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DINÂMICA INTERNA DE PODER: ESTRATEGIAS, NEGOCIAÇÃO E CONFLITO 1 Introdução

3. Elementos permanentes do controle da coalizão dominante no período 1990-

3.1 A Secretaria Geral: a queda de um “pódio”

Tradicionalmente, o pódio foi reconhecido na arquitetura ocidental como um lugar de privilégio. O pódio eleva aquilo que se apresenta como importante, como exclusivo e de grande magnitude. Segundo a Tabela 3 do capitulo II, até meados dos anos 80, os secretários do PLN mantiverem sempre um status de tamanha importância dentro do partido que seus nomes significavam a candidatura e - eventualmente - presidência da República. Além da função executiva que cumpre o Secretário, o fato é que, desde o órgão de direção política se “selecionava” o secretario geral da organização, expondo ele no pódio como uma amostra de legitimidade da cúpula para ocupar a presidência.

No entanto, com a decadência e morte dos líderes fundadores, esse padrão de apresentar o Secretário Geral como uma escolha legítima da cúpula terminou. Na verdade - seguindo com as metáforas - o cargo de Secretário Geral virou mais uma “vitrine” na qual, os secretários aspiram pela candidatura presidencial, sem que a seleção ou execução desse cargo significasse realmente uma garantia de apoio dentro do partido. Inclusive, esta característica do Secretário Geral pode ser ampliada ao cargo do presidente da organização.

Como foi explicado anteriormente, no período anterior a 1990 - época em que a troika tomava as decisões, estes cargos representavam o equilíbrio de forças na coalizão dominante, além de potencializar os futuros pré-candidatos do partido. Nesse sentido, no período anterior a 1990, formar carreira dentro do partido era uma boa referência para tornar-se relevante na estrutura interna. Em outras palavras, formando parte do CEN, se podia coletar capital político fortalecendo a posição de poder na organização partidária. Depois de 1990, este estudo demonstra que os cargos no CEN deixam de representar necessariamente um cargo de poder ou liderança dentro do partido. Na verdade, se confirma que o CEN é concebido apenas como um órgão formal e só representa a cara pública do partido, podendo ser sim uma extensão do poder da coalizão dominante no período 2003-201044.

      

44 No período 2003-2010, o PLN teve como presidente o senhor Francisco Antonio Pacheco (deputado no período 2006-

2010). Sobre os secretários, segundo as atas do partido, o PLN teve 5 secretários diferentes; duas das vezes as secretárias foram exercidas só por seis meses. Nesse sentido, o secretário que teve maior tempo nas suas funções no período citado foi o senhor Oscar Núñez, quem esteve desde o segundo semestre de 2003, até o inicio de 2006; repetindo o cargo no primeiro semestre de 2007. Além de Núñez, Antonio Calderón foi secretário desde 2008 e ainda permanece nesse cargo. No caso de Núñez, ele foi deputado arista no período 2006-2010, e Antonio Calderón entrou na Assembleia Legislativa no período 2010-2014 (no caso de Calderón, ele entrou só em 2011 pela renuncia de um deputado do PLN).

Outro fato que este trabalho destaca é que depois do período 1990-2002, os líderes não foram cuidadosos com a formação do CEN; apenas um dos entrevistados afirmou ter apoio do líder e presidente da República para chegar nessa posição (Mais detalhe no Anexo nº2). Pelo contrário, os demais entrevistados afirmaram que conseguiram chegar aos cargos no CEN, justamente pelo trabalho individual que tiveram com as bases do partido.

Isto não significa que o CEN tenha se tornado um órgão sem importância; muito pelo contrário, sendo um órgão executivo, diretamente eleito pelo Diretório Político, deve se compreender o novo papel que adquire o organismo. Inclusive, pode-se afirmar que no período arista, tal órgão reafirma a extensão da liderança de uma coalizão dominante coesa. Na década de 90, parecia mais um remanescente da organização, sendo que cada vez mais pesava menos na construção de grupos de poder - sinal de uma coalizão dominante instável e dividida.

Em síntese, a perda de relevância interna da Secretaria Geral na organização, deve ser entendida como uma consecução de eventos que mudou o papel que desenvolveu o CEN no período de estudo: num primeiro cenário, antes de 1990, representava um pódio em que se apresentavam os líderes que a cúpula legitimava para aspirar pelo cargo de presidente da República. Em um segundo cenário, depois da morte dos líderes fundadores, o CEN tenta equilibrar suas funções executivas, com o desgaste e deslegitimação progressiva do secretário geral como pretendente à Presidência da República. Por último, já no período arista, o CEN desenvolve seu papel de extensão da liderança, o secretario geral perde o pódio, e assume uma tarefa transcendental para as autoridades do partido: segundo a integração do CEN no período arista, faz um vínculo direto que procura o controle na fração legislativa.

Uma última reflexão sobre este tema do CEN e da Secretaria Geral, aponta que a mudança no papel real e não formal45 do CEN, evidencia o que Coppedge (2001) chamou de darwinismo partidário. Coppedge entende que os partidos políticos são organizações que tendem a mudar com o tempo. Estas mudanças geralmente são adaptações ao ambiente que implicam transformações para seguir competindo. Nesse sentido, o sistema político impõe desafios que o partido deve confrontar em busca de seu próprio sucesso. Essas mudanças podem ser diversas e devem considerar a história recente, os princípios da fundação do partido e a configuração do sistema político, entre outros. A resposta da       

45 O estudo dos estatutos do PLN indicam que o artigo 79, referente à integração e funções do CEN, mudou seis vezes desde

1994. No entanto, essas modificações respondem ao modelo de regionalização que se pretendeu aplicar desde 1997, mas que foi descartado em 2005. Essas modificações respondiam mais a questões metodológicas sobre a regionalização, e não sobre a conformação ou funções que desempenharia o CEN. Em síntese, formalmente não mudou radicalmente o CEN; a modificação mais importante foi a incorporação de suplentes em caso de ausência dos proprietários.

sociedade esta influenciada multifatorialmente, o que significa que os políticos devem traduzir estas respostas em melhora de seus instrumentos e estratégias.

Desta forma, uma característica de “oscilação” que experimentava o PLN na primeira parte do período de estudo (1990-2002), sugere uma potenciação da independência dos seus parlamentares com a estrutura partidária. Uma breve recapitulação de eventos internos desenvolvidos neste capitulo indicam que:

a) existiram modificações no período 1999-2001 que procuravam mudar o sistema de seleção de candidatos para o Congresso, gerando maior independência dos candidatos frente ao partido;

b) também neste período se modificaram os requisitos dos candidatos para deputado, aumentando os anos consecutivos de filiação, e, portanto, fechando as oportunidades para novos candidatos;

c) com a segunda derrota consecutiva, as opções de incidência política do partido como oposição se concentravam no Congresso;

d) a independência relativa dos deputados com o partido poderia provocar problemas de disciplina partidária;

e) as lideranças particulares no congresso enfraqueceriam a estrutura partidária.

O arismo acabou com esta situação em 2005, reformando os requisitos e voltando para o tradicional sistema de seleção pela Assembleia Nacional. Órgão que, como se apontou neste capitulo, foi fortalecido com a maior influência do candidato. A última peça para que a estrutura partidária controlasse a fração parlamentar foi por meio do CEN; nomeando pessoas de confiança do candidato/presidente na Assembleia Legislativa e ao mesmo tempo ostentando o cargo no CEN. O fato do CEN tenha adotado a função de controlar a fração parlamentar no período arista, confirma uma característica dos partidos institucionalizados: o predomínio dos dirigentes internos sobre os parlamentares; e para a coalizão dominante, a conquista da areia legislativa por meio da liderança exercida desde o Comitê Executivo Nacional (CEN).

3.2 A ampliação do Congresso Nacional: um elemento do debate da abertura socialdemocrata no