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1 FORMAÇÃO DO PROFESSOR POLIVALENTE: A CONSTITUIÇÃO DOS

1.4 A relação docente com os saberes da matemática

Ao refletir sobre a Educação Matemática no contexto escolar, depara-se diariamente com várias questões que cercam os docentes e que são ou não respondidas. Algumas dessas indagações se transformam em temas de pesquisa e ajudam a refletir mais sobre o assunto.

Em um universo de pesquisa variado, alguns pesquisadores se dedicam a estudar a complexidade do saber docente na área da Matemática, coletando dados e analisando os resultados a fim de contribuir para o avanço da qualidade da educação. Nesse sentido, o trabalho irá dialogar com autores que pesquisam a relação docente com os saberes matemáticos para compreender melhor essa temática.

O conhecimento dos conteúdos matemáticos é importante para o desenvolvimento do trabalho profissional do professor. Segundo Serrazina (1999) isso, por si só, não é suficiente para garantir a aprendizagem do educando. Necessita-se, portanto, que o docente, baseando-se na sua experiência e reflexão, saiba como ensiná-los e, também, reconhecer nesse processo o

conhecimento elaborado pelo aluno e suas articulações ao resolver os problemas como parte integradora do seu trabalho.

Logo, se entende que o trabalho do professor de Matemática deve “[...] compreender os princípios subjacentes e os significados em que se baseiam os procedimentos matemáticos; e apreciar e compreender as conexões entre as ideias matemáticas” (BALL, 1990 apud SERRAZINA, 1999, p. 140). Essa compreensão docente, ao ensinar um determinado conteúdo, poderia render possibilidades nos diferentes tipos de erros que os alunos produzem e, a partir disso, refletir sobre as conexões que fazem sobre o tema. Para Serrazina (1999), esse tipo de conhecimento não pode ser desassociado das suas práticas e do contexto escolar onde os atores estão inseridos.

Serrazina (1999), também destaca que a reflexão é fundamental para as mudanças de crenças e concepções do professor em relação à Matemática. Essas mudanças começam a ter um novo significado quando os docentes aprofundam seu conhecimento na área explorando novos materiais e atividades de ensino. A partir desse movimento, de conhecimento, o docente coloca em xeque suas crenças, aprende a refletir sobre a forma como os alunos elaboram o seu conhecimento e promove uma mudança das suas práticas.

Outro autor que convida a refletir sobre os conhecimentos matemáticos é Luiz Carlos Pais (2013). Segundo o autor, a presença da Matemática na escola é o resultado de diversos fatores que influenciam na didática e que vão muito além dos conteúdos, objetivos, métodos, recursos e estratégias. Não faltam argumentos para defender a sua existência, principalmente, ao considerar sua contribuição para a formação intelectual do aluno, por meio das práticas pedagógicas que visam favorecer ações compartilhadas entre professores e alunos. É justamente nas ações pedagógicas do professor que se encontra o seu maior desafio.

Para Pais (2013), a complexidade dos desafios vivenciados pelo professor, dos anos iniciais exige uma reflexão constante para a superação de conflitos existentes no seu cotidiano. Nesse sentido, espera-se uma articulação entre teoria, intuição e prática experimental, como um caminho para superar o obstáculo existente entre aluno e professor.

O autor entende que o trabalho em equipe, por sua vez, é indicado e muito relevante, pois possibilita uma convivência harmônica entre os atores, no contexto escolar. Essa relação cria possibilidade de troca e promove uma maior tolerância entre alunos e professores. Logo, pressupõe que a aprendizagem matemática é um processo mais significativo de descoberta e expansão do conhecimento.

Pais (2013) considera, ainda, como um dos principais desafios da Matemática a articulação entre memorização e compreensão. Segundo o autor, a função da memorização na

educação matemática deve coexistir com a compreensão do conteúdo. Não é possível ensinar o conteúdo matemático com uma memorização desprovida de significado. Ao contextualizar esse saber é possível proporcionar uma aprendizagem que ofereça maior sentido para os alunos, aumentando as condições e possibilidade do aluno de elaborar o conhecimento.

Nacarato, Mengali e Passos (2017) colaboram com a discussão ao analisar o movimento de produção de conhecimento matemático nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Segundo as autoras é importante criar um ambiente propício à aprendizagem.

Nesse sentido, a primeira qualidade a ser observada na sala de aula está relacionada ao diálogo que se estabelece entre os atores (alunos e professores). A segunda se relaciona à comunicação que possibilita o compartilhamento de ideias e saberes. Essas duas características precisam estar articulada às práticas docentes. Esse movimento de comunicação e diálogo exige certas interações e negociações de significados que fazem o professor e alunos se envolverem intelectualmente na atividade.

Para as autoras, os alunos precisam aprender a ler matematicamente para, assim, interpretar texto matemático e familiarizar-se com a linguagem e símbolos. Nesse processo, consideram-se os registros escritos (das estratégias, relatórios, opiniões, etc.) como uma importante prática pedagógica que auxilia o trabalho do professor. Esse tipo de atividade ajuda o aluno a compreender os significados das formas escritas, além de desenvolver, organizar e sistematizar o pensamento. A escrita, portanto, potencializa o trabalho pedagógico e ajuda o aluno a construir uma memória Matemática por meio dos registros.

Nacarato, Mengali e Passos (2017) defendem a ideia do desenvolvimento da atividade intelectual na resolução de problemas a partir de três perspectivas: a resolução de problemas como uma meta, como um processo e como uma habilidade. Para que essa realidade se desenvolva em um ambiente de aprendizagem é necessário, em primeiro lugar, constituir o objetivo para ensinar matemática; segundo, elaborar procedimentos e estratégias para o seu desenvolvimento; e terceiro, a avaliação como instrumento para compreender a construção do conhecimento elaborado pelo aluno. Segundo as autoras, esse tipo de atividade tem contribuído para o desenvolvimento da autonomia do aluno.

Percebe-se até aqui a importante correlação dos saberes docentes com a formação, inicial e continuada, com a disciplina, com o currículo e com a experiência que permite a construção da identidade profissional. Observou-se também a articulação dos autores frente aos desafios e as possibilidades, sobretudo, dos pesquisadores da área do conhecimento da Matemática. Esse diálogo apresentado pelos autores permite, ainda, refletir sobre a complexidade de ser professor e de ensinar matemática dentro do espaço escolar. Nesse sentido,

entende-se que essa argumentação a respeito do tema se torna fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa, pois colabora para identificar e compreender as práticas declaradas dos professores e dos gestores sobre o ensino dessa área do conhecimento.

1.5 A prática educativa do professor segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais,