• Nenhum resultado encontrado

O início da história dos atuais membros da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT) remonta a 1909, com a criação das “Escolas de Aprendizes Artífices” pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, por meio do Decreto 7.566/1909 do presidente Nilo Peçanha. Esse decreto, considerado o marco inicial do ensino profissional, científico e tecnológico federal brasileiro, criou uma Escola de Aprendizes Artífices em cada capital de estado à época (com exceção do Rio de Janeiro, cuja unidade foi construída em Campos), formando a rede de Escolas de Aprendizes e Artífices (CARDOSO, 2013).

As escolas criadas tinham o objetivo de oferecer ensino profissional gratuito para pessoas que o governo chamava de “desafortunadas”:

[Para] habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo techinico e intellectual [... decreta:] Em cada uma das capitaes dos Estados da Republica o Governo Federal manterá, por intermedio do Ministerio da Agricultura, Industria e Commercio uma Escola de Aprendizes Artifices, destinada ao ensino profissional primario e gratuito. (BRASIL, 1909 - em texto original)

Para Cardoso (1999), as 19 escolas criadas foram pensadas como instituições beneficentes voltadas fortemente para a inclusão social de jovens carentes através da formação de mão de obra qualificada. Embora a economia do país naquela época ainda estivesse baseada na atividade agrária, um processo de industrialização ocorria de maneira incipiente, e já começava a exigir alguma qualificação da mão de obra.

A Lei 378/1937 transformou as “Escolas de Aprendizes e Artífices” em “Liceus Industriais”, destinados ao ensino profissional, de todos os ramos e graus, em um amplo programa de expansão (BRASIL, 1937). Segundo Schwartzman, Bomeny e Costa (2000), em 1939 já havia cerca de sete mil alunos nesses Liceus em todo o país (em 1910 eram 1.248 alunos). Outras concepções começaram a ganhar força, levando a um conflito entre o Ministério da Educação e Saúde e o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Esse conflito envolvia interesses, principalmente, da Federação Nacional da Indústria e da Federação das Indústrias

de São Paulo, que tinham por base as experiências bem-sucedidas da Escola Profissional Mecânica do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e do Serviço de Ensino e Seleção Profissional da Estrada de Ferro Sorocabana, que deu origem ao Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional do Estado.

Para Schwartzman, Bomeny e Costa (2000), esse conflito convergiu em 1941 para a chamada “Reforma Capanema” (em alusão ao então ministro da Educação, Gustavo Capanema). A Reforma Capanema foi uma série de leis que modificou o sistema de ensino no país, entre elas a Lei Orgânica do Ensino Industrial (Decreto 4.073/1942) e o Decreto 4.127/1942, que estabeleceu as bases de organização da Rede Federal de estabelecimentos de ensino industrial.

Com essas mudanças, o ensino profissional passou a ser considerado de nível médio, o ingresso passou a depender de exames de admissão e os cursos foram divididos em dois níveis: o curso básico industrial, artesanal, de aprendizagem e de mestria; e o curso técnico industrial. Com isso, começaram a ser abertos os caminhos para a criação das Escolas Técnicas Federais - ETFs. Conforme explica Moraes (2016, p.115):

[....] em 1942 verifica-se a primeira grande separação institucional, através da qual alguns Liceus se tornariam Escolas Industriais e outros, com maiores possibilidades de oferta educacional, se tornariam Escolas Técnicas. A partir de 1959, algumas poucas instituições já se denominavam Escola Técnica Federal, processo de transformação que iria se alongar até 1968.

Em 1978, mais uma mudança. A Lei 6.545 transformou as Escolas Técnicas Federais de Minas Gerais, do Paraná e Celso Suckow da Fonseca, do Rio de Janeiro, em Centros Federais de Educação Tecnológica - CEFETs. Os CEFETs recém-criados tinham por objetivo, além da formação de técnicos, também o ensino superior de graduação e pós-graduação lato sensu e stricto sensu. Além disso, a lei já previa como objetivo “realizar pesquisas na área técnica industrial, estimulando atividades criadoras e estendendo seus benefícios à comunidade mediante cursos e serviços”. Esse desígnio estimulou o desenvolvimento de projetos com a indústria, principalmente através da prestação de serviços tecnológicos e de solução de problemas técnicos.

Seguindo o caminho inaugurado por essas três instituições, em 1989 foi a vez de a Escola Técnica Federal do Maranhão e em 1993, a Escola Técnica Federal da Bahia serem transformadas em CEFETs. Em 1994, a Lei 8.948 criou os parâmetros para a transformação das demais Escolas Técnicas Federais em CEFETs. Essas instituições passaram a integrar o Sistema Nacional de Educação Tecnológica, e a partir da Lei 9.394/1996 passariam a dispor de um capítulo exclusivo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB.

A década de 1990 foi difícil para os CEFETs. O governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso definiu políticas que restringiam enormemente a atuação do ensino profissional, gerando grande instabilidade a respeito do futuro da rede. Segundo Moraes (2016), uma ação do governo que impactou profundamente os CEFETs foi o Decreto 2.208/1997, cujas disposições representaram um retrocesso de mais de 10 anos:

A disposição mais dura foi, sem dúvidas, a promulgação do Decreto 2.208, de 17 de abril de 1997, ao definir que “A educação profissional de nível técnico terá organização curricular própria e independente do ensino médio, podendo ser oferecida de forma concomitante ou sequencial a este” (BRASIL, 1997). Era um duro golpe, que proibia a oferta dos cursos técnicos integrados. (MORAES, 2016, p.136 - grifo do autor)

Segundo Dagnino e Mota (2013, p.619):

As décadas de 90 e de 2000 podem ser consideradas como um tempo de “destruição criadora” para as Instituições da Rede [RFEPCT]. Isso porque, apesar de ter sido, na sua história, o período de maior desorganização em termos institucionais, foi também um momento de homogeneização organizacional e de ressignificação da missão e da identidade. Foi um momento abstruso para a Rede Federal [RFEPCT], mas, ao mesmo tempo, um momento de constituição de novos caminhos.

Essa situação só se reverteu em dezembro de 2008, com a promulgação da Lei 11.892/08, que criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.