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Pressupostos recursais de admissibilidade do recurso extraordinário

Foi objeto de estudo desta pesquisa no capítulo anterior os pressupostos recursais de admissibilidade dos recursos em geral, e restou compreendido que esses pressupostos são basicamente elementos analisados em caráter preliminar, cuja ausência implica no não recebimento do recurso. Todavia, naquele capítulo tratou-se dos pressupostos recursais exigidos a todos os recursos, os quais, a bem da didática da pesquisa, foram divididos em extrínsecos e intrínsecos.

O que pretender-se-á abordar, nesse momento, são os pressupostos específicos de admissibilidade do recurso extraordinário, isto é, aqueles exigíveis quando do manejo desta espécie recursal à Suprema Corte.

Assim, inclinar-se-á ao estudo das exigências cruciais sem as quais o referido recurso não é admitido, assim, o esgotamento das instâncias inferiores e a existência de causa decidida e prequestionamento (artigo 102, III, CF).

3.2.1. Esgotamento das instâncias inferiores

Na estrutura do Poder Judiciário brasileiro, o Supremo Tribunal Federal ocupa a mais alta posição, situando-se como o órgão jurisdicional de mais alto escalão na estrutura nacional, razão pela qual é designado órgão de cúpula da justiça brasileira. Em razão disso, a competência da Suprema Corte é restrita e as exigências para que uma questão seja apreciada por ela são maiores.

No que toca à competência recursal da Corte, é estabelecida sua autoridade para o conhecimento do recurso extraordinário, das causas decididas em única ou última instância, na forma do artigo 102, III, da Constituição da República de 1988.

Segundo a súmula 281 do Supremo Tribunal Federal “É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na Justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.

Tal enunciado sumular estabelece a exigência do esgotamento de todas as instâncias inferiores do Poder Judiciário as quais se poderia submeter a questão para que se possa utilizar do recurso extraordinário.

Conforme ensina Montenegro Filho (2014, p. 171-172):

Exige-se, para a interposição do recurso especial (como também do extraordinário), que a parte tenha se utilizado de todos os recursos adequados ao combate e à impugnação da decisão recorrida, vale dizer, do acórdão proferido pelo tribunal local.

A despeito, assevera Masson (2016, p. 1000):

[...] ao se referir à “decisão recorrida”, a Constituição não exigiu que a mesma fosse prolatada por um Tribunal, de modo que até mesmo uma decisão prolatada por juiz singular ou por uma turma recursal de juizado especial pode ser desafiada através desse recurso, desde que, claro, não seja cabível nenhum recurso ordinário.

Nesse prisma, dispõe a súmula 640 do STF que “É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal”.

Portanto, o esgotamento das instâncias inferiores se traduz na exigência contida na Constituição Federal que impede o conhecimento do recurso extraordinário quando a decisão proferida (seja emanada de um tribunal ou não) puder ser atacada com algum outro recurso, somente se admitindo o recurso extraordinário, quando nenhuma outra via impugnativa tiver o condão de questioná-la.

3.2.2. Causa decidida e prequestionamento

O artigo 102, inciso III, da Constituição da República de 1988, citado no item anterior, utiliza a expressão “causas decididas”.

De acordo com o mandamento contido na Carta da República, além da decisão ter sido proferida em única ou última instância do Poder Judiciário, isto é, ter superado todas as vias possíveis para sua apreciação – conforme apontamos alhures – ainda é preciso haver o prequestionamento.

Montenegro Filho (2014, p. 167) apregoa que o requisito do prequestionamento se traduz em exigir do recorrente, que durante a atividade processual, prevendo a possibilidade de manejar o recurso já se comporte externando essa sua pretensão.

Gonçalves (2017, p. 340), em análise ao instituto do prequestionamento, afirma que ele pode ser compreendido como a imprescindibilidade da questão atacada com o recurso ter sido abordada na decisão que se recorre, o que se faz necessário nos recursos elencados como excepcionais, destacando, outrossim, que em razão da falta de regulamentação da expressão, se insere no arcabouço da causa decidida.

Conforme doutrina Neves (2016, p. 1620):

[...] a admissibilidade de todo recurso extraordinário exige o preenchimento do prequestionamento. Mais uma vez, o objetivo é não permitir que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do recurso extraordinário, conheça de forma originária no processo de matéria alegada pelo recorrente, exigindo-se que a matéria já tenha sido objeto de apreciação e solução pelo órgão hierarquicamente inferior que proferiu a decisão recorrida.

Portanto, para que o recurso extraordinário seja admitido, considerando não se tratar o STF de instância ordinária na organização judiciária brasileira, deve o recorrente, antevendo a possibilidade de ingresso com recurso nesta Corte, levantar a questão constitucional com antecedência, durante a atividade jurisdicional, e não pela primeira vez, na oportunidade de se manejar o recurso extraordinário.

Tanto é assim, que a súmula 282 do STF dispõe que “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada”.

Assim, deve o recorrente ir levantando a questão em oportunidades pretéritas ao manejo do recurso extraordinário, ainda que haja omissão por parte do órgão jurisdicional.

A teor da temática, imperioso salientar o que ensinam Wambier, Didier Júnior, Talamini e Dantas (2016, p. 2551-2552), que sintetizam que “havendo omissão no acórdão é necessária a oposição de embargos de declaração para que o tribunal se manifeste acerca da referida questão e decida a causa”.

A despeito do assunto, reza a súmula 356 do STF que “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

Ao tratar do contido no enunciado, contempla Gonçalves (2017, p. 341) que “[…] basta a interposição dos embargos de declaração, para que o requisito do prequestionamento esteja satisfeito, ainda que eles não sejam acolhidos e não seja suprida a omissão, Basta a oposição dos embargos”.

Ainda nessa discussão, o CPC passou a dispor em seu artigo 1.025 que:

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.

Assim, é possível concluir que para a interposição do recurso extraordinário, exige-se do recorrente o levantamento da questão que justifica ofensa constitucional durante o processo, e não de maneira inaugural perante o Supremo, ainda que não lhe seja ofertada uma resposta jurisdicional pelo tribunal inferior, ocasião em que, lhe incumbe opor embargos de declaração visando sanar a omissão do tribunal, que mesmo não admitido ou não provido será suficiente para satisfazer o requisito do prequestionamento.