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A trajetória do movimento sindical a partir do novo sindicalismo e o surgimento da

CAPÍTULO IV – A CRISE NO MUNDO DO TRABALHO, INFORMALIDADE

4.1 A trajetória do movimento sindical a partir do novo sindicalismo e o surgimento da

Neste capítulo será resgatado brevemente o florescimento do novo sindicalismo no

final dos anos 70, pois é justamente através das ações encadeadas pelo sindicalismo combativo que foram determinadas a ideologia predominante, de maneira mais explícita no decorrer das décadas de 80 e 90 no movimento sindical, cristalizando um verdadeiro divisor de águas, pois de um lado estavam os sindicatos simpatizantes das propostas do grupo político que no início dos anos 80 fundaria a Central Única dos Trabalhadores (CUT). A postura dessas lideranças era caracterizada pela combatividade na organização dos trabalhadores no chão das fábricas, questionavam com veemência a superexploração da mão de obra, além de criticar o modelo sindical corporativo, herança da ditadura do presidente Getúlio Vargas na década de 30, que caracterizava os sindicatos como órgãos de colaboração de classe atuando em sintonia com o Estado, sendo enquadrado por meio da legislação que restringia sua liberdade de atuação. Portanto, os sindicatos na sua maioria eram entidades cartoriais, dependentes do reconhecimento do Ministério do Trabalho. Mais que isso, do ponto de vista financeiro são atrelados aos impostos compulsórios, por exemplo: imposto sindical, taxa confederativa e taxa assistencial.

Esta ampla estrutura arquitetada pelo Estado na opinião dos sindicalistas combativos limitava, sobretudo os sindicatos mais atuantes, pois predominavam no conjunto do movimento sindical de então (anos 70 e 80) os dirigentes sindicais pelegos, sem compromisso com a classe trabalhadora e que se aliavam aos patrões e o Estado, grosso modo, abandonando o trabalho de base.

Por outro lado, para minorar a influência dos sindicatos combativos, os sindicalistas tradicionais passaram a se aglutinar para defender seus interesses, dentre eles, manterem-se nas estruturas do movimento sindical, posicionando-se de forma antagônica às práticas sindicais que surgiram com todo ímpeto na região do ABC e que tiveram bastante repercussão no sindicalismo brasileiro. Sendo assim, muitos sindicalistas acomodados nos aparelhos sindicais foram defenestrados pelos trabalhadores que se organizavam nas oposições sindicais.

Era justamente esta posição mais radical dos sindicalistas combativos que incomodava os setores mais arraigados na máquina sindical, além obviamente da intenção de fundar uma central dos trabalhadores para solidificar a hegemonia no seio do movimento sindical.

Todavia, para cercear o crescimento da CUT no decorrer dos anos 80, o contraponto era o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo que havia contribuído de maneira significativa com o governo militar. Este sindicato era o mais importante e estratégico do Brasil, portanto sofreu a intervenção dos militares, e no período de redemocratização da sociedade brasileira as forças de oposição não conseguiram ganhar as eleições neste sindicato que continuou nas mãos de pessoas vinculadas aos empresários e com visão distinta da prática sindical “cutista”. O sindicalismo de resultados teve início na gestão do Sr. Luis Antonio de Medeiros76, à frente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, quando este ganhou as eleições em 1987. Esta vitória significou para o sindicalismo brasileiro a introdução do sindicalismo de resultados, semelhante ao sindicalismo praticado nos Estados Unidos, no qual há sempre uma convergência de interesses entre os empresários e a cúpula do sindicato que faz questão de negociar as reivindicações do dia-a-dia, enquanto as críticas e propostas para alterar ou suprimir o sistema capitalista são eliminadas da discussão.

Portanto o embrião da Força Sindical foi o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, através da influência principalmente do líder sindical Medeiros e também de Antonio Rogério Magri do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo que faziam o jogo dos empresários e do Estado, logo, tinham respaldo e espaços para criar obstáculos ao crescimento da CUT e dos sindicatos filiados que não eram cooptados pelos patrões no decorrer dos anos 80.

Os ânimos das duas principais centrais sindicais brasileiras, CUT e Força Sindical, estiveram bastante exaltados nos anos 80, pois a disputa que estava em jogo era obter a hegemonia do movimento sindical. Não se pode negar que estava em jogo o modelo político que o país adotaria após o fim do regime militar e os sindicatos exerceriam papel fundamental na transição e consolidação da democracia. Portanto a CUT sempre esteve próxima da esquerda, materializada principalmente no Partido dos Trabalhadores (PT), enquanto o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e, posteriormente a Força Sindical, apoiaram candidatos dos mais variados partidos, por exemplo: Fernando Collor de Mello, no segundo turno da eleição presidencial de 1989 na qual polarizou com o então candidato Lula, teve apoio do Sindicato dos Metalúrgicos que fez questão de emprestar um carro de som para que

76 Ver o livro de Vitor Giannotti: “Medeiros visto de perto” da editora Brasil Urgente (1994) que relata a

trajetória sindical deste líder sindical e os esquemas que foram articulados para que ele saísse vencedor das eleições do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, bem como os esquemas com governo do presidente Collor e os empresários para fundar a Força Sindical.

este fizesse excursão nas principais empresas metalúrgicas da cidade de São Paulo.

Com a vitória de Collor a agenda de políticas neoliberais é introduzida no Brasil no início dos anos 90. Sendo assim, viabilizou-se a ideia de Medeiros que levou a proposta ao então presidente de formar uma Central Sindical que faria oposição à CUT. O presidente Collor gostou da proposta de Medeiros e escalou o seu tesoureiro Sr. Paulo César Farias, o PC Farias, para arrecadar dinheiro entre os empresários para viabilizar a Força Sindical. Esta teve como função primeira combater a CUT fazendo-lhe oposição: dividindo os sindicatos “cutistas” através da influência de Antonio Rogério Magri que se tornou ministro do trabalho e favoreceu abertamente as políticas contra os sindicatos filiados à CUT e difundindo a política neoliberal aos trabalhadores. Afinal, Medeiros contava com a simpatia da mídia e dos empresários para dialogar com a classe operária.

A crise econômica da década de 90 e a reestruturação produtiva geraram elevados índices de desemprego, fragilizando a ação do movimento sindical, principalmente as greves que simbolizavam o mais importante instrumento para colocar em xeque os empregadores. É importante salientar que em 1989 o Brasil foi o campeão mundial de horas paradas, motivadas pelas greves. Já no início da década de 90, os movimentos paredistas diminuíram acentuadamente com o aumento do desemprego.

Nesta conjuntura adversa, os sindicatos tiveram que mudar suas táticas e estratégias. Diante do baixo índice de crescimento econômico e das mudanças organizacionais nas empresas, os sindicatos passaram a defender a manutenção dos postos de trabalho, mesmo que para tanto, tivessem que aderir à flexibilização de direitos trabalhistas. Os discursos nas portas das fábricas já não entusiasmavam os trabalhadores que estavam receosos com as dispensas e as inúmeras dificuldades para voltar ao mercado de trabalho. Portanto os sindicatos ficaram na defensiva, negociando com a pauta imposta pelos empresários e o governo cujo objetivo era reduzir os direitos para manter os empregos, no melhor estilo das políticas neoliberais que estavam no auge.

Com o agravamento do desemprego, aumentou a vulnerabilidade da classe trabalhadora e, por pressuposto, o exercício de atividades precárias sem proteção. Em detrimento da falta de oportunidades no mercado formal, aumentou significativamente a informalidade. Quem deveria representar os trabalhadores na informalidade? A maioria dos sindicatos de trabalhadores estava mais ou menos vinculados à estrutura corporativa do Estado para garantir a base territorial ou os impostos compulsórios, alicerçados nos trabalhadores com carteira assinada dos quais é possível efetuar os descontos no contracheque.

falam em nome da categoria, porém enfrentam inúmeras dificuldades, pois a solidariedade de classe que ocorre em outros segmentos de trabalhadores não é verificada entre os ambulantes. Estes, de forma individualizada, procuram resolver seus problemas. Além disso, não há identificação dos sindicatos como representantes dos trabalhadores.

Seja como for, como as centrais sindicais, CUT e Força Sindical, durante a década de 90 contextualizaram o trabalho informal que cresceu, sobretudo na cidade de São Paulo, diante da falta de expectativa com relação ao mercado de trabalho. Além do mais, a maioria dos trabalhadores da economia informal de rua era constituída de metalúrgicos, bancários, comerciários, químicos, professores, trabalhadores da construção civil, domésticas e motoristas, entre outros que no passado tinham carteira assinada e foram demitidos e que estavam associados aos sindicatos que eram vinculados às Centrais Sindicais.

Isto posto, será investigado como as Centrais encararam a crise de emprego na década de 90 e a representatividade dos trabalhadores informais que deixaram de possuir a carteira assinada. Porém são milhares de trabalhadores que labutam nas ruas em condições precárias, suscetíveis à arbitrariedade do poder público, à violência policial e que são constantemente apontados pelos empresários de vários ramos como empecilho para revitalização do centro da cidade. São acusados de venderem mercadorias de origem duvidosa, entre outros argumentos que visam simplesmente reduzir ou eliminar os trabalhadores das ruas.