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6 PROGRAMA DE INCENTIVO AO ESPORTE E LAZER NO INSTITUTO

6.3 Questões sobre a organização político-administrativa do Piel

6.3.2 Como os estudantes escolheram participar do ensino médio integrado do IFPE

O principal motivo, exposto pelos entrevistados para escolherem o IFPE - campus Pesqueira como instituição de ensino para cursar o ensino médio, foram as boas referências que eles tinham sobre a qualidade do ensino deste local. Familiares, amigos e professores das escolas de ensino fundamental orientaram e incentivaram, a eles, a tentarem o vestibular para ingressar no campus, pois a instituição traria vários benefícios para o seu futuro, devido à boa qualidade de ensino ofertada:

No meu caso foi pelo ensino mesmo, eu tinha referências, não de familiares, mas de outras pessoas que já tinham estudado aqui e falavam que o ensino era muito bom, então foi esse o principal motivo. (Usuário com auxílio-05).

Alguns familiares meus estudavam aqui e alguns estudam e entrei mais por incentivo deles, porque na região não tem um ensino de qualidade alta como a daqui. (Usuário com auxílio-07).

Vale destacar que 02 (dois) entrevistados afirmaram que, além do bom ensino, o interesse em estudar no campus Pesqueira surgiu por conta do Programa de Incentivo ao Esporte e Lazer (Piel) desenvolvido na instituição. Alguns amigos que já eram estudantes do Instituto e participavam do programa comentavam sobre o programa com eles, e diante disso, os mesmos se sentiram motivados em entrar no IFPE e buscar uma vaga no Piel:

Teve um amigo meu, aqui do basquete também, que começou aqui em meados de 2013 e o professor falava bem dele, dos jogos que iria ter, eu sempre ouvia eles falando nos treinos e eu ficava querendo participar desses jogos e teve outras pessoas, professores das outras escolas que me incentivou a fazer a prova, e falou que era um bom ensino e tudo, aí eu tentei a prova. (Usuário sem auxílio-05).

Primeiramente eu queria a todo custo entrar aqui, mais pelo esporte, não é à toa que eu entrei interessado na prova (do Piel), porém quando eu entrei aqui eu vi que a instituição era além do esporte, era algo a mais, que cobrava de mim, então a partir daí eu comecei a entender que a Instituição não era só o esporte, então a partir desse momento eu foquei mais nos estudos. (Usuário sem auxílio-03).

De acordo com a Lei nº 11.892/08, em seu Art. 7º, na alínea I, um dos objetivos dos Institutos Federais é “ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de cursos integrados, para os concluintes do ensino fundamental e para o público da educação de jovens e adultos”. Diante disso, parte dos discentes se depara com um problema,

que é a escolha do curso técnico. Muitos estudantes escolhem o curso sem conhecê-lo, e muitas vezes, não se identificam com ele.

Segundo Malacarne et al. (2007, p. 6),

É importante considerar que a escolha profissional está condicionada as mais diferentes influências, entre as quais estão as expectativas familiares, as situações sociais, culturais e econômicas, as oportunidades educacionais, as perspectivas profissionais da região onde reside e as próprias motivações internas do sujeito. Se estes aspectos não são levados em consideração pode provocar frustrações profundas no indivíduo na sua relação com o mundo do trabalho.

Considerando que a legislação referente ao ensino médio integrado supõe o encaminhamento dos jovens estudantes ao mercado de trabalho, Malacarne et al. (2007) alertam sobre a importância da escolha profissional, momento fundamental na vida do ser humano. Portanto, a escolha do curso pelo discente precisa ser feita de forma consciente e responsável, pois o mesmo nesse momento já estará estabelecendo vínculos com a profissão escolhida.

A pessoa pode entrar aqui no Instituto sem saber o que quer, e aí ao escolher o curso, pode ser aquilo que, realmente, ela quer e seguir com a vida dela, mas pode não ser o que ela quer e querer partir pra outro curso. (Usuário com auxílio-01).

A falta de conhecimento e maturidade do estudante, com apenas 14 ou 15 anos de idade, dificulta a definição por um curso técnico que possa lhe satisfazer. Segundo Loponte (2011, p. 1), o estudante sofre influência dos familiares ao escolher o caminho escolar, sobretudo no momento de definir o curso profissionalizante:

A família tem um papel importante na escolha da trajetória escolar do jovem, principalmente no caso de se optar por um curso profissionalizante — seja com a finalidade de obter um trabalho num futuro próximo, seja utilizando-se desse tipo de formação para ingressar na universidade. Admite-se que tanto as exigências e as expectativas elaboradas pela família quanto sua condição socioeconômica sejam fatores determinantes e definidores da trajetória seguida pelo jovem na escola.

Outro ponto que termina dificultando a escolha é a reduzida oferta de cursos técnicos. No campus Pesqueira, o estudante tem apenas duas opções de cursos técnicos: Edificações ou Eletrotécnica.

No entanto, mesmo não se identificando com o curso escolhido, para os estudantes é interessante continuar nessa modalidade de ensino para conseguir uma certificação técnica, coisa que lhe coloca na frente de muita gente por uma vaga no mercado de trabalho. Portanto, acredita-se que o aluno com baixa condição socioeconômica, que conseguiu acesso à instituição, teve desempenho satisfatório e concluiu o curso, tem suas chances aumentadas para

ingressar no mercado de trabalho e, com isso, na modificação de sua condição social e econômica.

Eu realmente não me dou bem com esse curso, eu realmente só estou aqui porque o meu currículo, mais pra frente, a minha formação técnica vai me colocar mais à frente do que outros que foram por escola particular, ou por escola estadual, a minha formação técnica vai me dar uma coisa a mais, mas pelo curso mesmo eu não gosto, que é edificações. (Usuário sem auxílio-02). Para os entrevistados, o ensino médio integrado é muito interessante pelo fato do estudante já sair com uma formação técnica. Apesar de um período mais longo para se formar, 04 (quatro) anos, ainda assim vale a pena. Como foi dito acima, a concepção dos estudantes é de que o diploma do curso técnico é muito importante para abrir as portas no mercado de trabalho:

Eu acho muito bom, porque se você faz o ensino médio em três anos e você pode fazer o médio integrado em quatro anos, sai bem melhor você fazer o médio integrado, por quê? Porque você faz o médio integrado em quatro anos e já sai com o diploma de ensino médio e com uma profissão de técnico, isso que já te proporciona trabalhar no mercado. Um ponto que atrapalha é estudar quatro anos, que por um lado pode ser um atraso e para outros não. (Usuário sem auxílio-06).

O mercado de trabalho tem certo preconceito com a idade pra você arrumar o seu trabalho e com a gente entrando aqui já no ensino médio já saindo com o técnico, acho que tem uma grande facilidade pra arrumar um emprego, mas fácil do que quem faz só o ensino médio normal, pra ainda entrar na faculdade, quando sair já está mais velho. (Usuário com auxílio-07).

Porém, tanto Pochmann (2004), como Belluzzo (in: Revista Carta Capital, 29/08/2012) alertam para a incapacidade da boa educação em responder aos problemas criados pelas questões negativas que ferem as economias contemporâneas. Abreu (2012, p. 108) segue a mesma linha e afirma que

A ênfase à formação por competências visando à formação de um trabalhador com múltiplas habilidades não é garantia de inserção no mundo do trabalho. A realidade e os estudos apontam que apenas uma minoria de trabalhadores alcança um alto nível de qualificação. Para a maioria essa tal empregabilidade se traduz na disponibilidade para aceitar qualquer emprego que lhe proporcione o mínimo de condições para sua sobrevivência, num mundo do trabalho em processo de precarização, e nem isso lhe é absolutamente garantido.

Porém, o autor reconhece que, apesar da compreensão acima, é fundamental considerar a importância da educação para o crescimento pessoal e das sociedades. Nessa perspectiva, o acesso à educação constitui-se interesse e necessidade da classe trabalhadora na luta por sua emancipação.

Apesar de ser uma Instituição que tem como objetivo a formação profissional e técnica, o direcionamento dos estudos para o Enem não é deixado de lado e isso foi levado em consideração pelos estudantes ao escolherem o IFPE para estudar, pois nas escolas públicas estaduais e municipais a qualidade do ensino é baixa e consideram que estas não preparam o aluno para o vestibular como o IFPE - campus Pesqueira.

De acordo com os entrevistados, os professores de formação geral, principalmente no último ano, direcionam o ensino da disciplina para o bom desempenho no Enem. Já os professores das disciplinas técnicas, além de contribuir para o aprendizado da função técnica, também contribuem na preparação dos alunos para concursos na área técnica:

No meu caso, não sei se tem algum aqui que está prestes a se formar, no meu caso, eu estou no oitavo período, nos dois períodos anteriores do sexto pra cá, os professores estão realmente batendo nessa tecla, no ENEM, todos os professores, sociologia, português, todos estão batendo na tecla ENEM, eles preparam a aula de acordo para você estudar para o vestibular, os exercícios, tudo. (Usuário sem auxílio-04).

“Não só para o vestibular, mas para concursos, dentro da área (curso técnico), eu acho que é excelente aqui. (Usuário com auxílio-04).

Os Institutos Federais conseguiram o status de escola com boa qualidade de ensino não só pela experiência vivida pelos alunos e ex-alunos dentro desta instituição, mas também pelos resultados expressivos nas avaliações de desempenho desenvolvidas pelo poder público. Uma dessas avaliações é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que além de avaliar o estudante individualmente, com o intuito de selecioná-lo para um curso da educação superior, serve, também, de avaliação da Instituição, ao fazer o levantamento das notas de todos os seus estudantes neste teste.

Logo, o IFPE, consequentemente o campus Pesqueira, sempre se destacou nas avaliações educacionais promovidas pelo poder público. E isso foi pontuado pelos entrevistados em suas falas, que devido ao bom ensino desenvolvido no Instituto, o mesmo sempre se destacava entre as melhores escolas de acordo com esta avaliação:

Eu acho que o ensino é muito bom, como um exemplo mesmo é o ENEM que o IF fica na frente de muitas escolas particulares devido ao ensino. (Usuário sem auxílio-07).

Os resultados expressivos nas avaliações educacionais são algo do conhecimento da população da região. Porém, neste ano de 2016, o MEC decidiu não divulgar os resultados dos Institutos Federais no Enem. Essa questão não será aprofundada, pois não faz parte do objeto de estudo, porém, fica aqui o questionamento: qual o objetivo em não tornar públicas as notas dos Institutos Federais?

Vale destacar outra particularidade do IFPE, que por ter em seus quadros grande parte dos docentes com pós-graduação (Doutores, Mestres e Especialistas), que lecionam tanto no ensino médio, quanto no ensino superior, e por oferecer o ensino médio no mesmo local que é oferecido o ensino superior e a pós-graduação (alguns campi já oferecem especialização e mestrado), contribui bastante para o desenvolvimento acadêmico do aluno do ensino médio e termina preparando-o melhor para a vida universitária. O estudante, no IFPE, já tem contato com atividades de pesquisa e extensão:

O nível de cobrança de escolas normais para aquelas que têm o integrado (os IF´s), é bem diferente. Aqui é mais aproximado com a universidade, então eu acho que o médio integrado ele lhe prepara bem melhor para a universidade. (Usuário com auxílio-07).

Apesar de ser uma Instituição que tem por objetivo a formação técnica e profissional do estudante, a maioria dos entrevistados relatou que ingressou no IFPE - campus Pesqueira com o objetivo de se preparar para o vestibular.

De acordo com alguns entrevistados que já estão nos últimos períodos do ensino médio, o curso técnico ajuda ou ajudou a definir o curso da graduação. O Usuário com auxílio-06, por exemplo, tinha a intenção de estudar no IFPE - Campus Pesqueira para se preparar melhor para o vestibular, mas sem saber a área que iria estudar no ensino superior. Depois que conheceu melhor o curso técnico (edificações), gostou tanto que pretende se especializar ainda mais na área fazendo uma graduação em arquitetura:

No começo era me preparar para o vestibular, porque eu entrei no IFPE sem querer fazer o curso, que era edificações, mas quando eu comecei, eu mudei minha ideia e pretendo ainda fazer arquitetura.

A perspectiva de alguns entrevistados é seguir estudando após o ensino médio, mesmo que consigam algum emprego e assim ter que conciliar os estudos com o trabalho:

Eu pretendo aproveitar o técnico para conseguir algum emprego, para que eu possa me sustentar enquanto eu entro na faculdade e quero fazer arquitetura. (Usuário com auxílio-07).

Percebe-se nas falas dos entrevistados certa segurança adquirida na vida profissional, por estar estudando o ensino médio integrado à formação técnica, pois de acordo com eles, mesmo que não consigam passar no vestibular, pelo menos eles já têm o curso técnico. Essa perspectiva abraçada pelo estudante do ensino médio integrado foi apontada em Loponte (2011, p. 8),

[...] mesmo buscando uma profissão a partir da escolha pelo curso, os jovens parecem não ter a intenção de exercê-la imediatamente, concluído o curso técnico. Uma das perspectivas adotada pelo jovem estudante é a de que ter

uma profissão propicia uma segurança para o futuro ou uma condição mais favorável para continuar a estudar, no ensino superior.