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PRANCHA III), na cidade de São Paulo, com o público sobre um barco a navegar sobre o

PRANCHA XXVIII).

E. A influência dos fatores não materiais que existiam dentro daquele ambiente, como os ruí-

4.2.5. A CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO E A C OMPOSIÇÃO C ENOGRÁFICA

4.2.5.3. A S INTERVENÇÕES DIRETAS NAS ESTRUTURAS ARQUITETURAIS

A dramaturgia também foi dinamizada através das interferências pictóricas e estruturais reali- zadas diretamente nos elementos arquitetônicos da GRUTA.

De súbito veio o desejo de reforçar a carga de abandono através da aplicação e da raspagem de camadas de tinta sobre as camadas de tinta já existentes nas paredes, com técnicas que mi- metizavam mofo e poeira, ampliando as sensações que já eram bastante peculiares.

Notamos que grande parte das nossas intervenções pictóricas se concentraram sobre o Salão Principal, com maior ênfase102 nas paredes e nas partes estruturais das áreas destinadas aos três cárceres (como as calhas, os canos de PVC para condução de água da chuva e os batentes das portas), áreas estas que estavam mais evidenciadas durante a encenação por conta da ilu- minação (IMAGEM 58 - PRANCHA XXXIX), (IMAGEM 85 - PRANCHA LVII) e

(IMAGEM 86 - PRANCHA LVIII).

De todas as janelas situadas no Salão Principal, somente um basculante que ficava ao lado da escadaria recebeu aplicação de tinta. Antes das nossas intervenções os vidros deste basculante estavam pichados de preto, com palavras que se tornavam um ponto de atenção mais elevado que o principal centro de interesse, ou seja, a pichação sobre a janela chamava mais atenção que a cena em si. Depois da neutralização desta janela, através das camadas de pintura, tam- bém com caráter de envelhecidas, pudemos notar a considerável mudança dos centros de a- tenção durante a encenação (IMAGEM 79 - PRANCHA LIV).

Em cada um dos cárceres mencionados também foram aferidas escarificações nas paredes, sobre as camadas de tinta, com a repetição de linhas verticais cruzadas por uma linha horizon- tal, tal qual as realizadas por detentos para a contagem do tempo. Estas marcas também eram responsáveis pela identificação de cada uma das celas e fazia a conexão entre elas (IMAGEM

59 - PRANCHA XXXIX), (IMAGEM 64 - XLII) e (IMAGEM 84 - PRANCHA LVI).

As escarificações também foram feitas no corredor de entrada pela Rua Pitangui e no primeiro cômodo após a entrada pela Rua Genoveva de Souza. Nestes dois pontos algumas palavras e frases foram arranhadas nas paredes. O público ao adentrar a GRUTA podia ler estas palavras e frases que faziam relação com a vida sofrida dos peões na obra do metrô e consequentemen- te com as próximas cenas. (IMAGEM 83 - PRANCHA LVI).

102 Ao mencionarmos que foi dada uma ênfase maior nestes pontos, notamos uma possível ambiguidade nas definições, quando "enfatizar" aparentemente diz respeito a tornar mais visível um determinado ponto. Dentro do vocabulário da Linguagem visual, enfatizar um determinado ponto não significa necessariamente optar exclusi- vamente pelo contraste. Para DONDIS (1997, pp. 23-24, grifo do autor), "os elementos visuais são manipulados com ênfase cambiável pelas técnicas de comunicação visual, numa resposta direta ao caráter do que está sendo concebido e ao objetivo da mensagem. A mais dinâmica das técnicas visuais é o contraste, que se manifesta numa relação de polaridade com a técnica oposta, a harmonia. Não se deve pensar que o uso de técnicas só seja operativo nos extremos; seu uso deve expandir-se, num ritmo sutil, por um continuum compreendido entre uma polaridade e outra, como todos os graus de cinza existentes entre o branco e o negro". Assim, em nossas aplica- ções das várias camadas de tinta sobre as camadas de tinta que já se encontravam na GRUTA, na sugestão de mofo, poeira e sujeira, trabalhamos com uma variedade imensa de nuanças tonais e ainda assim consideramos que demos ênfase às partes do espaço que elegemos mais necessárias.

No que tange a inserção de elementos estruturais diretos na arquitetura, cabe-nos mencionar algumas situações:

a) A primeira foi a instalação de um corrimão de metal na escadaria do Salão Principal, pa-

ra que os atores pudessem subir e descer com segurança durante as cenas (IMAGEM

78 - PRANCHA LIII). Nesta mesma escadaria foram aplicadas tiras de lixa, para que

os atores não escorregassem durante seus movimentos. Curiosamente o corrimão e as lixas foram mantidos depois de nossa estadia.

b) A segunda intervenção no espaço não era visível aos olhos dos espectadores, mas foi

planejada para dinamizar o fluxo dos atores durante a apresentação. No fundo da GRUTA havia um buraco antes destinado a uma claraboia. No lugar do buraco foi cons- truído um alçapão de metal que ficava aberto durante as apresentações. A principal fina- lidade do alçapão era poder lacrar o buraco e proteger os pertences do Teatro Universi- tário de possíveis furtos, pois os equipamentos permaneciam na GRUTA após os ensai- os e também após as apresentações.

Para alcançar este alçapão foi instalada uma escada de alumínio. Assim, durante algu- mas cenas, este era o acesso até à Laje, de forma que o público não via os atores subi- rem para o piso superior quando estes iam se posicionar para uma próxima cena. Duran- te as apresentações, em vários momentos, os atores subiam e desciam da Laje utilizando esta passagem.

c) A Laje possui um formato de "L" cobrindo toda a área superior da GRUTA, com exce-

ção do corredor da entrada da Rua Pitangui e o Salão Principal (onde o teto é formado por caibros de madeira e telhas de amianto). Em uma das faces deste "L", uma parte é mais baixa que a outra e, portanto, existe um desnível de mais ou menos 1,20 m (um metro e vinte centímetros). Para os atores circularem com tranquilidade sobre a área de laje, foi instalada uma escada de metal na parede, que permitia o acesso da parte mais baixa até a parte mais elevada.

d) Outra intervenção de elementos estruturais diretos na arquitetura foi a instalação de uma

noveva de Souza). Esta portinhola foi construída de madeira e fixada no batente que ti- nha na parede. Ela possuía um vão na parte superior em formato de retângulo que era vazado, mas que continha uma ripa de madeira pregada diagonalmente. No corpo desta porta também havia outras ripas de madeira pregadas disformemente, umas sobre as ou- tras, para gerar um aspecto de "mal acabado". Esta portinhola servia principalmente pa- ra evitar que o público assentado no Salão Principal visse os atores circulando pelo pri- meiro cômodo (IMAGEM 71- PRANCHA XLIX).

De certo que a escada de alumínio foi retirada após nossas apresentações, mas o corrimão de metal, o alçapão, a pequena escada de metal e a portinhola permanecem até hoje no espaço.