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As tendências na gestão da sazonalidade

Capítulo 3 A sazonalidade nos destinos turísticos

3.6 As tendências na gestão da sazonalidade

Segundo as previsões da OMT (2001; 1), para o ano de 2020 haverá 1.6 biliões de chegadas internacionais pelo mundo. Este dado representa o crescimento do turismo global onde, com mais frequência, visitantes de vários países estarão disponíveis a conhecer o estrangeiro. No entanto, fica a dúvida se estas viagens continuarão a ser realizadas no período das férias de Verão ou se o comportamento da população, por país, alterar-se-á, como aconteceu no Japão e no Egipto, onde houve mudança do mês de pico, segundo estudos de BarOn (1975; 35).

A mudança do comportamento da população residente de um país pode ser influenciada por iniciativas do sector público, através de benefícios às empresas que proporcionam férias na época baixa, ou também pelo sector privado, através da oferta de produtos e serviços diferenciados, entre outras iniciativas. Estas mudanças já estão a ocorrer nos países como a Holanda, Alemanha, Bélgica, Áustria e Suíça, os quais foram citados na pesquisa dos autores Klemm e Rawel (2001; 141-151). Estes mercados são alvos das organizações determinadas a mater o fluxo de clientes estável durante todo o ano. Desta forma, conhecer as mudanças comportamentais da população dos países potenciais é uma ferramenta estratégica na gestão da sazonalidade.

Estas análises evidenciam a diferença comportamental de segmentos de mercado pelo país de origem. Conforme o modelo de Manente (figura 1.1), os gestores do destino precisam analisar as características do local, verificar quais os segmentos alvo são os ideais para cada época do ano e desenvolver planos e medidas para conquistar estes segmentos, pois as leis e os costumes de cada país podem representar uma oportunidade na atenuação dos efeitos negativos da sazonalidade. A mudança do comportamento de cada segmento é verificada através das pesquisas de mercado e das tendências.

A oferta turística, principalmente o sector de alojamento, é alvo frequente de pesquisas relacionadas com a sazonalidade. A localização, o tipo dos serviços e dos produtos e o tipo de procura são itens que podem influenciar na flutuação ou não do número de hóspedes durante os meses do ano. A pesquisa de BarOn (1975; 41) e de Jeffrey e Barden (1999; 119-140) são exemplos desta análise. O alojamento tipo holiday

villages ou resorts de férias e o alojamento localizado longe dos centros urbanos ou de difícil acesso são os

tipos mais sazonais quando comparados com os localizados nas grandes cidades, onde a presença de infra- estrutura para eventos facilita a atracção do turismo de negócios, o qual é menos sazonal do que o de lazer. A tendência no alojamento é ter serviços diversificados e adaptados conforme o segmento de mercado e ter acesso rápido e sinalizado.

Nas regiões periféricas ou mais afastadas dos centros urbanos onde o turismo é representativo na economia, o desenvolvimento do turismo doméstico é uma tendência na perspectiva de atenuar a sazonalidade. A motivação dos visitantes nacionais em viajar para locais vizinhos da sua residência pode ser diferente da motivação dos estrangeiros. Assim sendo, o motivo pelo qual os turistas residentes não visitam o destino nacional na época baixa pode não ser pelo clima e sim pelos factores institucionais, como a falta de

incentivos privados e públicos. O motivo da visita a amigos e familiares (VFR) na época baixa ou intermédia pode ser uma oportunidade a ser explorada pelos destinos nacionais para atenuar a sazonalidade assim como a análise dos factores push e pull que podem auxiliar na verificação destes motivos.

O clima pode não ser o factor sazonal principal, mas as mudanças climatéricas podem transformar significativamente a actividade do turismo. A tendência de que as temperaturas aumentem nas próximas décadas pode ajudar a atenuar a sazonalidade em certos destinos de ‘sol e praia’, como pode prejudicar o turismo em outros destinos. O estudo de Amelug et al. (2007; 285-296) aponta que os países banhados pelo Mediterrâneo poderão ficar muito quentes no Verão, transferindo a concentração de visitantes desta região para os países do norte europeu, mudando a época alta de vários países.

Nos destinos turísticos de ‘sol e praia’ localizados próximo da linha do equador, também há sazonalidade, mas as facilidades em atrair segmentos de mercado de origem distintas são maiores, como é o caso das ilhas das Caraíbas. A estratégia de diferenciação do mercado destes destinos envolve a atracção dos europeus nos meses de Julho a Setembro e dos sul-americanos nos meses de Dezembro a Março. Estes destinos são favorecidos pelo clima, mas dependem do desenvolvimento de planos e políticas capazes de gerir o turismo de forma sustentável.

A regionalização do turismo é uma tendência na gestão desta actividade. Regiões onde o turismo apresenta semelhanças, tanto na procura, na oferta como nas atracções, tendem a formar clusters. A análise da sazonalidade também pode ser através dos clusters, conforme pesquisa realizada por Bender et al. (2005; 303-309) onde a associação de informações estatísticas da Áustria e da Alemanha contribuíram para identificar os clusters desta região evidenciando que, apesar de possuir o mesmo tipo de atracção, determinados destinos não formam clusters. Este método, segundo os autores, é uma forma de monitorizar a sazonalidade nestes destinos e assim, desenvolver estratégias que possam gerir a sazonalidade do cluster.

No entanto, a sazonalidade para alguns pesquisadores não é um problema. Para Murphy (1985, in Koenig & Bischoff, 2005; 209) a sazonalidade não é tão prejudicial e em alguns destinos os residentes vêem o término da época alta como a ‘luz no fim do túnel’. Baum e Hagen (1999; 301) acreditam que o fim da época alta, em alguns destinos, é positivo tanto para os recursos turísticos como para a comunidade local, é o tempo de recuperação para a próxima época alta. Para Butler (2006; 210) a época baixa é o tempo em que a comunidade local pode seguir a vida de forma ‘normal’ e continuar com as actividades sociais e tradicionais. Desta maneira, Lundtorp et al. (1999; 63) descobriu que na Dinamarca alguns empregados afirmam preferir ter descanso de três ou dois meses na época baixa e trabalhar mais na época alta.

Estes comentários sugerem a observação da sazonalidade por outro ângulo. Nem sempre a gestão da sazonalidade será para distribuir as chegadas durante o ano. Esta atitude depende da opinião dos residentes, da oferta turística e do sector público, em querer ou não a actividade do turismo durante todo o ano. Segundo Baum e Hagen (1999; 311), os destinos turísticos não devem almejar a época alta durante os doze meses do

ano, o que os gestores dos destinos precisam fazer é planear as actividades com qualidade utilizando-se dos recursos existentes.

3.7 Conclusão

A sazonalidade é um fenómeno presente na actividade do turismo. Os destinos turísticos periféricos são geralmente os mais prejudicados, juntamente com a oferta turística, o emprego e a economia do destino. A gestão da sazonalidade é um factor importante para que as organizações consigam manter a rentabilidade durante todo o ano, assim como uma melhor utilização dos recursos. As causas e os efeitos da sazonalidade dependem dos estudos sobre os processos económicos, sociais e do comportamento humano. Para tanto, a gestão da sazonalidade depende da acção conjunta de cooperação dos stakeholders.

O índice que considera um destino mais sazonal do que outro é calculado pelos métodos de mensuração da sazonalidade, que dependem da existência de dados estatísticos mensais e anuais. Esta medição é realizada através do uso de um ou mais métodos apresentados neste capítulo. No entanto, considerar um destino com forte sazonalidade irá depender da análise das causas e dos impactes proporcionados por este fenómeno, pois a quantificação pode não expressar o cenário actual incluindo os desejos e as necessidades dos residentes, do sector público e privado.

A caracterização do destino, através do levantamento do tipo da oferta turística existente, do tipo da procura (necessidades, comportamentos, desejos, motivações) e da opinião dos residentes sobre a actividade do turismo, deve ser analisada antes do desenvolvimento de acções à gestão da sazonalidade. A identificação destes pormenores, juntamente com o levantamento das análises dos factores internos e externos (análise SWOT), podem facilitar para que as estratégias traçadas sejam eficazes.

Neste capítulo foram apresentados diversas estratégias comentadas pelos pesquisadores para a gestão da sazonalidade. As seis direcções apontadas por Weaver e Oppermann podem representar o primeiro passo a ser dado na elaboração da estratégia, ou seja, identificar onde o destino deseja chegar (aumento, diminuição e/ou redistribuição da oferta e/ou da procura) a fim de definir as estratégias para o alcance deste objectivo. O sucesso da estratégia irá depender da eficácia do levantamento da caracterização do destino, da escolha do método de mensuração e também da qualidade dos dados estatísticos existentes.

A associação dos objectivos traçados pelo destino com os objectivos da oferta turística na atenuação dos efeitos negativos da sazonalidade poderão influenciar na eficácia das estratégias adoptadas por ambos. Neste capítulo, em síntese, as estratégias adoptadas pela oferta e comentadas pelos investigadores, foram: diversificação do produto com atracção de novos segmentos de mercado, atracção do turismo doméstico, flexibilização dos preços, atribuição de valores para os serviços e produtos, empregar estudantes e ter produtos ou serviços que possam ser exportados na época baixa.

Os exemplos citados sobre a gestão da sazonalidade, conforme os estudos de caso apresentados, demonstram as análises que são necessárias para a elaboração da estratégia para gestão da sazonalidade. Pode-se verificar pesquisas realizadas sobre as motivações da procura, tempo de férias e gastos; sobre a oferta turística; sobre o impacte do evento desportivo; e sobre o efeito das variáveis económicas na gestão da sazonalidade. A conclusão da análise destes estudos de caso demonstra que em certos destinos a sazonalidade pode ser atenuada através do prolongamento da época intermédia, através da diversificação dos produtos, através da localização da oferta junto a centros urbanos, através do desenvolvimento de eventos desportivos, através das acções do marketing para atrair segmentos de mercado potenciais e através de incentivos por parte do sector público e privado. O estudo de caso de Andriotis com a oferta turística de Creta (Grécia) é o exemplo mais próximo dos objectivos desta tese de mestrado. Os resultados encontrados por Andriotis representam a realidade de muitos destinos turísticos, onde a oferta turística não desenvolve acções eficazes à gestão da sazonalidade.

As tendências apresentadas na última secção demonstraram que a gestão da sazonalidade é um tema actual e que estará presente enquanto o turismo existir. As mudanças do clima e do comportamento da procura poderá atenuar a sazonalidade do turismo em certos destinos e aumentar em outros. A gestão deste fenómeno é directamente relacionada com a existência das pesquisas com os stakeholders, assim como com a veracidade e actualidade dos dados estatísticos. A implementação e a monitorização das medidas estratégicas são também responsáveis pelo sucesso da gestão da sazonalidade assim como a consciencialização de que o cliente é o agente mais importante de todo este processo, pois só haverá atenuação da sazonalidade se todos compreenderem sobre a máxima ‘satisfação do cliente’.