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1.3 Princípios ordenadores

2.1.3 Dano ambiental

O dano ambiental pode ser compreendido como qualquer lesão aos recursos

ambientais que cause degradação e, conseqüentemente, o desequilíbrio ecológico. Caracteriza-se pela pluralidade de vítimas.

Quando ocorre o dano ambiental, afeta-se o direito de viver em meio ambiente ecologicamente equilibrado e da fruição desse bem de uso comum a todos, como consagrado no artigo 225 de nossa Constituição Federal.

Assim, não é apenas a agressão à natureza que deve ser objeto de reparação, mas também a privação, imposta à coletividade, do equilíbrio ecológico, do bem-estar e da

74 AGUIAR DIAS, José de. Da responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p.49.

75 TRUJILLO, Eulália Moreno. La protección jurídica privada del médio ambiente y la responsabilidad por su deteriora. Barcelona: JMB editor, 1991, p. 238.

qualidade de vida. E se o equilíbrio ecológico é um bem jurídico tutelado, podemos concluir que toda poluição gera um dano ambiental77.

Para Edis Milaré, dano ambiental “é a lesão aos recursos ambientais, com conseqüente degradação – alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida”78, o que nos faz compreender que os recursos ambientais aqui referidos incluem os recursos naturais, artificiais e culturais, daí porque deve haver uma política pública integrada à legislação para a proteção de todo o ecossistema.

Morato Leite79 trata de uma concepção ambivalente do dano ambiental que pode trazer

efeitos sobre o meio ambiente e, em outras situações, também afetar a coletividade, na sua saúde como nos seus interesses.

Quando se estuda o dano ambiental, portanto, verifica-se que a doutrina moderna não conseguiu conceituá-lo, pois que pode incidir de diversas maneiras. Então, assim como o meio ambiente tem um conceito aberto80, a legislação brasileira não conceituou o dano ambiental, deixando-se, assim, margem para que sejam preenchidos casuisticamente, de acordo com a realidade concreta. A legislação preocupou-se apenas em definir degradação, poluição e poluidor para fins de imputar a obrigação de indenizar (art. 3º, II e II, da Lei 6.938/81).

Seguindo essa linha de raciocínio, pretendemos tratar aqui somente os danos causados ao meio ambiente que são autônomos e diversos dos danos pessoalmente sofridos pelas pessoas. O que quer dizer que quem causar dano ao bem ambiental e seus componentes, poderá, eventualmente, também, atingir a esfera de direito individual de particulares, cuja reparação será dirigida para pessoas determinadas.

Portanto, a reparação ambiental será diversa da reparação a que cada indivíduo terá direito em face de um mesmo evento81, podendo, inclusive, os particulares aproveitarem-se do resultado da ação coletiva para liquidarem os danos individuais.

77 É necessário mencionarmos que o art. 3º, III, da Lei 6.938/81, que define a poluição como “a degradação da

qualidade ambiental resultante de atividade que direta e indiretamente: ...e) lancem matérias ou energias em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”, traz uma exceção à regra da responsabilização pelo dano, pois, neste caso, haverá a qualidade de poluidor, mesmo sem dano ao ambiente, quando a prática da atividade violar conduta prevista em norma, ainda que não venha a causar dano, o que pode gerar uma tutela repressiva ou inibitória do ilícito.

78 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: doutrina-jurisprudência-glossário. São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2004, p. 665.

79 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2003, p. 98.

80 A Constituição Federal não elaborou uma noção técnico-jurídica de meio ambiente.

81 Vale ressaltar aqui que não pretendemos discorrer sobre as espécies de danos ambientais, que seriam os danos

pessoais (patrimoniais ou extrapatrimoniais) ou individuais e danos ecológicos ou coletivos, até porque brilhantes doutrinadores já o fizeram como o Prof. Rubens Morato Leite cuja obra já foi citada diversas vezes no

O que se verifica é que há uma necessidade muito grande de se dar um tratamento autônomo ao dano praticado contra o meio ambiente, através de instrumentos jurisdicionais de reparação e recuperação do ambiente degradado, que venham a satisfazer as exigências da coletividade. Pois, como bem afirma Morato Leite,

O sistema de responsabilidade civil, desta forma, tem sofrido modificações e deverá, obrigatoriamente, adaptar-se a estas novas prioridades e transformar- se, para atender à função estabilizadora do direito, pois a este cumpre garantir a estabilidade das relações jurídicas, e, ainda, à função pedagógica do direito, considerando que este, em regra, estabelece padrões de condutas socialmente desejáveis82.

Contudo, não podemos perder de vista o fato de que somente a responsabilização objetiva ou por risco poderá eliminar todos os entraves trazidos pela complexidade do dano ambiental, pois as principais dificuldades da reparação, segundo Martin, estão no fato de que

por um lado, e apesar de todos os esforços, continuam a cometer-se danos e os lesados, cada vez mais conscientes, erguem-se para exigir a sua reparação; por outro lado, as próprias políticas de prevenção aceitam que certos danos sejam cometidos e não parece aceitável que esses danos sejam contabilizados como lucros e perdas. Por isso, os problemas já não se põem nos mesmos termos dos anos 1970: os observadores começam a tomar consciência de que não só os mecanismos da responsabilidade civil estão desajustados, mas que os conceitos fundamentais utilizados tão pouco traduzem a realidade dos fatos83.

Contudo, mesmo que reconheçamos os avanços com a adoção da responsabilidade objetiva, que isola a prova da culpa, e o regime autônomo no trato do dano ambiental, sempre faltarão sistemas jurídicos perfeitos e uma dinâmica legislativa mais atuante e eficaz, pois a evolução tecnológica é mais rápida e sempre deixará lacunas na proteção ambiental que o direito não poderá preencher de imediato.