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Parte II Estudo empírico da sazonalidade do turismo

Capítulo 7 Considerações finais

7.2 Conclusões da investigação

7.2.3 A sazonalidade do destino Algarve

O Algarve, segundo dados estatísticos, é um destino turístico sazonal. Conforme definiram Lim e McAleer (2001, in Koenig & Bischoff, 2005; 203), nos meses nos quais o índice sazonal (Si) excede a 1, significa que o número de visitantes é maior do que a média anual. Desta forma, adoptando este método (Si) com o número de dormidas por mês de 2006, verifica-se que o índice ultrapassou o valor de 1 nos meses de Maio a Setembro, sendo de 2,06 em Agosto.

Segundo BarOn (1975; 49-51), destinos turísticos com um pico precisam estender este período através da introdução de uma segunda época de alta e se possível uma terceira época, conforme o clima, a cultura ou a religião. No Algarve, uma segunda época alta poderia ocorrer no mês de Novembro como resultado das competições do golfe. Neste destino, os gestores precisam desenvolver actividades que sejam independentes do clima.

A principal causa apontada pelos gestores da oferta turística, inquiridos neste trabalho, foi a causa natural, devido as condições climatéricas que favorecem o turismo de sol e praia nos meses mais quentes. O principal atractivo é a natureza, o que influencia na prática de actividades outdoor. Esta causa também foi considerada representativa no estudo desenvolvido por Correia et al. (2007; 124) para conhecer os principais factores de motivação de retorno dos praticantes de golfe. Neste caso, o clima é um factor pull (Lundtorp et al., 1999; 51) no retorno destes visitantes ao Algarve.

Os factores push e pull, no caso do Algarve, ocorrem simultaneamente, pois tanto as férias escolares que são factores do local de residência como o clima, que é um factor do destino, influenciam na tomada da decisão. Nadal et al. (2004; 699) sugere que os governantes podem gerir a sazonalidade propondo iniciativas do marketing estratégico, criando novos produtos, quando os principais factores responsáveis pela sazonalidade forem naturais e institucionais.

Os factores institucionais, como as férias prolongadas de um mês, segundo a OMT (1998; 155), têm a tendência mundial de se transformarem em férias curtas. Estas serão mais frequentes e acontecerão em diversas épocas do ano, desta forma, mais segmentos de mercado estarão disponíveis para viajar na época baixa e intermédia. No entanto, é preciso que o sector privado e público incentivem a prática das férias curtas. Esta atitude foi uma das sugestões apontadas por um dos gestores durante o estudo empírico.

No Algarve, segundo opinião dos inquiridos, o emprego é a principal consequência da sazonalidade do turismo. Para Baum e Lundtorp (1999; 1) este impacte representa a dificuldade em recrutar pessoas qualificadas na época alta e manter os funcionários durante todo o ano na empresa, impossibilitando a manutenção do padrão da qualidade dos produtos e serviços. Neste caso, uma solução apontada por Flognfeldt (2001; 113) é associar a actividade do turismo a outra actividade sazonal complementar, onde o período sazonal da alta não coincida com o mesmo período da época alta do turismo. A pesca no Algarve é uma das actividades económicas da população, mas o turismo é a actividade mais importante, representando cerca de 66% do PIB regional, conforme dados divulgados pela RTA. (RTA, 2007).

Perante as características da sazonalidade do turismo do Algarve, os gestores indicaram no inquérito desta investigação que a estratégia mais adoptada por eles para atenuar este fenómeno é o desenvolvimento de novos produtos. Os pesquisadores BarOn (1975), OMT (1998), Baum e Hagen (1999), Weaver e Oppermann (2000), entre outros, também consideram esta estratégia uma das soluções na gestão da sazonalidade. No entanto, segundo Flognfeldt (2001; 109), alguns destes novos produtos podem ser estratégicos durante pouco tempo, pois há resultado até que outro destino o copie. No caso do Algarve, o produto golfe foi um dos desenvolvidos para atenuar a sazonalidade do turismo, mas destinos como a Espanha também adoptam este produto. Desta forma, agregar valor ao produto golfe torna-se essencial para o sucesso deste, como a oferta do desporto em associação com a oferta de eventos culturais.

As estratégias podem ser desenvolvidas conforme os seis objectivos discutidos por Weaver e Oppermann (2000, 210) para administrar a sazonalidade nos destinos turísticos: (i) aumentar a procura, (ii) reduzir a procura, (iii) redistribuir a procura, (iv) aumentar a oferta, (v) reduzir a oferta e (vi) redistribuir a oferta. No Algarve, a opção (ii) e a opção (v) não são favoráveis à gestão da sazonalidade do turismo, conforme a taxa de ocupação/venda apontada pelos gestores inquiridos.

O objectivo (iii), segundo a análise com a oferta turística realizada neste trabalho, é conveniente através de incentivos do sector público para o funcionamento das empresas prestadoras de serviços de recreação e lazer, principalmente, na época intermédia e baixa (ver tabela 6.15). No entanto, para decidir qual dos objectivos o destino deve almejar, são necessárias informações adicionais sobre os impactes económicos, sociais e ambientais assim como conhecer a opinião e as necessidades dos restantes stakeholders do sistema do turismo deste destino.

A análise da procura turística pode ser realizada com base no número de chegadas de visitantes por mês e por mercado, indicando qual o segmento mais promissor para atenuar a sazonalidade. (Lundtorp et al., 1999; 49- 68). A evolução das variáveis económicas (PIB, taxa nominal, preço relativo) também indica o segmento de mercado promissor para cada época do ano. (Nadal et al., 2004; 697-711). Neste trabalho, apenas a motivação da procura por mês foi analisada, através da indicação de cada gestor. Os resultados (ver tabela 6.4) demonstram que para cada tipo de oferta há um tipo de segmento de mercado mais influente em cada

mês. Apenas nos meses da época alta há coerência na motivação tipo ‘sol e praia’ para toda a oferta turística do destino Algarve. Os serviços de alojamento e as agências de viagens estão mais coerentes no público captado durante o ano, enquanto que a restauração combina com os serviços de lazer para atrair, no mesmo mês, o mesmo segmento de mercado.

A estratégia de ‘desenvolvimento de pesquisas de mercado para identificar novos segmentos’ foi uma das apontadas pelos inquiridos para adopção na gestão da sazonalidade do destino Algarve. Através do desenvolvimento desta estratégia poderá ser possível a definição do segmento de mercado ideal para cada época do ano, e assim, os sete produtos característicos do turismo do Algarve poderão adaptar e/ou criar produtos e serviços com o objectivo de satisfazer cada um dos segmentos por época do ano.

A análise da gestão da sazonalidade pela oferta turística do Algarve possibilitou traçar o perfil sazonal de cada um dos sete produtos característicos do turismo desta região. Segundo informações da tabela 6.3, o alojamento foi o serviço menos sazonal de entre os seis analisados e os serviços de recreação e lazer foram os mais sazonais com 68% das vendas anuais sendo realizadas na época alta. Comparando com outros destinos, Soesilo e Mings (1989, in Jang, 2004; 821) verificaram que de entre as empresas norte-americanas as mais prejudicadas pela sazonalidade é o alojamento e a restauração. No Canadá (Wilton & Wirjanto, 1998; 1) as unidades de alojamento também são as mais sazonais seguidas pelos serviços de aluguer de veículos, serviços de recreação e entretenimento, enquanto que os transportes aéreos são os menos sazonais. Esta informação indica que as unidades de alojamento que fizeram parte da pesquisa empírica conseguem atenuar a sazonalidade do turismo, podendo representar o sucesso da estratégia adoptada actualmente por estas empresas através da oferta de produtos e serviços de desporto e de eventos.