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2.2 Diferentes perspectivas da relação universidade-empresa para a inovação

2.2.4 A relação UE na abordagem da Hélice Tripla

O modelo da Hélice Tripla surgiu em meados dos anos 1990, através dos trabalhos de Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff (1995), como metáfora de uma rede constituída a partir da cooperação entre os três principais atores do processo de inovação, a academia, as empresas e o governo, bem como suas relações em diferentes estágios do processo de geração e disseminação do conhecimento, fornecendo um caminho para melhorar as condições para a inovação na sociedade. Enquanto o Triângulo Sábato e o Sistema Nacional de Inovação enfatizam, respectivamente, a importância da liderança do estado e das empresas nos processos de inovação, na abordagem da Hélice Tripla a inovação acontece na forma de relações interativas e recursivas entre os três entes, com a academia desempenhando um papel importante no processo de inovação, especialmente em sociedades cada vez mais baseadas no conhecimento:

The Triple Helix overlay provides a model at the level of social structure for the explanation of Mode 2 as an historically emerging

structure for the production of scientific knowledge, and its relation to Mode 1. (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 118)

As universidades passaram por uma primeira revolução quando incorporaram como missão, além do ensino, a pesquisa científica. Schwartzman (2001) lembra que foi a reforma do sistema educacional alemão, em 1809, com a criação da Universidade de Berlim, que introduziu a pesquisa científica na universidade do século 19, vindo a tornar-se um importante modelo que influenciaria todos os países.

[...] o sistema norte-americano incorporou a ideia de juntar a pesquisa ao ensino, [...] por meio de escolas de pós-graduação e curso regulares de doutorado, reconheceu a atividade de pesquisa como uma profissão. [...] Na Europa o doutoramento servia principalmente como um instrumento para avaliar e acreditar um especialista, quase sempre como parte da sua carreira como professor, e sem se relacionar necessariamente com uma atividade específica de pesquisa. (SCHWARTZMAN, 2001, p. 47)

Segundo Etzkowitz (2008), ainda com essa primeira revolução em curso, uma segunda teve início, em meados do século 20, quando surgiu o conceito de universidade empreendedora, que agrega uma nova missão (além do ensino e da pesquisa), voltada ao desenvolvimento econômico e social. Para o autor, à medida que diminuiu o papel das forças armadas nas estruturas institucionais das sociedades contemporâneas, também foi transformada a importância da rede de relações entre a academia, as empresas e o governo.

Essa visão da Hélice Tripla posiciona a academia como um importante vetor do desenvolvimento econômico e social, aproximando-a das demandas da sociedade em que está inserida. Desde então a academia tem convivido com as tensões geradas pelo novo ambiente, envolvendo a sua missão original de ensino, a pesquisa e a terceira missão: o desenvolvimento econômico e social.

Segundo Göransson e Brundenius (2011), a inclusão da terceira missão tem dado à universidade uma posição cada vez mais importante nos sistemas de inovação, tanto em economias desenvolvidas quanto em países em desenvolvimento econômico, desempenhando múltiplos papéis nesses sistemas. Um desses papéis, destacado pelos autores, é:

Developing a basis for social capital, i.e., as a “neutral” meeting ground in countries perhaps torn by corruption, lack of integrative mechanisms, and lack of stable relations between state and industry, and between companies. (GÖRANSSON; BRUNDENIUS, 2011, p. 4)

Esse capital social da universidade legitima seu protagonismo frente a ações de governo ou mesmo de Estado, que são, muitas vezes, e principalmente em países em desenvolvimento econômico, instáveis e intempestivas.

Segundo Guerrero e Urbano (2012), vários estudos têm tentado conceituar universidade empreendedora, mas sem consenso sobre o uso de uma definição específica. Esses mesmos autores a definem como aquela que implementa de forma sistemática várias estratégias institucionais para trabalhar em conjunto com o governo e as empresas com o objetivo de facilitar a geração e exploração de conhecimento tecnológico para a inovação. Jacob e Orsenigo (2005) acrescentam que, em contraste com o “Mode 2”, que enfatiza a utilidade social e a organização da produção de conhecimento no nível micro, a Hélice Tripla se preocupa em transformar o conhecimento em riqueza.

Para Etzkowitz (2003), uma característica da universidade empreendedora refere-se à existência de grupos de pesquisa como organizações “quase- empresas” onde professores pesquisadores coordenam os trabalhos de equipes de assistentes e estudantes.

[…] the values (or many of them) of entrepreneurial science may already be implicit in the university and people may already be acting upon them as leaders of research groups which are “quasi- firms”. (Etzkowitz, 2003, p. 117)

Etzkowitz (2004) estudou dados de vários países, entre eles EUA, Suécia, Brasil, Itália, Portugal e Dinamarca, para propor uma trajetória de evolução para a universidade empreendedora. Nesse estudo, o autor classifica o modelo de relação acadêmico e empresarial brasileiro como uma síntese dos modelos norte- americano e europeu. Como exemplo, ele cita a criação de incubadoras acadêmicas no Brasil com um formato organizacional semelhante às encontradas nas universidades americanas e europeias: servindo como instrumento para conectar a pesquisa acadêmica com atividades econômicas.

O modelo da Hélice Tripla tem tido mudanças desde sua concepção. Dentre as muitas propostas, as já amadurecidas sugerem novos atores ou hélices no modelo original, como uma quarta hélice representando a sociedade civil pública (envolvendo atores como mídia, indústrias criativas, cultura, valores, estios de vida, arte, entre outros) e outra hélice, a quinta, representando o meio ambiente (CARAYANNIS; CAMPBELL, 2011).

Quadruple helix, in this context, means to add to the above stated helices a “fourth helix” that we identify twofold as the “media-based and culture-based public” as well as the “civil society”. (p. 338) The quintuple helix innovation model, finally, contextualizes the quadruple helix (and triple helix). The quintuple helix brings in the perspective of the natural environments of society and the economy for knowledge production and the innovation systems. (p. 340)

Para Carayannis, Barth e Campbell (2012) a hélice quádrupla contextualiza a hélice tripla, e a hélice quíntupla contextualiza a hélice quádrupla. A Figura 3 mostra a hélice quádrupla representando a sociedade como contexto para sistemas de inovação em hélice tripla, e a hélice quíntupla representando o meio ambiente como contexto para sistemas de inovação em hélice quádrupla.

Figura 3 – Representação da abordagem de Hélices Quadrupla e Quíntupla.

Essa abordagem busca trazer para o modelo original, da Hélice Tripla, uma estrutura transdisciplinar e interdisciplinar de análise que permita que os ambientes naturais sejam considerados eixos direcionadores para o avanço dos sistemas de inovação, sob uma perspectiva de desenvolvimento sustentável e de ecologia social. (CARAYANNIS; BARTH; CAMPBELL, 2012).