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2 AVALIAÇÃO MATEMÁTICA EM LARGA ESCALA: DESAFIOS E

2.4 Avaliação externa: tensões e possibilidades

A avaliação externa, a partir da década de noventa, se constitui em um conjunto de ações para a superação dos problemas educacionais brasileiros que afetam o rendimento dos educandos, cujo objetivo configura-se na garantia e elevação da qualidade do ensino. Além disso, as avaliações externas auxiliam as decisões das políticas públicas do país, mensurando os resultados a fim de decidir e justificar o investimento ocorrido nessa área.

Os resultados das avaliações têm sido restritos à comunidade escolar devido a sua linguagem extremamente técnica. Essas informações dificilmente chegam às mãos dos professores para a análise e discussão dos resultados. Essa visão é defendida por Vianna (2014) ao afirmar que o SAEB tem apresentado informações dos dados de forma relevante por meio de relatórios que descrevem metodologia e os tratamentos que foram submetidos os resultados. Contudo, esse documento apresenta um excessivo rigor técnico que, de certa forma, exclui grande parte da sociedade interessada neste tipo de informes educativos.

Para Vianna (2014), a sociedade, de maneira geral, tem contato com resultados das avaliações, por intermédio dos meios de comunicações que apresentam essas informações nas diversas maneiras. Mas que nem sempre respondem os questionamentos gestores, professores, pais e alunos que procuram saber o seu desempenho de forma individualizada. Percebe-se, nesse sentido, a importância dos resultados no direcionamento a cada setor da sociedade com linguagem compatível a cada segmento.

Outra tensão verificada neste exame está relacionada à política de resultados padronizados que desconsidera a “[...] diversidade das características dos sistemas educacionais em diferentes regiões, a natureza dos currículos, a formação e experiência do corpo docente” (VIANNA, 2014, p. 221). Essa comparação traça um perfil equivocado da realidade brasileira, principalmente, ao comparar indivíduos de diferentes contextos sociais em um mesmo patamar, resultando em um julgamento humano com grande possibilidade de falha.

Para Amaro (2013), a imprensa credita o fracasso escolar a esse tipo de análise, comparativa, que responsabiliza as escolas e professores pelos resultados. Para o autor é necessário realizar uma investigação mais profunda e levar em conta outras variáveis que envolvam a responsabilidade dos poderes públicos. Claro que a participação dos professores influencia a qualidade educacional do país, mas não pode ser o únicos indicador, pois:

É fundamental que a qualidade envolva melhorias na formação de professores, na constituição da gestão democrática no âmbito das escolas, nas condições materiais de trabalho e de infraestrutura da escola, na segurança interna e nos arredores das

unidades escolares, assim como nas possibilidades de envolvimento das comunidades nas decisões da escola (AMARO, 2013, p. 39).

Portanto, a avaliação não pode desconsiderar as diversas dimensões escolares para dimensionar a qualidade do aprendizado das crianças. É preciso, por meio dela, obter informações compreensivas que permitam, ao professor e/ou a escola, tomadas de decisões que auxiliem o processo ensino-aprendizagem. Com isso é possível depreender que a melhora da qualidade na educação não está somente ligada aos educadores, mas sim em toda comunidade, havendo a necessidade da colaboração de todos os envolvidos.

As avaliações externas têm sido instrumento utilizado para medir o desempenho dos alunos e professores. Segundo Amaro (2013) medir não é avaliar e sim propiciar um dado reflexivo para o futuro. Entretanto, a maneira a qual essa avaliação é desenvolvida, de forma impositiva e sem consulta na sua elaboração pelos seus pares (alunos e professores), configura- se em uma ferramenta apenas de aferição dos resultados.

Esse modelo empregado na avaliação impossibilita o retorno dos resultados aos alunos e aos professores. Assim, os alunos que participam do exame não conseguem visualizar seu desempenho, em relação aos professores essas informações poderiam ser utilizadas individualmente, para observar o desenvolvimento do aluno durante o ano letivo e de forma geral, por sala, para compreender e refletir sobre sua prática.

Para Amaro (2013), as avaliações externas e as institucionais necessitam estar articuladas. Para refletir sobre suas finalidades e os usos das informações nela resultante, a fim de contribuir para desenvolvimento cognitivo do educando. Portanto, é preciso deixar para trás o modelo avaliativo que classifica e responsabiliza os gestores e toda comunidade pelo fracasso escolar, além da instituição de mecanismo de premiação e bônus.

Percebe-se, na discussão deste capítulo, que a avaliação é um importante instrumento que auxilia a prática docente de maneira reflexiva, ou seja, uma ferramenta de trabalho que contribui para o processo de identificação da dificuldade do aluno. O reconhecimento dessa condição possibilita, de certo modo, o redirecionamento do seu ofício para que seja atendida a especificidade do educando.

Contudo, é importante, nesse contexto, ressaltar a diferença entre a avaliação interna e externa, uma vez que a primeira permite o diagnóstico mais rápido e individual do aluno, a segunda, porém, proporciona um tempo maior de espera dos resultados e não são individualizados.

Entender essas distinções contribui para a reflexão das práticas declaradas dos sujeitos sobre o ensino de matemática. Esse aprofundamento do conhecimento acerca do tema

possibilita evidenciar e relacionar os conceitos assimilados na discussão do campo teórico junto à realidade apresentada pelos docentes, professor coordenador e diretor, destacando-se os mais relevantes pontos e concatenando com os principais objetivos dessa pesquisa. Dessa maneira, procurou-se dar continuidade e contribuir com essa discussão, nesse campo de pesquisa, ao compreender os desafios e as possibilidades vivenciados pelos indivíduos ao ministrar o ensino de Matemática.

3 PERCURSOS METODOLÓGICOS

Este capítulo descreve a metodologia utilizada e todas as opções e procedimentos adotados para o desenvolvimento deste trabalho, demonstrando a abordagem na qual se fundamenta o estudo, bem como a questão norteadora da pesquisa, seus objetivos e o critério de seleção dos participantes.

Para melhor organizar o capítulo foram estabelecidas seções para descrever a metodologia utilizada no trabalho, o cenário de pesquisa, critério de escolha da unidade escolar e características da unidade escolar.