• Nenhum resultado encontrado

ESTRUTURA DE PODER: FRAGMENTAÇAO E EQUILIBRIO 1 Introdução

3. Os líderes no PLN: o novo eixo de poder 1990-

3.1 A luta de facções

A identificação de um novo eixo de poder não descarta outros personagens que participaram da disputa e lutaram para alcançar posições de poder num período problemático em que a coalizão dominante se mostrava dividida e instável. Após as prévias de 1993, os grupos liderados pelos pré- candidatos conquistaram importantes parcelas de poder para confrontar a luta de facções. No entanto, o desgaste na luta pela hierarquia do partido, gerou descontrole do ambiente por parte da coalizão dominante, o que significou um enfraquecimento da estrutura de poder.

Com Castillo fora da competição, e o afastamento de Arias Sánchez e Luis Alberto Monge no governo de Figueres (1994-1998), novamente a divisão e instabilidade na cúpula oferecia um panorama propicio para novos atores. Um dado interessante deste período é que o ex-presidente Arias não promoveu outro candidato para liderar os seus interesses dentro do partido. Desde a década de 70 a reeleição presidencial estava proibida e isso significava que se um ex-presidente queria seguir com influência na vida interna, devia nomear ou selecionar algum outro ator para permanecer vigente na luta de facções. Arias Sánchez tentou dar continuidade à sua influência com a pré-candidatura de Margarita Penón em 1993, no entanto, foi a única tentativa de estender sua rede de poder.

Em 1994-1995 Aguilar Bonilla deixa a presidência do partido depois de um breve período e Rolando Araya Monge ganha a presidência. Araya Monge integra o Comitê Executivo Nacional (CEN) sem o apoio do presidente da República José María Figueres. Segundo Araya Monge, sua eleição foi basicamente pela trajetória interna, devido ao fato de que Figueres, e vários de seus seguidores, não se sentiam satisfeitos com sua presença no CEN. Segundo seus adversários, Araya podia usar a presidência do partido como plataforma política para sua candidatura em 1997. Isto significou uma presidência condicionada para Araya Monge: ele devia desistir de usar seu cargo como presidente do partido como instrumento para uma eventual pré-candidatura em 1997. Esta situação demonstra como Araya Monge já era considerado líder do arayismo (com um forte apoio do ex-presidente Luis Alberto Monge) com possibilidades reais de assumir o controle do partido. Araya Monge não se candidataria nas prévias de 1997, mas sim nas prévias de 2001. Esta disposição de negociar, dadas as problemáticas condições do período, indicam que mesmo na precariedade dos acordos numa coalizão dominante dividida e instável, era possível ainda manter certa estabilidade38.

      

38 Embora José María Figueres não apoiasse a candidatura de Araya Monge na presidência do partido, um ano depois, em

Quem se candidataria nas prévias de 1997, e resultaria ganhador dessa Convenção Nacional seria José Miguel Corrales. Corrales, ex-deputado e claramente defensor da socialdemocracia mais tradicional, ganhou relevância dentro do partido com um discurso ético que desafiava as linhas tradicionais de disciplina partidária (OCONITRILLO, 2005). Sua participação nas prévias de 1993 significou um espaço para dar-se a conhecer nacionalmente, e ao mesmo tempo colocar esse discurso de questionamento dos políticos tradicionais como indicação da sua integridade. Rapidamente, adquiriu importância ao publicamente anunciar que não apoiaria a candidatura de Figueres em 1994, e que inclusive sairia do partido (OBREGÓN, 2000).

O caráter crítico ao estilo de governar de Figueres permitiu que Corrales se fortalecesse principalmente no nível nacional, sendo o governo de Figueres catalogado como polemico e controvertido (SÁNCHEZ, 2007b). No entanto, internamente ao PLN ainda existia certa confrontação com Corrales: o eixo de poder (Luis Alberto Monge, Oscar Arias e José Figueres) nunca manifestou publicamente o apoio para Corrales, e o estilo fiscalizador gerava dúvidas da fidelidade partidária de Corrales. Existia o temor que Corrales pudesse desestabilizar a sobrevivência do partido com questionamentos sobre a ética e a ideologia. No entanto, Corrales ganharia as prévias contra o ex secretário geral do PLN (1988-1996) Walter Coto Molina, quem sairia do partido em 1998, depois de ser comprovada a fraude na Convenção Nacional de 1997 39. Corrales perderia a eleição nacional de 1998, e pouco tempo depois ainda se perfilava como pré-candidato para as prévias de 2001.

3.1.1 A neutralização de forças e a reaparição do arismo

Araya e Corrales seriam protagonistas na década de 90, coincidindo pré-candidaturas em 1993 e em 2001. A derrota de Corrales em 1998 não impediu que novamente procurasse uma pré-candidatura, mas deveria confrontar a pré-candidatura de Araya, “protegido” de Luis Alberto Monge. As prévias de 2001 contariam também com a presença do jovem Alvarez Desanti, quem participaria pela primeira vez como pré-candidato no PLN, obtendo pouco sucesso eleitoral.

A consolidação de Corrales no topo da coalizão dominante parecia forte, mas com o decorrer do tempo sua presença se desgastou. Rolando Araya, com uma ampla experiência partidária, acrescentava       

órgão interno que mudava rapidamente seu papel preponderante na década de 70 e 80 (Ver Capítulo IV sobre as mudanças o papel do CEN na estrutura partidária do PLN).

39 Sobre o fraude na Convenção do PLN em 1997: “Fraude con 8.344 votos” em:

capital político para lutar pela candidatura nas prévias de 2001. A coalizão dominante seguia ainda dividida e instável; os ex-presidentes estavam afastados e sua influência não era direta; também nesse período, mudanças no estatuto procuravam transformações internas que dividiam ainda mais o equilíbrio de poder, provocando uma dispersão do poder, principalmente com os candidatos a deputado (no Capítulo IV será analisado amplamente estas modificações). Com esse panorama, Arias, que havia mantido um perfil fraco após a eleição de 1994, mais uma vez aproveita para influenciar a estrutura, e se promover nacionalmente como uma opção para a presidência da República.

Apesar da confrontação entre as facções, surgiu no ano 2000 um acontecimento fundamental para a análise da década posterior: o arismo apresentaria um recurso na Sala Constitucional para declarar inconstitucional a reeleição presidencial. A possibilidade de Arias Sánchez participar novamente como candidato era a chave fundamental para reativar o arismo dentro do partido. A Sala Constitucional não aprovou o recurso, e a reeleição seguiria proibida até 2003. O controle de Araya e Corrales no interno fortalecia suas facções, e fechava a possibilidade de Arias assegurar parcelas de poder para a eleição nas prévias de 2001. O eventual fortalecimento destas duas facções, porém, gerou o que neste trabalho se denomina a “neutralização de forças”.

Nesse sentido, a confrontação de ambos os grupos causou uma virtual neutralização que não deixou que nenhum deles controlasse a estrutura de poder amplamente. Assim, nenhuma das duas facções concretiza o controle do partido, nem conquista o apoio vigoroso dos ex-presidentes (apenas Rolando Araya consegue o apoio de seu tio Luis Alberto Monge). Araya Monge sairia com a vitória nas prévias de 2001, mas, o partido estava dividido e na frente dele, os líderes provocaram tanto dano a si mesmos, que não inspiravam mais a confiança que o PLN teve em épocas anteriores. A neutralização de forcas, somado com o vazio de poder foi reforçado com a segunda derrota consecutiva do PLN em 2002. A derrota provocou a crise interna e abriu o espaço para que novos atores liderassem o partido.

Este panorama permitiu que Arias pudesse fortalecer sua liderança e tomasse o controle da coalizão dominante, provocando uma mudança organizativa e gerando uma sensação de estabilidade interna e externa. Esse controle é conseguido à custa da auto eliminação de Corrales e Araya, o afastamento tácito e tradicional de Luis Alberto Monge e a ausência de José María Figueres por causa do seu trabalho fora do país, e posteriormente por assuntos judiciais – em 2004 Figueres foi acusado de receber dinheiro, provindos de assessorias em telecomunicações que, segundo a acusação, tinham interesse com o Estado costarriquenho (La Nación, 2004). A intervenção de Arias Sánchez projetava

um novo rearranjo de forças e cargos, mas, para sua vinculação formal, precisava de um elemento institucional que mudaria totalmente o panorama político: a reeleição presidencial.