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3.7. Das espécies de danos ambientais e da responsabilidade ambiental

3.7.2 Dos recursos minerais

3.7.2.1 Da exploração do ouro

Na década de 1970, intensificou-se a procura por ouro em todo o território amapaense, culminando na descoberta de várias áreas auríferas e, conseqüentemente, na implantação de vários núcleos garimpeiros, destacando-se os assentados nos domínios das bacias dos rios Cassiporé, Calçoene, Araguari, Amapari, Cupixi, Vila Nova, Jari e, mais recentemente, já na década de 80, do Tartarugalzinho.

A diversificação da produção mineral industrial do Amapá deu-se somente na década de 80 com a instalação de mineradoras de ouro (Mineradora Água Boa, no município de Mazagão – Rio Vila Nova; do grupo empresarial MINORCO, em Pedra Branca do Amapari; Mineradora Novo Astro, em Calçoene – Lourenço no Morro do Salamangone), de cromita (Mineradora CFA, em Mazagão – Rio Vila Nova), de caulim (Mineradora CADAM, em Laranjal do Jari/Vitória do Jari no Morro do Felipe) e de manganês (Mineradora ICOMI,em Serra do Navio).

Os impactos ambientais nos meio físico e biótico decorrentes da atividade mineral são generalizados, levando a uma descaracterização da paisagem natural.

A garimpagem diferencia-se da atividade industrial em função dos reflexos socioeconômico-culturais decorrentes da desorganização da primeira, enquanto que a

indústria, sujeita a normas ambientais, condiciona-se à capacidade de monitoramento do órgão estadual de meio ambiente e, invariavelmente, acaba trazendo certos benefícios em termos de infra-estrutura local, necessários ao funcionamento da mina e ao escoamento da produção, além do cumprimento das obrigações trabalhistas e fiscais.

A população garimpeira no Amapá, de acordo com informações do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM (1993), foi estimada em 15.000 pessoas, sendo cerca de 60 % originários dos estados do Pará, Maranhão, Pernambuco, Ceará e Piauí, o que demonstra o caráter itinerante da atividade.

Atualmente, com a legislação mineral/ambiental vigente e inaplicável, em função da rápida expansão e da acelerada mecanização que caracteriza atualmente a atividade garimpeira no estado, observa-se que qualquer interferência sobre essa atividade deve levar em conta o envolvimento de uma população desbravadora, com suas seqüelas de marginalização e desintegração social, conseqüência das desigualdades sociais e falta de oportunidades que caracterizam o estilo de desenvolvimento atual.

No que se refere à exploração industrial, embora o monitoramento seja feito mensalmente pelo órgão ambiental e pelo DNPM, que acompanham a execução do Plano de Recuperação das Áreas Degradadas e analisam os indicadores físico-químicos da qualidade das águas dos rios que circundam o empreendimento mineral, permitindo o controle efetivo do cumprimento das normas e padrões ambientais (Res. CONAMA 020/86), ainda assim podem ser constatados graves danos em determinadas áreas.

Sem dúvida alguma, o desordenamento da atividade mineral no Amapá tem relação direta com a falta de uma política mineral para a Amazônia e com os próprios desdobramentos advindos da ausência de um órgão gestor público estadual, específico para o setor. Embora a Constituição estadual tenha garantido alguns dispositivos para o aproveitamento mais justo dos recursos minerais, eles ainda se ressentem de regulamentação. Assim, a atividade garimpeira no Amapá tem gerado vários conflitos pelo uso e ocupação do solo, com reflexos diretos na degradação social e destruição da biodiversidade local.

À guisa de ilustração, podemos citar a degradação ambiental ocorrida na localidade de Santa Maria de Vila Nova, área de mineradora, situada entre dois municípios do interior do estado. Denúncia formulada pela associação de garimpeiros do local dava conta da suspensão das atividades de exploração, do abandono da mina, bem como do abandono, a céu aberto, de latões contendo substâncias tóxicas (cianeto de sódio e outras, próprias para a purificação do mineral). Essas substâncias estariam contaminando os lençóis freáticos e as águas do rio que serve à comunidade local, perto da área de exploração.O fato foi noticiado na imprensa local e

nacional e mereceu instauração de CPI na Assembléia Legislativa do Estado para apuração de responsabilidades.

Em nível jurídico, para apurar as responsabilidades, infrações e possível crime ambiental, o Ministério Público Federal promoveu Ação Civil Pública contra as empresas mineradoras. Em sede de liminar foram determinadas as seguintes providências: a remoção dos rejeitos químicos da área e seu armazenamento em local adequado; a elaboração de EIA, no prazo de 15 dias, para a recuperação da área; o envio de técnicos ao local para reabilitação da área degradada e para prevenção de futuros danos; a fixação de multa, em caso de descumprimento da determinação judicial, a ser revertida ao fundo ambiental.

Nos autos consta laudo técnico que constata a contaminação da água do rio e provas fotográficas da degradação ambiental. O processo tramita desde 1999 e até hoje a empresa não cumpriu integralmente a liminar.

Em 2005, a empresa mineradora, a fim de resguardar suas responsabilidades, efetuou denúncia no MPF, na CEMA e DNPM contra a Cooperativa de Garimpeiros que estaria explorando irregularmente a área, sem qualquer controle ambiental. O perigo está no fato de que, em uma das barragens de contenção, os garimpeiros escavaram um sangradouro, permitindo que a água contaminada com mercúrio escoe diretamente para o rio Vila Nova, o que aumenta o risco de um grave acidente ambiental. Relatos de pescadores da região dão conta de que o rio, naquela área, há muito não tem sinais de vida: os peixes sumiram. Com o rompimento das barragens de contenção de rejeitos, estes atingem o rio que deságua sua pororoca poluidora no próprio rio Amazonas, próximo à desembocadura no oceano Atlântico.

Apesar de relatórios da CEMA terem concluído pela interdição da área166, a situação ainda persiste.