• Nenhum resultado encontrado

Pressupostos recursais de admissibilidade

CAPÍTULO II – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE E EFEITOS DOS

2.2 Pressupostos recursais de admissibilidade

Como já lançado nessa pesquisa, os pressupostos recursais de admissibilidade são espécies de requisitos a serem observados, a priori, pelo órgão judicial, para que o recurso seja conhecido, recebido ou admitido.

Acerca dos pressupostos recursais de admissibilidade frisamos o que bem lecionam Nery Júnior e Nery (2006, p. 704):

A matéria relativamente à admissibilidade dos recursos é de ordem pública, de modo que deve ser examinada ex officio pelo juiz, independentemente de requerimento da parte ou interessado, não se sujeitando à preclusão. Ainda que o recorrido não haja levantado a preliminar de não conhecimento do recurso, o tribunal pode e deve examinar a questão de ofício.

Para os autores, os pressupostos de admissibilidade são matérias de ordem pública, o que permite sejam proclamados de ofício ou, até mesmo, submetidos a reexames sucessivos.

Conduto, é de ressaltar que o Código de Processo Civil vedou expressamente a análise da admissibilidade recursal pelo juízo a quo no recurso de apelação, conforme estabelece o artigo 1.010, §3º, do Código de Processo Civil “Após as formalidades previstas nos §§ 1º e 2º, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente de juízo de admissibilidade”.

Afora esta exceção, é de se concluir que o juízo de admissibilidade pode ser feito de ofício pelo órgão jurisdicional e além disso, independe de pedido da parte para ser realizado.

Passada a prévia abordagem desse estudo, insta consignar quais são os pressupostos recursais de admissibilidade e como podem ser classificados.

A classificação adotada por Moreira (2013, p. 263), visa elencar os pressupostos recursais como intrínsecos e extrínsecos, sendo que os primeiros guardam relação com o poder de recorrer, ao passo que os requisitos extrínsecos relacionam-se ao exercício do direito de recorrer, a forma como se exerce esse direito. Os intrínsecos são a

legitimidade, o interesse e a inexistência de fato impeditivo e a adequação ou cabimento. Os extrínsecos, a tempestividade, a regularidade formal e o preparo.

Adotando tal classificação, passar-se-á à análise dos pressupostos recursais de admissibilidade.

2.2.1. Tempestividade

Segundo Nery Júnior e Nery (2006, p. 706) “Os recursos devem ser interpostos no prazo que a lei assinar para tanto, a fim de que não se perpetuem as demandas judiciais indefinidamente”.

Rodrigues (2017, p. 58), de maneira sucinta estabelece que “Trata-se da interposição do recurso no prazo legal”.

Logo, a tempestividade envolve a interposição do recurso no prazo previsto em lei, isto é, na medida temporal que a própria legislação previamente estipula para o seu exercício.

Conforme preceitua Theodoro Júnior (2016, p. 974) “Esgotado o prazo estipulado pela lei torna-se precluso o direito de recorrer. Trata-se de prazo peremptório, insuscetível, por isso, de dilação convencional pelas partes [...]”.

Assim, é de se verificar que esses prazos, previstos expressamente na legislação processual são peremptórios, pelo que, as partes não podem prolongá-lo, isto é, findo prazo ele não pode vir a sofrer dilação,

No entanto, esses prazos previstos em lei não possuem um critério absoluto de observância, ou seja, em alguns casos eles são contados em dobro para favorecer alguns sujeitos do processo, assim, o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Fazenda Pública, e, conforme estabelecido no artigo 229 do Novo CPC, os litisconsortes – neste caso, com exceção aos processos que tramitam em autos eletrônicos.

Além disso, nos termos do artigo 1.004 do CPC, verifica-se a existência de uma causa interruptiva dos prazos recursais:

Art. 1.004. Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento da parte ou de seu advogado ou ocorrer motivo de força maior que suspenda o curso do processo, será tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr novamente depois da intimação.

Ademais, dispõe o artigo 218, § 4o, do CPC, que “será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo”.

Tecidas essas reflexões, temos que recurso intempestivo é todo aquele manejado fora do prazo, mais precisamente, depois do fim do prazo respectivo.

Assim, tendo o conhecimento do que vem a ser um recurso tempestivo – e, por consequência, o que é a intempestividade – faz-se necessário estabelecer quando têm início os prazos recursais, para que se possa observar esse pressuposto recursal de admissibilidade.

Muito embora o legitimado possa opor seu recurso antes mesmo de publicada a decisão, o termo a quo para impugná-la se dá quando o sujeito que tem legitimidade para recorrer é intimado dela, na forma do artigo 1.003 do Código de Processo Civil, que dispõe que “O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão”.

Ademais, outro ponto que merece ser destacado e talvez o mais importante dentro da matéria relativa aos prazos processuais, é a regra contida no novo código que manda contar os prazos processuais estabelecidos em dias considerando apenas os dias úteis, a teor do artigo 219, que disciplina que “na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis”.

A título de encerramento, lembramos a inovação legislativa trazida 1.003, § 5o do novo codex, que uniformizou os prazos dos recursos em quinze dias, com exceção dos embargos declaratórios, oponíveis em cinco dias no processo civil, na forma do artigo 1.023 do diploma processual.

Assim, tem-se encerrada a abordagem da tempestividade recursal, na qual pontuou-se as principais inovações nesse aspecto, pelo que conclui-se tratar a tempestividade da interposição do recurso no prazo previsto em lei, prazo esse entendido como peremptório, excetuando-se a interrupção dos prazos prevista em lei.

Seguindo no estudo, passar-se-á à abordagem do segundo pressuposto recursal de admissibilidade, qual seja, a regularidade formal.

2.2.2. Regularidade formal

Nos dizeres de Nery Júnior e Nery (2006, p. 706):

A regularidade formal também é requisito de admissibilidade dos recursos. Devem ser todos eles interpostos por petição perante o juízo a quo, acompanhada das razões do inconformismo e do pedido de nova decisão [...]. Com o mesmo teor, esclarece Assis (2008, p. 198) “Impõe a lei forma rígida ao ato de recorrer”.

Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 519) preconizam que:

O exercício do direito de recorrer submete-se os ditames legais para a interposição e tramitação do recurso. Não obstante possa o interessado ter direito a recorrer, o recurso somente será admissível se o procedimento utilizado pautar-se estritamente pelos critérios descritos em lei. Assim, por exemplo, os recursos devem ser interpostos por escrito, a parte tem o ônus de impugnar especificamente os fundamentos da decisão recorrida e a interposição do agravo de instrumento exige a instrução da peça inicial com certos documentos exigidos em lei (art. 1.017).

Com as reflexões supracitadas, temos que as petições recursais devem atender a determinados requisitos formais sem os quais o recurso não é admitido. Em linhas gerais, a análise da regularidade formal da peça recursal participa do juízo de admissibilidade dos recursos.

Em suma, cada recurso possui sua própria regularidade formal e cada uma delas encontra respaldo em dispositivo próprio, correspondente ao recurso interposto.

Encerrando o tratamento dado a esse segundo pressuposto recursal, passar-se-á a tratar do terceiro e último dos pressupostos recursais extrínsecos elencados, que é o preparo.

2.2.3. Preparo

Nos termos do artigo 1.007 do Código de Processo Civil “no ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção”.

Acerca do preparo Preceitua Assis (2008, p. 207):

O valor é fixado na lei de organização judiciária para cada recurso e, de ordinário, emprega-se um percentual ad valorem. É a única condição cuja falta recebe designação própria: diz-se deserto (e, portanto, inadmissível) o recurso desacompanhado de preparo, quando e se a lei exigir tal pagamento. Portanto, para que os recursos possam ser admitidos, eles precisam observar a exigência legal, quando houver, do recolhimento de certas custas processuais devidas pela utilização desses remédios impugnativos, já que, em regra, os serviços forenses são remunerados.

Nesse sentido, discorrem Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 520):

O procedimento recursal exige, tanto como qualquer outro ato processual, certos gastos do Estado, que devem, a princípio, ser suportados pelo interessado. Assim, a interposição de recurso exige que o interessado deposite os valores necessários à sua tramitação, aí incluída a importância destinada a promover a remessa e posterior retorno do recurso (ou mesmo dos autos) ao tribunal.

Esse pressuposto de admissibilidade, contudo, não alcança os embargos declaratórios, pois, conforme o artigo 1023 do Código de Processo Civil “Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo”.

Ainda, é de bom alvitre salientar que a inexistência de preparo e consequente inadmissibilidade do recurso não alcança certos sujeitos do processo, nos termos do artigo 1.007, § 1o, do diploma processual, que dispensa o recolhimento do preparo e dos

portes de remessa e retorno dos autos nos recursos interpostos pelo Ministério Público, pela Fazenda Pública e pelos que gozam de isenção legal.

Assim, a interposição de um recurso exige, da parte do recorrente, o recolhimento de um valor em decorrência da prestação do serviço forense, sem o qual o recurso é inadmitido, o que não se exige no recurso de embargos declaratórios, nem tampouco daqueles sujeitos discriminados em lei.

2.2.4. Legitimidade recursal

Os legitimados recursais estão previstos no artigo 996, do CPC, segundo o qual “o recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem jurídica”.

Segundo Theodoro Júnior (2016, p. 984):

A legitimidade para recorrer decorre ordinariamente da posição que o inconformado já ocupava como sujeito da relação processual em que se proferiu o julgamento a impugnar. A lei, no entanto, prevê em determinadas circunstâncias, legitimação recursal extraordinária para quem não seja parte, como o Ministério Público e o terceiro prejudicado [...].

Assim, temos três legitimados recursais: as partes, o terceiro prejudicado e o Ministério Público, visto que a legitimidade recursal.

Asseveram Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 518), a respeito da parte, do terceiro prejudicado e do Ministério Público:

Cumpre ressaltar que esses são os sujeitos legitimados a atuar no recurso de forma principal. Todavia, é possível que outros agentes participem, no curso da tramitação, de certos recursos, ao menos de forma limitada. Assim ocorre com os chamados amicus curiae – terceiros que participam no intuito de colaborar com o Poder Judiciário para lograr decisão mais perfeita (art.138) – ou ainda com terceiros que possam ser atingidos reflexamente pelos efeitos de súmulas vinculantes ou no exame de repercussão geral em certos recursos. Portanto, a legitimidade relaciona-se à aptidão que tem determinado sujeito processual para interpor o recurso, sendo certo que, essa exigência muito se aproxima do interesse recursal, em consonância com a própria disposição processual, que a confere à parte vencida, ao terceiro prejudicado e ao Ministério Público, não se encerrando, contudo, em apenas estes sujeitos.

Com isso, tem-se encerrada a abordagem da legitimidade recursal, pelo que elencou-se apenas os aspectos relacionados aos legitimados principais, que entende-se suficiente para essa pesquisa.

2.2.5. Interesse recursal

O pressuposto recursal de admissibilidade que se passa a abordar guarda relação com a legitimação, estudado anteriormente.

Conforme Donizetti (2017, p. 1314):

Para recorrer não basta a legitimidade. Não basta ter sido parte ou interveniente na relação processual. É preciso também ter interesse, em outras palavras, é indispensável que o recurso seja útil e necessário ao recorrente, a fim de evitar que sofra prejuízo com a decisão.

. Nesse sentido, demonstra Alvim (2013, p. 838):

[...] a ideia de interesse processual também pode ser reduzida à aferição da presença do binômio “necessidade e utilidade” [...]. Assim como para ajuizar determinada ação o autor deve ter necessidade e utilidade da prestação jurisdicional solicitada, também para interpor o recurso deve ter necessidade e utilidade de recorrer da decisão judicial que lhe foi desfavorável.

Outrossim, nas palavras de Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 516):

À semelhança do que acontece com o interesse de agir, é necessário que o interessado possa vislumbrar alguma utilidade na interposição do recurso, utilidade essa que somente possa ser obtida através da via recursal (necessidade). A fim de preencher o requisito “utilidade”, será necessário que a parte (ou terceiro), interessada em recorrer, tenha sofrido algum prejuízo jurídico direto ou indireto em decorrência da decisão judicial ou ao menos que essa não tenha satisfeito plenamente a sua pretensão (uma vez que sendo vencidos autor e réu, ambos terão interesse em recorrer). Em relação à “necessidade”, essa estará presente se, por outro modo, não for possível resolver a questão, alterando-se ou suplantando-se o prejuízo verificado. Assim, repousando nos apontamentos jurídicos aqui mencionados, concluímos haver interesse recursal quando houver necessidade do uso do recurso, que implica na inexistência de outro meio legal para impugnar a decisão, bem como a utilidade de sua interposição por existir a possibilidade de haver, para o recorrente, uma melhora em sua situação jurídica.

Pelo estudo realizado no tópico 2.5.5, no qual tratamos da singularidade recursal, vimos que os recursos possuem suas próprias situações de cabimento e que esse ajuste deve ser observado pelo legitimado recursal quando da impugnação de determinado pronunciamento.

Assim, o pressuposto recursal da adequação (ou cabimento), como estabelece Theodoro Júnior (2016, p. 992) insurge-se da ideia de que “Há um recurso próprio para cada espécie de decisão. Diz-se, por isso, que o recurso é cabível, próprio ou adequado quando corresponda à previsão legal para a espécie de decisão impugnada”.

Nesse diapasão Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 516), contemplam que “O cabimento diz respeito à adequação de determinado meio recursal para promover o ataque de dada decisão judicial”.

Destarte, recurso inadequado, em princípio, não é recebido para processamento e julgamento no mérito. Isso porque, em alguns casos, o recurso é admitido, em razão do princípio recursal da fungibilidade, acolhido, em linhas excepcionais, na sistemática recursal. Nessa toada, remetemos às exceções apontadas no tópico referente ao princípio da fungibilidade.

Em assim sendo, o juiz ou o tribunal só receberá o recurso manejado adequadamente, isto é, o recurso que for apropriado para a respectiva situação de cabimento que ocorrer no processo.

2.2.7. Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do recurso

Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015, p. 518) apontam a existência de dois fatos que podem significar fato extintivo do direito de recorrer: a aceitação da decisão e a renúncia ao recurso. De outro lado (2015, p. 521), apontam como fato impeditivo a desistência do recurso e o não pagamento de algumas multas previstas na legislação processual.

Didaticamente, importa iniciar a abordagem dos fatos impeditivos e extintivos pela desistência, após pela renúncia, e, finalmente, pela aceitação.

Nos termos do artigo 998 do NCPC “o recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso”.

Wambier, Conceição, Ribeiro e Mello, em análise ao dispositivo supracitado apontam que (2015, p. 1430) “Expressamente diz o artigo que a qualquer tempo – antes que o recurso seja julgado – pode o recorrente desistir do recurso, sem anuência nem do(s) litisconsorte(s), nem da(s) parte(s) contrária(s)”.

Assim, a desistência a recurso importa em uma manifestação de vontade do recorrente em que um recurso já interposto não seja julgado, ou seja, trata-se de hipótese em que já se tem manejado um recurso.

Tal manifestação de vontade do recorrente, a teor do contido no parágrafo único do citado dispositivo, não impede, de seu turno, seja o recurso julgado – “a desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos”.

De outro lado, o artigo 999, trata da renúncia ao recurso, e estabelece que “a renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”.

Trata-se de fato extintivo ao direito de recorrer, visto que, nessa situação, o legitimado ainda não se valeu da via recursal visando impugnar a decisão. Também é dispensável, na hipótese, a concordância da outra parte ou de eventual litisconsorte.

Portanto, muito embora a desistência e a renúncia a recurso sejam institutos muito parecidos, eles não se confundem. Além de a desistência constituir fato impeditivo do direito de recorrer e a renúncia se tratar de fato extintivo, esclarece Humberto Theodoro Júnior (2016, p. 999) “A desistência é posterior à interposição do recurso. A renúncia é prévia.”

Para finalizar, dispõe o artigo 1.000 que “a parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer”. Trata-se da terceira hipótese que enseja a inadmissibilidade do recurso porque presente o pressuposto de admissibilidade aqui discorrido.

Desse modo, concluímos que ao lado da legitimidade, do interesse recursal e da adequação, a admissibilidade do recurso interposto está também condicionada à inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer, quais sejam, a

renúncia, a aceitação e a desistência, pelo que finalizamos a análise dos pressupostos recursais intrínsecos e inauguramos, nesse momento, a abordagem dos efeitos dos recursos.