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5.1 DOS LEGISLADORES

5.1.2 A relatora e o presidente da Comissão Especial do Sinase

Essa não seria a primeira relatoria de um projeto de lei de Rita de Cássia

Paste Camata. Após ter sido eleita deputada federal constituinte pelo estado do

Espírito Santo em 1986, foi o seu relatório sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente que alicerçou sua trajetória nas questões da família, infância e juventude62.

Rita Camata nasceu em 1961, em Conceição do Castelo (ES), filha de

Anidis Venturim Paste e Antonio Paste. Ingressou no curso de Jornalismo pela UFES, casou-se com o então deputado federal Gerson Camata, matrimônio que lhe agregou um capital social e político do qual sua família não dispunha.

Gerson era filiado à Arena e já estava na carreira política há 20 anos, graças à popularidade alcançada como apresentador de um programa de rádio. Durante a ditadura militar foi eleito deputado estadual e depois federal, participando das comissões de Relações Exteriores e de Comunicações. Com a extinção do 62 Informações obtidas no site da FGV, no CPDOC, na pesquisa biográfica de Gerson Camata,

bipartidarismo, vinculou-se ao PMDB, e foi eleito governador do Espírito Santo com 67% dos votos, um “fenômeno eleitoral” (CPDOC, GV, 2009). Depois de governador, foi eleito senador por três mandatos, e respondeu a mais de três acusações nas décadas de 1990 e 2000 por recebimento de propina de empreiteiros e por apresentar contas adulteradas em seu estado de origem.

As referências à vida privada de Camata em fontes não oficiais63 expõem o papel de tutor intelectual que Gerson exerceu no início do relacionamento do casal. Ele oferecia-lhe livros de Dostoievski e outros clássicos para que debatessem em casa, e assim construía-se uma estratégia para que ela circulasse nas rodas de políticos64 e, então, pudesse apreender certo tipo de capital cultural que a filha de agricultores não possuía.

Sua imagem pública começa a ser construída reciclando a prática de primeira dama. Camata assumiu a presidência da Unidade Comunitária de Integração Social, em Vitória, o mais importante organismo assistencial do estado. No mesmo ano de sua formatura, 1985, derrotou a deputada federal Rose de Freitas na disputa pela presidência do diretório municipal do PMDB. No ano seguinte, com apenas 25 anos, foi eleita deputada federal com 115 mil votos. Nesse mesmo período, dá à luz à primeira filha do casal, Enza Raphaela Paste Camata, e 14 anos depois, ao segundo filho, Bruno Camata.

Camata foi uma das fundadoras, em 1992, da Frente Parlamentar da Criança e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito pela investigação do extermínio de crianças e adolescentes, em um contexto nacional convulsionado pelo

impecheament de Fernando Collor. Integrante do Pacto pela Infância, tornou-se

membro do grupo executivo dessa entidade, na qual permaneceu até 1994.

A “musa da constituinte” logrou articular o capital da família Camata com a beleza pessoal da jovem loura de olhos azuis (padrão internacional de beleza ocidental), modelo socialmente aceito e conformado de acordo com as determinações de gênero, idade, divisão social do trabalho, entre outros (BOURDIEU, 2003). Assim, o

63 Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/rita-de-cassia-paste- camata>. Acesso em: 4 abr. 2014. A biografia de Rita Camata pode ser pesquisada no CPDOC, na área de biografias da Câmara dos Deputados ou em revistas do ramo de “jornalismo de celebridades”.

64 A reportagem completa está disponível em: <http://www.terra.com.br/istoegente /148/reportagens/rita_camata.htm>. Acesso em: 22 mar. 2019.

poder do casal durante os anos 1980, 1990 e início dos 2000 na política capixaba foi considerado por cientistas políticos como “grife Camata”.

Ao identificar-se publicamente cada vez mais com a questão da infância, integrou a Comissão65 de Seguridade Social e Família e foi relatora da Comissão Especial sobre Normas Gerais de Proteção à Infância e à Juventude, que daria origem ao Estatuto da Criança e do Adolescente, do qual também foi relatora66. Em 1998, ganhou o Prêmio Criança e Paz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Em 2002, concorreu à Presidência da República como vice de José Serra pelo PSDB. No mesmo ano em que a Comissão Especial do Sinase iniciou seus trabalhos, Rita figurou como um dos cem parlamentares mais influentes do país, segundo levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Tal ranking ressalta a trajetória de prêmios recebidos pela ex- deputada e sua constante presença nos meios de comunicação para comentar questões legais da infância e juventude, o que inscreve suas práticas como legítimas e constituintes das representações dominantes no cenário brasileiro (LENOIR, 1996).

Rita Camata deixa o PMDB em outubro de 2009, justificando que não aceita que o partido esteja envolvido na máfia das sanguessugas. Entretanto, é possível entender que seus motivos estão ligados à candidatura ao Senado pelo Espírito Santo, em 2010.

O casal Camata não exercia cargo público desde 2010, embora seguisse fazendo política no interior dos seus partidos. Segundo Roberto Simões da UFES67, a “grife do casal Camata entrou em decadência”. Em dezembro de 2018, Gerson foi assassinado por um ex-assessor em Vitória.

Nas eleições de 2010, Magno Malta, do Partido da República, defensor da redução da maioridade penal, disputou com Rita Camata e Ricardo Ferraço do PMDB as duas vagas do Senado pelo Espírito Santo. Durante a campanha, Malta associou 65 Além das funções citadas, durante a década de 1990 Rita Camata foi membro titular da Subcomissão

da Família, do Menor e do Idoso, da Comissão da Família, da Educação, Cultura e Esportes, e suplente da Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais, da Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher.

66 Embora ela se destaque até os dias atuais pela intensa dedicação a questões da infância e juventude,

Rita Camata se dedicou a outro tipo de problema social, como mostra a chamada “Lei Rita Camata”. É uma Lei Complementar n. 82/95, que deveria gerar efeitos até 31 de dezembro de 1998 em todas as esferas administrativas e, a partir de 1999, penalidades para os governantes que ultrapassassem o limite estabelecido do orçamento.

67 A reportagem completa está disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/eleicoes/rita+camata+ perde+eleicao+e+se+retira+de+cena+desiludida/n1237790607088.html>. Acesso em: 29 jun. 2014.

a imagem de Camata com a alta criminalidade no estado, ao responsabilizá-la pela pretensa impunidade de jovens abaixo de 18 anos. Com o estado ocupando o quarto lugar nacional em crimes, essa mensagem atingiu seu objetivo e colaborou para a eleição de Malta. Esse acontecimento é um exemplo do embate que permeia a vida política nacional em torno do tema da adolescência em conflito com a lei.

Malta mantém em seu site pessoal: “a proposta da redução da maioridade penal, além de frear a impunidade juvenil é também educativa e preventiva. [...] Por isso, vou lançar uma cartilha didática para circular em todo o Brasil. Na capa um homem de fralda, chupeta e com duas pistolas engatilhadas”68. O senador e o grupo que pleiteia a redução da maioridade penal tanto na Câmara quanto no Senado alcançaram uma vitória naquele momento por ter tido quase um milhão de votos a mais do que sua opositora na eleição de outubro de 2010. Essa conquista permitiu a Malta e ao senador Romero Jucá (PMDB-RR)69 a defesa ininterrupta no Senado há mais de duas legislaturas a respeito da alteração do prazo de internação para crimes como estupro e latrocínio.

Quando de sua participação como relatora da Comissão Especial do Sinase, a carreira política de Rita Camata ainda não tinha entrado em declínio ou estagnação. Sua presença na Comissão Especial era saudada alegremente por quase todos os convidados em todas as audiências: “Cumprimento o presidente da mesa, deputado Alceni Guerra; a deputada Rita Camata, um ícone na defesa dos direitos da criança e do adolescente, os demais colegas dessa mesa e aqueles que assistem a esta audiência” (Antônio José Angelo Motti, Coordenador da Escola de Capacitação de Conselheiros Tutelares, audiência 6, 29/10/2008); “Mais uma vez parabenizo a deputada Rita Camata por esse empenho, por ser a relatora desse PL. Creio que o PL surtirá grande efeito e aperfeiçoará o Estatuto” (Antonio Roldino P. Neto, representante do Fórum Colegiado Nacional dos Conselhos Tutelares, audiência 6, 29/10/2008); “Dou meu grande abraço à deputada Rita Camata, amiga querida, com

68 Extraído de: < http://magnomalta.com/index.php/outras-notas-mainmenu-45/1481-magno-malta-

defende-a-redu-da-maioridade-penal

69 Um exemplo foi a votação de fevereiro de 2014 na Comissão de Constituição e Justiça do Senado a

respeito da redução da maioridade. Extraído de: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/ reducao- da-maioridade-penal-veja-como-cada-senador-votou/>.O projeto de alteração da duração da medida socioeducativa em meio fechado para crimes hediondos é por nós considerado o “pacote básico inicial” dos que defendem a redução da maioridade penal para todos os atos infracionais. Mais uma vez frisamos que tal grupo não se aproxima das ideias de penalistas como Amaral e Silva, nesta tese analisado.

quem trabalhamos imensamente, especialmente no início dos anos 90 e naquele período pós Constituinte. Por S. Exa. tenho grande carinho” (João Batista Costa Saraiva, Juiz de Direito do Juizado Regional da Infância e Juventude de Santo Ângelo, RS); “Cumprimento a deputada Rita Camata, histórica militante nessa área. Já combinamos aqui de acompanhar uma série de inaugurações de obras de unidades socioeducativas no modelo necessário” (Fabio Silvestre, da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Secretaria dos Direitos Humanos, audiência 2, 20/08/2008); “Agradecer o convite [...] à relatora Rita Camata,

deputada histórica no movimento em defesa de crianças e adolescentes” (Thereza

de Lamare Franco Netto, coordenadora da área de saúde do adolescente e do jovem do Ministério da Saúde, audiência 2, 20/08/2008); “Saudar [...] deputada Rita Camata

grande parceira nessa caminhada dos direitos da criança e do adolescente [...]

(Helder Delena, coordenador do programa Prefeito Amigo da Criança, da Fundação Abrinq, audiência 3, 03/09/2008). (grifos nossos).

Assim, percebemos que Rita dispunha de prestígio, boa reputação, estilo de vida profissional e status educacional, que eram evocados nas audiências: recursos não materiais mobilizados nesse momento de articulação, os quais permitiam que suas perguntas e reflexões destinadas aos convidados fossem pontuais e especificamente respondidas por eles.

Não se trata de um procedimento frequente; o presidente da Comissão Especial, Givaldo Carimbão, não era tratado da mesma maneira. Seu discurso ou solicitação de reflexão para os convidados sobre o tema da inclusão de uma proposta sociopedagógica no projeto de lei eram ignorados ou tratados de maneira superficial. A exceção ocorreu na audiência 6 (29 de outubro de 2008), em que Carimbão foi atendido quando fez perguntas diretas para Maria da Conceição Andrade Paganele Santos, presidente da Associação das Mães e Amigos da Criança e do Adolescente em Risco (Amar), mãe de um adolescente que foi internado na Febem.

As inquietações vivenciadas por Camata eram transmitidas nas audiências, conferindo legitimidade à sua prática, por ser requisitada por magistrados: “[...] Eu já cansei de ouvir de juízes da infância e da juventude que não há como sentenciar o ato, o delito cometido com uma punição em meio aberto porque não existe nenhuma entidade que assegure o programa em meio aberto” (CAMATA, audiência 1, 13/08/2008); “Por várias vezes, fui acionada por juíza da infância, que me pedia que

interviesse no sentido de que os programas em meio aberto não fossem fechados, porque havia um corte no repasse de recursos do Ministério da Justiça para o Estado” (CAMATA, audiência 3, 03/09/2008). Ao mesmo tempo, ela conseguia reafirmar sua identidade como agente, pois sabia que estava em um campo de disputas composto por grupos com interesses e perspectivas distintos.

O estudo das disposições do deputado federal presidente da comissão mencionado anteriormente, Givaldo Carimbão, oferece novos indícios do jogo parlamentar na constituição dos direitos da criança e do adolescente. Carimbão é um homem “peregrinador”, como se define durante as audiências públicas do Projeto de Lei Sinase, por ter voluntariamente vivido em unidades de internação de adolescentes em mais de dez estados brasileiros70.

Na primeira audiência pública71, Givaldo Carimbão esclareceu a articulação que tornou possível uma comissão para o projeto de lei dos direitos da criança e do adolescente:

Quando eu fui pedir ao deputado Arlindo Chinaglia para nós discutirmos o PL, a deputada Rita Camata estava na fila conosco, falamos sobre a possibilidade de ela ser a relatora e eu o Presidente. Construímos todo o Estatuto da Criança e do Adolescente numa discussão naquele momento. Rita Camata

tinha uma história. Eu tenho uma história prática, na ponta. Juntamos o útil ao agradável para que pudéssemos construir o Estatuto72 (sic).

Conseguimos o apoio de vários companheiros deputados que têm também esse sentimento. Estão aqui os deputados Felipe Bornier, Eduardo

Valverde, Alceni Guerra. Muitos companheiros têm interesse em participar

da discussão (grifos nossos, audiência 1, 13/08/2008).

Esse trecho do discurso de Carimbão demonstra a aliança no Congresso a fim de garantir que o projeto de lei fosse discutido e assegurasse os interesses individuais dos legisladores.

Givaldo Carimbão é proprietário, há 20 anos, de uma comunidade terapêutica em uma fazenda no interior de Alagoas, e é um deputado que, em seu site pessoal, faz do “combate às drogas” o mote central de sua vida política. É “Presidente da Frente Parlamentar Antidrogas e faz parte da Frente Parlamentar que trata das

70 Audiências de 13/08/08, 20/08/08 e 03/09/08.

71 Os arquivos sonoros das audiências públicas e suas transcrições foram obtidos no site da Câmara

dos Deputados: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/>.

72 Não encontramos indícios de que Givaldo Carimbão tenha participado da construção do ECA no final

medidas socioeducativas” (audiência 7, 12/11/2008). Tornou-se o porta-voz político alagoano do movimento católico conhecido como “Renovação Carismática”, sendo o padrinho político do programa “Acolhe Alagoas”73, que pretende encaminhar os dependentes para “comunidades acolhedoras”.

Em 2011 foi relator do Projeto de Lei n. 7.663/2010, que prevê, entre outros assuntos, a internação involuntária do usuário de drogas, por decisão de familiar ou agente público, pelo período máximo de 180 dias, além de solicitar quatro fontes de financiamento para as comunidades terapêuticas, sendo duas públicas: a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e o Ministério da Saúde. Ou seja, a sua comunidade terapêutica poderá ser beneficiada caso a lei seja aprovada no Senado, pois já o foi em agosto de 2013 na Câmara dos Deputados, graças ao seu relatório. Após a discussão na Comissão de Assuntos Econômicos, o projeto aguarda relatório do senador Major Olimpio em março de 201974.

Filho de Antônio de Sá Gouveia e de Maria de Deus Gouveia, Givaldo de Sá Correia nasceu em 1947 em Itabi, SE, e sem completar o Ensino Fundamental foi para Maceió, onde se tornou comerciante de carimbos75. Aos 21 anos era o proprietário da Carimbão Indústria e Comércio. Na década de 1980, presidiu o Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais (Inoccop), a Associação dos Mutuários da Habitação do Estado de Alagoas e, em 1988, tornou-se diretor da Câmara dos Diretores Lojistas (CDL) de Maceió.

Sua base eleitoral para tornar-se vereador em Maceió em 1988, pela legenda do Partido Trabalhista Reformador (PTR), adveio do forte apoio do 73 Segundo a Secretaria de Estado da Promoção da Paz (PAZ-AL): “considerando o objetivo de interferir

nos crescentes índices de violência, a Secretaria de Estado da Promoção da Paz iniciou as atividades do Projeto de acolhimento a dependentes químicos, denominado “Acolhe Alagoas”, com a atribuição de fortalecer ações de inclusão e resgate social de pessoas com dependência química que têm uma relação estreita com os índices de violência no Estado. O Projeto foi desenvolvido a partir da concepção de ser a dependência química um estilo de vida com danos sociais elevados e não somente o uso exagerado de determinada substância psicoativa. Procura-se contemplar a multifatoriedade na origem do consumo de drogas. O projeto é de acolhimento por considerar-se necessária a parada de consumo de drogas e saída do local de risco social elevado, com o objetivo de promover o equilíbrio do dependente, seu acolhimento, proteção e oferecer possibilidade de reestruração física e social. Todo o projeto é consentido pelo usuário e pela família. Tem como público-alvo homens e mulheres em consumo ativo de drogas, a partir de 12 anos de idade, que tenham vulnerabilidade social e desejo de abstinência de drogas, e que não possuam comorbidade física ou mental grave em atividade que inviabilize sua permanência no ambiente de tratamento”. Disponível em: <http://www.paz.al.gov.br/programas/acolhe-alagoas>. Acesso em: 9 abr. 2014.

74 Disponível em: <http://www.camara.gov.br/internet/deputado/Frente_Parlamentar/53496.asp>.

Acesso em: 9 maio 2014.

movimento Renovação Carismática da Igreja Católica e dos diretores lojistas. Na década de 1990 reelegeu-se, e acumulou a presidência do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. Em 1998, tornou-se presidente da comissão episcopal

da Rede Vida no estado, e foi filiado por cinco anos do Partido Verde.

Seus quatro mandatos seguidos como deputado federal e três como vereador em Maceió ocorreram por três legendas tão distintas quanto do PSB (inclusive, em 1999, tornou-se vice-líder do bloco PSB/Partido Comunista do Brasil (PCdoB), função que exerceria também de 2001 a 2002) para o PROS, um novo

partido evangélico, o que exemplificaria a tese exposta por ele mesmo de que papel

aceita tudo. No último mandato concluído em 2018 sua nova legenda chamava-se AVANTE.

Desde o início de sua trajetória profissional, Carimbão manteve relações estreitas com a comunidade católica, fundou a comunidade terapêutica que tem em seu alicerce a supervalorização do aspecto religioso no tratamento do dependente químico, e dessa maneira podemos considerar que a posição do deputado na hierarquia da Câmara deriva dessa sua clientela. Foi membro, em 2002 e 2003, da bancada

parlamentar católica da Câmara dos Deputados e entre abril de 2015 e dezembro de 2018 foi presidente da Frente Parlamentar Mista Católica Apostólica Romana76. Em 2004 manifestou-se contra a legalização do aborto e apresentou um projeto de lei qualificando-o como crime hediondo, propondo o aumento da pena de reclusão para os que o cometessem. E, como uma maneira de não permitir que essa perspectiva religiosa de sua posição fosse olvidada, encerrava as audiências especiais do PL 1.627/2007 com uma frase inesperada para uma sessão pública de um Estado laico: “Que Deus os abençoe; Deus abençoe a todos; Deus abençoe a cada um dos senhores” (CARIMBÃO, audiências 1, 2, 3, 6).

Em dezembro de 2018 concluiu seu quinto mandato como deputado federal. É casado com Decelis Fernandes Santos Gouveia, com quem tem dois filhos.

Como presidente da Comissão Especial do Projeto de Lei, sua atribuição era de coordenador de cada audiência: apreciação da ata da reunião anterior, ofícios

76 Conforme publicado nos Diários da Câmara dos Deputados em abril de 2015. Fonte:

<http://www.camara.gov.br/internet/deputado/Frente_Parlamentar/53496.asp>. Como em outubro de 2018 Carimbão não se reelegeu, esse link não está mais disponível. As informações podem ser encontradas em seu site pessoal: <https://www.givaldocarimbao.com/>.

do expediente, apresentação do currículo dos convidados, concessão da palavra, organização da pauta e da ordem de inscrição para perguntas, relatoria da presença de ouvintes de outras instituições, e a defesa da necessidade imperiosa de “parâmetros/políticas/propostas pedagógicas” no Sinase (audiências 1, 2, 3), a fim de evitar que os profissionais que são responsáveis diretos pela aplicação das medidas fiquem sem diretrizes em seus trabalhos com adolescentes. De acordo com Carimbão, seria imperioso evitar que os profissionais fiquem como “baratas tontas” (audiência 2, de 20/08/2008) por não saberem o que fazer.

Por não ser detentor de diplomas e por estar em uma relação assimétrica com a deputada Rita Camata e com os demais deputados e convidados, Givaldo procura consolidar sua presença como presidente na comissão do PL 1.627/2007 ao