• Nenhum resultado encontrado

ESTRUTURA DE PODER: FRAGMENTAÇAO E EQUILIBRIO 1 Introdução

4. Ambiente: hostilidade ou complexidade?

Anteriormente se indicou que o clima geral no PLN, depois de perder a eleição presidencial de 2002, foi de crise. O partido perdia duas eleições presidenciais consecutivas pela primeira vez na história. Os quadros dirigentes estavam órfãos, devido ao fracasso da cúpula em sua tentativa eleitoral. A coalizão dominante estava cada vez mais dividida e instável. As mudanças internas não conseguiram produzir resultados que ajudassem o partido; muito pelo contrário, a fração parlamentar agiria com independência de um centro de dirigentes praticamente inexistente. O Diretório Político e o CEN mudaram totalmente, e este novo grupo de transição precisava de uma estratégia ante o futuro imediato, devido a que nove meses depois da eleição de fevereiro de 2002, o PLN devia confrontar as eleições municipais (prefeitos a eleger pelo voto direto), o que representava um desafio organizativo e político. Uma pesquisa interna ao PLN indicava que o 90% dos liberacionistas afirmavam que existia uma crise; aceitavam a responsabilidade do que aconteceu no partido e compreendiam que foi a individualização dos membros em procura de parcelas de poder que provocou um colapso que ameaçava a sobrevivência do partido (SOLÍS, 2003).

Segundo Panebianco, o grau de adaptação do partido aos ambientes depende de dois fatores: primeiro, das características ambientais, e segundo, do nível de institucionalização partidária. Insiste-se em que certos ambientes impõem à organização a adaptação, porém, outros lhe permitem amplas possibilidades de manipulação. O sucesso da organização depende de como consiga manejar essas situações ambientais ao longo do seu processo de institucionalização. O autor destaca que “as relações organização-ambiente devem ser consideradas como relações de interdependência, nas quais o partido e os “ambientes” em que atua se influenciam reciprocamente, mesmo que de formas diferentes, conforme o tipo de partido e o tipo de ambiente” (PANEBIANCO, 2005, pg. 397). Nesse sentido, Panebianco estabelece que o ambiente (externo) terá um reflexo no ambiente intrapartidário, e, portanto o estudo deve focar nas diversas razões da previsibilidade ou imprevisibilidade. Sobre isto, o autor

apresenta três dimensões do ambiente ligadas ao grau de incerteza (dimensão mais sistematicamente explorada pela teoria organizativa): a complexidade, a instabilidade e a hostilidade ambiental. Os dois primeiros envolvem um alto grau de conflitualidade e imprevisibilidade dentro da organização. O último, a hostilidade ambiental, representa uma ameaça real à sobrevivência da organização.

Segundo esta pesquisa, nesse problemático período do PLN, ocorreu uma complexidade ambiental, e não uma hostilidade ambiental. Segundo a investigação, de fato existiu uma ameaça à estabilidade organizativa, questionando as linhas de autoridade da organização, representando um risco para a conformação da coalizão dominante. Em outras palavras, existia risco real que a cúpula do PLN fosse removida (como eventualmente aconteceu).

A nosso entender, a “turbulência” aumentou os fluxos para a difusão do poder dentro do partido; por conseguinte, se tornou muito alto o número de agentes que reivindicavam para si a capacidade de enfrentar a incerteza ambiental (lembrando da neutralização de poder entre Araya e Corrales). Com um ambiente turbulento, a coalizão dominante do partido fortaleceu sua divisão e instabilidade, observando-se o que diz PANEBIANCO (2005) em termos teóricos.

Para entender melhor como se comportou a organização em relação ao ambiente, se pode mencionar que o partido tentou uma adaptação no ambiente, no entanto, as variações na fisionomia do partido (mudanças do estatuto que transformaram órgãos internos e processos de seleção de candidatos, requisitos, etc.) revelam mudanças na conformação da coalizão dominante. Depois da morte dos líderes fundadores, conforme apontado no Capítulo II, as modificações no estatuto iniciaram em 1997, data em que Corrales ganha as prévias e por conseguinte o início da divisão e instabilidade da coalizão dominante, que existia desde 1994, mas que não foi aprofundada pelo fato de o PLN estar no governo entre 1994-1998. Também, outra prova da mudança na coalizão dominante – que de fato se adaptou ao ambiente, sem conseguir dominar as zonas de incerteza - é a confusão ideológica que inicia desde muito antes do período de estudo, o qual impactou na identidade partidária (como detalharemos no Capítulo IV).

A complexidade e as derrotas na arena eleitoral produziram divisões no interior do partido. Assim, com uma fraca presença do eixo de poder depois da morte dos líderes fundadores (lembrar que o eixo de poder depois da morte dos líderes fundadores foi Monge, Arias e Figueres), a conformação da coalizão dominante teve fortes deslocamentos e a imprevisibilidade dos grupos de controlar a incerteza ambiental, aumentando as tensões internas, o que redundou no fortalecimento das divisões internas.

No entanto, essa complexidade ambiental intrapartidária não chegou ao ponto de se converter em hostilidade. O grupo que integrou o CEN confrontou a crise e inclusive organizou e obteve resultados importantes nas eleições municipais de dezembro de 2002. Nove meses após as eleições nacionais foram realizadas, pela primeira vez, eleições municipais para eleger - eleição popular com registro nacional, segundo cada cantón - o prefeito dos 81 cantones. Apesar do revés que viveu o PLN em fevereiro de 2002, o partido conseguiu ganhar 27 municípios. Isso representou 33,3% do total de municípios, sendo que das sete capitais provinciais, o PLN ganhou três, incluindo a capital San José (ALFARO, 2002). Também, embora o partido tivesse uma queda importante no Parlamento no período 1998-2002 e 2002-2006, na verdade, sempre se conseguiu assegurar como a segunda força política na Assembleia Legislativa (Ver Anexo nº1).

Esta pesquisa aponta que a sobrevivência do partido não estava em perigo, porém, o questionamento às linhas de autoridade evidenciaram um ambiente de instabilidade e complexidade ambiental que exigia a mudança da coalizão dominante. Essa mudança se apresentaria em 2003, com a dominação da organização partidária por parte do arismo.

5. Conclusões

Se os representantes eleitos sentem que seu sucesso se deve mais a sua capacidade eleitoral própria (personalismo, carisma) que ao apoio do partido, maior será o seu nível de independência da organização partidária (PANEBIANCO, 2005). Isso, acrescentado com as possíveis divisões dentro do partido, pode gerar problemas de estabilidade. No entanto, em geral, os políticos tem demonstrado uma maior lealdade aos centros de poder que podem determinar sua eleição futura e, mesmo sua permanência daquele partido. Portanto, a coesão partidária está intimamente ligada à questão de quem seleciona os candidatos. No desenho institucional do PLN, se apresenta o personalismo como variável fundamental no período 1990-2010.

Compreender a dinâmica de poder interna no PLN implica conhecer os padrões culturais do sistema político costarriquenho. Existem traços importantes na configuração das lideranças partidárias que correspondem com o estilo de desenvolvimento, e com a projeção de um modelo que privilegia as individualidades. Na história da Costa Rica é impossível não fazer a relação de grandes ações que são identificadas com líderes, com indivíduos. Por isso que persistem grupos internos que são reconhecidos mediante o sobrenome; arismo, figuerismo, mongismo, e assim por diante.

O caso do arismo confrontava desafios que se concentraram em se Oscar Arias seria capaz de concretizar um bom governo ou não. O processo eleitoral de 2006 apresentou um cenário político com os seguintes antecedentes: primeiro, o descrédito que sentia a sociedade pelos políticos e os partidos políticos, agravado pelas denúncias sobre corrupção dos três ex-presidentes da República e outros destacados políticos desde o segundo semestre de 2004; segundo, um pessimismo geral sobre a situação econômica do país que gerava na percepção das pessoas uma sensação de “imobilidade”; terceiro, uma sociedade dividida sobre a aprovação do Tratado de Livre Comercio (CAFTA em inglês; TLC em espanhol) com os Estados Unidos - projeto que se tratou como fundamental para saber sobre o futuro do modelo de desenvolvimento costarriquenho, e por último, se assinala uma maioria da sociedade indiferente, que não queria expressar claramente suas preferências políticas ou intenções de voto nas pesquisas de opinião (ROJAS, 2009).

Com a consolidação do arismo, os outros grupos que participaram na luta de facções foram se desgastando, e como já comentado, os líderes foram cooptados ou expulsos, e a redes sociais absorvidas por outros grupos. A distribuição dos recursos seletivos nas redes verticais significava um recurso de poder muito forte para apresentar nas negociações com os outros grupos.

Como reflexão final, o instrumento da reeleição abriu a possibilidade para que o arismo pudesse transformar o partido. Nesse sentido, a possibilidade de reeleição deve ter uma visão mais ampla: a reeleição presidencial permitiu que ex-presidentes do PUSC inclusive pudessem optar por uma candidatura. Nesse sentido, ainda não estão claras as repercussões para o sistema partidário, o qual poderia voltar novamente a exibir um comportamento de sistema bipartidário imperfeito.

Também, em termos de organização partidária, especificamente no PLN, a reeleição presidencial oferece a oportunidade de observar um cenário interessante nas prévias de 2018: segundo a regulação atual, seria possível ver uma confrontação eleitoral entre José María Figueres e Oscar Arias Sánchez. O novo eixo de poder –assim identificado nesta pesquisa- poderia se confrontar nas eleições internas de 2017, contando também com a possibilidade de ter um representante do “johnismo-

arayismo-mongismo”. Observar como se comporta esse processo vai depender dos arranjos na coalizão

dominante. Por enquanto, o arismo conheceu sua primeira derrota em frente da única candidatura de Johnny Araya na eleição de 2014 (Ver Tabela 8).

Capitulo IV

DINÂMICA INTERNA DE PODER: ESTRATEGIAS, NEGOCIAÇÃO E CONFLITO