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Para Vidor et al. (2011), as finalidades definidas na lei de criação dos Institutos Federais “indicam um modelo institucional visceralmente ligado às questões da inovação e transferência tecnológica” (VIDOR et al., 2011, p.84). Essa também é a visão mostrada no trabalho de Dias et al. (2016), segundo o qual “a lei

que criou os institutos federais de educação, ciência e tecnologia significou um avanço expressivo por estabelecer uma grande rede nacional, de financiamento federal, voltada a dar suporte à inovação tecnológica” (DIAS et al., 2016, p.69). Essa rede tem propiciado programas específicos de governo com vistas à aproximação com a indústria, em uma abordagem semelhante à da Hélice Tripla. Um exemplo significativo dessas tentativas de aproximação é a que ocorre entre os Institutos Federais e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial - EMBRAPII (EMBRAPII, 2013).

O início da EMBRAPII foi um marco importante em 2011, quando criou-se um Grupo de Trabalho - GT com vistas a subsidiar a participação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI no seu processo de constituição (BRASIL, 2011). A portaria nº. 593 de 2011 trazia como considerações à constituição do grupo de trabalho, entre outros aspectos, a necessidade de desenvolver mecanismos particularmente ágeis e flexíveis, compatíveis com o atendimento de demandas empresariais crescentes na área de inovação, bem como estabelecer um conceito contemporâneo de inovação que vá além da referência tradicional de oferta e demanda tecnológica, explorando a concepção sistêmica do processo inovativo (MACÊDO, 2016).

O GT criado foi integrado por membros da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e da Inovação - SETEC, do MCTI; da Confederação Nacional da Indústria - CNI; da Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP; do Serviço Nacional da Indústria - SENAI; do Instituto Nacional de Tecnologia - INT; e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT. Nota-se na constituição desse GT a falta de participação de representantes da academia, como universidades e institutos federais.

Como conclusão aos trabalhos do GT, a EMBRAPII foi formalmente constituída em maio de 2013 e qualificada como Organização Social em setembro do mesmo ano (EMBRAPII, 2013). GUIMARÃES et al. (2013) ressaltam que a criação da EMBRAPII tinha por objetivo financiar pesquisas tecnológicas inovadoras e aproximar os esforços das ICT’s para o setor produtivo, com divisão de riscos e custos da realização dos projetos, tornando-os mais atrativos e exequíveis pelas empresas.

Em dezembro de 2013 foi firmado um contrato de gestão entre a União, por intermédio do MCTI, e a EMBRAPII, tendo o MEC como interveniente, em que os dois órgãos federais repartiram igualmente a responsabilidade pelo seu financiamento (BRASIL, 2013). O documento previa o interesse do MCTI em contratar a EMBRAPII para promover e incentivar parcerias para a realização de projetos de PD&I entre empresas e instituições de pesquisa tecnológica, por meio de Unidades EMBRAPII. O interesse do MEC, embora seguisse no mesmo sentido do MCTI, buscava especificamente o desenvolvimento de Polos de Inovação EMBRAPII nos Institutos Federais.

No caso dos Polos de Inovação, a cooperação com a EMBRAPII será realizada por meio de acordo específico com as instituições diretamente designadas pepelo ÓRGÃO SUPERVISOR e pelo MEC e aprovadas pela EMBRAPII. (BRASIL, 2013, p. 2)

Nesse contrato de gestão também foram definidos cinco objetivos estratégicos, em consonância com seu Plano Diretor, aprovado pelo Conselho de Administração, e com as diretrizes da Política de CT&I:

I. Contribuir para o desenvolvimento tecnológico de novos produtos, processos ou soluções empresariais, contribuindo para a construção de um ambiente de negócios favorável à inovação;

II. Articular e estimular a cooperação entre empresas e instituições de pesquisa tecnológica;

III. Apoiar a realização de projetos de PD&I, com ênfase em projetos que incluam a fase pré-competitiva, em áreas ou temas da política de ciência, tecnologia e inovação e de educação do Governo Federal definidos pelo Conselho de Administração da EMBRAPII, em parceria com empresas e as Unidades EMBRAPII ou Polos de Inovação;

IV. Contribuir para a promoção do desenvolvimento dos Polos de Inovação dos Institutos Federais; e

V. Difundir informações, experiências e projetos à sociedade. (BRASIL, 2013, p. 3)

O quarto objetivo estratégico definido no contrato de gestão da EMBRPAII já deixava bastante clara a importância dada à possibilidade de criação de parcerias com os Institutos Federais. A parceria com os Polos de Inovação seria firmada com base nas mesmas condicionantes aplicadas às Unidades EMBRAPII, mas, após o período inicial de três anos, estariam dispensados de comprovar montantes mínimos de contratação de projetos com empresas. No entanto, passado esse período, deveriam se submeter a um novo credenciamento e seguir o modelo de financiamento das Unidades EMBRAPII.

De acordo com Gilaberte (2016), a ação-piloto da EMBRAPII foi resultado da atuação em conjunto de três institutos tecnológicos credenciados pela CNI: Instituto Nacional de Tecnologia (INT), Instituto Nacional de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do SENAI, na Bahia (CIMATEC/BA). Segundo o autor, o contrato de gestão entre as partes registrou que cada ICT teria acesso ao valor de R$ 30 milhões para alocar em projetos no período de 24 meses, entre 2013 e 2015.

A estrutura de investimento dos recursos financeiros, humanos e equipamentos para o financiamento do programa deveria ser realizada de forma tripartite: (i) aporte financeiro da EMBRAPII equivalente a no máximo 1/3 do valor total dos projetos; (ii) contrapartida financeira das empresas parceiras de no mínimo 1/3 do valor total dos projetos; (iii) valor remanescente correspondente à contrapartida do IF, financeira ou não financeira, podendo incluir, por exemplo, a disponibilização de pesquisadores qualificados, a alocação de laboratórios e equipamentos, bem como recursos humanos e infraestrutura para a gestão dos projetos desenvolvidos (MACEDO FILHO, 2016).

Em 2014, a EMBRAPII lançou a Chamada 02-2014, para credenciamento de até cinco Polos de Inovação de Institutos Federais (EMBRAPII, 2014a). Nessa chamada puderam candidatar-se os Institutos Federais que atendessem a quatro pré-requisitos (EMBRAPII, 2014b):

a) apresentar uma definição precisa de área de competência, de modo a permitir um entendimento claro do seu eixo de atuação para o desenvolvimento de projetos de inovação;

b) submeter apenas uma proposta de credenciamento, exclusivamente para o segmento ou a unidade do Instituto Federal responsável pela área de competência;

c) ter experiência no desenvolvimento de parcerias (pesquisa e desenvolvimento; prestação de serviços tecnológicos; realização de testes, ensaios, métricas e certificações) com empresas do setor industrial na área de competência proposta; e

d) possuir Política de Propriedade Intelectual já aprovada pelo Instituto Federal.

A área de competência deveria permitir um entendimento claro do seu eixo de atuação para o desenvolvimento de projetos de inovação, caracterizando a especialização temática do Polo de Inovação do Instituto Federal a ser credenciada pela EMBRAPII. Além disso, a área de competência deveria também estar inserida na Política de Ciência, Tecnologia e Inovação - Plano Brasil Maior, Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI, 2011) ou na Política Nacional de Educação (BRASIL, 2014).

O quarto pré-requisito (possuir Política de Propriedade Intelectual já aprovada pelo Instituto Federal) mostra a importância dada pela EMBRAPII à gestão adequada da propriedade intelectual advinda dos projetos de PD&I realizados com as empresas, em consonância com seu Contrato de Gestão, que previa:

A EMBRAPII, as Unidades EMBRAPII, os Polos de Inovação e as empresas beneficiadas deverão prever, em acordos específicos, a titularidade da propriedade intelectual e a participação nos resultados da exploração das criações

resultantes dos projetos financiados. O ÓRGÃO

SUPERVISOR e o MEC não adquirirão qualquer propriedade ou direito sobre o resultado dos projetos. Os depósitos referentes às propriedades intelectuais resultantes dos projetos financiados devem ser feitos no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, INPI. (BRASIL, 2013, p.8)

A chamada previa duas modalidades de candidatura para o credenciamento: a primeira, com critérios equivalentes aos de unidades EMBRAPII tradicionais; e a segunda, menos rigorosa, de Polos EMBRAPII considerados em

estruturação. Os Polos que se candidatassem na modalidade “em estruturação” deveriam elaborar um Plano de Ação para um período de operação inicial de três anos, com um limite máximo de aporte financeiro por parte da EMBRAPII de R$ 3 milhões. Nesse caso, nos dois primeiros anos a parcela de aporte financeiro da EMBRAPII seria de até 50% do valor do plano de ação; a contrapartida das empresas, de pelo menos 10%; e o restante, de contrapartida econômica do Instituo Federal. A partir do terceiro ano de operação a EMBRAPII responderia por até 45% do valor total, as empresas, no mínimo 20% e o restante, de contrapartida econômica do Instituo Federal. Para os que fossem considerados já estruturados, o Plano de Ação teria um horizonte de seis anos, inexistindo um limite predefinido de financiamento a ser aportado pela EMBRAPII, mas estaria sujeito à regra geral tripartite das suas demais unidades.

O quadro apresentado a seguir mostra os critérios para a análise técnica dessa chamada, bem como as respectivas notas e pesos. A nota final mínima para o credenciamento deveria ser de 3,5. A obtenção de nota 0 (zero) em qualquer um dos critérios eliminaria o IF candidato.

Quadro 1 - Critérios, notas e pesos para análise técnica da Chamada EMBRAPII 02-2014

No critério “experiência no desenvolvimento de projetos em parceria com empresas industriais e na captação de recursos de empresas”, as parcerias dos Institutos Federais com as empresas poderiam assumir diferentes formas, tais como pesquisa e desenvolvimento, prestação de serviços tecnológicos, realização de testes, ensaios, métricas e certificações. Para demonstrar a capacidade de parceria, o IF deveria informar os valores financeiros desembolsados pelas empresas em projetos na área de competência proposta realizados no período de 2011 até o final do primeiro semestre de 2014.

Em resposta a essa chamada, foram apresentadas 24 cartas de manifestação de interesse dos Institutos Federais, e 13 candidaturas foram efetivamente submetidas. O resultado do processo de credenciamento foi anunciado em março de 2015, e os Polos de Inovação dos Institutos Federais credenciados foram (EMBRAPII, 2015):

− Polo de Inovação Salvador, no Instituto Federal da Bahia (IFBA); − Polo de Inovação Vitória, no Instituto Federal do Espírito Santo (IFES); − Polo de Inovação Fortaleza, no Instituto Federal do Ceará (IFCE); − Polo de Inovação Campos dos Goytacazes, no Instituto Federal

Fluminense (IFF);

− Polo de Inovação Formiga, no Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG).

Dos cinco polos selecionados nessa chamada, apenas o do IFCE foi credenciado como estruturado, os demais foram credenciados como “em estruturação”. A partir do anúncio do resultado, foi desenvolvido um processo de estruturação dos novos Polos EMBRAPII-IF (PEIF), envolvendo consultorias e cursos de capacitação.

Em 2016 os Polos IF organizaram os processos internos associados às atividades EMBRAPII, investiram recursos providos pelo MEC em itens críticos às respectivas estruturações (instalações laboratoriais, equipamentos, programas de bolsa etc.) e iniciaram a operação objetivando o cumprimento das metas pactuadas nos respectivos Planos de Ação. (EMBRAPII, 2016, p.7)

Os cursos foram ministrados para as equipes de gestão e operação do PEIF e abrangeram temas relacionados ao sistema de gestão e operação de projetos no modelo EMBRAPII de PD&I. As consultorias visavam principalmente desenvolver uma “análise dos processos estruturantes, práticas e ferramentas necessárias para a gestão dos projetos e do próprio Polo” (EMBRAPII, 2016, p.7), além de um diagnóstico da maturidade institucional para o modelo EMBRAPII.

Em 2017, foi realizada a Chamada Pública 01-2017 para seleção de Polos de Inovação de Institutos Federais. Foram recebidas 14 cartas de manifestação de candidatos, que resultaram na submissão de nove propostas de plano de ação e no credenciamento de quatro novos polos EMBRAPII: Instituto Federal da Paraíba (Campus João Pessoa) para sistemas para manufatura; Instituto Federal de Santa Catarina (Campus Florianópolis) para sistemas inteligentes de energia; Instituto Federal do Sul de Minas (Campus Machado) para agroindústria do café; e Instituto Federal Goiano (Campus Rio Verde) para tecnologias agroindustriais.

Os contratos de operação desses novos polos EMBRAPII começaram a ser assinados no final de 2017, e eles entraram efetivamente em operação no final de 2018.

3.4 UMA SÍNTESE DOS FATORES QUE CARACTERIZAM OS INSTITUTOS