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Mônica de Oliveira Gomes A REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

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Mônica de Oliveira Gomes

A REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO Araçatuba

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Mônica de Oliveira Gomes

A REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Trabalho de conclusão do curso de graduação em Direito para obtenção de bacharel sob a orientação do Professor Flávio Marcelo Gomes

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO Araçatuba

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BANCA EXAMINADORA

_________________________________ Prof. Me. Flávio Marcelo Gomes

_________________________________ Prof. Me. Luciano Meneguetti Pereira

_________________________________ Prof. Me. Jorge Kuranaka

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AGRADECIMENTOS

A Deus, Pai de Amor, criador de todas as coisas, agradeço por me permitir despender tanta dedicação e esforço, por me permitir ir em busca daquilo que tanto almejo. Agradeço ao Pai por toda a força concedida, pela resiliência que pairou nos tempos difíceis, pela coragem que sempre tive quando as coisas não pareciam dar certo e, acima de tudo, por me conduzir com tanta sabedoria e tanta luz.

Agradeço, de todo o coração, a meus pais, minha motivação diária. Eles que muito mais que eu, sempre compreenderam que tudo ocorre no seu tempo e que o plantio sempre implica a colheita. Sem dúvidas, o desejo de retribuir tudo o que fizeram por mim transborda em toda ação praticada rumo a meus objetivos. Agradeço, de igual modo a minha irmã, a quem tenho um amor incomensurável, por ser tão companheira.

Agradeço, outrossim, a meu namorado, João Guilherme, um ser virtuoso e especial, pela pessoa serena, humana e cordial que é. Sou imensamente grata pela ajuda em todos os momentos difíceis e, de igual forma, por estar presente em todas as minhas vitórias durante esses cinco anos.

Agradeço a todos os professores do UniToledo, em especial meu orientador Flávio Marcelo Gomes, pessoa pela qual tenho grande admiração e apreço, por ter aceito o encargo de me orientar nesta pesquisa, e por lecionar com grande maestria a disciplina apaixonante de Direito Processual Civil.

Por fim, agradeço a todos amigos e colegas de estágio que de alguma maneira contribuíram para que esses cinco anos na academia fossem de tão grande valia.

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“Aqueles que se sentem satisfeitos sentam-se e nada fazem. Os

insatisfeitos são os únicos benfeitores do mundo”. (Walter S. Landor)

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RESUMO

O presente trabalho tem o fito de abordar o recurso extraordinário e a repercussão geral, tema que ganha relevância com o advento do Novo Código de Processo Civil e sua alteração pela Lei n.º 13.256/2016, que trouxe mudanças significativas que circundam o instituto da repercussão geral, criada pela Emenda Constitucional n.º 45/2004, em especial no que concerne à sistemática dos precedentes, o que tem instigado manifestações doutrinárias não pacíficas sobre a questão. Assim, na presente pesquisa analisar-se-á aspectos gerais relativos aos recursos, seus princípios, pressupostos de admissibilidade e efeitos, passando-se, em seguida, ao estudo do recurso extraordinário em espécie, para, finalmente, abordar o instituto da repercussão geral, à luz de um pressuposto recursal de admissibilidade e de um precedente vinculante, bem como da constitucionalidade das inovações promovidas pela lei processual. A fim de concretizar os objetivos deste trabalho, foram realizadas pesquisas em livros, doutrinas e artigos científicos que visam explanar o tema, bem como a análise da legislação atinente à questão e da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, buscando, nesse passo, estabelecer a compreensão sobre a questão proposta.

Palavras-chave: Recurso extraordinário. Repercussão Geral. Precedentes Vinculantes. Eficácia. Constitucionalidade.

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ABSTRACT

The present work aims to show the Extraordinary Appeal and general repercussion, theme that is having a huge relevance since the advent of the New Code of Civil Procedure and the modifications brought by the 13.256/2016 law whose has changed significantly the general repercussion institute, which was created by the Constitutional Amendment n°. 45/2004, in special about what regards the precedents systematics, fact that has instigated experts non-peaceful manifestations about the point. Therefore the present research is going to analyze the general aspects related to the appeals, their principles, pre-requisites of admissibility, and their effects, and then, it’s also going to study the Extraordinary Appeal, to finally approach the general repercussion institute according to a pre-requisites of admissibility of the appeals, a precedent with binding effect and also the constitutionality of the innovations that the procedure law is promoting. So, to achieve the objects of this work, searches on books were made, also on scientific papers and doctrines that aim to show the theme and analyze the Brazilian Constitution of 1988 as well the current legislation to establish the comprehension of the issue.

Key-words: Extraordinary Appeal; General Repercussion; Binding Precedents; Legal Effects; Constitutionality.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

CAPÍTULO I – RECURSOS NO PROCESSO CIVIL...12

1.1 Conceito...12

1.2 Natureza jurídica...13

1.3 Atos processuais sujeitos a recurso...14

1.4 Princípios recursais...15

1.4.1 Princípio do duplo grau de jurisdição...15

1.4.2 Princípio dataxatividade...15

1.4.3 Princípio da unirrecorribilidade...17

1.4.4 Princípio da fungibilidade...18

1.4.5 Princípio da vedação da reformatio in pejus...19

CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE E EFEITOS DOS RECURSOS...21

2.1 Juízo de admissibilidade e juízo de mérito...21

2.2 Pressupostos recursais de admissibilidade...23

2.2.1 Tempestividade...24 2.2.2 Regularidade formal...26 2.2.3 Preparo...27 2.2.4 Legitimidade recursal...28 2.2.5 Interesse recursal...29 2.2.6 Adequação...29

2.2.7 Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do recurso...30

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2.3.1 Efeito devolutivo...32

2.3.2 Efeito suspensivo...33

2.3.3 Efeito substitutivo...34

2.3.4 Efeito translativo...35

CAPÍTULO III – A REPERCUSSÃO GERAL E O RECURSO EXTRAORDINÁRIO...37

3.1 Recurso extraordinário...37

3.2 Pressupostos recursais de admissibilidade do recurso extraordinário...38

3.2.1 Esgotamento das instâncias inferiores...39

3.2.2 Causa decidida e prequestionamento...40

3.3 Cabimento do recurso extraordinário...42

3.3.1 Decisão que contraria dispositivo constitucional...42

3.3.2 Decisão que declara a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal...43

3.3.3 Decisão que julga válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição e decisão que julga válida lei local em face de lei federal...45

3.4 Efeitos do recurso extraordinário...45

3.5 A repercussão geral no recurso extraordinário...46

3.5.1 Conceito...47

3.5.2 Função constitucional...50

3.5.3 Arguição de relevância...51

3.6 A repercussão geral na atual sistemática processual...53

3.6.1 A repercussão geral como pressuposto recursal de admissibilidade do recurso extraordinário...53

3.6.2 Demonstração da repercussão geral em preliminar de razões recursais...54

3.6.3 Procedimento no Supremo Tribunal Federal...56

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3.7.1 Sistema de precedentes...59

3.7.2 Eficácia dos precedentes...61

3.7.3 Os precedentes e sua eficácia no Novo Código de Processo Civil...63

3.7.4 Eficácia da decisão com repercussão geral reconhecida no Novo Código de Processo Civil...67

3.7.5 Considerações finais acerca da natureza jurídica da repercussão geral...70

CONCLUSÃO...73

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(12)

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por escopo a análise do recurso extraordinário e da repercussão geral, instituto jurídico cuja análise é de grande valia, principalmente em razão do advento da Lei n.º 13.105/2015, o Novo Código de Processo Civil.

O instituto denominado Repercussão Geral, inserido na Constituição da República de 1988, por força da Emenda Constitucional n.º 45/2004, conhecida como “Reforma do Poder Judiciário”, trouxe significativas mudanças na perspectiva da atuação jurisdicional do Supremo Tribunal Federal, órgão máximo do Poder Judiciário na estrutura brasileira, no âmbito de sua competência recursal.

Com o advento do Novo Código de Processo Civil e seu regulamento acerca dos precedentes judiciais, a questão relativa à atuação do Supremo Tribunal Federal em matéria aduzida em recurso extraordinário e as decisões proferidas nesse âmbito passaram a ser interessantes do ponto de vista científico, o que aguça a pesquisa e a dissídio entre as mais variadas posições doutrinárias, por se tratar, precipuamente, de tema de discussão atual.

Nesse prisma, a presente pesquisa objetiva analisar o recurso extraordinário e o instituto da repercussão à luz do Novo Código de Processo Civil, almejando estabelecer as diretrizes deste instituto na atual sistemática jurídica e processual.

O que justifica a presente inquietação são as modificações verificadas com a nova lei processual.

Para que seja possível a constatação da problemática, o presente trabalho se divide em três capítulos. Por tratar de um recurso inserido na sistemática processual, no primeiro capítulo far-se-á uma abordagem relativa à teoria geral dos recursos, que abrangerá os princípios recursais. No segundo capítulo estudar-se-á os pressupostos recursais de admissibilidade e os efeitos dos recursos. No terceiro e último capítulo, estabelecer-se-á o estudo do recurso extraordinário e da repercussão geral, frisando o instituto à égide do sistema de precedentes judiciais, analisada, em especial, à luz do Novo Código de Processo Civil.

(13)

Para o alcance dos objetivos almejados, utilizar-se-á da pesquisa bibliográfica e da legislação pertinente à questão, que envolve, basicamente, a Constituição da República de 1988 e o Novo Código de Processo Civil.

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I - RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

Para que a presente pesquisa alcance os objetivos almejados, faz-se mister uma análise de aspectos gerais no que tange ao tema estudado.

Por isso, para o estudo deste trabalho monográfico, que pretende explanar acerca da Repercussão Geral no Recurso Extraordinário, adentrar-se-á, preliminarmente, ao estudo da teoria geral dos recursos, em que pretender-se-á analisar os recursos na sistemática processual civil.

Nesse aspecto, será abordado, no primeiro capítulo, a sistemática geral dos recursos, que envolve conceito, natureza jurídica, atos processuais sujeitos a recurso e seus princípios.

1.1. Conceito

É notória a compreensão de que o ser humano, ao deparar-se com uma situação de inconformismo, tende a buscar uma forma de modificar tal situação a fim de torná-la aceitável.

Nas palavras de Assis (2008, p.33):

O homem e a mulher na sociedade pós-moderna se acostumaram às relações instantâneas dos modernos meios de comunicação e reagem muito mal a qualquer demora e a soluções que não lhes atendam plena e integralmente aos interesses.

Nesse sentido, assevera Theodoro Júnior (2016, p. 947):

Na verdade, é intuitiva a inconformação de qualquer pessoa diante do primeiro juízo ou parecer que lhe é dado. Naturalmente busca-se uma segunda ou terceira opinião, sempre que a primeira não seja favorável ao ponto de vista do consulente, não importa o terreno do conhecimento em que a indagação ocorra (filosófico, literário, artístico, sociológico, político, pedagógico, médico, religioso e qualquer outro que inquiete o espírito humano). Não poderia ser diferente no que diz respeito às divergências de ordem jurídica, plano em que os conflitos são constantes e de soluções sempre problemáticas.

A palavra “recurso” está exatamente ligada a esse inconformismo humano e, partindo dessa noção preliminar, a literatura processual, para conceituar recurso remete

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aos ensinamentos de Moreira (2013, p. 233), segundo o qual recurso é “o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna.”

Bueno (2015, p. 601), em análise ao referido conceito afirma que:

A definição reúne os elementos importantes para a caracterização dos recursos como tais. A sua voluntariedade (é preciso que haja manifestação de vontade para recorrer), a circunstância de o recurso desenvolver-se no mesmo processo e suas finalidades: reformar, invalidar, esclarecer ou integrar decisões jurisdicionais.

Portanto, recurso no processo civil pode ser definido como o remédio impugnativo que visa levar ao conhecimento do Poder Judiciário uma questão jurídica decidida, visando seu reexame, que ocorrerá dentro do mesmo processo.

1.2. Natureza jurídica

Conforme acentuam Betti, Leone e outros autores (1936, 1935 apud MOREIRA, 2013, p. 235), os recursos têm natureza de ações autônomas e, nesta senda, possuem relação jurídica distinta daquela concebida no processo.

De outra banda, apontam Rocco, Carnelutti e outros (1926, 1917 apud MOREIRA, 2013, p. 236) que o direito de recorrer significa a extensão do próprio direito de ação.

Em consonância com essa última concepção acerca da natureza jurídica de recurso, muitos autores como Moreira (2013, p. 236) e Theodoro Júnior (2016, p. 948) falam em recurso como uma prerrogativa inerente ao titular do direito de ação, o qual traz em seu bojo o direito de recorrer.

De mais a mais, faz-se imperativo destacar a ilustre ponderação de Alvim (2013, p. 749) “Deve-se ter presente que a atividade recursal está sempre implicando um ônus […] Este envolve a necessidade de iniciativa, com vistas à obtenção ou à possibilidade de obtenção de um benefício próprio”.

Moreira (2013, p. 236), apregoa que a atividade recursal implica na prática de ato pela parte que lhe traga benesse ou lhe afaste uma desvantagem, o que confere ao ônus seu caráter de obrigação, de dever, com vistas à satisfação de um interesse.

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Portanto, não obstante a classificação dos recursos como uma extensão do direito de ação e, logo, um direito intrínseco à parte do processo, a doutrina ainda se inclina em estabelecer os recursos como um ônus.

E assim, com supedâneo nos apontamentos declinados pela literatura, os recursos podem ser entendidos como uma extensão do direito de ação, somada a um ônus processual, que se constitui em uma faculdade que nasce para o sujeito do processo, cuja inobservância pode acarretar consequências juridicamente negativas.

Destarte, definida a natureza jurídica dos recursos, passar-se-á ao estudo dos atos processuais sujeitos a recurso.

1.3. Atos processuais sujeitos a recurso

Segundo o artigo 203 do Novo Código de Processo Civil “Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos”.

Ademais, o artigo 204 estabelece que “acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais”. E o artigo 932 do referido codex ainda disciplina as chamadas decisões unipessoais do relator, da presidência ou da vice-presidência do tribunal.

Acerca dos atos processuais suscetíveis de recurso, Assis (2008, p. 136) lembra que “Em tema de atos recorríveis, tem-se à vista apenas uma classe dos atos processuais, e, em seu âmbito, uma subdivisão dos atos emanados do juiz.”

Segundo o que dispõe o artigo 1001 do Novo Código de Processo Civil, “Dos despachos não cabe recurso”.

Acerca dos despachos, Wambier, Conceição, Ribeiro e Mello sintetizam que (2015, p. 1432):

[...] sendo o pronunciamento judicial desprovido de conteúdo significativamente decisório e não tendo, portanto, capacidade de gerar prejuízo, é irrecorrível, tanto à luz do CPC/73 quanto segundo do NCPC. Não havendo prejuízo, não nasce, para as partes nem para o Ministério Público, nem para terceiros, interesse de agir.

Portanto, conforme a norma processual e o posicionamento dos autores, por faltar interesse de agir, em razão da inexistência de conteúdo decisório, os despachos

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são irrecorríveis, e os atos processuais que se sujeitam a recurso são as sentenças, as decisões interlocutórias e os acórdãos.

Com isso, tem-se analisados os aspectos introdutórios dos recursos, que abrangem seu conceito, natureza jurídica, e atos passíveis de recurso, pelo que passar-se-á, ao estudo dos seus princípios nucleares.

1.4. Princípios recursais

A análise dos princípios recursais é de grande valia, afinal neles se inserem a essência jurídica desse tipo de remédio jurisdicional.

Nesta senda, pretender-se-á analisar os princípios recursais de maneira breve e sutil, sendo eles o do duplo grau de jurisdição, da taxatividade, da unirrecorribilidade (ou singularidade), da fungibilidade e da vedação à reformatio in pejus.

1.4.1. Princípio do duplo grau de jurisdição

Segundo doutrina Neves (2016, p.1.481) o princípio do duplo grau de jurisdição pode ser entendido como “[…] a possibilidade de revisão da solução da causa, ou seja, a permissão de que a parte possa ter uma segunda opinião concernente à decisão da causa”.

Assis (2008, p. 70), a propósito doutrina que “Ao vencido na primeira apresentação da solução do conflito, raramente convencido desse resultado, a lei confere o direito de provocar outra avaliação do seu alegado direito [...]”.

Em linhas gerais, o princípio em testilha, conforme mencionado, implica no direito da parte em ver seu processo reexaminado, permitindo uma nova solução para a causa.

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Marinoni, Arenhart e Mitidiero, (2015, p. 510) esclarecem que:

Por força do art. 22, inciso I, da CF, só o legislador federal pode prever recursos, porque se trata de matéria processual. Isso quer dizer que somente a lei federal pode criar recursos, sendo vedada a qualquer outra esfera legislativa e administrativa, conceber figuras recursais. São recursos apenas as figuras previstas taxativamente pelo legislador federal.

Conforme Wambier, Conceição, Ribeiro e Mello (2015, p. 1425) “[…] só há os recursos que a lei prevê. Não necessariamente o CPC, mas qualquer texto normativo de igual ou superior hierarquia”.

Desta forma, é possível concluir que somente é recurso aquilo que a legislação impôs como tal, isto é, aquela hipótese expressamente elencada na norma, o que, consigne-se, não necessariamente na legislação processual civil.

Aliás, recurso muito comum previsto fora do CPC é o Recurso Inominado previsto no artigo 41 da Lei 9.099/95, cabível contra a sentença proferida no âmbito dos juizados especiais cíveis.

Por sua vez, a Lei 6.830/80, que trata dos executivos fiscais, prevê, em seu artigo 34 que “das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinquenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração”.

Não se pode deixar de olvidar, nesse ínterim, dos recursos previstos no Novo Código de Processo Civil elencados em seu artigo 994: (in verbis)

Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos: I - apelação;

II - agravo de instrumento; III - agravo interno;

IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; VI - recurso especial; VII - recurso extraordinário;

VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário; IX - embargos de divergência.

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Portanto, com as consignações tecidas, é cediço afirmar que os recursos existem em numerus clausus na legislação e a sua previsão deve constar na lei processual ou em legislações federais esparsas, pelo que, o rol de recursos previstos é taxativo.

1.4.3. Princípio da unirrecorribilidade

Theodoro Júnior (2016, p. 961) aponta que “Pelo princípio da singularidade, também chamado de princípio da unirrecorribilidade ou da unicidade, para cada ato judicial recorrível há um só recurso admitido pelo ordenamento jurídico”.

Nas lições de Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 510):

Ao estipular a lei processual quais são os recursos cabíveis, evidentemente há de indicar para cada um dos recursos uma função determinada e uma hipótese específica de cabimento. Dessa forma, a regra da unirrecorribilidade (ou também chamada de unicidade) indica que, para cada espécie de ato judicial a ser recorrido, deve ser cabível um único recurso.

Nesse diapasão, o princípio da singularidade, ou da unirrecorribilidade, implica na interpretação de que, contra cada decisão, o mesmo legitimado só pode interpor um único recurso em cada oportunidade, não podendo opor contra a mesma decisão dois ou mais recursos, ao mesmo tempo.

Para tal princípio, contudo, existem exceções, como o que ocorre quando da interposição simultânea de recurso especial e recurso extraordinário, prevista no artigo 1.031 do Código de Processo Civil, que estabelece que “Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça”.

Portanto, em notas derradeiras, concluímos que o princípio da unirrecorribilidade se traduz na impossibilidade de interposição simultânea de dois ou mais recursos, sendo a interposição concomitante uma exceção prevista no artigo 1.031 do Código de Processo Civil.

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1.4.4. Princípio da fungibilidade

Segundo preceituam Nery Júnior e Nery (2006, p. 703) “É o princípio pelo qual se permite a troca de um recurso por outro: o tribunal pode conhecer do recurso erroneamente interposto”.

Conforme Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 511):

Na normalidade dos casos, o erro na interposição do recurso adequado acarretará seu não conhecimento, tendo em conta seu não cabimento. Porém, situações podem ocorrer em que não se tenha certeza sobre qual recurso é adequado para enfrentar certo ato judicial. Muito embora sejam claras as figuras recursais e suas respectivas hipóteses de cabimento, algumas dúvidas sérias podem existir e para tais casos, diante da impossibilidade de se criar um sistema imune à dúvida, o escopo de tutela dos direitos que denomina o processo recomenda maior maleabilidade no trato dos recursos.

Basicamente, o princípio da fungibilidade recursal autoriza o julgador a receber um recurso erroneamente interposto no lugar e como se fosse o recurso adequado.

Seguindo a sistemática recursal do CPC de 1973, o Novo Código de Processo Civil não disciplina genericamente a fungibilidade, havendo, no diploma legal, duas previsões específicas em que se admite o recurso equivocadamente interposto em lugar do correto.

A primeira delas implica o recebimento, pelo tribunal, do recurso de embargos de declaração como se fosse um agravo interno, com letra no artigo 1.024, § 3o, que assim dispõe: (in verbis)

§ 3o O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo

interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1º.

A segunda fungibilidade permite receber o recurso especial como se fosse um recurso extraordinário, quando for detectada, na petição recursal, uma questão de direito constitucional, caso em que, os autos serão encaminhados ao STF, a fim de que o recurso especial seja processado e julgado como se fosse um recurso extraordinário. Porém, se o relator no STF entender que não é caso de fungibilidade, mandará devolver os autos ao STJ, em decisão irrecorrível, como prevê o artigo 1.032: (in verbis)

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Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.

Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.

Vale frisar que a fungibilidade também ocorre na situação oposta, qual seja, quando o recorrente maneja um recurso extraordinário e o STF entende tratar-se de ofensa à norma federal, que enseja a competência do STJ, com fulcro no artigo 1.033: (in verbis)

Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial.

Com essas considerações, é possível concluir que na atual sistemática recursal, a fungibilidade só é admitida em casos especiais, previstos na própria lei processual, sendo tarefa do recorrente observar a adequação do recurso a ser manejado, a fim de não ter seu meio de impugnação obstado.

1.4.5. Princípio da vedação da reformatio in pejus

Segundo Bueno (2015, p. 606), “a chamada vedação da reformatio in pejus, reside na descrição da situação jurídica de uma das partes ser piorada pelo julgamento de um recurso mesmo sem pedido do recorrente ou independentemente de recurso seu”.

A despeito, ensina Theodoro Júnior (2016, p. 968-969):

Com efeito, o objeto do recurso não é senão o que pede o recorrente, pelo que, ao tribunal não é dado senão acolher ou rejeitar sua postulação, e nunca ir além de sua pretensão para piorar-lhe a situação jurídica diante do que fora assentado na decisão recorrida. Valer-se do recurso para agravar a situação do recorrente importa, em outros termos, decidir extra ou ultra petita, atuar jurisdicionalmente de ofício, e violar a coisa julgada ou a preclusão, no tocante àquilo que se tornou definitivo para a parte que não recorreu.

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Ora, se o recurso é mecanismo previsto para que se possa obter a revisão de decisão judicial, é intuitivo que sua finalidade deve cingir-se a melhorar (ou pelo menos manter idêntica) a situação vivida pelo recorrente. Não pode, por isso, a interposição do recurso piorar a condição da parte, trazendo para ela situação mais prejudicial do que aquela existente antes do oferecimento do recurso. Tal é a formulação do princípio em exame, que proíbe a reformatio in pejus.

Fala-se, portanto, em vedação da reformatio in pejus quando a sistemática recursal estabelece a proibição de se julgar o recurso de forma a piorar a situação do recorrente. Nesse sentido, tem-se que o órgão jurisdicional limita-se ao pedido do recorrente, não podendo agravar a situação jurídica fixada a priori.

Excetua-se ao referido princípio as ditas matérias de ordem pública, preconizadas no artigo 337 do Código de Processo Civil. Certo é que a existência de alguma das matérias de ordem pública pode ter o condão de prejudicar o recorrente, como o reconhecimento da ilegitimidade de parte, por exemplo.

Assim, com exceção ao reconhecimento de matéria de ordem pública que possa prejudicar o recorrente, o órgão julgador do recurso não poderá piorar a situação do recorrente, reformando para pior o pronunciamento recorrido.

Com isso, conclui-se o primeiro capítulo desse trabalho monográfico, que teve por escopo discorrer sobre os aspectos gerais dos recursos, estabelecendo conceito, natureza jurídica, atos processuais que sujeitam a utilização de recursos e os princípios recursais balizadores, estudo esse que mostra-se importante para a contextualizar o tema proposto, não se pretendendo, de todo modo, esgotar a inquietude, sendo realçadas as principais considerações.

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II – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE E EFEITOS DOS

RECURSOS

A pesquisa que aqui se pretende desenvolver declinar-se-á, nesse segundo capítulo, à análise dos chamados pressupostos recursais de admissibilidade, e, em seguida, ao confronto dos efeitos dos recursos.

Nessa toada, iniciar-se-á pela explanação dos chamados juízo de admissibilidade e juízo de mérito recursal, para, em seguida, discorrer acerca dos pressupostos recursais de admissibilidade e, derradeiramente, os efeitos dos recursos.

2.1. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito

Segundo Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 515) denomina-se juízo de admissibilidade a análise “[…] que pode levar ao conhecimento ou não conhecimento, à admissão ou inadmissão – o juízo preliminar a respeito da existência do direito de recorrer e da regularidade do seu exercício”.

Câmara (2018, p. 486) esclarece que “No juízo de admissibilidade deve-se promover a verificação da presença dos requisitos de admissibilidade do recurso, pressupostos necessários para que se possa passar ao exame do mérito”.

Segundo Neves (2016, p. 1505):

Para que o mérito de uma demanda seja julgado, o juiz precisa anteriormente analisar os pressupostos processuais e as condições da ação, considerados genericamente como pressupostos de admissibilidade do julgamento de mérito. No âmbito recursal, existe o mesmo fenômeno, devendo o órgão julgador fazer uma análise de aspectos formais do recurso para só então, superada positivamente essa fase, analisar o mérito recursal.

Assim, do mesmo modo como ocorre com os atos processuais em geral, como a petição inicial, por exemplo, em que se verifica a existência das condições da ação antes de se adentrar ao pedido nela contido, os recursos também submetem-se,

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preliminarmente, à análise de certas questões prévias, certos requisitos sem os quais não são admitidos, processados e julgados no mérito.

A análise feita no juízo de admissibilidade cinge-se a verificar a existência dos pressupostos recursais, acarretando no recebimento ou não da peça recursal. Isso quer dizer que se o recurso for inadmitido, ele sequer será apreciado no mérito.

Conforme Câmara (2018, p. 486) “Quando um recurso é admissível, diz-se que será conhecido”.

Assim, recebido o recurso porque presentes os pressupostos recursais de admissibilidade, passa-se ao julgamento do pedido nele contido, ou seja, ao mérito do recurso.

Como ensinam Nery Júnior e Nery (2006, p. 704) “Uma vez conhecido o recurso, o tribunal competente proferirá o juízo de mérito, dando ou negando provimento ao recurso”.

Neves (2016, p. 1537) ensina que:

Sendo positivo o juízo de admissibilidade recursal, o órgão jurisdicional passa ao exame do mérito do recurso, momento no qual deverá enfrentar os argumentos da irresignação do recorrente para decidir se lhe assiste ou não razão. Julgar o mérito recursal, que gerará o provimento ou não do recurso, é simplesmente analisar se o recorrente tem ou não razão em sua reclamação, o que se dá pelo enfrentamento dos fundamentos constantes no recurso.

Destarte, quando da análise do mérito recursal, o órgão judicial fará não mais uma análise visando o recebimento ou não do recurso. O julgamento do mérito recursal enseja seu provimento ou desprovimento

Assim sendo, é correto afirmar que o juízo de admissibilidade é a análise feita, em caráter preliminar, que tem por escopo verificar a existência de certos requisitos que possam converter ao julgamento do mérito do recurso, e que sempre antecede o juízo de mérito recursal, que implica na verificação do pedido, da matéria esculpida no recurso.

Como o recebimento do recurso depende da existência de requisitos para que sejam conhecidos, passar-se-á ao estudo dos então denominados pressupostos recursais de admissibilidade.

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2.2. Pressupostos recursais de admissibilidade

Como já lançado nessa pesquisa, os pressupostos recursais de admissibilidade são espécies de requisitos a serem observados, a priori, pelo órgão judicial, para que o recurso seja conhecido, recebido ou admitido.

Acerca dos pressupostos recursais de admissibilidade frisamos o que bem lecionam Nery Júnior e Nery (2006, p. 704):

A matéria relativamente à admissibilidade dos recursos é de ordem pública, de modo que deve ser examinada ex officio pelo juiz, independentemente de requerimento da parte ou interessado, não se sujeitando à preclusão. Ainda que o recorrido não haja levantado a preliminar de não conhecimento do recurso, o tribunal pode e deve examinar a questão de ofício.

Para os autores, os pressupostos de admissibilidade são matérias de ordem pública, o que permite sejam proclamados de ofício ou, até mesmo, submetidos a reexames sucessivos.

Conduto, é de ressaltar que o Código de Processo Civil vedou expressamente a análise da admissibilidade recursal pelo juízo a quo no recurso de apelação, conforme estabelece o artigo 1.010, §3º, do Código de Processo Civil “Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade”.

Afora esta exceção, é de se concluir que o juízo de admissibilidade pode ser feito de ofício pelo órgão jurisdicional e além disso, independe de pedido da parte para ser realizado.

Passada a prévia abordagem desse estudo, insta consignar quais são os pressupostos recursais de admissibilidade e como podem ser classificados.

A classificação adotada por Moreira (2013, p. 263), visa elencar os pressupostos recursais como intrínsecos e extrínsecos, sendo que os primeiros guardam relação com o poder de recorrer, ao passo que os requisitos extrínsecos relacionam-se ao exercício do direito de recorrer, a forma como se exerce esse direito. Os intrínsecos são a

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legitimidade, o interesse e a inexistência de fato impeditivo e a adequação ou cabimento. Os extrínsecos, a tempestividade, a regularidade formal e o preparo.

Adotando tal classificação, passar-se-á à análise dos pressupostos recursais de admissibilidade.

2.2.1. Tempestividade

Segundo Nery Júnior e Nery (2006, p. 706) “Os recursos devem ser interpostos no prazo que a lei assinar para tanto, a fim de que não se perpetuem as demandas judiciais indefinidamente”.

Rodrigues (2017, p. 58), de maneira sucinta estabelece que “Trata-se da interposição do recurso no prazo legal”.

Logo, a tempestividade envolve a interposição do recurso no prazo previsto em lei, isto é, na medida temporal que a própria legislação previamente estipula para o seu exercício.

Conforme preceitua Theodoro Júnior (2016, p. 974) “Esgotado o prazo estipulado pela lei torna-se precluso o direito de recorrer. Trata-se de prazo peremptório, insuscetível, por isso, de dilação convencional pelas partes [...]”.

Assim, é de se verificar que esses prazos, previstos expressamente na legislação processual são peremptórios, pelo que, as partes não podem prolongá-lo, isto é, findo prazo ele não pode vir a sofrer dilação,

No entanto, esses prazos previstos em lei não possuem um critério absoluto de observância, ou seja, em alguns casos eles são contados em dobro para favorecer alguns sujeitos do processo, assim, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Fazenda Pública, e, conforme estabelecido no artigo 229 do Novo CPC, os litisconsortes – neste caso, com exceção aos processos que tramitam em autos eletrônicos.

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Além disso, nos termos do artigo 1.004 do CPC, verifica-se a existência de uma causa interruptiva dos prazos recursais:

Art. 1.004. Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação.

Ademais, dispõe o artigo 218, § 4o, do CPC, que “será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo”.

Tecidas essas reflexões, temos que recurso intempestivo é todo aquele manejado fora do prazo, mais precisamente, depois do fim do prazo respectivo.

Assim, tendo o conhecimento do que vem a ser um recurso tempestivo – e, por consequência, o que é a intempestividade – faz-se necessário estabelecer quando têm início os prazos recursais, para que se possa observar esse pressuposto recursal de admissibilidade.

Muito embora o legitimado possa opor seu recurso antes mesmo de publicada a decisão, o termo a quo para impugná-la se dá quando o sujeito que tem legitimidade para recorrer é intimado dela, na forma do artigo 1.003 do Código de Processo Civil, que dispõe que “O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão”.

Ademais, outro ponto que merece ser destacado e talvez o mais importante dentro da matéria relativa aos prazos processuais, é a regra contida no novo código que manda contar os prazos processuais estabelecidos em dias considerando apenas os dias úteis, a teor do artigo 219, que disciplina que “na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis”.

A título de encerramento, lembramos a inovação legislativa trazida 1.003, § 5o do novo codex, que uniformizou os prazos dos recursos em quinze dias, com exceção dos embargos declaratórios, oponíveis em cinco dias no processo civil, na forma do artigo 1.023 do diploma processual.

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Assim, tem-se encerrada a abordagem da tempestividade recursal, na qual pontuou-se as principais inovações nesse aspecto, pelo que conclui-se tratar a tempestividade da interposição do recurso no prazo previsto em lei, prazo esse entendido como peremptório, excetuando-se a interrupção dos prazos prevista em lei.

Seguindo no estudo, passar-se-á à abordagem do segundo pressuposto recursal de admissibilidade, qual seja, a regularidade formal.

2.2.2. Regularidade formal

Nos dizeres de Nery Júnior e Nery (2006, p. 706):

A regularidade formal também é requisito de admissibilidade dos recursos. Devem ser todos eles interpostos por petição perante o juízo a quo, acompanhada das razões do inconformismo e do pedido de nova decisão [...]. Com o mesmo teor, esclarece Assis (2008, p. 198) “Impõe a lei forma rígida ao ato de recorrer”.

Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 519) preconizam que:

O exercício do direito de recorrer submete-se os ditames legais para a interposição e tramitação do recurso. Não obstante possa o interessado ter direito a recorrer, o recurso somente será admissível se o procedimento utilizado pautar-se estritamente pelos critérios descritos em lei. Assim, por exemplo, os recursos devem ser interpostos por escrito, a parte tem o ônus de impugnar especificamente os fundamentos da decisão recorrida e a interposição do agravo de instrumento exige a instrução da peça inicial com certos documentos exigidos em lei (art. 1.017).

Com as reflexões supracitadas, temos que as petições recursais devem atender a determinados requisitos formais sem os quais o recurso não é admitido. Em linhas gerais, a análise da regularidade formal da peça recursal participa do juízo de admissibilidade dos recursos.

Em suma, cada recurso possui sua própria regularidade formal e cada uma delas encontra respaldo em dispositivo próprio, correspondente ao recurso interposto.

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Encerrando o tratamento dado a esse segundo pressuposto recursal, passar-se-á a tratar do terceiro e último dos pressupostos recursais extrínsecos elencados, que é o preparo.

2.2.3. Preparo

Nos termos do artigo 1.007 do Código de Processo Civil “no ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção”.

Acerca do preparo Preceitua Assis (2008, p. 207):

O valor é fixado na lei de organização judiciária para cada recurso e, de ordinário, emprega-se um percentual ad valorem. É a única condição cuja falta recebe designação própria: diz-se deserto (e, portanto, inadmissível) o recurso desacompanhado de preparo, quando e se a lei exigir tal pagamento. Portanto, para que os recursos possam ser admitidos, eles precisam observar a exigência legal, quando houver, do recolhimento de certas custas processuais devidas pela utilização desses remédios impugnativos, já que, em regra, os serviços forenses são remunerados.

Nesse sentido, discorrem Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 520):

O procedimento recursal exige, tanto como qualquer outro ato processual, certos gastos do Estado, que devem, a princípio, ser suportados pelo interessado. Assim, a interposição de recurso exige que o interessado deposite os valores necessários à sua tramitação, aí incluída a importância destinada a promover a remessa e posterior retorno do recurso (ou mesmo dos autos) ao tribunal.

Esse pressuposto de admissibilidade, contudo, não alcança os embargos declaratórios, pois, conforme o artigo 1023 do Código de Processo Civil “Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo”.

Ainda, é de bom alvitre salientar que a inexistência de preparo e consequente inadmissibilidade do recurso não alcança certos sujeitos do processo, nos termos do artigo 1.007, § 1o, do diploma processual, que dispensa o recolhimento do preparo e dos

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portes de remessa e retorno dos autos nos recursos interpostos pelo Ministério Público, pela Fazenda Pública e pelos que gozam de isenção legal.

Assim, a interposição de um recurso exige, da parte do recorrente, o recolhimento de um valor em decorrência da prestação do serviço forense, sem o qual o recurso é inadmitido, o que não se exige no recurso de embargos declaratórios, nem tampouco daqueles sujeitos discriminados em lei.

2.2.4. Legitimidade recursal

Os legitimados recursais estão previstos no artigo 996, do CPC, segundo o qual “o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica”.

Segundo Theodoro Júnior (2016, p. 984):

A legitimidade para recorrer decorre ordinariamente da posição que o inconformado já ocupava como sujeito da relação processual em que se proferiu o julgamento a impugnar. A lei, no entanto, prevê em determinadas circunstâncias, legitimação recursal extraordinária para quem não seja parte, como o Ministério Público e o terceiro prejudicado [...].

Assim, temos três legitimados recursais: as partes, o terceiro prejudicado e o Ministério Público, visto que a legitimidade recursal.

Asseveram Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 518), a respeito da parte, do terceiro prejudicado e do Ministério Público:

Cumpre ressaltar que esses são os sujeitos legitimados a atuar no recurso de forma principal. Todavia, é possível que outros agentes participem, no curso da tramitação, de certos recursos, ao menos de forma limitada. Assim ocorre com os chamados amicus curiae – terceiros que participam no intuito de colaborar com o Poder Judiciário para lograr decisão mais perfeita (art.138) – ou ainda com terceiros que possam ser atingidos reflexamente pelos efeitos de súmulas vinculantes ou no exame de repercussão geral em certos recursos. Portanto, a legitimidade relaciona-se à aptidão que tem determinado sujeito processual para interpor o recurso, sendo certo que, essa exigência muito se aproxima do interesse recursal, em consonância com a própria disposição processual, que a confere à parte vencida, ao terceiro prejudicado e ao Ministério Público, não se encerrando, contudo, em apenas estes sujeitos.

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Com isso, tem-se encerrada a abordagem da legitimidade recursal, pelo que elencou-se apenas os aspectos relacionados aos legitimados principais, que entende-se suficiente para essa pesquisa.

2.2.5. Interesse recursal

O pressuposto recursal de admissibilidade que se passa a abordar guarda relação com a legitimação, estudado anteriormente.

Conforme Donizetti (2017, p. 1314):

Para recorrer não basta a legitimidade. Não basta ter sido parte ou interveniente na relação processual. É preciso também ter interesse, em outras palavras, é indispensável que o recurso seja útil e necessário ao recorrente, a fim de evitar que sofra prejuízo com a decisão.

. Nesse sentido, demonstra Alvim (2013, p. 838):

[...] a ideia de interesse processual também pode ser reduzida à aferição da presença do binômio “necessidade e utilidade” [...]. Assim como para ajuizar determinada ação o autor deve ter necessidade e utilidade da prestação jurisdicional solicitada, também para interpor o recurso deve ter necessidade e utilidade de recorrer da decisão judicial que lhe foi desfavorável.

Outrossim, nas palavras de Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 516):

À semelhança do que acontece com o interesse de agir, é necessário que o interessado possa vislumbrar alguma utilidade na interposição do recurso, utilidade essa que somente possa ser obtida através da via recursal (necessidade). A fim de preencher o requisito “utilidade”, será necessário que a parte (ou terceiro), interessada em recorrer, tenha sofrido algum prejuízo jurídico direto ou indireto em decorrência da decisão judicial ou ao menos que essa não tenha satisfeito plenamente a sua pretensão (uma vez que sendo vencidos autor e réu, ambos terão interesse em recorrer). Em relação à “necessidade”, essa estará presente se, por outro modo, não for possível resolver a questão, alterando-se ou suplantando-se o prejuízo verificado. Assim, repousando nos apontamentos jurídicos aqui mencionados, concluímos haver interesse recursal quando houver necessidade do uso do recurso, que implica na inexistência de outro meio legal para impugnar a decisão, bem como a utilidade de sua interposição por existir a possibilidade de haver, para o recorrente, uma melhora em sua situação jurídica.

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Pelo estudo realizado no tópico 2.5.5, no qual tratamos da singularidade recursal, vimos que os recursos possuem suas próprias situações de cabimento e que esse ajuste deve ser observado pelo legitimado recursal quando da impugnação de determinado pronunciamento.

Assim, o pressuposto recursal da adequação (ou cabimento), como estabelece Theodoro Júnior (2016, p. 992) insurge-se da ideia de que “Há um recurso próprio para cada espécie de decisão. Diz-se, por isso, que o recurso é cabível, próprio ou adequado quando corresponda à previsão legal para a espécie de decisão impugnada”.

Nesse diapasão Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 516), contemplam que “O cabimento diz respeito à adequação de determinado meio recursal para promover o ataque de dada decisão judicial”.

Destarte, recurso inadequado, em princípio, não é recebido para processamento e julgamento no mérito. Isso porque, em alguns casos, o recurso é admitido, em razão do princípio recursal da fungibilidade, acolhido, em linhas excepcionais, na sistemática recursal. Nessa toada, remetemos às exceções apontadas no tópico referente ao princípio da fungibilidade.

Em assim sendo, o juiz ou o tribunal só receberá o recurso manejado adequadamente, isto é, o recurso que for apropriado para a respectiva situação de cabimento que ocorrer no processo.

2.2.7. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do recurso

Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 518) apontam a existência de dois fatos que podem significar fato extintivo do direito de recorrer: a aceitação da decisão e a renúncia ao recurso. De outro lado (2015, p. 521), apontam como fato impeditivo a desistência do recurso e o não pagamento de algumas multas previstas na legislação processual.

Didaticamente, importa iniciar a abordagem dos fatos impeditivos e extintivos pela desistência, após pela renúncia, e, finalmente, pela aceitação.

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Nos termos do artigo 998 do NCPC “o recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso”.

Wambier, Conceição, Ribeiro e Mello, em análise ao dispositivo supracitado apontam que (2015, p. 1430) “Expressamente diz o artigo que a qualquer tempo – antes que o recurso seja julgado – pode o recorrente desistir do recurso, sem anuência nem do(s) litisconsorte(s), nem da(s) parte(s) contrária(s)”.

Assim, a desistência a recurso importa em uma manifestação de vontade do recorrente em que um recurso já interposto não seja julgado, ou seja, trata-se de hipótese em que já se tem manejado um recurso.

Tal manifestação de vontade do recorrente, a teor do contido no parágrafo único do citado dispositivo, não impede, de seu turno, seja o recurso julgado – “a desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos”.

De outro lado, o artigo 999, trata da renúncia ao recurso, e estabelece que “a renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”.

Trata-se de fato extintivo ao direito de recorrer, visto que, nessa situação, o legitimado ainda não se valeu da via recursal visando impugnar a decisão. Também é dispensável, na hipótese, a concordância da outra parte ou de eventual litisconsorte.

Portanto, muito embora a desistência e a renúncia a recurso sejam institutos muito parecidos, eles não se confundem. Além de a desistência constituir fato impeditivo do direito de recorrer e a renúncia se tratar de fato extintivo, esclarece Humberto Theodoro Júnior (2016, p. 999) “A desistência é posterior à interposição do recurso. A renúncia é prévia.”

Para finalizar, dispõe o artigo 1.000 que “a parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer”. Trata-se da terceira hipótese que enseja a inadmissibilidade do recurso porque presente o pressuposto de admissibilidade aqui discorrido.

Desse modo, concluímos que ao lado da legitimidade, do interesse recursal e da adequação, a admissibilidade do recurso interposto está também condicionada à inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer, quais sejam, a

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renúncia, a aceitação e a desistência, pelo que finalizamos a análise dos pressupostos recursais intrínsecos e inauguramos, nesse momento, a abordagem dos efeitos dos recursos.

2.3. Efeitos dos recursos

Para que seja finalizada a abordagem constante deste capítulo e seja prosseguida esta pesquisa no estudo da repercussão geral no recurso extraordinário, adentrar-se-á, nesta última etapa da teoria geral dos recursos, na abordagem dos efeitos recursais.

Como visto, os recursos são meios de impugnação de decisões. Nesse sentido, é intuitivo que o ato de impugnar a decisão, torna pendente a questão sub judice. Conforme Donizetti (2017, p. 1329) “[...] qualquer recurso tem o efeito de obstar o trânsito em julgado ou a preclusão, conforme seja interposto [...]”.

Na mesma linha, aduzem Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 527):

A interposição do recurso tem o condão de obstar a preclusão e a formação da coisa julgada, mantendo o processo pendente até o seu julgamento. Mais propriamente, aliás, até o momento do escoamento do último prazo recursal. A interposição do recurso – ou a existência de prazo recursal pendente – impede a preclusão e o trânsito em julgado das decisões judiciais. Todos os recursos tem o condão de impedir a preclusão e, em sendo o caso, a formação da coisa julgada.

Conclui-se, pelas aludidas declinações doutrinárias, que todo recurso é idôneo a prolongar a discussão da causa em testilha, evitando ocorra seu trânsito em julgado, sendo essa a principal consequência do uso desse meio impugnativo.

No entanto, o estudo da sistemática recursal permite serem auferidos outros efeitos decorrentes da interposição de recursos e a eles pretender-se-á o alongamento desse estudo, ainda que de forma breve, pelo que, passar-se-á à abordagem de alguns dos efeitos recursais elencados em doutrina, assim, o efeito devolutivo, o efeito suspensivo, o efeito substitutivo e o efeito translativo.

2.3.1. Efeito devolutivo

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Geralmente, o recurso tem o efeito de devolver (transferir) ao órgão jurisdicional hierarquicamente superior (tribunal ad quem) o exame de toda a matéria impugnada. Trata-se do efeito devolutivo, que decorre logicamente do princípio dispositivo, segundo o qual o órgão julgador age mediante provocação da parte ou do interessado e nos limites do pedido (arts. 2º, 141 e 492).

Rodrigues (2017, p. 88) discorre que:

O efeito devolutivo decorre da interposição do recurso, pois faz com que o recurso ofertado leve a matéria impugnada ao órgão julgador. Quando alguém recorre, pelo princípio da voluntariedade, exerce um ato de vontade. Aquele que recorre escolherá, então, se atacará todas as matérias, ou se apenas impugnará algumas. O recorrente define, portanto quais serão as matérias impugnadas, e que serão transferidas, portanto, ao órgão julgador do meio de impugnação.

Nesse sentido, o efeito devolutivo pode ser compreendido como a consequência gerada pelo uso dos recursos, que consiste em devolver ou restituir a questão controvertida para um novo exame pelo poder judiciário.

2.3.2. Efeito Suspensivo

Uma vez superado o estudo do efeito devolutivo, faremos, nesse momento, adendo ao efeito suspensivo. Conforme lecionam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 524) “Há decisões que somente produzem efeitos depois de escoado o prazo recursal para sua impugnação [...]”.

Segundo Moreira (2013, p. 257), “Diz-se que o recurso tem efeito suspensivo quando impede a produção imediata dos efeitos da decisão”.

Nesse particular, esclarece Montenegro Filho (2014, p. 85):

O efeito suspensivo não diz respeito ao recurso em si, da sua efetiva utilização, mas ao efeito da decisão, que só pode ser executada se não for atacada pelo recurso adequado, até lá permanecendo em condição suspensiva. Assim é que todas as decisões admitem a sua suspensão, pelo só fato de existir recurso apropriado para combatê-las.

Portanto, o efeito suspensivo consiste em uma capacidade que os recursos têm de impedir, em caráter transitório, o cumprimento da decisão impugnada, isto é, sua execução.

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Essa suspensividade normalmente advém da própria lei, que embarga a eficácia natural da decisão, impondo-lhe efeito suspensivo, conforme dispõe o artigo 1.012 do NCPC, que o confere no recurso de apelação.

Porém, em alguns casos, é possível ao magistrado conferir efeito suspensivo a determinada decisão, com supedâneo no artigo 994, parágrafo único do Código de Processo Civil que estabelece que “A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso”.

Trata-se do que a doutrina convenciona chamar efeito suspensivo ope iudicis, nas palavras de Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 525):

[...] como muitas vezes é necessário considerar as particularidades do caso concreto, costuma-se também deixar ao juiz a possibilidade de conferir efeito suspensivo ao recurso. Nesse caso, o efeito suspensivo é denominado ope judicis (por exemplo, a possibilidade de o juiz dar efeito suspensivo ao agravo de instrumento – art.1.019, I) em oposição ao efeito suspensivo que é atribuído pela lei a determinado recurso (efeito suspensivo ex lege, por exemplo, o efeito suspensivo atribuído ao recurso de apelação – art.1.012). Em notas derradeiras, temos que o efeito suspensivo tem o condão de obstar a natural eficácia da decisão em que é imposto, tendo em vista o uso de um recurso para impugná-la, podendo ser conferido por lei ou pelo magistrado.

2.3.3. Efeito substitutivo

Nos termos do artigo 1.008 do NCPC, “o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso”.

Conforme lecionam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 526) “O efeito substitutivo indica que, uma vez conhecido o recurso, a decisão do juízo ad quem, qualquer que seja o seu conteúdo, substituirá a decisão recorrida”.

Bueno (2015, p. 616) preconiza que “Uma vez superado o juízo de admissibilidade recursal, a decisão proferida pelo Tribunal substituirá, para todos os fins, a decisão impugnada no que tiver sido objeto do recurso”.

Assim, o efeito substitutivo, conforme apontamentos da doutrina, pode ser compreendido como o efeito comum aos recursos que consiste em substituir a decisão

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anteriormente prolatada pela decisão posteriormente proferida, isto é, o desejo da parte em ver uma questão novamente apreciada, implica na produção de uma nova decisão pelo órgão jurisdicional, que vem substituir a anterior.

2.3.4. Efeito translativo

O estudo do efeito translativo dos recursos envolve a dimensão que se opera no efeito devolutivo, abrangendo, todavia, a matéria não impugnada pelo legitimado recursal.

Para Gonçalves, esse efeito (2017, p. 297):

Consiste na possibilidade de o tribunal conhecer de matérias de ordem pública, que não sejam objeto do recurso, nem tenham sido examinadas pela primeira instância. Não se confunde com o efeito devolutivo, que restitui ao tribunal o exame daquilo que foi objeto do recurso.

Como ensinam Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 524):

[...] ao contrário do efeito devolutivo, que depende de expressa manifestação da parte, já que somente se devolve ao conhecimento do tribunal a matéria impugnada, o efeito translativo opera ainda que sem expressa manifestação da vontade do recorrente. Trata-se de efeito inspirado no princípio inquisitório.

Em suma, pode-se inferir que a incidência do efeito translativo, no processo, se dá em razão da existência de questões que podem (e devem) ser examinadas pelo órgão jurisdicional independente de requerimento ou impugnação do legitimado, pelo que, uma vez não abrangidas pela devolução recursal, encontram guarida neste outro efeito.

Malgrado as aferições a que declinamos supra, cumpre salientar que já foi objeto prévio de análise dessa questão quando estudou-se o princípio da vedação da reformatio in pejus, no qual destacou-se que, embora haja um princípio recursal proibindo a reforma para pior, não se aplica, tal vedação àquelas matérias as quais o poder judiciário pode se manifestar de ofício.

Portanto, em notas conclusivas, tem-se que o efeito translativo dos recursos é aquele que tem por escopo autorizar ao órgão jurisdicional que analise, de ofício, certas questões, ainda que não devolvidas à sua apreciação, por se tratarem de matérias de ordem pública.

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Assim sendo, com as últimas conclusões já lançadas, encerra-se o presente capítulo, que teve por escopo a abordagem dos pressupostos recursais de admissibilidade e os efeitos dos recursos, pelo que passar-se-á ao estudo do recurso extraordinário e da repercussão geral, que representa a louvável inclinação desta pesquisa.

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III – A REPERCUSSÃO GERAL E O RECURSO

EXTRAORDINÁRIO

O último capítulo deste trabalho monográfico adentrará na análise do Recurso Extraordinário, previsto no artigo 102, inciso III, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”, da Constituição da República e no artigo 994, inciso VII, do Código de Processo Civil, e no estudo da Repercussão Geral, contida no artigo 102, §3º da Carta Magna.

Neste ponto da pesquisa, pretender-se-á explanar os aspectos salutares do Recurso Extraordinário, bem como o desenvolvimento e a compreensão do instituto da Repercussão Geral, abordando seu aspecto constitucional, com o advento da Emenda Constitucional 45/2004, bem como o tratamento dado ao instituto com a entrada em vigor do CPC de 2015 e sua alteração pela Lei n.º 13.256/2016.

3.1. Recurso extraordinário

A competência da Suprema Corte Brasileira pode ser dividida em dois grandes grupos: competência originária (artigo 102, inciso I) e competência recursal (artigo 102, incisos II e III).

A presente pesquisa ocupar-se-á do estudo da competência recursal desta Corte, afinal nela insere-se o processamento e o julgamento do recurso extraordinário, nos termos do artigo 102, inciso III, alíneas “a”, “b”, “c” e “d” da Constituição da República.

Tal competência, nos termos estabelecidos pela própria Carta Magna, tem caráter restrito no que concerne à competência atribuída aos tribunais inferiores.

Nas palavras de Wambier, Didier Júnior, Talamini e Dantas (2016, p. 2551), o recurso extraordinário, ao lado do recurso especial e dos embargos de divergência, são

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recursos denominados excepcionais, em decorrência da característica restrita atinente a esses remédios.

Os renomados autores (2016, p. 2551) explicam que:

Os recursos excepcionais, também chamados de extraordinários lato sensu e de estrito direito) [...] tem forma mais rígida, são dirigidos aos Tribunais Superiores; obedecem a requisitos específicos de admissibilidade previstos na CF/1988 (com exceção dos embargos de divergência); a fundamentação é vinculada (estrito direito), não comportam discussão em relação a fatos e provas; não se prestam para fazer justiça no caso concreto; não têm efeito suspensivo, permitindo que se faça execução provisória na sua pendência. A respeito da atribuição conferida a esses tribunais, Montenegro Filho (2014, p. 164) lembra que:

[...] não se apresentam como terceira instância, aberta após o esgotamento da denominada instância ordinária (1º e 2º graus de jurisdição)”. A finalidade dos dois tribunais não é a de rever errores in judicando dos magistrados do 1º Grau de Jurisdição e dos tribunais, ou seja, não se prestam à análise dos elementos de fato dos processos judiciais que lhes são confiados.

Donizetti (2014, p. 838) ao estabelecer a distinção dos recursos excepcionais para os demais recursos salienta a “necessidade de haver ofensa ao direito positivo, constitucional ou infraconstitucional”, e que tais recursos “não se prestam à correção da injustiça da decisão, mas à unificação da aplicação do direito positivo”.

Sendo assim, soa cristalino que o Recurso Extraordinário, um dos recursos tidos como excepcionais, não é utilizado em razão de simples irresignação da parte, que, insatisfeita com a decisão exaurida na cognição ordinária visa a reapreciação da questão. A utilização desse recurso deve se operar para reanálise de situações excepcionais.

Feitas essas primeiras considerações, far-se-á o estudo dos pressupostos recursais de admissibilidade do recurso extraordinário, passando-se, em seguida, ao exame de suas hipóteses de cabimento, para, ao final, discorrer acerca dos efeitos atinentes a esse recurso.

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Foi objeto de estudo desta pesquisa no capítulo anterior os pressupostos recursais de admissibilidade dos recursos em geral, e restou compreendido que esses pressupostos são basicamente elementos analisados em caráter preliminar, cuja ausência implica no não recebimento do recurso. Todavia, naquele capítulo tratou-se dos pressupostos recursais exigidos a todos os recursos, os quais, a bem da didática da pesquisa, foram divididos em extrínsecos e intrínsecos.

O que pretender-se-á abordar, nesse momento, são os pressupostos específicos de admissibilidade do recurso extraordinário, isto é, aqueles exigíveis quando do manejo desta espécie recursal à Suprema Corte.

Assim, inclinar-se-á ao estudo das exigências cruciais sem as quais o referido recurso não é admitido, assim, o esgotamento das instâncias inferiores e a existência de causa decidida e prequestionamento (artigo 102, III, CF).

3.2.1. Esgotamento das instâncias inferiores

Na estrutura do Poder Judiciário brasileiro, o Supremo Tribunal Federal ocupa a mais alta posição, situando-se como o órgão jurisdicional de mais alto escalão na estrutura nacional, razão pela qual é designado órgão de cúpula da justiça brasileira. Em razão disso, a competência da Suprema Corte é restrita e as exigências para que uma questão seja apreciada por ela são maiores.

No que toca à competência recursal da Corte, é estabelecida sua autoridade para o conhecimento do recurso extraordinário, das causas decididas em única ou última instância, na forma do artigo 102, III, da Constituição da República de 1988.

Segundo a súmula 281 do Supremo Tribunal Federal “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.

(42)

Tal enunciado sumular estabelece a exigência do esgotamento de todas as instâncias inferiores do Poder Judiciário as quais se poderia submeter a questão para que se possa utilizar do recurso extraordinário.

Conforme ensina Montenegro Filho (2014, p. 171-172):

Exige-se, para a interposição do recurso especial (como também do extraordinário), que a parte tenha se utilizado de todos os recursos adequados ao combate e à impugnação da decisão recorrida, vale dizer, do acórdão proferido pelo tribunal local.

A despeito, assevera Masson (2016, p. 1000):

[...] ao se referir à “decisão recorrida”, a Constituição não exigiu que a mesma fosse prolatada por um Tribunal, de modo que até mesmo uma decisão prolatada por juiz singular ou por uma turma recursal de juizado especial pode ser desafiada através desse recurso, desde que, claro, não seja cabível nenhum recurso ordinário.

Nesse prisma, dispõe a súmula 640 do STF que “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal”.

Portanto, o esgotamento das instâncias inferiores se traduz na exigência contida na Constituição Federal que impede o conhecimento do recurso extraordinário quando a decisão proferida (seja emanada de um tribunal ou não) puder ser atacada com algum outro recurso, somente se admitindo o recurso extraordinário, quando nenhuma outra via impugnativa tiver o condão de questioná-la.

3.2.2. Causa decidida e prequestionamento

O artigo 102, inciso III, da Constituição da República de 1988, citado no item anterior, utiliza a expressão “causas decididas”.

De acordo com o mandamento contido na Carta da República, além da decisão ter sido proferida em única ou última instância do Poder Judiciário, isto é, ter superado todas as vias possíveis para sua apreciação – conforme apontamos alhures – ainda é preciso haver o prequestionamento.

Referências

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