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4 ENSINO MÉDIO INTEGRADO

4.2 As reformas educacionais para a educação profissional

Faz-se necessário um breve histórico da educação profissional no Brasil, a fim de compreender os caminhos percorridos por ela e criar subsídios para a discussão. Após algumas leituras sobre esse tema, percebe-se que foi no início do século XX que surgiram as primeiras ações favoráveis ao ensino técnico-profissional no Brasil.

Em 23 de setembro de 1909, surge, por meio do Decreto nº 7.566, do então Presidente Nilo Peçanha, em cada uma das capitais dos Estados do Brasil, a Escola de Aprendizes Artífices, com a proposta de oferecer o ensino profissional primário e gratuito (EVANGELISTA, 2009). Essas Escolas de Aprendizes e Artífices, que seriam o primeiro passo para se chegar aos atuais Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, foram instituídas considerando que

O aumento constante da população das cidades exigia que se facilitasse às classes proletárias os meios de vencer as dificuldades sempre crescentes na luta pela existência e que, para isso, se tornava necessário, não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual, como fazê-los adquirir hábitos de trabalho profícuo que os afastassem da ociosidade, da escola do vício e do crime. (BRASIL, 1909, p. 1).

A Constituição de 1937, em seu Artigo 129, orienta para o ensino profissional destinado às classes menos favorecidas. Romanelli (1986) lembra que Fernando Azevedo elogiou bastante essa preocupação que a Constituição tivera com o ensino profissional. Porém, o autor ressalta que o mesmo não se alertou para a importância que essa ação teria na evolução do sistema de ensino, especialmente o profissional.

Não observou, por exemplo, que, oficializando o ensino profissional, como ensino destinado aos pobres, estava o Estado cometendo um ato lesivo aos princípios democráticos; estava o Estado instituindo oficialmente a

11 Em 2016 foi aprovada a Proposta de Emenda Constitucional 55 (PEC/55), com o objetivo de congelar as

despesas governamentais em Educação, Saúde, Ciência, Tecnologia e Inovação, por 20 anos. Desta forma, a Assistência Estudantil sofrerá os impactos advindos desta PEC/55, colocando em risco todos os direitos e benefícios adquiridos com o Pnaes.

discriminação social, através da escola. E fazendo isso, estava orientando a escolha da demanda social do Brasil. (ROMANELLI, 1986, p. 153).

Portanto, não é à toa que o ensino profissional sempre teve a fama de ser dirigido para as camadas menos favorecidas e ser frequentado por esse grupo.

Segundo Evangelista (2009), as Escolas de Aprendizes e Artífices se destinavam a ofertar um ensino técnico profissional primário e gratuito, voltado, preferencialmente, para atender os “desfavorecidos da fortuna”. De acordo com Cunha (2000) apud Evangelista (2009), a Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, transforma as Escolas de Aprendizes e Artífices em Liceus, destinados ao ensino profissional de todos os ramos e graus. Uma nova mudança ocorreria com a publicação do Decreto 4.127, de 25 de fevereiro de 1942, que transforma os Liceus Industriais em Escolas Industriais e Técnicas, passando a oferecer a formação profissional em nível equivalente ao secundário.

Neste mesmo ano é criado o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com o objetivo de preparar o trabalhador diante da expansão industrial, e, com o objetivo de preparar para o comércio, surge em 1946 o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) (CUNHA, 2000 apud EVANGELISTA, 2009).

Em 1961 é promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 4.024/1961), trazendo mudanças significativas para a educação profissional que, de acordo com Kuenzer (2007, p. 29),

Pela primeira vez a legislação educacional reconhece a integração completa do ensino profissional ao sistema regular de ensino, estabelecendo-se a plena equivalência entre os cursos profissionais e propedêuticos, para fins de prosseguimentos nos estudos.

Esta lei garantiu ao ensino técnico industrial a equivalência ao ensino secundário. Para muitos foi uma vitória, porém para outros não houve ruptura na estrutura do sistema organizacional de ensino. Para Saviani (2008b, p. 39),

Do ponto de vista da organização do ensino, a LDB manteve, no fundamental, a estrutura em vigor decorrente da reforma Capanema, flexibilizando-a, porém. Com efeito, do conjunto das leis orgânicas do ensino decretadas entre 1942 e 1946 resultou numa estrutura de ensino que previa, grosso modo, um curso primário de quatro anos, seguido do ensino médio com a duração de sete anos, dividido verticalmente em dois ciclos, o ginasial, de quatro anos, e o colegial, de três anos, divididos horizontalmente nos ramos secundário, normal e técnico, sendo este, por seu turno, subdividido em industrial, agrícola e comercial. Ocorre que, nessa estrutura, apenas o ensino secundário dava acesso a qualquer carreira do ensino superior. Os demais ramos do ensino médio só davam acesso às carreiras a eles correspondentes. Por outro lado, se um aluno quisesse passar de um ramo a outro do ensino médio, ele perderia os estudos já feitos, tendo que começar do início no novo ramo.

Sob o governo militar é implementada a Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 – a segunda LDB –, que já no artigo 1º apresenta a qualificação do aluno para o trabalho como uma de suas principais preocupações:

Art. 1º – O ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania.

Com essa LDB, o ensino médio passou a ser obrigatoriamente profissionalizante. Para Frigotto et al. (2005a), o discurso utilizado para convencer a formação de técnicos construiu-se com o argumento da falta destes profissionais no mercado e da necessidade de evitar a “frustração de jovens” que não ingressavam nas universidades nem no mercado de trabalho, porque não apresentavam uma habilidade profissional.

Em 1997, o Decreto nº 2.208 é substituído pelo Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004, que estabelece as diretrizes e bases da educação profissional. Segundo Frigotto et al. (2005a), o decreto de 2004 pretendia consolidar a formação básica unitária e politécnica, centrada na ciência, no trabalho e na cultura.

Em 2007, a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica lançou o Documento Base da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio (BRASIL, 2007) a fim de apresentar os pressupostos para a concretização da oferta dessa modalidade de ensino, suas concepções, princípios e fundamentos para desenvolver um projeto político- pedagógico integrado (BRASIL, 2007).

Em 2008 é sancionada a Lei nº 11.741, que acrescenta à Lei nº 9.394/96 as formas pelas quais a educação profissional técnica de nível médio poderá ser desenvolvida e uma delas é a integrada ao ensino médio.

De acordo com Frigotto et al. (2005a, p. 36), o objetivo da educação profissional técnica integrada ao ensino médio se constituiria “numa possibilidade a mais para os estudantes na construção de seus projetos de vida, socialmente determinados, possibilitados por uma formação ampla e integral”.

4.2.1 Rede Federal de Ensino e a construção do IFPE

De acordo com o documento oficial Brasil/IFPE (2010), em 1959 se iniciou o processo de transformação das Escolas Industriais e Técnicas em autarquias. As instituições ganham autonomia didática e de gestão e passam a ser denominadas Escolas Técnicas Federais.

As mudanças no cenário econômico mundial não param, e o Brasil passa por essas transformações. Com o objetivo de alinhar as políticas e ações aos novos cenários dos processos de produção, as Escolas Técnicas sofreram algumas mudanças.

No ano de 1994, a Lei Federal nº 8.984 institui no país o Sistema Nacional de Educação Tecnológica. Essa medida anuncia a transformação das Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet) e abre caminho para que as Escolas Agrotécnicas Federais sejam integradas a esse processo. A implantação de novos Cefets só ocorre efetivamente a partir de 1999. (BRASIL/IFPE, 2010, p. 12).

Em 2003, há a substituição do Decreto nº 2.208/97 pelo Decreto nº 5.154/04, que acaba com as restrições na organização curricular e pedagógica e na oferta dos cursos técnicos, pela educação profissional e tecnológica (BRASIL/IFPE, 2010). Com isso, em 2004,

[...] a rede federal de educação tecnológica (Centros Federais de Educação Tecnológica, Escolas Agrotécnicas Federais, Escola Técnica Federal de Palmas/TO e Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais) ganha autonomia para a criação e implantação de cursos em todos os níveis da educação profissional e tecnológica. Por sua vez, as Escolas Agrotécnicas Federais recebem autorização excepcional para ofertar cursos superiores de tecnologia, em nível de graduação, fortalecendo a característica dessas instituições: a oferta verticalizada de ensino em todos os níveis de educação. (BRASIL/IFPE, 2010, p. 13-14).

Por meio da Lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008, como parte da reestruturação da educação profissional e tecnológica, o Governo Federal cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, levando-o para todos os estados do país com a finalidade de ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os níveis e modalidades (BRASIL, 2008). Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia surgem dos antigos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), Escolas Agrotécnicas e Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais com uma proposta nova de educação profissional e tecnológica.

Além dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, ficaram vinculados à Rede Federal: a UTFPR, o CEFET-RJ, o CEFET-MG e as Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais (BRASIL, 2008). Tanto a UTFPR, como o CEFET-RJ e o CEFET-MG não aderiram aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

Segundo Silva et al. (2009), a UTFPR surgiu com a possibilidade aberta pela Lei nº 9.394/96 de criação de universidades especializadas. De acordo com este autor, a legislação anterior exigia que uma instituição oferecesse cursos em diferentes áreas (Ciências Humanas, Ciências Biomédicas, Ciências Exatas e da Tecnologia) para se constituir enquanto Universidade.

Já o CEFET do Rio de Janeiro, conhecido como CEFET Celso Suckow da Fonseca, e o de Minas Gerais, conforme Silva et al. (2009), durante o período de consultas e debates sobre a implantação dos institutos federais, encontravam-se em processo eleitoral. O autor, segundo relatos dos dirigentes dos CEFET´s , explica o principal motivo que levou as comunidades desses Centros a não seguirem o caminho para se transformarem em Institutos Federais: “devido ao anseio de se tornarem Universidades Tecnológicas, objetivo que foi plenamente defendido pelos então candidatos em seus programas” (SILVA et al., 2009, p. 59).

Há de se ressaltar que, até então, o único modelo institucional existente que aliava a formação profissional fundada na dimensão tecnológica à educação superior de graduação e pós-graduação e à pesquisa era o da universidade tecnológica. Porém, a experiência brasileira nesse desenho institucional apontou para um gradativo abandono da educação profissional e tecnológica, principalmente a de nível médio, e a migração para a oferta de educação superior mais próxima da concepção acadêmica tradicional. Por outro lado, a proposta dos institutos federais começava a ser desenhada a partir das boas experiências existentes nas instituições federais, sobretudo aquelas que apresentavam impactos positivos significativos no desenvolvimento socioeconômico e cultural local e na inclusão social. (SILVA et al., 2009, p. 59-60).

Nota-se que não houve uma imposição para que houvesse uma modificação para o novo modelo que seria o Instituto Federal. Silva et al. (2009) registram que foi oportunizada a todas as autarquias e escolas técnicas vinculadas a universidades federais de, por meio de resposta a uma chamada pública, participarem dessa transformação, independentemente do nível de desenvolvimento institucional em que estavam.

Atentando ao art. 1º da Lei nº 11.892, a constituição da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica especificou a UTFPR, demonstrando que apenas ela integrará a Rede. Procedeu da mesma forma ao identificar os dois CEFET’s que não aderiram aos institutos, ficando claro que não existirão outros (BRASIL, 2008). De acordo com Silva et al. (2009, p. 57), “a partir da promulgação desta lei a expansão da educação profissional e tecnológica no âmbito das instituições federais dar-se-á exclusivamente pelo modelo dos institutos federais”.

O IFPE, de acordo com documento oficial (IFPE, 2015), teve sua semente plantada com a criação da Escola de Aprendizes e Artífices, que funcionou em três locais no período entre 1910 e 1923. Primeiro teve como sede o antigo Mercado Delmiro Gouveia, depois foi transferido para parte posterior do antigo Ginásio Pernambucano na Rua da Aurora e, a partir do ano de 1933, passou a funcionar na Rua Henrique Dias, no Derby, sendo oficialmente inaugurada em 18 de maio de 1934. Em 17 de janeiro de 1983, já com o nome de Escola Técnica

Federal de Pernambuco (ETFPE), a instituição passou a funcionar na Avenida Professor Luis Freire, no bairro do Curado.

Em 1999, a ETFPE é transformada em Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco (CEFET-PE). A criação da Lei nº 8.948/94 faz o CEFET-PE se expandir através da implantação das Unidades de Ensino Descentralizadas – as Uneds. Surgem em Pernambuco: o CEFET Petrolina, a partir da Escola Agrotécnica Federal Dom Avelar Vilela, com o Decreto nº 4.019, de 19 de novembro de 2001; a Uned Pesqueira, no Agreste Pernambucano, com a Portaria Ministerial nº 1.533/92, de 19/10/1992; e, a Uned Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife, com a portaria Ministerial nº 851, de 03/09/2007 (IFPE, 2015).

Com a Lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008, que criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, surge o IFPE que passou a ser constituído por dez campi: Belo Jardim, Barreiros e Vitória de Santo Antão (antigas Escolas Agrotécnicas Federais - AFs); Ipojuca e Pesqueira (antigas Uneds do CEFET-PE); Recife (antiga sede do CEFET-PE); Afogados da Ingazeira, Caruaru e Garanhuns, da segunda expansão; e o Campus Virtual da Educação a Distância. O CEFET Petrolina passou a fazer parte do IF Sertão, que surgiu com essa lei.

Com a terceira fase de Expansão da Rede, em 2014, o IFPE ganhou mais sete unidades: Cabo de Santo Agostinho, Palmares, Jaboatão, Olinda, Paulista, Abreu e Lima e Igarassu.