• Nenhum resultado encontrado

A responsabilidade penal ambiental na Constituição Federal e na Lei n.

2.3 A responsabilidade penal

2.3.1 A responsabilidade penal ambiental na Constituição Federal e na Lei n.

Inicialmente, é necessário dizer que o direito penal estabeleceu-se em nosso ordenamento como medida legal que pode ser imposta em face da prática de crime. A prévia prescrição normativa, prevista no art. 5º, XXXIX, é o elemento principal do direito penal constitucional. A Constituição Federal determinou que as normas infraconstitucionais devessem regular a individualização da pena.

Verifica-se, então, que a compatibilidade entre os fundamentos constitucionais do crime e da pena levou o art. 5º, XLVI, da CF, a estabelecer algumas hipóteses de pena autorizando o legislador infraconstitucional a estabelecer outras hipóteses, quando necessárias ao controle social (art. 22, I), outorgando para tanto competência privativa da União para legislar.

Dentre as penas estabelecidas pela CF temos as de privação ou de restrição da liberdade, perda de bens, multa, prestação social alternativa, suspensão ou interdição de direitos.

Com o estabelecimento dos critérios de proteção ambiental trazidos pela CF e, conseqüentemente, com a previsão constitucional de que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (art.225, § 3º) 116, restou concretizada de forma pioneira a possibilidade de sujeitar todo e qualquer infrator, que pratique condutas ou atividades contra o meio ambiente, às sanções penais, administrativas e civis, o que já é uma forma de reconhecimento de responsabilização do infrator.

O Direito Penal, no plano de um Estado Democrático de Direito, deve ser direcionado preferencialmente para o combate aos crimes que impedem a realização dos objetivos

115 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. São Paulo: RT, 2003, p. 333.

116

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 10 maio 2004.

constitucionais do Estado. Ou seja, no Estado Democrático de Direito – instituído no art. 1o da CF/88 – devem ser combatidos os crimes que fomentam a injustiça social, o que significa afirmar que o direito penal deve ser reforçado naquilo que diz respeito aos crimes que promovem e/ou sustentam as desigualdades sociais. Nessa linha, estão os novos bens jurídicos fundamentais, entre eles, o meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Ao legislador

incumbe tentar encontrar o justo equilíbrio entre o progresso econômico e social e o direito fundamental à manutenção e restauração de um ambiente são. O que poderá fazer apelando também à técnica e promovendo novos meios ou recursos que permitam o controlo daquelas actividades que podem causar danos ou pôr em perigo aquele interesse fundamental117.

A Lei n. 6.938/81 enumerou quais seriam as atividades poluidoras, portanto, todas aquelas atividades ou condutas que prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e as econômicas; afetem a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, lancem matérias ou energias em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Contudo, foi com a Lei n. 9.605/98 que a responsabilização penal e administrativa das pessoas físicas e jurídicas que, por suas condutas ou atividades, causassem prejuízos ou danos meio ambiente, tornou-se mais concreta e evidente, embora outras legislações esparsas já tratassem das formas de reparação específicas, como, por exemplo, a do trabalho, da pesca, entre outras.

Os aspectos mais importantes de discussão doutrinária sobre o tema crimes ambientais relacionam-se à identificação do bem jurídico protegido, à real necessidade de uma intervenção penal nos problemas ecológicos, às novas técnicas legislativas adotadas (lei penal em branco), à autonomia das sanções de ordem administrativa em relação às de índole penal, à possibilidade de se responsabilizar pessoas jurídicas e à aplicação das penas alternativas.

2.3.2 O bem jurídico protegido

A Constituição Federal consubstanciou o Meio Ambiente como bem jurídico protegido tanto no caput do art. 225, como em outros dispositivos, definindo-o como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à

117 RODRIGUES, Anabela Miranda. Direito penal do ambiente – Uma aproximação ao novo Direito Português. Revista de Direito Ambiental. São Paulo:RT, n.2, abr.jun, ano 1, 1996, p.15.

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”118, frisando, no seu § 1o, II, a necessidade de preservar a integridade do patrimônio genético do país, proteger a fauna e a flora, fazendo, ainda, uma declaração de domínio no § 4o:

a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional e sua utilização far-se-á na forma da lei, dentro das condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto aos seus recursos naturais119.

Consoante Gilberto Passos de Freitas120, a Constituição Federal albergou o meio ambiente como um verdadeiro direito de natureza análoga aos direitos individuais, por ser um direito fundamental de todos terem um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Afinal, dele depende a vida humana.

O meio ambiente é bem merecedor de tutela penal já que se trata de um bem jurídico de especial transcendência, cuja proteção resulta essencial para a própria existência do ser humano e, em geral, da vida, e que se encontra seriamente ameaçado, pelo que sua conservação e manutenção justificam claramente o recurso às mais contundentes medidas de proteção que pode proporcionar o ordenamento jurídico.

E assim se espera a contribuição do direito penal como parte integrante da ordem jurídica, e como recurso extremo na proteção dos valores fundamentais da sociedade, através das sanções que lhe são próprias, sendo a violação desses valores intolerável, e inevitável de outra forma. Funcionará então o Direito penal como recurso necessário de defesa social, garantidor da coexistência pacífica entre os membros da coletividade e instrumento de uma política que atenda aos anseios sociais sem descurar os do desenvolvimento econômico e das necessidades básicas da população.

Ressalta-se, então, a necessidade de realizar a compatibilização da Política criminal com as diretrizes da Política ambiental, dotando-se a legislação penal de instrumentos e normas adequadas à proteção dos valores ambientais, refazendo a tipologia, redimensionando as penas e forjando um sistema que, além de apropriado às finalidades visadas, possa atender melhor aos anseios e às exigências da nova ordem social que pretende a harmonização dos interesses da comunidade com a necessidade de preservar a natureza, no interesse das gerações vindouras.

118 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 10 maio 2004.

119 BRASIL. Constituição (1988).

120 FREITAS, Gilberto Passos de. Ilícito penal ambiental e reparação do dano. São Paulo: Editora Revista dos