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4. FORMAÇÃO DE PROFESSORES

4.2. A resposta da Formação Contínua

No quadro legal da Formação Contínua em Portugal, dado pela Lei de Bases do Sistema Educativo e concretizado pelo Decreto-Lei 207/96 de 2 de Novembro, são estabelecidos os seus objectivos (Quadro 11) onde, logo em primeiro lugar, se faz referência à actualização e aprofundamento de conhecimentos. No domínio da Física, esta actualização e aprofundamento impõe-se pela evolução do próprio conhecimento e o seu impacto, sempre em constante evolução, na vida do Homem. Por exemplo, as questões relacionadas com as aplicações à medicina, à cosmologia e à tecnologia em geral, requerem uma actualização constante e um olhar atento no sentido de procurar novas formas de fazer a transposição para a sala de aula. Este último aspecto está intimamente ligado com o terceiro objectivo para a formação contínua.

Quadro 11: Objectivos da formação contínua de acordo com o Decreto-Lei 207/96 de 2 de Novembro, que define e regulamenta a Formação Contínua de Professores Objectivos fundamentais da formação contínua

a) A melhoria da qualidade do ensino e das aprendizagens, através da permanente actualização e aprofundamento de conhecimentos, nas vertentes teórica e prática;

b) O aperfeiçoamento das competências profissionais dos docentes nos vários domínios da actividade educativa, quer a nível do estabelecimento de educação ou de ensino, quer a nível da sala de aula;

c) O incentivo à autoformação, à prática da investigação e à inovação educacional;

d) A aquisição de capacidades, competências e saberes que favoreçam a construção da autonomia das escolas e dos respectivos projectos educativos;

e) O estímulo aos processos de mudança ao nível das escolas e dos territórios educativos em que estas se integrem susceptíveis de gerar dinâmicas formativas;

f) O apoio a programas de reconversão profissional, de mobilidade profissional e de complemento de habilitações.

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A transposição do conhecimento para a sala de aula em domínios de temas contemporâneos, requer esta tripa ligação: a formação, e mesmo a auto-formação, a prática de investigação e a inovação educacional. Encontra-se aqui justificação para a recente alteração ao quadro legal da formação contínua, que tenta estabelecer alguma equidade entre a formação disciplinar e a mais abrangente. Para fins de progressão, 50% daquela deve agora corresponder à área disciplinar do professor (Decreto-Lei nº 15/2007).

Sobre a resposta da formação contínua aos novos desafios do ensino resultantes da introdução da FMC nos currículos37, diremos que uma formação de carácter transmissivo, na modalidade de curso de formação, onde os professores são chamados a

acompanhar e não a construir, que ainda persiste, é semelhante àquele que a maioria

experimentou na formação inicial. Não é satisfatória. Segundo Porlán (2010), este tipo de formação não resulta posteriormente numa reconstrução de concepções e esquemas de acção, antes satura de conhecimentos académicos e, ao mesmo tempo, anula as potencialidades transformadoras de determinados aspectos da teoria. De facto, concretizando na Física Quântica, é de prever que uma formação de carácter transmissivo, mesmo que tenha em linha de conta aspectos filosóficos, não potencializa atribuições de significado ou consciência da necessidade de uma Didáctica alternativa.

Parece-nos relevante enquadrar a procura de uma formação adequada naquela que poderá ser uma tendência dos professores actuais de motivação da formação contínua como motor da sua profissionalidade. Segundo Madanelo (2010) os professores são defensores de «um tipo de formação contínua centrada na escola, nas

suas práticas profissionais, através da observação e reflexão sobre o seu próprio ensino numa atitude de investigação-acção» (p.299). A autora refere que estes,

assumindo-se como sujeitos activos no seu processo formativo, «valorizam acções de

formação de natureza teórico-prática, onde exista uma relação efectiva entre os saberes teóricos e a prática profissional e de saberes práticos, através da mobilização de estratégias e actividades consistentes do ponto de vista didáctico-pedagógico»

(ibidem, p. 299). Porém, a modalidade de formação não é, segundo Madanelo (2010), o aspecto prioritário nas escolhas de formação dos professores, o que poderá indiciar uma necessidade de diversificar e incentivar percursos formativos alternativos aos tradicionais cursos de formação.

Na procura de formatos mais inovadores, que possam ser enquadrados no contexto legal da formação contínua em Portugal, encontramos alguns contributos. Apresentamos aqui uma proposta de Porlán (2010, p. 37) que, no contexto da formação contínua de professores de ciências, e com base na literatura, apresenta um programa de

Formación de Professores para Investigar la Prática (FOPIP), baseado numa estratégia

com vista à evolução das concepções e das acções dos professores a partir dos problemas práticos profissionais, que inclui as seguintes fases:

i) organizar a formação em torno de equipas;

37 O Ministério da Educação levou a cabo um programa de formação de professores no âmbito da

implementação dos novos programas do ensino secundário, com o objectivo de disseminação dessa formação. Para a Física e Química, este programa decorreu de 2003 a 2005.

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ii) trabalhar com tópicos relevantes e com os problemas práticos profissionais mais adequados a cada caso;

iii) tomar consciência das próprias concepções e esquemas de acção em relação com outros problemas práticos seleccionados;

iv) analisar as referidas concepções e pô-las em confronto com conhecimentos provenientes das disciplinas, de experiências inovadoras e da investigação didáctica;

v) estruturar as novas concepções e esquemas de acção em torno de um desenho curricular alternativo;

vi) experimentar o desenho curricular alternativo em sala de aula;

vii) elaborar conclusões sobre a experiência utilizando capacidades metacognitivas para comparar as conclusões e esquemas finais com os iniciais, compreender a lógica do processo e formalizar um modelo didáctico pessoal fundamentado;

viii) elaborar e difundir materiais curriculares como forma de sistematizar o conhecimento prático profissional.

Poderão este tipo de estratégias encontrar resposta na formação contínua creditada em Portugal? O quadro legal define as modalidades de formação possíveis, que são (Artigo7º do Decreto-Lei 207/96): (a) Cursos de formação, (b) Módulos de formação, (c) Frequência de disciplinas singulares em instituições de ensino superior, (d) Seminários, (e) Oficinas de formação, (f) Estágios, (g) Projectos e (h) Círculos de estudos. Pensamos, porém, que nem todas as modalidades possíveis, de entre as preconizadas, são igualmente adequadas a uma formação como se tem vindo a defender. Isto, pela necessidade de uma profunda apropriação dos percursos formativos, como se pensa ser essencial no caso da Física Moderna e Contemporânea. Ao longo dos próximos parágrafos continuaremos uma reflexão que permita eleger a modalidade que julgamos mais adequada no contexto em que nos localizamos.