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PRANCHA III), na cidade de São Paulo, com o público sobre um barco a navegar sobre o

INFLUENCIAM AS COMPOSIÇÕES CENOGRÁFICAS

3.5. M ATERIAIS E XPRESSIVOS forma

3.5.2. A EXPRESSIVIDADE DE UM MATERIAL ATRAVÉS DOS PRINCÍPIOS CINÉTICOS

3.5.2.1. C AMPO DE I NVESTIGAÇÃO 3: A COMPOSIÇÃO ESPACIAL E A DINÂMICA VISUAL DAS FORMAS

A abordagem da expressividade dos materiais neste campo de investigação acontece de modo similar ao que trabalhamos anteriormente nos campos de investigação 1 e 2, salvo que agora pontuaremos acerca da sensação de movimento advindo da própria dinâmica visual que as formas sugerem, quando são pensadas em estado compositivo.

É importante salientarmos que o termo "forma" do qual utilizaremos, possui afinidade ao en- tendimento visto por João Gomes Filho em "A Gestalt do Objeto", que por sua vez, se apoia na definição proposta por Aristóteles e também na encontrada no Dicionário Aurélio. O autor nos diz:

A forma é definida como os limites exteriores da matéria de que é constituí- do um corpo e que confere a este um feitio, uma configuração. Pode também ser compreendida como "a figura ou a imagem visível do conteúdo. A forma nos informa sobre a natureza da aparência externa de um objeto – tudo que se vê possui forma". Por outro lado, a forma possui propriedades que a con- substanciam, de per se ou por inteira. Ou seja, a forma pode se constituir em um único ponto (singular), ou em uma linha (sucessão de pontos), ou em um plano (sucessão de linhas) ou, ainda, num volume (uma forma completa, contemplando todas as propriedades citadas) (GOMES FILHO, 2009, p. 61, grifo do autor).

Para cada forma que se configura, notamos também uma determinada sensação de movimen- to, dada por sua leitura visual. Assim, um triângulo possui uma sensação de movimento dife- renciado de um quadrado, que por sua vez possui uma cinética visual distinta de uma gota, de uma linha vertical ou de uma linha diagonal.

O movimento visual é definido como função de velocidade e direção. Ele es- tá relacionado com o sistema nervoso que cria a sensação de mobilidade e rapidez. As sensações de movimento são acontecimentos que se dão em se- quência, por meio de estimulações momentâneas, das quais se registra uma mudança estática. Pode se afirmar que qualquer imagem visual, que apresen- te os objetos de qualidades perceptivas, tais como forma de cunha, direção oblíqua, superfície sombreada, linhas ou volumes ondulados, por exemplo, transmitirá impressão de movimento (GOMES FILHO, 2009, p. 67).

Em alguns casos de composição num plano bidimensional, a disposição dos elementos sobre este plano também sugere movimento (um movimento visual), mesmo quando estes estão representados de maneira estática (através da pintura, do desenho, da gravura, etc.).

No que tangem nossas questões acerca da Composição Cenográfica evidenciada pela tridi- mensionalidade cênica, as formas às quais nos referimos podem ser percebidas através de pontos de interesse mais evidenciados que outros, que são criados a partir da disposição de materiais num espaço.

Estes pontos de interesse também podem ser pensados através do uso das cores. Assim, o comprimento de onda visual das cores que são atribuídas às formas, gera a sensação de que uma cor é mais intensa do que a outra cor, que, por sua vez, gera um dinamismo visual.

Outro fator importante para o entendimento da dinâmica visual de uma Composição Cenográ- fica é a inserção da iluminação cênica. É notório que só é possível ver uma forma ou perceber uma cor através da luz. Assim, a inclusão da luz em determinados pontos que foram compos- tos para as cenas, bem como suas variantes durante a encenação, tendem a comunicar ao pú- blico diferentes centros de atenção, favorecendo a dinâmica visual do espetáculo teatral.

É através do olhar do receptor e da sua percepção em cada caso, que a sensação de movimen- to se efetiva em maior ou menor grau.

Extrapolaria os limites de nossa dissertação buscar a sistematização teórica para o esclareci- mento dos inúmeros casos que se tornam presentes pela dinâmica visual percebida através do uso de uma determinada forma ou de determinada cor74.

Sendo assim, o que importa dentro de nossos estudos é o entendimento de que existe a aplica- ção ou a disposição de materiais, de objetos e de formas num espaço para a criação de ritmos visuais variados, num jogo de forças que se alternam, cadenciados e também sincopados,

74 Estudos mais aprofundados acerca do tema podem ser realizados através dos seguintes autores e livros: Donis A. Dondis em "A sintaxe da Linguagem Visual"; João Gomes Filho em "Gestalt do Objeto: Sistema de leitura visual da forma"; Rudolf Arnheim em "Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora"; e Luciano Guimarães em "A cor como Informação". Todos estes autores e obras se encontram sinalizados em nossas refe- rências bibliográficas.

harmoniosos e desequilibrados, conectados à construção de "ruídos visuais"75 contrapostos aos "silêncios visuais", que vão visualmente, pela percepção do observador, gerar possibilida- de de dinamização de uma cena, ainda que tudo se encontre parado e este movimento seja estritamente pautado através de uma dinâmica visual.

Podemos trazer como exemplo a Composição Cenográfica para a Segunda Estação ("A Casa da Avó Desalmada"), articulada sobre a "Loja do Nem" no Mercado Central de Belo Horizon- te, na montagem do espetáculo "Erêndira".

A "Loja do Nem" possui a particularidade de conter dois extremos: no horário comercial ela é formada a partir de um acúmulo de objetos e coisas que geram uma leitura visual ruidosa

(IMAGEM 24 - PRANCHA XX). Já durante a noite, com as lojas fechadas (horário escolhi-

do para as apresentações), percebemos que existe uma simetria na fachada da "Loja do Nem": o formato do piso do Mercado Central se equilibra com o formato de divisões das portas da loja, equilibrados, por fim, pelo coroamento preciso de uma linha horizontal formada pelas caçarolas e utensílios domésticos de metal (IMAGEM 25 - PRANCHA XX).

Nesta Estação, completamos a Composição Cenográfica pela inserção e distribuição criteriosa dos materiais e objetos pelo espaço (escolhidos de acordo com nossas releituras do texto de Gabriel García Márquez), a fim de gerar um campo visual dinâmico (IMAGEM 27 -

PRANCHA XXI).

Ao analisarmos esta última imagem, vale notar que o formato quadrangular sugerido pelo enfileiramento dos tecidos e roupas que inserimos do lado esquerdo da composição, tende a gerar um desequilíbrio e chamar bastante atenção de todo o campo visual para este lado, em função da evidente presença das formas e cores vibrantes.

O ponto verticalizado sugerido pela coluna com flores artificiais instalada do lado direito, juntamente com os outros dois pontos sugeridos pelos relógios amarelo e azul, instalados na porta de metal, tendem a buscar um equilíbrio ao todo, mas não são suficientes.

75 De acordo com João Gomes Filho (2009, p. 102), "O conceito de ruído visual diz respeito às interferências, distorções (ou algo inesperado, extemporâneo) que perturbam a harmonia ou o equilíbrio visual num objeto, produzido de maneira parcial - seja em formas orgânicas ou inorgânicas, bi ou tridimensionais".

Todavia, houve a intenção de desequilibrar a composição e trazê-la visualmente para o lado esquerdo, pois grande parte das ações promovidas pela atriz Vandileia Foro (que interpretava "Erêndira"), sobrevinha do lado oposto, próximo ao toca-discos vermelho que se encontra no piso do lado direito. Desta forma, o equilíbrio do campo visual se dava pela presença da atriz ao tecer suas ações do lado direito e o desequilíbrio ocorria quando a atriz permanecia no cen- tro do campo composicional, aonde a avó permanecia assentada no trono durante quase toda a