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2 AVALIAÇÃO MATEMÁTICA EM LARGA ESCALA: DESAFIOS E

2.1 A Avaliação interna em Matemática

Essa parte da pesquisa procurou compreender as principais concepções da avaliação interna. Essa investigação possibilitou compreender o contexto histórico das avaliações e seu desenvolvimento, percebendo as relevantes diferenças entre elas. Foi possível, também observar os impactos de cada uma no cotidiano do professor, seus desafios e possibilidades.

A avaliação, de modo geral, é um instrumento utilizado pelos docentes para mensurar o aprendizado do aluno. Ao avaliar o seu contexto histórico, na educação brasileira, observa-se o seu perfil classificatório que, por meio de provas e notas, mede a capacidade de memorização do aluno. Jussara Hoffmann (2009) questiona essa avaliação classificatória em detrimento a melhoria à qualidade de ensino. Segundo a autora, esse sistema classificatório considera o aluno um receptor passivo dos conteúdos ministrado pelo professor. Subestima, portanto, a potencialidade investigativa proporcionada pelo “erro do aluno”, padronizando as respostas a fim de obter dados suficientes para sua reprovação.

Contrariando essa a concepção avaliativa classificatória Hoffmann (2009) introduz a problemática do erro em um contexto dialógico e construtivista, em que a correção da tarefa proporciona reflexão a respeito da construção de conhecimento do aluno que, interpretada pelo professor, resulta no entendimento a respeito dos conceitos desenvolvidos pelo discente e o encaminha para a sua superação, por meio de uma avaliação mediadora.

Bloom (1983) contribui para discussão ao classificar a avaliação em três categorias: diagnóstica, formativa e somativa. A avaliação diagnóstica que ocorre, geralmente, no início

do ano letivo tem como finalidade: conhecer o aluno, seu respectivo nível de conhecimento/habilidades e identificar suas eventuais dificuldades para posteriormente replanejar o trabalho a fim de atender as necessidades do aluno. A avaliação formativa tem como intenção verificar o desenvolvimento do aluno quanto aos objetivos propostos para cada disciplina É por meio dessa avaliação que o professor e aluno tomam consciência das suas deficiências. Para o professor, permite refletir sobre a sua forma de ensinar, reformulando e aperfeiçoando a sua prática, de modo atingir o seu objetivo. Para o aluno, possibilita a tomada de consciência de seus erros e acertos, por meio do feedback docente. A avaliação somativa, ocorre no final do período (bimestre, trimestre, por exemplo) e tem como função avaliar o desenvolvimento do aluno quantitativamente.

Embora se reconheça a contribuição do autor para essa área do conhecimento, há de se destacar a crítica sobre a avaliação somativa. Como observado anteriormente, Hoffmann (2009) questiona esse tipo de avaliação classificatória que nem sempre contribui para o desenvolvimento do educando. Para autora, esse processo não articula uma atividade com a outra e não acompanha o processo dinâmico de ensino aprendizagem, considerando-o um método isolado, estático e sem qualquer ligação com o todo.

Nota-se, nesse contexto, a importância da reflexão acerca da avaliação como um processo formativo que reconhece as diferenças dos alunos e suas especificidades. A National

Council of Teachers of Mathematics (NTCM, 1995) comunga dessa visão ao relatar a avaliação

como uns dos instrumentos essenciais para o sucesso dos educandos e ao propiciar um ambiente de aprendizagem Matemática mais justa, ao mesmo tempo apoiar os professores nesse difícil processo.

Entende-se, portanto, que a avaliação é um processo que começa pela compreensão das diferenças relacionadas a partir das desigualdades educacionais dos alunos e das suas especificidades cognitivas. Essa observação inicial ajuda a entender melhor sobre o desenvolvimento do saber matemático, pois mais do que dominar conceitos é imprescindível o seu desenvolvimento na resolução de problemas, na formulação de hipóteses e na comunicação (SERRAZINA, 1999; PAIS, 2013, NACARATO; MENGALI; PASSOS, 2017). Essa nova proposta, talvez, deixe o professor inseguro, fora da sua habitual zona de conforto, se aportando nos tradicionais instrumentos avaliativos, impossibilitando, de fato, a mudança das suas práticas avaliativas. É exatamente contra esse viés que é preciso refletir.

Mudar concepções e práticas exige muito trabalho e é um exercício que não se deve cumprir solitariamente, mas sim coletivamente com a participação da toda sociedade (pais, alunos, professores e gestores, por exemplo). O NTCM (1995) compartilha dessa perspectiva e

pressupõe uma nova abordagem, na qual a avaliação se constitui como um meio de promover o desenvolvimento do aluno e não o seu fim. Ajudando-o, dessa maneira, a atingir os objetivos esperados ou, até mesmo, a superá-los.

Nessa concepção, o NTCM (1995) apresenta seis normas para que avaliação possa ser utilizada na análise das práticas avaliativas docente com a finalidade de apoiar o “desenvolvimento progressivo do poder matemático de cada aluno” (NTCM, p. 7), permitindo a criação de um processo avaliativo de qualidade. Essas normas referem-se à:

1 Matemática: norma que tem como objetivo refletir sobre o que os alunos devem saber e ser capazes de fazer, estabelecendo conjunto de ideias necessárias acerca do currículo da Matemática escolar, da compreensão e da aprendizagem. Portanto, as avaliações devem proporcionar aos alunos possibilidade de formular e resolver situações problemas estabelecendo conexões entre ideias matemáticas e a sua comunicação (em relação à matemática).

2 Aprendizagem: se constitui numa referência de mão dupla, em que os professores, por meio da avaliação, aprendem o que os seus alunos sabem e o que são capazes de fazer em Matemática; e os alunos aprendem algo que os docentes valorizam. Nesse sentido, a aprendizagem se torna um ciclo e não o fim. Ajuda o professor a refletir, continuamente, o que é importante para aprendizagem dos alunos e, consequentemente, auxilia as tomadas de decisões sobre o ensino.

3 Equidade: promove a igualdade entre os alunos, desconsiderando qualquer diferença e promovendo o atendimento à especificidade de cada educando. Nesse processo o aluno tem a possibilidade de demonstrar o seu poder matemático, ou seja, como aprendem e se comunicam matematicamente.

4 Transparência: essa norma pode ser assegurada, basicamente, em três pontos comuns. Em primeiro lugar que a informação do processo possa se tornar pública e disponível a todos por ela afetada, sendo revisada por meio de avaliações equitativas. O segundo valoriza o envolvimento profissional, na qual se discute “os objetivos da aprendizagem, as expectativas, o trabalho do aluno e os critérios de classificação” (NCTM, 1995). O terceiro relaciona ao processo contínuo de análise a fim de acompanhar a evolução da sociedade, relacionando-se a outras reformas, ao currículo e ensino.

5 Inferências: fundamenta-se em uma evidência adequada e relevante, ou seja, defendem que as decisões, relativa à aprendizagem do aluno, se fundamente no levantamento de dados proveniente de diferentes fontes e a partir dessa convergência de informações o professor consiga estabelecer inferências válidas no processo de aprendizagens dos alunos.

6 Coerência: baseia-se em três pontos relevantes. O primeiro se ampara no processo avaliativo que deve ser coerente as diversas etapas conforme o seu propósito. O segundo corresponde à maneira que será o seu desenvolvimento (recolhimento dos dados e sua interpretação) e, posteriormente, as ações que serão realizadas. O terceiro se relaciona aos objetivos do currículo e do ensino, somada a aprendizagens dos alunos e suas experiências.

Nota-se que a avaliação tem como propósito demonstrar indícios para o desenvolvimento matemático do aluno. Partilhando a responsabilidade nas suas diversas fases a fim de contribuir para o desenvolvimento de uma nova prática e uma nova concepção, na qual o aluno tem um importante papel, seja no fornecimento de informações para a tomada de decisões ou no seu desenvolvimento autônomo no processo.

Contudo, dessas mudanças advêm desafios imprevisíveis que podem ser superados na medida em que aprofunda-se o conhecimento nessa temática, principalmente, em uma sociedade como a atual, na qual as transformações ocorrem em uma velocidade cada vez mais acelerada e, assim, os caminhos conhecidos já não fazem mais sentido.

Nessa perspectiva, verificou-se que a avaliação interna é um importante instrumento de desenvolvimento da prática profissional, pois é o elo entre o método de ensino do professor e a aprendizagem do aluno. É nesse espaço de interlocução que um novo conhecimento sobre o ensino de Matemática se desponta uma vez que se compreende o raciocínio do aluno e a partir desse entendimento procura-se promover a elaboração de nova didática com a finalidade de proporcionar o aprendizado do educando.

A seguir, um breve estudo histórico da avaliação da educação educacional brasileira em larga escala e o seus principais objetivos, até chegar aos dias atuais.