• Nenhum resultado encontrado

A repercussão geral na atual sistemática processual

O assunto deste tópico, assentar-se-á em questão crucial na temática enfatizada nesta pesquisa, que é a explanação acerca da repercussão geral na atual sistemática processual, vez que, o instituto de previsão constitucional, também encontra guarida na seara processual, e sua regulamentação, após a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, e, posteriormente com as alterações advindas da Lei n.º 13.256/2016, tem instigado em demasia o debate.

Para tanto, iniciar-se-á a abordagem desse tópico com o estudo da repercussão geral como pressuposto recursal de admissibilidade, passando-se pela análise do momento de sua demonstração no recurso extraordinário e o procedimento percorrido na Suprema Corte, para, por fim, tecer considerações acerca do instituto em apreço na sistemática dos precedentes, ponto de elevada importância em razão de discussões e interpretações auferíveis no cenário jurídico atual.

3.6.1. A repercussão geral como pressuposto recursal de admissibilidade do recurso extraordinário

De acordo com o explanado no Capítulo II deste trabalho, os recursos em geral se sujeitam à observância de certos pressupostos recursais para que sejam conhecidos. Desta forma, o recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal deve atender a alguns requisitos para que seja julgado no mérito.

Wambier, Conceição, Ribeiro e Mello (2015, p. 1505), afirmam que a repercussão geral “porque é um filtro, consubstancia-se mais um requisito de admissibilidade [...]”.

De igual modo, a doutrina estabelece o mencionado instituto como um requisito de admissibilidade do recurso extraordinário, v. Rodrigues (2017, p. 264), Câmara (2018, p. 534), Gonçalves (2017, p. 349), Moreira (2013, p. 584), embora este último entenda tratar-se de um requisito genérico de admissibilidade.

Outrossim, o artigo 322, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal dispõe que “O Tribunal recusará recurso extraordinário cuja questão constitucional não oferecer repercussão geral [...]”.

Soa amistosa a compreensão de que o instituto em comento importa em um pressuposto ou requisito de admissibilidade do recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, valendo frisar que a é doutrina pacífica quanto a essa compreensão, em que algumas divergências quanto a tratar-se de pressuposto recursal genérico ou específico. A concepção de tratar-se de pressuposto recursal, no mais, é auferível da própria leitura do artigo 102, §3º da Magna Carta, que usa a expressão “deverá”.

Aliás, o próprio sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal consagra que “A existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada é requisito necessário para o conhecimento de todo os recursos extraordinários, inclusive em matéria penal.

Em assim sendo, é plácido concluir que a repercussão geral se traduz em um pressuposto recursal de admissibilidade, embora existam peculiaridades quanto à natureza desse requisito.

3.6.2. Demonstração da repercussão geral em preliminar de razões recursais

Como vimos, a repercussão geral é um pressuposto recursal de admissibilidade, sem o qual o recurso extraordinário não é conhecido.

O Código de Processo Civil de 1973 dispunha, em seu artigo 543-A, §2º que “o recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência da repercussão geral”.

A regra contida no referido dispositivo não foi repetida no atual Código, o que enseja discussão acerca da necessidade, ou não, da demonstração da repercussão geral em sede de preliminar de recurso.

Isso porque, a previsão elencada hodiernamente no artigo 1.035, §2º, é a de que “O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal”, não mais se exigindo que a demonstração se faça em preliminar recursal.

Todavia, Gonçalves (2017, p. 349) aduz que “Cumpre ao recorrente, em preliminar formal e fundamentada de recurso extraordinário, apresentar a repercussão geral, sob pena de o recurso ser indeferido de plano”.

Igualmente, para Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 548):

Sendo requisito intrínseco de admissibilidade do recurso extraordinário, a exposição da repercussão geral deve ser feita preliminarmente ao mérito do recurso extraordinário. O fato de o novo Código não repetir essa exigência em nada altera essa necessidade, dado que se trata de questão preliminar. A inexistência de repercussão geral leva à inadmissibilidade do recurso extraordinário.

Santos (2017, p. 663), na mesma linha, assevera que:

A novidade que traz o novo requisito de admissibilidade do recurso é a de que o recorrente, em preliminar, deverá apresentar fundamentação específica que demonstre a repercussão geral (art. 1.035, § 2o). Nesta hipótese, no juízo de origem apenas a ausência da preliminar introdutória será motivo de não recebimento do recurso, com possibilidade do reexame no Supremo Tribunal Federal por agravo de instrumento. A preliminar do recurso, nele constante, não impede o exame dos outros requisitos específicos.

Nesse passo, também a exigência acostada na página do Supremo Tribunal Federal na internet, que aduz a necessidade de demonstração da repercussão geral em preliminar recursal.

Montenegro Filho (2016, p. 980), de seu turno aponta que:

O novo CPC não mais exige que a repercussão geral seja suscitada como preliminar do recurso, como o § 2º do art. 543-A do CPC/73 o fazia, de modo que o recorrente pode argui-la em qualquer compartimento do recurso, técnica que contribui para o aumento das situações em que o recurso será conhecido, permitindo o enfrentamento das questões de mérito.

Donizetti (2017, p. 1401) ensina que:

Como o novo CPC não repete, ipsis litteris, o mencionado dispositivo, pode-se concluir que é dispensável essa formalidade, bastando, para tanto, que o recorrente demonstre, de forma fundamentada, o requisito da repercussão geral.

Acerca da matéria, o Enunciado n.º 224, do III Fórum Permanente de Processualistas Civis consolida que “A existência de repercussão geral terá de ser demonstrada de forma fundamentada, sendo dispensável sua alegação em preliminar ou em tópico específico”.

Destarte, em que pese o entendimento de parte da doutrina, que não afasta a exigência de demonstração da repercussão geral em preliminar de recurso extraordinário mesmo não mais havendo a referida exigência na atual normativa processual, há entendimento consolidado em sentido oposto, dispensando a demonstração em preliminar recursal, em consonância com a literalidade da norma processual.

Entendemos que, embora se tenha exaurido a exigência de demonstração da repercussão geral em preliminar de recurso, não nos parece adequada a sua demonstração se não em preliminar recursal se se entender que se trata de um pressuposto recursal de admissibilidade, a ser analisado para o conhecimento do recurso e não, posteriormente, no mérito, importando ressaltar que tal medida se coaduna com a análise prévia a ser feita.

O que se entende, destarte, é que, por se tratar a preliminar de uma formalidade que facilita o trabalho forense de análise da repercussão geral, muito provavelmente a sua inexistência na peça recursal conduzirá em inadmissibilidade do recurso, o que a experiência consagra.

3.6.3. Procedimento no Supremo Tribunal Federal

O recorrente deverá interpor o recurso extraordinário no prazo de 15 dias, conforme o artigo 1003, §5º, do Novo CPC, dirigido ao presidente ou vice-presidente do tribunal recorrido, consoante dispõe o artigo 1029, do Novo Código de Processo Civil.

Os artigos 1.035 e seguintes do Código de Processo Civil cuidam do procedimento da repercussão geral no Supremo Tribunal Federal, o que também é regulamentado no Regimento Interno da Suprema Corte.

Segundo o contido no artigo 1.035 “O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo”.

A decisão, portanto, que não conhece do recurso por ausência de repercussão geral é irrecorrível, cabendo à parte apenas e tão somente opor embargos declaratórios.

Na forma do §2º, do artigo 1.035 e 102, §3º da Constituição da República, a competência para análise da repercussão geral é exclusiva do Supremo Tribunal Federal, não podendo ser realizada pelo tribunal a quo: (in verbis, grifo nosso)

§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para

apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal.

§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo

recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

O dispositivo constitucional citado ainda permite conclui que a repercussão geral somente será afastada pela manifestação de 8 (oito) dos 11 (onze) ministros do Tribunal.

O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal também regulamenta o procedimento relativo à repercussão geral, em seu Capítulo V. Em seu artigo 323, caput, aponta que o ministro da Corte enviará aos demais ministros, por meio eletrônico, cópia de sua manifestação sobre a existência ou não de repercussão geral no recurso que haja

analisado, dispensando tal procedimento quando se tratar de matéria com repercussão geral já reconhecida ou de questão que contrarie súmula ou jurisprudência dominante do tribunal, na forma do §2.

O Regimento ainda disciplina que as decisões com repercussão geral poderão ser julgadas, no mérito, por meio eletrônico, se versarem sobre reafirmação de jurisprudência dominante, na esteira do artigo 323-A.

Seguindo esse procedimento, passado o prazo de 20 dias sem manifestações suficientes para o afastamento da repercussão geral, isto é, sem que haja a manifestação contrária de ao menos 8 (oito) ministros, que equivale a 2/3 do tribunal, a repercussão geral será tida como existente, nos termos do §1º, do artigo 324, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

Nos moldes do artigo 1.035, §4º, do Novo CPC “O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal”.

Na esteira do Regimento Interno da Suprema Corte, seu artigo 323, §3º dispõe que “Mediante decisão irrecorrível, poderá o(a) Relator(a) admitir de ofício ou a requerimento, em prazo que fixar, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, sobre a questão da repercussão geral.”

Santos ensina que (2017, p. 663):

Tal instituto, além de comprovar que a atividade jurisdicional não é tão particularizada e que, de certo modo, há sempre uma abrangência geral, tal o papel universalista da jurisprudência, serve a jurisdição com sensível ajuda, quando traz aos elementos fundamentos de boa convicção.

Portanto, a atuação de terceiros tem um viés abrangente, que é o de permitir a correta compreensão acerca da existência ou inexistência da repercussão geral, visto que a questão ventilada, por vezes, não se insere meramente no conhecimento jurídico atinente ao julgador.

O §5º do artigo 1.035 do Novo CPC determina que, uma vez reconhecida a repercussão geral, o relator determinará sejam suspensos os processos pendentes relativos à mesma questão, em todo o país.

No mais, segundo o preceituado no §6º, do mesmo dispositivo processual, é possível ao interessado requerer seja excluído da decisão de sobrestamento e não seja conhecido o recurso interposto fora do prazo, manifestando o recorrente em 5 (cinco) dias.

Sendo a repercussão geral não for reconhecida, será negado seguimento a todos os recursos sobrestados de mesma matéria ventilada, na forma do §8º, do artigo 1,035.

Para encerrar a análise do procedimento, a regra contida no §9º, do artigo 1.035 determina seja julgado no prazo de 1 (um) ano o recurso com repercussão geral reconhecida, conferindo preferência em seu julgamento, que só não prevalecerá sobre os processos envolvendo réu preso e habeas corpus.

Assim, tem-se encerrado o presente tópico, pelo que, passa-se ao estudo da repercussão geral como precedente judicial.