetários e creditícios adotados pelo governo Fernando Henrique para manter a insustentável e altamente custosa política de sobrevalorização do real. A permanência do desemprego elevado, acompanhado pelo desemprego de longa duração, corroi a segurança do mercado de trabalho. Os jovens perderam a expectativa de mobilidade social e os adultos, a estabilidade em seus projetos de vida. Os efeitos desse processo sobre a crise social são profundos: cresce a

23 De acordo com o Dicionário Popular de Economia, as palavras de ordem do neoliberalismo são:

modernidade, economia de mercado, fim dos subsídios, aumento dos impostos, menos Estado, fim das barreiras alfandegárias, extinção dos impostos de importação. Na prática, onde tem sido aplicado, está havendo o aumento generalizado da pobreza.

Nos países capitalistas desenvolvidos não se aplica o neoliberalismo. Lá há protecionismo e presença marcante do Estado. O neoliberalismo é usado apenas como luta ideológica da burguesia contra os trabalhadores, para opor-se às idéias socialistas do papel do Estado.

24 A precariedade do plano Collor II, aliada ao desgaste do governo com os efeitos do confisco ocorrido no

plano anterior, assim como as crescentes denúncias de corrupção acabaram por determinar o impeachment de Collor em outubro de 1992. (REGO; MARQUES, 2000, p. 188).

25 Empresas Transnacionais: empresas ou grupos que efetuam sua estratégia de expansão com base na

instalação de filiais fora do país de origem sem, contudo abandonar os vínculos com seu país de origem (ou seja, a matriz bem como a coordenação do grupo, permanece no mercado original).

exclusão social, a miséria, a desesperança e a marginalidade. (DIEESE, 2001, p. 12).

É notória, que no decorrer dos anos 90, foi introduzida a agenda de políticas neoliberais no Brasil, grosso modo, o propósito era promover uma ampla reestruturação da sociedade brasileira, pois era necessário modernizar para propiciar um cenário de competitividade das empresas nacionais, mais que isso, aceitar passivamente as regras estabelecidas pelo Consenso de Washington26 para o Brasil se inserir no processo de globalização econômica.

Não é novidade que o Brasil aderiu às políticas liberais de forma tardia, somente no início dos anos 90. Entretanto, o neoliberalismo causou forte impacto no mercado de trabalho que, via de regra, é subordinado à dinâmica macroeconômica e sensível às opções políticas governamentais que visavam a modernização conservadora. Isto significou a introdução do país de forma subserviente e passiva na globalização financeira internacional que manifesta a nova era de acumulação capitalista, já a pleno vigor em outros países, inclusive em diversas nações em desenvolvimento.

Esse modelo liberal contemporâneo cobrou um preço exorbitante, principalmente da classe trabalhadora, pois no período em questão ocorreram: a abertura comercial e financeira indiscriminada, a sobrevalorização cambial, as taxas de juros extorsivas, a privatização27 de empresas estatais importantes para articular setores fundamentas para o desenvolvimento autônomo, e as taxas ínfimas de crescimento econômico. O Brasil abandonou definitivamente todos os projetos de desenvolvimento nacionalista, ou seja, fundamentados na indústria nacional a abertura econômica teve saldo negativo para o parque industrial e consequentemente para os trabalhadores.

Em 1994, foi implantado o Plano Real que obteve sucesso ao reduzir e manter sob controle o processo inflacionário que fragilizava a economia nacional desde os idos anos 70. Contudo para conter a inflação, não existiu mágica; foi necessário colocar em prática a “âncora cambial” que gerou uma sobrevalorização da moeda. O cenário em questão proporcionou a busca pela produtividade para não sucumbir ao mercado por parte das empresas, desarticulando o mercado de trabalho que estava com o seu desempenho

26 O decálogo do Consenso de Washington representa reformas no âmbito do Neoliberalismo, tais como:

Ajuste Fiscal, Redução do Tamanho do Estado, Privatização, Abertura Comercial, Fim das restrições ao capital externo, Abertura Financeira, Desregulamentação, Reestruturação do Sistema Previdenciário, Investimento em infraestrutura básica, Fiscalização dos gastos públicos.

27 Sobre as Privatizações no Brasil, merece menção o livro: “O Brasil Privatizado” do jornalista Aluisio Biondi

e “Em defesa do Interesse Nacional – Desinformação e Alienação do Patrimônio Público” da Editora: Paz e Terra.

comprometido desde o início dos anos 80.

Mas a década de 90 também apresenta mudanças estruturais relevantes, como a rápida abertura de economia brasileira a criação do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul). Ambas dão início a reestruturação da indústria brasileira, que passa a ser contestada pela concorrência internacional direta ou potencialmente de forma mais decisiva. Os primeiros anos desse processo foram marcados pela negligência, pois ocorreram sem a construção dos marcos legais e institucionais necessários para permitir uma reestruturação não destrutiva da matriz industrial. Assim, vários elos da cadeia produtiva foram duramente atingidos, como é o caso da indústria de vestiário, têxtil, calçadista, química, de bens de capital e autopeças, entre outras. Os resultados sobre o emprego foram devastadores, em função do aumento das importações. (PRADO, 1999, p. 17).

Os anos 90 representaram o pior desempenho econômico do século XX. A economia permaneceu estagnada com exceção do período de 1993-95. Esta crise foi fundamental para os índices de desemprego crescerem sem cessar na década de 90, conforme as pesquisas realizadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), pelo Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) denominada Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, é justamente nessa conjuntura caracterizada pela ausência de crescimento econômico que são engendradas formas organizacionais nas empresas intrínsecas à acumulação de capital flexível, que introduziram profundas alterações, por intermédio das novas tecnologias fundamentadas nos princípios técnicos da microeletrônica, robótica, química fina, biotecnologia, informática e telecomunicações entre outras inovações características da Terceira Revolução Técnica e Científica.

O resultado dessas mudanças no paradigma produtivo teve saldo negativo para os trabalhadores que foram dispensados e não encontraram mais vagas de recolocação no concorrido mercado que havia perdido sua capacidade de gerar novos postos de trabalho de boa qualidade, geralmente abertos na indústria de transformação.

O novo paradigma de produção capitalista a partir do início dos anos 70, nos países centrais do capitalismo e na década de 80, nos países periféricos, caracterizou-se pela fraca

performance do modelo de produção fordista e das políticas de intervenção do Estado

articuladas pelo keynesianismo. Essa crise foi determinante para o florescimento de um novo modelo de produção, o toyotismo, desenvolvido no Japão. Além do mais, para superar as limitações do Estado de Bem-Estar, ganha relevância a doutrina liberal na gestão do Estado, ou seja, nesse momento o mercado acumula força diante das fragilidades das ações governamentais.

No modelo de acumulação japonês não interessava o Estado Providência que intervém na economia regulamentando, disciplinando o capital, impondo regras que limitam

os ganhos de produtividade. Esta postura do governo era rígida engessando as ações dos capitalistas que ansiavam por mais liberdade. Portanto para o capital flexível se viabilizar era primordiais a ruptura com as políticas públicas de caráter assistencialista que foram construídas nos países avançados no pós-segunda guerra e chegaram de forma limitada às economias da periferia do sistema capitalista.

Diante deste contexto, foi explícita a vitória de governos conservadores em todo o mundo, agindo na defesa do aprofundamento do liberalismo e no desmonte do Estado de Bem- Estar que era incompatível com os paradigmas do capitalismo flexível que necessitava de Nações mais comprometidas com os seus propósitos de livre mercado, circulação das mercadorias e de pessoas, redução das taxas alfandegárias, liberdade para os capitais voláteis entrarem e saírem sem restrições, entre outras medidas que eram pré-requisitos para a mobilidade do capital e o Estado deveria colaborar sem colocar obstáculos.

De modo mais geral, o período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao capitalismo. Na superfície, essas dificuldades podem ser melhor apreendidas por uma palavra: rigidez. Havia problemas com a rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo prazo em sistema de produção de massa que impediam muita flexibilidade de planejamento e presumiam crescimento estável em mercados de consumo invariantes. Havia problemas na rigidez do mercado, na alocação dos contratos de trabalho (especialmente no chamado setor “monopolista”). E toda tentativa de superar esses problemas de rigidez encontrava a força aparentemente invencível do poder profundamente entrincheirado da classe trabalhadora – o que explica as ondas de greves e dos problemas trabalhistas do período 1968 – 1972. A rigidez dos compromissos do Estado foi se identificando à medida que programas de assistência (seguridade social, direitos de pensão, etc.) aumentavam sob pressão para manter a legitimidade num momento em que a rigidez na produção restringia expansões na base fiscal para gastos públicos. O único instrumento de resposta flexível estava na política monetária, na capacidade de imprimir moeda em qualquer montante que parecesse necessário para manter a economia estável. E, assim, começou a onda inflacionária que acabaria por afundar a expansão do pós-guerra. (HARVEY, 1998, p. 135 e 136).

Diante dessa perspectiva exposta pelo pensador David Harvey, nos países avançados do capitalismo era factível mensurar a gravidade da crise que colocou em xeque o articulado compromisso keynesiano, pactuado pelos atores sociais: Estado, Capital e Trabalho – no decorrer do século XX. Obviamente após a 2ª Guerra Mundial, foram ampliadas as políticas ancoradas no Estado de Bem-Estar Social (Welfere State) que vigoraram nos países industrializados, durante aproximadamente trinta anos dourados.

Naquele período, houve significativas conquistas do movimento operário. A rigidez nos contratos coletivos de trabalho, combinada com o pleno emprego (baixíssimos índices de desemprego), e o financiamento estatal das políticas públicas sociais, sustentadas pela ampla cobrança de impostos dos capitalistas foi determinante na universalização da saúde, educação,

moradia, transporte, seguro desemprego, previdência social, etc.

Razão pela qual o enfraquecimento do modelo fordista/keynesiano, rompia com o padrão de produção que proporcionava estabilidade, principalmente para os proletários que eram protegidos pela rigidez dos contratos coletivos de trabalho e pela proteção do Estado que articulava os programas de proteção dos trabalhadores. Esse conjunto de políticas tinha um custo enorme para o erário abastecido com recursos arrecadados pela elevada carga tributária paga pelos empresários que se sentiam prejudicados e impedidos de fazer novos investimentos, etc.

Estava em voga na acumulação flexível, a descaracterização dos contratos que não permitiam nenhuma maleabilidade no padrão fordista. Sendo assim, o modelo toyotista, exige novos contratos sociais, adequados à nova realidade imposta pela produção enxuta, vis-à-vis, um trabalhador mais polivalente e participativo. Para disciplinar e conseguir a colaboração dos operários, a introdução de novas tecnologias oriundas ou aperfeiçoadas no bojo da Terceira Revolução Industrial eram fundamentais na transição dos modelos de acumulação, além das mudanças organizacionais nas empresas denominadas de reengenharia, e não foi só isso, deve- se levar em consideração as ínfimas taxas de crescimento das economias avançadas que consequentemente geraram dispensa da mão de obra e o empobrecimento dos trabalhadores. Nesta conjuntura, o Estado está com as suas políticas sociais em processo de reestruturação, ou seja, existem impedimentos impostos pelos ajustes macroeconômicos para socorrer os infortúnios da classe trabalhadora. O amplo sistema de proteção social foi profundamente questionado e alguns governos liberais iniciaram na década de 80 a sua desarticulação. É obvio que não se pode generalizar, pois alguns países não modificaram o arcabouço de proteção social, como por exemplo, os países que compõem a Escandinávia (Suécia, Dinamarca, Noruega).

A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrão de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças nos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego chamado “setor de serviços” bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidos (tais como a “Terceira Itália”, Flandes, os vários vales e gargantas do silício, para não falar da vasta profusão de atividades dos países recém – industrializados). (HARVEY, 1998, p. 140).

O debate sobre a acumulação flexível e o neoliberalismo que já era uma realidade nos países do Primeiro Mundo e chegou de forma tardia na sociedade brasileira (anos 90, com a

eleição do presidente Collor e com o aprofundamento do projeto nos dois mandatos do governo Fernando Henrique), teve como ponto de partida os ataques aos direitos sociais e trabalhistas conquistados pela sociedade civil organizada. Era fundamental, na visão liberal conservadora, desarticular a organização dos trabalhadores que acumulava forças desde as greves do novo sindicalismo (final da década de 70) e foi importantíssima para o processo de redemocratização (durante os anos 80).

O discurso que foi preponderante na década de 90 estava concatenado com as propostas da agenda liberal, visando a “modernização” do país a qualquer custo, mesmo que para isso tivessem que destruir o patrimônio nacional construído com décadas de trabalho do povo brasileiro como era o caso da empresas estatais. Além do mais predominou a total ausência de dialogo com os setores derrotados nas urnas que eram representativos. Diante deste cenário, políticos liberais conservadores em aliança com importantes setores do empresariado se vincularam o capital internacional fazendo absoluta questão de não construir mecanismo de interlocução entre os atores sociais, pois os interesses eram difusos, porém com a possibilidade de haver consenso em inúmeras questões que envolviam diretamente a soberania do Brasil, a produção e o emprego.

Todavia, naquele período o que estava em jogo era a abertura do país, até então considerado fechado, isto posto, na visão liberal poderia propiciar novas oportunidade de acumulação associadas com os novos paradigmas de produção capitalista, além de permitir a entrada do capital especulativo, outra importante fonte de rentabilidade por meio das elevadas taxa de juros pagas no Brasil.

A abertura do país propriamente dita foi imposta de forma avassaladora, como sempre de cima para baixo, pois os governos legitimados pelas urnas achavam-se no direito de não consultar os derrotados que eram rotulados agressivamente de atrasados, corporativistas, dentre outros estigmas que não contribuíram para o debate democrático a retórica predominante vislumbra um jogo no qual moderno era ser favorável ao processo de abertura sem restrição, ou melhor, defender o mercado que se auto regularia de acordo com seus interesses, enquanto os atrasados eram aqueles que clamavam por regras, preservação das estatais estratégicas, investimentos sociais, etc.

Não se pode menosprezar o papel da imprensa, principalmente dos grandes veículos de comunicação que desempenharam o papel de massificar diariamente as benesses do neoliberalismo, restringindo o espaço para as vozes oposicionistas. Seu objetivo era o convencimento sem reflexão, sobre a única alternativa que poderia melhorar as condições de vida da população, ou seja, o projeto neoliberal implantado de forma unilateral que estava

eliminando os postos de trabalho aqui e gerando emprego nos países do sudeste asiático, na Europa e nos Estados Unidos. Abandonou-se um programa de desenvolvimento industrial sedimentado na soberania e com a intervenção do Estado. Na visão dos liberais brasileiros isso representaria em última instância protecionismo e uma volta ao passado estreitamente vinculado ao atraso.

A partir da tese que liberar a economia era o único caminho e Fernando Henrique a única solução, não houve debate nem mesmo durante a campanha eleitoral. O eleitorado acabou escolhendo o mal que já conhecia, por temor de um mal maior, caso elegessem Lula sem condições de governabilidade. (KUCINSKI, 1999, p. 188).

A articulação da via única, materializada na aliança do governo federal, parcela considerável dos empresários e os grandes veículos de comunicação, por sua vez massificava a ideologia neoliberal e a globalização como dogmas. Em suma, a modernização do país aconteceu pelo prisma dos conceitos liberais, ficando naquela oportunidade consubstanciada a ideia de que a sociedade, principalmente os trabalhadores, os micros e os pequenos empresários e a agricultura familiar deveriam sacrificar-se e absorver os “novos tempos” sem maiores questionamentos, o que o próprio presidente Fernando Henrique salientou na ocasião: “Nós estamos vivendo um novo Renascimento”.28

Sendo assim, a década de 90 representou, em última análise, enorme sacrifício de setores subalternos, que já estavam exauridos com os descaminhos da economia na considerada década perdida (anos 80). Porém, mais uma vez, eram conclamadas a uma verdadeira cruzada pela modernização liberal da sociedade que infelizmente gerou benefícios para poucos, tais como banqueiros e transnacionais, em detrimento dos trabalhadores que arcaram com os maiores índices de desemprego, com o baixo crescimento econômico e com a reestruturação produtiva. Os pequenos empresários encerravam suas atividades devido à brutal diminuição da demanda e à concorrência dos produtos importados, muitas vezes mais em conta que os similares nacionais. Não se deve esquecer os juros elevados e da agricultura familiar sem crédito. Neste período o Brasil que era o maior produtor de feijão do mundo, importou do México este produto básico da alimentação da população porque os pequenos produtores rurais estavam deixando de cultivar esse produto. Com essa conjuntura, quem sobreviveu, submeteu-se aos interesses da internacionalização da agroindústria priorizando os produtos agrícolas para exportação ou vendeu sua propriedade para o agronegócio que se expandiu significativamente com o apoio do governo federal, totalmente contrário ás políticas de incentivos aos pequenos agricultores, e os assentamentos tiveram tímidos avanços, através

28 O então Presidente FHC proferiu esta frase na ocasião de uma entrevista em 1996, referindo-se aos

de muita luta dos trabalhadores rurais sem terra e de outros movimentos sociais que pressionavam as autoridades.

Em outras palavras, neste contexto também eram introduzidas as novas tecnologias que representaram um choque de gestão nos negócios. Como a mudança foi rápida em alguns setores estratégicos, a saída encontrada pelos executivos das empresas nacionais e transnacionais para encarar a concorrência mundial foi, no primeiro momento, fazer cortes lineares nos contingentes de funcionários, além de adotar a terceirização, as cooperativas de trabalho e os prestadores de serviços, free lancer. Era prioritário para os empresários focalizar e priorizar os negócios principais das empresas, sendo assim, as atividades de suporte, apoio, entre outras foram tiradas das empresas. Os capitalistas contaram também com o respaldo do governo federal que aprovou o contrato por tempo determinado, o banco de horas, a participação nos lucros ou resultados, o contrato de trabalho em tempo parcial, o salário