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4.2 O processo de análise qualitativa temática

4.2.2 O roteiro das entrevistas

Patton (2015) identifica três tipos básicos de entrevistas qualitativas para pesquisa: a entrevista aberta padronizada, a entrevista não estruturada e a entrevista baseada em roteiro. Na entrevista padronizada há o emprego de uma lista de perguntas redigidas e ordenadas antes da entrevista e iguais para todos os

entrevistados. Nesse caso, o entrevistador não pode se desviar do roteiro nem buscar tópicos ou questões que não foram antecipadas quando da sua elaboração.

A entrevista não estruturada, por sua vez, é aquela em que se deixa o entrevistado decidir a forma de construir a resposta em torno de um tema. Nesse tipo, o surgimento das perguntas se dá no contexto e no curso natural da interação, sem que haja uma previsão das perguntas nem das reações a elas. Dessa forma, os dados coletados serão diferentes para cada pessoa entrevistada. Segundo o autor, sua principal vantagem é que a entrevista é individualizada, produzindo informações ou insights que o entrevistador talvez não conseguisse antecipar. No entanto, uma vez que diferentes informações são coletadas a cada pessoa, esse tipo de entrevista não é sistemático ou abrangente, e pode ser muito difícil e demorado analisar os dados.

Por fim, na entrevista baseada em roteiro há a preparação de tópicos ou assuntos a serem abordados durante a entrevista, mas nesse caso o entrevistador dispõe de flexibilidade para ordenar, direcionar e reformular as perguntas durante a entrevista. Gil (2008) explica que nesse tipo de abordagem, chamada por ele de entrevista semiestruturada, o entrevistado responde às perguntas conforme sua concepção, mas seguindo um direcionamento dado pelo entrevistador para que não fuja do foco proposto: “O entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua retomada.” (GIL, 2008, p.112)

A principal vantagem da entrevista baseada em roteiro, segundo Patton (2015), é que os dados são mais sistemáticos e abrangentes do que na entrevista não estruturada, embora a condução da entrevista ainda permaneça bastante conversacional e informal. Segundo o autor, uma desvantagem é que manter os tópicos descritos evitará que outros tópicos importantes sejam levantados pelo entrevistado. Ele ainda acrescenta que, embora esse formato seja mais sistemático do que a entrevista não estruturada, ainda é difícil comparar ou analisar os dados porque diferentes respondentes podem responder a perguntas um pouco distintas. Embora esses tipos variem no formato e na estrutura, eles têm em comum o fato de que as respostas do entrevistado são abertas, no sentido de serem livres, e não se restringem às escolhas fornecidas pelo entrevistador, como em entrevistas fechadas, de resposta fixa, quantitativas ou estruturadas, em que o entrevistado é

solicitado a escolher dentro de um conjunto predeterminado de categorias de respostas (GODOI; MATTOS, 2010).

Segundo Mattos (2010), um desafio com que o pesquisador se depara na análise da entrevista é o de passar, de forma legítima, dos dados objetivos presentes na fala do entrevistado às interpretações e conclusões. Para o autor, a análise da entrevista deve ser precedida ou intermediada por um trabalho de organização das informações dos depoimentos, para que seja possível proceder a inferências, eventualmente à luz de um marco teórico pertinente ao estudo que se está desenvolvendo.

Para as entrevistas com os gestores dos NITs e dos Polos de Inovação foi elaborado um roteiro com o propósito de possibilitar, durante a interlocução com os entrevistados, a abordagem dos elementos temáticos relativos à pesquisa. Parte significativa desses elementos temáticos foi obtida pela via dedutiva, a partir da revisão bibliográfica apresentada neste texto, no Capítulo 2, que trata da função dos escritórios de transferência de tecnologia na relação academia-empresa para a inovação. Um outro conjunto de temas, também obtido pela via dedutiva, emergiu a partir da revisão bibliográfica apresentada no Capítulo 3, cujo foco é a interação dos Institutos Federais com os agentes de inovação.

Assim, a partir do que foi concluído na síntese dos fatores determinantes na relação academia-empresa para a inovação (vide item 2.5), emergiram os seguintes temas: a política de inovação; o perfil do gestor e da equipe; a relação com as empresas, as incubadoras de empreendimentos e os parques tecnológicos; a relação com pesquisadores acadêmicos; os processos organizacionais; e a gestão da inovação.

De forma semelhante, a partir dos conceitos que tratam da peculiaridade institucional e de ensino, pesquisa e extensão, bem como das diretrizes definidas em sua lei de criação, acerca das finalidades e dos objetivos dos Institutos Federais (descritos, neste texto, no Capítulo 3), foram identificados e acrescentados à lista anterior os seguintes temas: realização de pesquisa aplicada; interação com os arranjos produtivos locais; estímulo ao empreendedorismo e ao cooperativismo; educação profissional e tecnológica de forma verticalizada; e estrutura fortemente multicampi.

O roteiro elaborado levou em consideração, além desses temas, também um outro que emergiu de forma espontânea e recorrente no discurso de todos os gestores na primeira rodada de entrevistas: a importância do novo marco legal da inovação, composto pela Lei nº. 13.243, de 11 de janeiro de 2016, e pelo Decreto nº. 9.283, de 7 de fevereiro de 2018.

Além desses macroelementos do roteiro, somou-se um outro específico, para que propiciasse, durante as entrevistas, uma reflexão por parte dos gestores sobre os aspectos da interação entre o NIT e o Polo EMBRAPII de seus Institutos Federais. Nesse tema específico foram abordados, além de aspectos gerais da relação do NIT com o Polo de Inovação EMBRAPII, também a visão dos gestores quanto às possibilidades de integração entre esses dois agentes de inovação em uma estrutura comum, estruturada dentro do próprio IF.

O Quadro 7 descreve os temas identificados e o tópico adotado para o roteiro das entrevistas. O roteiro completo pode ser conferido no Anexo I.

Quadro 7 - Estruturação do roteiro temático para as entrevistas

Item do roteiro temático Tema

A estrutura do NIT/Polo

O perfil do gestor e da equipe (item 2.5.2) Os processos organizacionais (item 2.5.5) A gestão da propriedade intelectual (item 2.5.5)

A interação do NIT/Polo com as empresas

A relação com as empresas, incubadoras de empreendimentos e os parques tecnológicos (item 2.5.3)

A interação com os arranjos produtivos locais (item 3.4)

O estímulo ao empreendedorismo e ao cooperativismo (item 3.4)

A interação do NIT/Polo com o IF

A relação com pesquisadores acadêmicos e a pesquisa aplicada (item 2.5.4)

A educação profissional e tecnológica de forma verticalizada (item 3.4)

A estrutura fortemente multicampi (item 3.4) O NIT/Polo e o novo marco legal

da inovação

A política de inovação (item 2.5.1)

O novo marco legal da inovação (análise da primeira rodada de entrevistas)

A interação do NIT com o Polo

EMBRAPII A integração dos agentes de inovação do IF em uma entidade gestora comum Fonte: Elaboração própria.

Tendo como base o roteiro temático e a proposta metodológica da análise qualitativa de texto, foram realizadas duas rodadas de entrevistas com cada um dos gestores dos NITs e dos Polos de Inovação credenciados pela EMBRAPII dos Institutos Federais selecionados: IFBA, IFCE, IFES, IFF e IFMG. Na primeira rodada, as entrevistas com os gestores dos NITs foram realizadas entre fevereiro e maio de 2017, e com os gestores dos Polos de Inovação, entre junho e agosto do mesmo ano. As entrevistas da segunda rodada foram realizadas de agosto a outubro de 2018 com os gestores dos NITs, e de agosto a setembro com os gestores dos Polos de Inovação.

A partir dos temas identificados para composição do roteiro e dos tópicos definidos para utilização prática durante as entrevistas, também foi possível identificar as categorias temáticas preliminares a serem empregadas durante a codificação das entrevistas e a análise qualitativa de texto. A construção desse conjunto de categorias de análise temática é apresentada a seguir.