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Eficácia da decisão com repercussão geral reconhecida no Novo Código de

3.7 A repercussão geral como precedente judicial

3.7.4 Eficácia da decisão com repercussão geral reconhecida no Novo Código de

A Lei Processual Vigente trouxe significativa questão relacionada à Repercussão Geral no tocante à sistemática dos precedentes. O artigo 988 do Novo Código de Processo Civil, trouxe hipóteses de cabimento do instituto da reclamação, previsto, precipuamente, na Constituição Federal, em seu artigo 102, inciso I, alínea “l”.

A propósito, assim prevê o dispositivo processual: (in verbis, grifo nosso)

Art. 988. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:

I - preservar a competência do tribunal;

II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;

III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;

IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência;

§ 1o A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir.

§ 2o A reclamação deverá ser instruída com prova documental e dirigida ao presidente do tribunal.

§ 3o Assim que recebida, a reclamação será autuada e distribuída ao relator do processo principal, sempre que possível.

§ 4o As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a aplicação indevida da tese jurídica e sua não aplicação aos casos que a ela correspondam.

§ 5º É inadmissível a reclamação:

I – proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada;

II – proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias.

O dispositivo grafado foi inserido pela Lei n.º 13.256/2016 e sua leitura é intuitiva no sentido de se reconhecer o cabimento da reclamação em face da decisão que contrariar o entendimento firmado em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida.

Contudo, a doutrina tem se manifestado acerca do cabimento da reclamação em face dos pronunciamentos elencados no Novo Código de Processo Civil e a discussão soa demasiadamente importante, mormente em razão do debate constitucional e da temática dos precedentes, que como visto, é uma das vigas mestras da nova Lei Processual.

Abelha (2016, p. 1.388), em importante consideração afirma que:

Pode-se fixar um tronco comum às hipóteses de cabimento da reclamação que é a vocação deste instrumento de proteger as cortes do país, no sentido de que só elas, e, apenas elas, têm a possibilidade de fixar a uniformização do “direito jurisprudencial” que terá eficácia vinculante nos casos previstos na legislação.

Na mesma linha, tem-se precisas as palavras de Neves (2016, p. 1310):

As decisões que desrespeitam os precedentes obrigatórios, inclusive aqueles derivados de decisão proferida em controle de constitucionalidade, e as súmulas vinculantes, são impugnáveis por reclamação constitucional […] De igual modo, a magistrada Clara Mota Santos Pimenta Alves (2016, p. 134) apregoa que: (grifo nosso)

O novo Código de Processo Civil, na linha do quanto antecipado, não promove uma virada de mesa no sistema judicial, utilizando-se da técnica de precedentes como solução isolada e dentro da antiga perspectiva segundo a

qual a não aplicação adequada de um julgado gera o efeito rebote da

reclamação.

Vê-se, conforme os posicionamentos mencionados, que a doutrina consagra como fator essencial a ensejar o cabimento da reclamação a qualidade de precedente obrigatório do provimento desrespeitado.

Destarte, a decisão que reconhece a existência de repercussão geral é um precedente; o que há de se indagar é se o artigo 988, §5º, inciso II, do Novo Código de Processo Civil estaria conferindo ao recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida, o status de precedente vinculante.

No mais, sendo ela passível de reclamação, cogita-se estar-se-ia lhe conferindo a qualidade de precedente vinculante com eficácia forte.

Gonçalves (2017, p. 251) afirma que a o previsto no artigo 988, §5º, inciso II é hipótese de precedente vinculante criado pelo legislador ordinário e, em sua perspectiva, entende haver inconstitucionalidade quanto ao cabimento da reclamação, dada a criação de precedente vinculante, sem autorização constitucional.

Na mesma toada, Bueno (2015, p. 539) infere que:

[...] decisão jurisdicional com caráter vinculante no sistema brasileiro depende de prévia autorização constitucional – tal qual a feita pela EC n. 45/2004 – e, portanto, está fora da esfera de disponibilidade do legislador infraconstitucional.

Em linha tênue, Lenza (2015, internet), em análise feita acerca da sistemática dos precedentes, antes mesmo da alteração advinda pela Lei n.º 13.256/2016, consagrava que o Novo CPC “avançou e supervalorizou o cabimento da reclamação e, assim, o efeito vinculante das decisões”.

E diz ainda mais (2015, internet):

Como se sabe, na CF/88, o efeito vinculante (no caso, premissa para se falar nessa hipótese de cabimento da reclamação, somente se observa em razão das decisões em controle concentrado de constitucionalidade (art. 102, §2º), ou em razão de edição, revisão ou cancelamento de súmula vinculante (art. 103-A), regra essa, aliás, na linha do que sustentamos, introduzida pela EC 45/2004.

Vê-se, pois, que há o reconhecimento dos provimentos elencados no artigo 988, §5º, inciso II, do Novo CPC como hipóteses de precedente vinculante e a questão que se

coloca em voga é a possibilidade de a lei infraconstitucional estabelecer em precedentes em seu arcabouço, o que soa negativo para alguns.

Não obstante essa a verificação acerca da inconstitucionalidade da hipótese, há doutrina consagrando o caráter positivo da reclamação na presente hipótese. Nas valiosas palavras de Santos (2017, p. 596):

Em razão do sentido evolutivo do novo Código de Processo, como pretende seus elaboradores, deu-se nova extensão à reclamação, estendendo-a a todos os tribunais e não apenas ao STF e ao STJ e com incidência de motivação mais específica, o que importa em admitir-se que tal instituto jurídico, ao invés de se pautar dentro do estreitamento constitucional de antes, deve agora ser tratado com mais flexibilidade processual como meio mais eficaz e de maior utilidade prática ao cidadão.

Traz-se a lume, outrossim, o imperioso entendimento de Donizetti (2017, p. 1291):

[…] o novo CPC supervalorizou o cabimento da reclamação, que agora servirá não somente para preservar as decisões proferidas pelas Cortes Superiores, mas, também, para garantir o efeito vinculante das decisões prolatadas por TRF’s e TJ’s […].

Abelha (2016, p. 1388) trilha majestosamente para afirmar que:

A importância da reclamação no NCPC é capital, porque no novo diploma processual, esse é o remédio que pretende imprimir coercitividade ao caráter vinculante que o legislador atribuiu ao incidente de resolução de demandas repetitivas, à assunção de competência, ao precedente de casos repetitivos e até mesmo à jurisprudência dominante dos tribunais.

Rodrigues (2016, p. 365), outrossim, enfatiza que:

A nosso ver, a manutenção dessa hipótese de cabimento da reclamação, a fim de assegurar a observância de acórdão de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou especial repetitivos é importante mecanismo para assegurar a adequada aplicação de precedentes cuja vinculação foi instituída pelo art. 1.040 do CPC.

Nessa esteira, observa-se, de um lado, uma tendência em sustentar o cabimento da reclamação nas hipóteses que a legislação infraconstitucional passou a regular, entendendo, parte da doutrina, que tal previsão representa um avanço do Novo Código de Processo Civil com nascedouro na regulamentação dos precedentes.

Em outra linda, há autores que entendem pela inconstitucionalidade da norma processual que prevê o cabimento da reclamação em face das decisões com repercussão geral reconhecida, isto é, em controle difuso de constitucionalidade, sob a ótica de que

estaria o legislador infraconstitucional criando hipóteses de precedente vinculante, o que, para eles, é matéria a ser regulada pela Constituição Federal.