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6 PROGRAMA DE INCENTIVO AO ESPORTE E LAZER NO INSTITUTO

7.5 Concepções dos sujeitos entrevistados sobre o Piel

Os entrevistados afirmaram que o Piel é muito importante dentro do IFPE - campus Pesqueira e vários são os motivos alegados por eles. Para o Entrevistado-02, o Piel é relevante porque é uma atividade fora da sala de aula que leva o estudante a vivenciar diferentes acontecimentos, a lidar com emoções e leva o aluno a aprender a conviver com essas situações:

É uma outra forma de experiência da atividade educativa e que fica muito provavelmente marcado no aluno com muito mais força, porque envolve muito o exemplo, a experiência, você desenvolver atividades que é muitas vezes, que é, elas são as derrotas, são bastantes frustrantes, você tem que lidar com isso, e vir o outro dia de treinar e persistir isso é muito importante, acho que prepara melhor o aluno para a vida.

Outro motivo apontado pelos entrevistados é com relação à interação que o Piel proporciona entre o treinador e os usuários e entre os próprios usuários. Esse contato mais próximo, devido à peculiaridade da prática esportiva, favorece a criação de um ambiente escolar mais prazeroso e isso ajuda o jovem a progredir nos estudos. Favorece, também, o surgimento de novas amizades entre os usuários e uma proximidade maior com o treinador que pode contribuir na formação cidadã do usuário.

Eu o acho bom, porque tipo, você tem um contato mais vezes com o aluno, entendeu, podendo ajudar, conhecer os problemas fora da escola, extraescolar. O esporte, através desse incentivo aí, o aluno frequenta mais, a meu ver, ele procura mais, ele cativa mais você, procura mais pra conversar, e assim, quanto mais a participação dele nesse ambiente escolar, mais vai favorecer para o futuro deles no caso. (Entrevistado-03).

Com o Piel, o esporte no IFPE – campus Pesqueira tomou outra dimensão; o programa passou a garantir ao estudante o direito que toda criança e adolescente tem ao esporte e lazer. Esse direito é assegurado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em seu Art. 4º:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,

à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2013, p. 11).

Para o Entrevistado-04, o Piel é um marco dentro da política de assistência estudantil; para ele, o esporte no campus passou a ser outro após a implementação do programa:

Eu acho que é um marco na história do Brasil, eu acho que dentro disso aí, dentro dessa área é antes e depois disso, aqui no Instituto, por exemplo, no campus Pesqueira, particularmente, eu acho que foi uma coisa muito importante, inclusive nós fomos os primeiros dos Instituto de Pernambuco, nós fomos o primeiro campus e foi uma coisa assim sem precedentes, eu acho que houve um avanço muito grande em relação a isso e é uma marco porque acredito que não tem como retroceder, seria um crime contra o desporto, contra a educação, fugindo dos programas sociais até, regredir, acho que a tendência deveria ser progredir, melhorar a cada dia.

O Piel se torna importante também, segundo o Entrevistado-05, por possuir alguns critérios que induzem à permanência e ao êxito escolar do estudante:

Eu acredito que seja importante, porque com esses critérios de permanência de tá cursando no mínimo três disciplinas, e não ter mais que 50% de reprovação, eles vão ficar mais atentos, então eles vão tentar conciliar e vão conseguir, porque é possível conciliar os estudos e o programa [...].

O Entrevistado-06 concorda que o Piel possa ser um dos programas que colabore para a permanência e êxito escolar do estudante, porém ressalta que não se pode jogar toda essa responsabilidade apenas no programa, pois as realidades individuais dos estudantes são diferentes e muitas vezes fica difícil atender às dificuldades de cada um.

É um dos programas que pode melhorar bastante a permanência, a vida acadêmica do estudante e o êxito dele na instituição, mas precisa ser analisado o perfil desses estudantes, as necessidades individuais, o que não é tarefa fácil, você ter turmas de 40 alunos, 35 alunos e você ter que identificar as necessidades de cada um que não são poucas né, pra poder melhorar esses aspectos, mas eu acho que se a gente for pensar só em dificuldades a gente não evolui e o acompanhamento mesmo que esteja sendo feito de forma mínima, mas a gente consegue mudar a vida de muita gente.

O Piel também proporcionou uma melhora nos resultados das equipes esportivas do campus Pesqueira nos campeonatos disputados entre os Institutos Federais. Tomando o ano de 2015 como exemplo, na fase estadual dos jogos, chamada de INTERCAMPI, o campus Pesqueira foi primeiro lugar nas modalidades voleibol masculino, futsal masculino, basquete masculino, tênis de mesa masculino, atletismo masculino (corridas 1.500m e 5.000m) e judô masculino e feminino. Nas modalidades que o campus tinha estudantes/atletas inscritos, apenas no xadrez não esteve entre os 03 (três) primeiros colocados. Com esses resultados, o campus Pesqueira foi a segunda maior delegação, com 30 alunos, representando o IFPE na Etapa Regional dos Jogos no Rio Grande do Norte, ficando atrás apenas do campus Recife. Segundo

os entrevistados, após o início do Piel, o campus Pesqueira vem a cada ano se destacando mais nestes campeonatos.

O Entrevistado-08, em sua fala, afirma que essa melhora dos resultados esportivos pode estar atrelada ao compromisso firmado, através do recebimento do auxílio, e o receio em poder perdê-lo caso não se dedique aos treinos.

A gente melhorou bastante os resultados quando a gente foi incorporando e entrando nesse tipo de política, esse tipo de auxílio que foi dado, então eu digo por aqui, a gente tinha alunos e ainda tem hoje, que às vezes não tem nem o que comer direito, mas por conta daquele auxílio, ele chega animado, ele faz tudo com maior empenho, até porque acho que ele ver em mim, na própria instituição, o medo de perder, então eles por não quererem perder ele faz tão bem feito, se esforça tanto com medo de perder esse auxílio, então é mais importante do que a gente pensa, porque ele não vai só pra quadra, ele tem inúmeras consequências fora que às vezes a gente nem sabe, mas beneficia muito, bastante mesmo.

Apesar de não participarem dos jogos dos Institutos, o kickboxing e o badminton têm grande importância dentro do Piel. Constata-se que o programa não está preocupado em oferecer apenas modalidades esportivas que estão presentes nos jogos ou as mais comuns do cotidiano, mas sim, diferentes esportes, que muitas vezes têm acesso limitado ou negado em determinadas localidades por terem um custo elevado ou por não terem uma grande divulgação da mídia.

Como citado acima, o kickboxing, um esporte pouco conhecido e pouco acessível ao público da região e que não faz parte dos jogos, porém, é um esporte de combate que atrai muitos estudantes para sua prática e que tem uma imensa contribuição na formação para a vida: Por mais que a gente ensine técnicas de lutas não é para você combater na rua ou em qualquer lugar que seja, não é para tornar ninguém violento, muito pelo contrário, é para fazer com que as pessoas tenham autocontrole numa situação de risco e isso envolve, por exemplo, em não fazer nada diante de uma situação e que muitas vezes resolve a maior parte dos problemas, você não entra numa situação de risco porque você tem controle para não fazê-lo e isso é muito importante. (Entrevistado-02).

A luta é pouco praticada nas escolas, são conteúdos negados aos estudantes, pois são vítimas de preconceitos, como a sua relação com a violência cotidiana. Devido ao pouco conhecimento sobre lutas, alguns problemas surgiram com a implantação do kickboxing no campus Pesqueira, um deles foi a dificuldade em ministrar aulas com os meninos e as meninas juntos:

Quando eu cheguei tinha uma turma masculina e uma feminina, porque as meninas não queriam treinar com os meninos (risos) e fizeram lá o maior rebuliço, conversaram comigo várias e várias vezes, querendo o treino só para as meninas e durante uns 6 meses, ministrei treinos para os meninos e para as meninas, ficava muito pesado pra mim eu por ter que ministrar 2

treinos de 1h30, nos intervalos das minhas aulas, então eu saía correndo da aula, ministrava e entrava no treino muitas vezes fiquei sem lanchar, principalmente jantar, porque era um horário mais curto, pra poder dar conta disso. E fui convencendo elas de que a atividade podia ser em conjunto. (Entrevistado-02).

De acordo com as falas dos entrevistados, as contribuições do Piel não se resumem em assegurar a permanência do estudante e promover um melhor rendimento escolar. Diante do que já foi exposto constatam-se outros benefícios proporcionados pelo programa, como: a melhoria do comportamento dos usuários; a interação entre os estudantes de diferentes turmas; a criação de novas amizades; atrair estudantes de outras redes para estudarem no Instituto; a propagação do esporte; estimular o aluno a seguir uma carreira na área de educação física, por conta da sua identificação com a área esportiva e o fortalecimento da imagem do campus como uma instituição que promove o esporte escolar.

A melhora comportamental dos usuários é um dos benefícios que o Piel proporciona. Porém, no decorrer desse tempo, alguns casos de comportamento inadequado aconteceram. Um dos casos envolve uma atitude antiética por parte dos usuários e a medida disciplinar imposta pela DAE – Pesqueira foi a exclusão do programa:

O ano retrasado (2014), nós tivemos aqui alunos que vinham assinar frequência que ficava lá na sala do futsal, então você só recebe depois que todos assinarem a frequência. Então se um não estivesse vindo assinar a frequência e realmente estivesse faltando ao treino, um falsificava a assinatura, então quando foi descoberto todos eles foram chamados e os que colaboraram que sabiam da assinatura, da falsificação da assinatura e os demais que fizeram isso, fizeram por onde assinar, foram punidos com a expulsão do programa. Então quando isso ocorreu, percebeu-se um zum-zum- zum dos estudantes, onde ‘o negócio é sério’, então na verdade partiu de um cabeça, de um estudante que era articulado e praticamente mandava nos demais, que assim inclusive foi ele quem assinou, mas quando foi descoberto que todos foram chamados, inclusive um atleta que não tinha nada ver, mas participou da história e não foi nos informar, esse também foi excluído do programa, então, participaram no próximo edital, mas naquele momento todos foram excluídos, então foi chamado mãe e tudo mais e eles aprenderam, eles aprenderam e serviram de lição pra os demais e pra todas as outras modalidades. (Entrevistado-01).

Para os entrevistados, a atividade desenvolvida no Piel contribui na formação do estudante, cria uma proximidade maior, diferente das aulas em sala, torna a relação professo/aluno mais próxima. Os “treinadores”, por terem essa proximidade com seus alunos, estão sempre os orientandos na sua formação para a vida.

A gente sempre para no final do treino, sempre há um momento de reflexão e muitas vezes a gente dialoga. [...] estamos sempre preocupados com o outro dentro do nosso treino, fazendo com que o outro progrida e que ele possa nos ajudar a crescer também, e que cada uma ali, especialmente os que sobe de graduação (kickboxing), tem a responsabilidade que essa bolsa dá, como eu

tenho com todos eles. Mas essa responsabilidade, ela também é dividida, porque quando chega um aluno novato, não sou eu que vou dá o treino, é um aluno já mais experiente pra que ele aprenda a ter paciência, aprenda a lidar com essa situação, pra que ele veja ali que ele, também, precisa aprender a lidar com o outro de forma paciente, eu acho que isso contribui bastante na formação enquanto cidadão. (Entrevistado-02).

No treinamento, lá, no dia a dia quando nós treinávamos a gente estava sempre trabalhando com elas, além da parte física, da parte técnica, da parte tática do futsal, pelo fato de estar trabalhando com jovens [...], então, sempre fazíamos palestras, tirávamos alguns momentos pra conversar sobre drogas, sobre sexo, sobre filhos de mães solteiras, sobre a relação com os pais, a relação com irmãs, com irmãos, então a gente tinha também essas conversas, muitas vezes provocadas por elas mesmas [...]. (Entrevista-04).

Como se pode ver, para os entrevistados são várias as contribuições proporcionadas pelo Piel, por isso, eles acreditam que o Piel já esteja consolidado no Instituto e não tem como retroceder em relação ao desenvolvimento do esporte e lazer no campus. Para eles, seria difícil acabar com o Piel, até porque é um programa bem visto dentro do campus, respeitável, e vários alunos já contam com esse auxílio. Acreditam que a tendência seja ampliá-lo ainda mais, buscando beneficiar mais alunos e oferecer outros esportes:

Como é muito positivo, se chegar a acabar vai ser uma decepção até para os próprios alunos. Como os alunos começaram já a depender um pouco desse dinheiro, já sabe que vai ter esse dinheiro por mês, já começa a se organizar, auxilia até nos recursos financeiros deles, quanto é que eu posso gastar? Quanto eu não posso? Quanto é que vai dá pra me manter na escola durante o mês? Aí tipo, se acabar isso ai, vai ter uma rejeição muito grande, eu acredito que não deva acabar esse programa não. A tendência é assim, é regulamentá-lo, assim, para que possa atender cada vez mais alunos, não ser tão limitado, não sei, buscar políticas que amplie mais ele, atender o máximo de alunos possível. (Entrevistado-03).

É um marco porque acredito que não tem como retroceder, seria um crime contra o desporto, contra a educação, fugindo dos programas sociais até, regredir, acho que a tendência deveria ser progredir, melhorar a cada dia (Entrevistado-04).

Já para o Entrevistado-07, o único problema do Piel é não ter segurança na sua continuidade a cada ano que se passa:

Um dos principais problemas, é não ter a certeza da continuidade. [...] não tenho conhecimento político de que isso seria uma coisa que ficaria assegurada, mas torço muito que fique, torço muito que seja uma coisa que virasse uma obrigação, entendeu, uma determinação.

Para o Entrevistado-01, o programa é garantido no campus Pesqueira, mas não é no IFPE: "No IFPE não. No campus Pesqueira acredito que sim".

O Entrevistado-05 ratifica que o Piel é consolidado no campus Pesqueira, mas não é nos outros campi do IFPE:

Sim, acredito que sim (que seja consolidado no campus). Inclusive esse ano com essa questão orçamentária e pelas reuniões que eu participei em nenhum momento disseram, vamos tirar, em outros campi até ficou assim: ‘ah a gente está sem recursos, não vamos ter o esporte e lazer’.

Porém, sua consolidação não garante uma verba certa para pagamento dos auxílios, pois vai depender da demanda de outros programas com maior prioridade, como o Programa Bolsa Permanência e o Programa de Extensão: "[...] os recursos têm que ser destinados primeiro para o bolsa permanência, depois pro programa de extensão e por último o programa bolsa atleta (risos)" (Entrevistado-01).

Apesar de ser o último a ter os recursos destinados, o Piel foi o segundo programa que mais recebeu dinheiro, no ano de 2015, dentro da Política de assistência do campus Pesqueira. De acordo com a prestação de contas de 2015 do campus Pesqueira, o Programa Bolsa Permanência (PBP) foi o que mais recebeu recursos, com um orçamento executado de R$ 988.060,00 e em segundo lugar foi o Piel com o orçamento executado de R$ 98.184,80. Em 2016, com R$802.600,00, o PBP continuou recebendo a maior fatia do orçamento para a assistência, já o Piel, com a redução do seu orçamento, passou a ser o quarto programa que mais recebeu recursos, sendo ultrapassado pelo PROEJA e pelo PIBEX. Nota-se, de acordo com os dados apresentados, que o PBP é o principal programa executado dentro da política de assistência estudantil no IFPE - Campus Pesqueira.

O Entrevistado-01 reafirma a consolidação do Piel no campus, pois ele desde o início do ano letivo é cobrado pelos alunos e pelos gestores:

É consolidado, inclusive é cobrado, sempre que se inicia ano os estudantes já caem em campo querendo saber se vai haver o programa ou não. [...] ele só fica por último por questão de recursos, mas que ele é um dos primeiros programas onde os diretores, o Diretor Geral e o Diretor de Ensino, pedem que já veja, que lance o edital, por quê? Porque a gente sabe o quanto ele ajuda os estudantes [...].

Tanto o Entrevistado-01, como o Entrevistado-05 colocam em suas falas a possibilidade do programa acontecer sem o pagamento do auxílio, mais um motivo para eles de que o programa nunca vai deixar de acontecer.

[...] e mesmo que não consiga bolsa é lançado como voluntário e tem estudantes já pra isso mesmo. (Entrevistado-01).

Mesmo se não houvesse recurso eu acredito que como voluntário ainda assim daria certo, porque o pessoal já conhece e é um programa muito interessante. (Entrevistado-05).

De acordo com o Entrevistado-01, diante de todas as benfeitorias advindas com o Piel, o mesmo passou a ser bem aceito pelos docentes do campus. Os professores de outras áreas, inicialmente, não acreditavam no programa, mas na presença de bons resultados, hoje apoiam o desenvolvimento do Piel:

antigamente, inclusive, alguns professores de outras áreas diziam que o programa não iria ter um futuro, talvez não ajudassem os estudantes e hoje em dia vários professores já aplaudem o programa e ver que realmente tem futuro.

O mesmo entrevistado lembra que o pensamento dos professores de outras áreas era o seguinte: "Em vez de você alocar recurso para estudante jogar bola, deveria alocar recursos para o estudante monitor, que vai tá ali na monitoria". Mas a opinião mudou com o passar do tempo, pois os mesmos começaram a perceber os benefícios:

[...] professores que achavam que deveriam ser para a monitoria começaram a aplaudir e dizendo que realmente, houve uma melhoria. Porque estes estudantes, participantes do programa, eles tendem a melhorar em sala de aula, seja em qualquer outra matéria, física, química, matemática, então eles têm um poder de concentração maior, eles passam a ter concentração, compreensão, ficam melhores na sala de aula, sendo até mesmo um certo, ‘ídolo’ dos outros estudantes.