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Fortalecimento da influência do candidato na Assembleia Nacional e Assembleia Plenária

DINÂMICA INTERNA DE PODER: ESTRATEGIAS, NEGOCIAÇÃO E CONFLITO 1 Introdução

2. Como o arismo dominou a estrutura de poder? Instrumentos da coalizão dominante: características e análise

2.1 Fortalecimento da influência do candidato na Assembleia Nacional e Assembleia Plenária

2.1.1 A centralização do poder na Assembleia Nacional

O Código Eleitoral (CE) no artigo 60 determina que todos os partidos políticos devem ter, obrigatoriamente, uma estrutura mínima interna inspirada num sistema de representação que preserve a relação entre a base e a liderança do partido. O sistema foi denominado como Sistema de Assembleias e produz, de forma piramidal, reuniões que vão desde o nível distrital, cantonal e provincial para finalmente completar uma Assembleia Nacional (legalmente estabelecida como o órgão máximo da hierarquia no partido político). Este sistema fortemente territorial (por ser baseado estritamente em critérios de divisão político-administrativo) é obrigatório, mas não exclusivo. Isso quer dizer que o partido político pode aumentar a conformação da Assembleia Nacional, sempre que cumpra com o sistema que indica o artigo 60 do CE. De tal modo, o aumento da estrutura básica do Sistema de

Assembleias se usa como estratégia para mudar o panorama eleitoral na Assembleia Nacional (AN).

Segundo o estatuto do PLN em 1994, a integração da AN apresentava uma estrutura exatamente igual do que o Código estabelecia. No entanto, desde 1997, o PLN aumenta a estrutura da Assembleia Nacional; incorporou ao Diretório Político, sete delegados dos movimentos e seus respectivos presidentes, e cinco deputados da fração parlamentar. Esta conformação não teve mudanças até 2005, quando se incluiu o CEN e as delegadas supranumerárias. O fato de ter aumentado a estrutura básica da AN indica que a coalizão dominante procura controlar este órgão agregando membros de órgãos internos do partido, tentando provocar um equilíbrio e eventualmente a dominação da Assembleia Nacional. Nesse sentido, o arismo muda o estatuto em 2005 e incorpora dois agentes de exclusivo controle do candidato. No caso da incorporação do CEN, anteriormente se indicou que o presidente e o secretario geral do partido foram deputados no período 2006-2010, quando Arias Sánchez foi presidente. Inclusive Francisco Antonio Pacheco (FAP) foi presidente do PLN no período 2003-2010, foi deputado nacional no primeiro lugar (escolha exclusiva do candidato presidencial) e chefe de fração durante os 4 anos que esteve no Congresso.

Sobre as delegadas supranumerárias, esta incorporação responde ao compromisso de cumprir sempre com o mínimo de 40% de participação das mulheres. Basicamente, esta estratégia pode ser definida como a possibilidade que tem o candidato presidencial de aumentar em até cinco (5) delegadas –denominadas supranumerárias- para completar a cota de 40% de participação das mulheres na Assembleia Nacional. Caso a conformação não complete o 40%, o candidato deve nomear diretamente

estas delegadas. Isto aumenta a quantidade de votos a favor dos interesses do candidato na Assembleia Nacional. Estas duas incorporações em 2005 comprovam a intenção do arismo em controlar - diretamente na figura do candidato- o órgão de máxima hierarquia no partido: a Assembleia Nacional.

A necessidade de controlar a Assembleia Nacional se refere indubitavelmente às funções desse órgão; neste caso particular, esse é um tema transcendental no PLN: a nomeação, ratificação ou substituição das candidaturas para órgãos internos e para cargos populares/eletivos. A modificação em 2005 indica:

[…] e) Podrá la Asamblea Nacional nombrar, ratificar, o sustituir, según sea el caso, las candidaturas a cargos de elección interna, o las candidaturas a puestos de elección popular realizadas por los órganos consultivos cantonales, provinciales, o por el órgano consultivo nacional o asamblea plenaria, cuando habiéndose convocado al menos en dos oportunidades las asambleas de dichos órganos para realizar las designaciones pertinentes, éstas, por inopia, error u otra circunstancia, no hayan nombrado, no hayan ratificado, o hayan incurrido en errores conforme a la legislación vigente al efectuar los nombramientos correspondientes. Igual disposición se aplicará en el caso de que los cargos o candidaturas queden vacantes por muerte, incapacidad u otra razón;” (Resoluçao 254-05; artigo 73, Estatuto do PLN).

Esta modificação autoriza à Assembleia a ratificar as candidaturas, mas deve ser entendida no contexto do período 1999-2001, quando se implementaram mudanças na seleção dos cargos de eleição popular no nível parlamentar e municipal, procurando maior participação e proporcionalidade nas eleições. Antes desse período, as candidaturas para os cargos de eleição popular eram ratificadas na Assembleia Nacional, ou seja, legitimadas por um órgão interno de representação partidária. No entanto, a modificação no período 1999-2001 abriu totalmente a eleição dos candidatos. Basicamente, as medidas consideravam a ampliação dos direitos de participação dos votantes nos processos internos, enquanto aumentava as exigências para a participação dos candidatos nos diferentes cargos.

A ampliação da participação foi entendida como um direito que todas as pessoas deveriam ter no registro nacional, o de votar nos processos eleitorais para escolher os candidatos do PLN. No caso do aumento dos requisitos para ser candidato, a ampliação da participação procurava fazer com que os candidatos contassem com maior militância e formação comprovada no partido. No entanto, essa exigência era direcionada apenas para o candidato, não para o eleitor. Isto gerou limitadas oportunidades para a candidatura, e grandes oportunidades para o voto, indistintamente da simpatia política do votante.

Especificamente sobre os requisitos, se solicitava que os candidatos cumprissem o seguinte: para ser candidato presidencial ou vice-presidente era necessário acumular um total de 12 anos de militância; essa mesma quantidade de anos era solicitada para que se pudesse fazer parte do Comitê Executivo Nacional (CEN); 9 anos para deputado e os demais órgãos internos do PLN; finalmente 7 anos para prefeito ou vereador (Resolução 045-99, artigo 14, Estatuto PLN). A mudança é impactante nas possibilidades dos liberacionistas, principalmente porque a medida original exigia dois anos de adesão contínua. Embora a condição de 2 anos favoreça a possibilidade de maior concorrência nos cargos eletivos, também se acrescenta o risco de beneficiar outsiders em detrimento de membros com mais anos dentro do partido. Porém, a medida tomada no período 1999-2001 apontava diretamente a personalidades dentro do partido que estavam esperando uma oportunidade faz muito tempo para se candidatar como presidente e deputado principalmente.

Com o posicionamento de uma nova coalizão dominante, em 2004-2005, o arismo acaba com o experimento da coalizão anterior e volta para as condições originais na seleção de candidatos: especificamente o tradicional método de eleição com voto nominal de maioria absoluta na Assembleia Nacional para ratificar as candidaturas para deputado. Também mudou o relativo com os requisitos; para aspirar uma candidatura, seja de órgãos internos ou para cargos eletivos, se precisariam dois anos de adesão contínua no partido (Resolução 032-04 e Resolução 254-05, Estatuto PLN). Esta característica dos requisitos destaca que não se presta muita atenção às diferenças entre cargos populares e cargos internos.

2.1.2 A centralização do poder na Assembleia Plenária ou Órgão Consultivo Nacional

Existe um fortalecimento da "presença" ou influência do candidato presidencial na definição e conformação da Assembleia Plenária ou Órgão Consultivo Nacional. A primeira mudança41 em favor do candidato se apresentou em 2001, quando se modificou a conformação deste órgão, adicionando seis delegados diretamente propostos pelo candidato presidencial (Resolução 210-01). Também, igualmente como aconteceu com a Assembleia Nacional, as delegadas supranumerárias, em 2009, integraram a Assembleia Plenária. Isto significou o aumento da quantidade de votos a favor dos interesses do candidato presidencial na AP/OCN.

      

41 Em 1999 aumentaram de 5 para 10 os representantes dos setores para a Assembleia Plenária. Estes setores são do

Assim como o caso da Assembleia Nacional, a importância que recebe a AP/OCN deve ser relacionada às novas funções desenvolvidas no período arista. A primeira foi em 2005, quando a AP/OCN desempenha a nova responsabilidade de nomear onze membros para o Diretório Político (o órgão superior de ação política). A segunda função identificada como vital na estratégia da coalizão dominante foi em 2008, quando também recebe a responsabilidade de definir os membros do Tribunal de Eleições Internas (TEI). Segundo estas modificações, a coalizão dominante buscou controlar quem ficaria nestes órgãos; fortalecendo sua incidência na AP/OCN conseguiriam ter controle das candidaturas e da seleção.

Sobre a primeira função, uma análise mais detalhada ressalta que é necessário ver a relação dos três Tribunais que integram o PLN: O TEI, anteriormente mencionado, e também o Tribunal de Alzada

(TA) (basicamente encarregado de resolver apelações) e o Tribunal de Ética e Disciplina. Sobre a

eleição dos membros dos Tribunais de Alzada (TA), Eleições Internas (TEI) e Ética e Disciplina, se observa que em 2000 existiu um grande interesse de regular esses três órgãos. Portanto, os requisitos foram depurados (ver artigo 14) e se ampliou o número de suplentes (Resolução 045-99). No entanto, o foco das mudanças em 2008 (período arista) se centrou na responsabilidade de quem escolheria os integrantes de cada um dos Tribunais. No caso do TA e do TEI, deixa de ser a Assembleia Plenária, e recebe esse encargo o Diretório Político. No caso do TEI, o órgão encarregado seria ainda a Assembleia Plenária.

A segunda função esta relacionada com o órgão mais importante da ação política: o Diretório Político. Neste órgão se estabelecem as transferências ou trocas horizontais entre os diferentes grupos de poder (sejam facções ou tendências). Sendo assim, destaca-se que a grande variação na prática foi a designação dos membros do TA e do Tribunal de Ética, função assumida em 2008.

No entanto, esta investigação destaca que o fato deste órgão ter mudanças mínimas responde à importância de mantê-lo como um espaço de negociação, e principalmente de hierarquia na prática real do poder dentro do partido. Tanto assim, que as mudanças ocorridas no período de estudo respondem à possibilidade de inclusive manter uma conformação -número de membros- estável. Um exemplo desta situação foi a reforma de 1997, que permitiu que os ex-candidatos presidências pudessem ter um representante no Diretório, em caso de ausência (Resolução 033-97).

Como se mencionou anteriormente, o Diretório reúne as diferentes forças dentro do partido. Essencialmente, facções e tendências disputam entre elas o controle das parcelas de poder; segundo as

conjunturas políticas alguns grupos vão ter melhores resultados que outros nas negociações. O Diretório é o espaço em que se testam e demostram as capacidades dos líderes, os recursos de poder, as expectativas de luta intrapartidária e se identificam as possibilidades dos grupos que disputam domínio sobre os outros. No entanto, existe outro processo paralelo que ocorre dentro do Diretório, principalmente com a presença dos deputados42.

Antes é necessário mencionar que o deputado é, na sua essência política, uma mistura de compromissos, tanto internos (com delegados, com a hierarquia e apoios variados dentro do partido político) como externos (dirigentes locais, grupos organizados da província, influência regional, etc.). O sucesso do deputado será conservar essa influência na sua rede interna e externa, distribuindo seus incentivos seletivos e coletivos de maneira que se reconheça seu trabalho individual como deputado do partido. Em outras palavras, ele deve demonstrar o valor da sua presença presente e futura, como conexão ideal para sua região e o Congresso. No entanto, esse equilíbrio é delicado, e podem existir momentos e situações que comprometam negativamente ou insatisfatoriamente alguns dos extremos. Assim, certa tomada de decisões pode ser benéfica na rede interna do partido, porém fora dele pode prejudicar sua área de influência regional (ou vice-versa).

Nesse sentido, quando acontecem esses tipos de contradições, o deputado deve estudar o ambiente e pensar na sua posição de vulnerabilidade, mas também nas oportunidades que representa seu cargo. O deputado sabe que o partido (fator endógeno) é a plataforma política, ideológica e organizativa que se converte no mecanismo ideal para chegar ao cargo de deputado. Mas, também sabe que sua área regional de influência (fator exógeno) é pretendida por outros membros do próprio partido (porém, de outras facções ou tendências), e isso faz com que deva assegurar ambos os fatores. Se ele concentra todos seus esforços em assegurar com incentivos seletivos sua rede local, o partido pode questionar sua posição num futuro e ser substituído; se, ao contrário, concentra seus esforços em se posicionar dentro do partido, sua rede local pode ser colonizada por outro membro do partido e ficaria fraca sua posição local.

Em situação de complexidade ambiental, é mais difícil para o partido político controlar os fatores endógenos e exógenos. Nesse sentido, a posição estratégica do deputado na conformação do Diretório Político possibilita o processo paralelo aqui mencionado anteriormente: dependendo da       

42 A conformação atual do Diretório Político é: O Comitê Executivo Nacional e seus suplentes; os ex candidatos

presidências ou seus representantes; um representante de cada um dos quatro movimentos –Juventude, Mulheres, Cooperativo e Trabalhadores-; o chefe da fração parlamentar e outro deputado eleito pela fração; e por último onze dirigentes nomeados pela AP; dos quais 4 vão ser nacionais e dos outros sete, um por cada província.

conjuntura, a volatilidade destes grupos (descritos no capitulo III) faz que os deputados controlem o Diretório Político para seus interesses individuais (fortalecimento das redes locais) ignorando sua “simpatia” política interna. Em outras palavras, a luta de facções e tendências no Diretório Político se focaliza no debate das parcelas de poder que deve controlar a fração parlamentar.

Assim, a luta entre facções e tendências sofre o processo paralelo de confrontar os dirigentes internos contra o grupo parlamentar. Na conformação da coalizão dominante, é fundamental identificar se existe dominação ou subordinação entre os diferentes setores da organização. A configuração das relações entre os dirigentes do partido e o grupo parlamentar mostra um típico comportamento de um partido com institucionalização forte: o predomínio dos dirigentes internos ou o predomínio dos parlamentares, dependendo da conjuntura política (PANEBIANCO, 2005).

Como explica Panebianco (2005), a estabilidade organizativa é uma tarefa exclusiva da coalizão dominante e, no caso do PLN, no período arista, a influência do candidato presidencial na Assembleia Plenária contribuía positivamente na direção do Diretório Político. Assim, a estabilidade organizativa dependerá das características dos equilíbrios de poder internos (a conformação da coalizão dominante) e das relações da organização com os seus ambientes externos.