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3 TRABALHO E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DO NEOLIBERALISMO

3.4 A Relação entre a Educação e vagas no Mercado de Trabalho

Propaga-se atualmente que a educação seria a principal ferramenta na busca pelo sucesso profissional. Assim, o discurso empregado e aceito pela grande maioria é que estudando

o retorno é garantido – seja por aprovações em concursos, seja por análise de currículos em empresas privadas. Tomando, por exemplo, um estudante da última fase do ensino básico, o ensino médio, surge o seguinte questionamento: os jovens que concluírem o ensino médio terão espaço no mercado de trabalho?

Mattos e Bianchetti (2011, p. 1169) citam Harvey (1993) para destacar que, entre os jovens que não estão trabalhando,

a necessidade da continuação dos estudos parece ser um ultimato devido ao processo acirrado de competição por um posto de trabalho, muitas vezes precário, a fim de se tornarem ativos no mercado, que mais exclui força de trabalho do que inclui no padrão de acumulação vigente.

Esse discurso se adequa à Teoria do Capital Humano que “cuida de atribuir os diferenciais de crescimento entre países e o agravamento das desigualdades à maior ou menor eficácia dos sistemas educacionais” (BELLUZO, 2012, p. 1).

Baseando-se nas manchetes de jornais, nos discursos cotidianos de políticos ou, ainda, nas plataformas de governo, responderíamos que a educação é, sim, a salvação para o problema do desemprego (MATTOS; BIANCHETTI, 2011). Entretanto, de acordo com esses autores, alguns estudiosos (HIRATA, 2002; CASTRO, 2004; KUENZER, 2005; POCHMANN, 2006; ALVES, 2007) fazem críticas a esses discursos que propagam a educação como a única e principal alternativa para todos os males sociais.

Para Mattos e Bianchetti (2011), a educação não pode ser concebida como igualitária, democrática e libertadora, pois ela é uma manifestação de uma sociedade dividida em classes, cujos contornos e condicionantes se mostram discriminatórios. Não havendo uma única educação, pois ela não é igual para todos, embora existam esforços para democratizá-la. Surge aqui o problema da escola dualista, devido ao sistema de produção vigente.

Os autores citados anteriormente concluem que, embora o alongamento da escolarização seja uma realidade, ele não fornece garantias quanto ao futuro profissional. Pelo contrário, o que se evidencia é a redução das oportunidades. Se a geração anterior, com nível escolar inferior ao de seus filhos, conseguia manter um satisfatório padrão de vida, o mesmo não acontece atualmente com os filhos, portadores de diplomas profissionalizantes e/ou universitários.

Nogueira e Nogueira (2009), dialogando com Bourdieu, lembram que para a classe de baixa renda não é fácil alongar ainda mais o tempo de estudo, pois maior tempo de estudos para essa classe é um investimento de risco muito alto, em função de sua condição socioeconômica. As famílias de baixa renda estariam pouco preparadas para aguentar os custos de um tempo maior de estudo e consequentemente, o retardo da entrada dos filhos no mercado de trabalho.

Mattos e Bianchetti (2011) afirmam que o objetivo do empresariado é investir em formação profissional com vistas a aumentar a produtividade, a qualidade e a competitividade no mercado. Já para os trabalhadores, os objetivos são incertos diante das possibilidades de formação profissional. Portanto, é muito vantajoso para o capital o discurso de alongamento escolar visando garantir um futuro profissional de sucesso do estudante.

Saviani (2008b) colabora com o debate ao afirmar que o objetivo da escola é dotar os estudantes de comportamentos flexíveis, permitindo-lhes ajustar-se as condições da sociedade, sem garantias de sobrevivência dadas, ou seja, sem garantias de emprego.

De acordo com Saviani (2008b), uma das características atuais, com base na teoria do capital humano, é o investimento individual para as pessoas competirem entre si pelos empregos disponíveis. No modelo capitalista não há emprego para todos e, de acordo com o autor, “a economia pode crescer convivendo com altas taxas de desemprego” (p. 430). O importante para o jovem é estar sempre atualizado para ampliar a empregabilidade e, caso não tenha êxito, a culpa será unicamente sua.

Nesse novo contexto não se trata mais da iniciativa do Estado e das instâncias de planejamento visando a assegurar, nas escolas, a preparação da mão-de- obra para ocupar postos de trabalho definidos num mercado que se expande em direção ao pleno emprego. Agora é o indivíduo que terá de exercer sua capacidade de escolha visando a adquirir os meios que lhe permitam ser competitivo no mercado de trabalho. E o que ele pode esperar das oportunidades escolares já não é o acesso ao emprego, mas apenas a conquista do status de empregabilidade. (SAVIANI, 2008b, p. 430).

Porém, tanto Pochmann (2004) como Belluzzo (in: Revista Carta Capital, 29/08/2012) alertam para a incapacidade da boa educação em responder aos problemas criados pelas questões econômicas atuais. Pochmann (2004) afirma que numa situação de estagnação econômica, baixo investimento em tecnologia e precarização do trabalho, a escolaridade termina se mostrando insuficiente para gerar trabalho.

O sistema capitalista tem como característica a diminuição dos custos e, ao se relacionar com a educação, a proposta continua a mesma: eliminar o refugo e o re-trabalho, ou seja, o aluno evadido ou o repetente. Esse processo vai ajudar na diminuição dos custos com a educação e no aumento da oferta de trabalhadores “competentes” para o mercado de trabalho. Nesse processo de formação, busca-se especializar ao máximo possível a educação do operário, visando seu melhor rendimento no mercado de trabalho. Segundo Belluzzo (in: Revista Carta Capital, 29/08/2012, p. 47),

A especialização e a “tecnificação” crescente despejam no mercado, aqui e no mundo, um exército de subjetividades mutiladas, qualificadas sim, mas incapazes de compreender o mundo em que vivem. Os argumentos da razão

técnica dissimulam a pauperização das mentalidades e o massacre da capacidade crítica.

Esse mesmo sistema não oferece emprego para todos, portanto, aquele aluno do médio integrado, após a conclusão do curso, tem uma probabilidade grande de ficar desempregado. Para Mészáros (2007), a universalização da educação, tema tão frequente nos discursos reformistas da educação a partir dos anos 1990, só poderá ocorrer com a universalização do trabalho, pois tais dimensões têm caráter indissociável. Essa universalização da educação em conjunto com a do trabalho, supõe necessariamente a igualdade entre todos os indivíduos. Apenas na perspectiva de ir além do capital essa universalização e igualdade podem ser vistas, porque a educação para além do capital almeja uma ordem social diferente.

O autor defende que as soluções devem ser buscadas não apenas na dimensão formal, mas no que é essencial. O autor reconhece que a educação institucionalizada serviu, nos últimos 150 anos, para fornecer condições técnicas e humanas para expandir o capital, ao mesmo tempo em que contribuiu para instalar valores que defendem os interesses dominantes e que negam alternativas possíveis a esse modelo.