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CAPÍTULO IV – A prevenção e combate contra a radicalização:

IV. 2. O Reino Unido

2.1 A segurança nacional britânica

Os fundamentos da segurança nacional do Reino Unido estão estipulados na “Estratégia de Segurança Nacional e Revisão da Estratégia de Defesa e Segurança” (SDSR, em inglês). Revista a cada cinco anos, a estratégia delimita as prioridades fundamentais, as capacidades e os recursos necessários. O principal foco da estratégia é fomentar “um Reino Unido próspero e seguro que tenha uma influência e alcance global” (SDSR, 2015: 9). A estratégia delimita três objetivos de segurança nacional:

(1) Proteger a população – Corresponde à proteção da população no território nacional e no exterior e à proteção relativa às infraestruturas, ao modo de vida e à segurança económica. Entre outros propósitos, a prossecução deste objetivo implica dar prioridade ao combate contra o terrorismo, a radicalização e o extremismo quer dentro das fronteiras nacionais ou fora.

(2) Projetar a influência global – Visa reduzir a probabilidade das ameaças que podem afetar o Reino Unido, os seus interesses e os dos seus aliados e parceiros. Este objetivo implica a promoção de estabilidade no exterior, direcionando a sua atenção para as regiões e estados falhados. Implica ainda, entre outros, o fortalecimento das regras da ordem internacional (criação de instituições multilaterais) e o reforço dos laços entre as alianças firmadas.

(3) Promover a prosperidade do país – Corresponde ao aproveitamento de várias oportunidades, ao trabalhar de forma inovadora e ao apoio à indústria britânica. Este objetivo implica a maximização de oportunidades para os setores da defesa, segurança ou diplomacia bem como a aposta no trabalho com setor privado.

Em termos de riscos e principais ameaças à segurança nacional, o terrorismo é apresentado como a principal ameaça, especialmente o de matriz islamista. A estratégia releva quatro grandes desafios “[which] are likely to drive UK security priorities for the coming decade”: (1) o aumento da ameaça do terrorismo, extremismo e instabilidade; (2) a ressurgência das ameaças estatais e a intensificação da competição entre estados – O governo britânico destaca o comportamento da Rússia no meio internacional e a instabilidade no Médio Orienta, Norte de África e no Sul e Sudeste da Ásia; (3) o impacto da tecnologia, especialmente da ameaça dos ciberataques, e de outros desenvolvimentos relativos ao progresso da engenharia genética, biotecnológica ou à robótica; e (4) a erosão das regras internacionais que tem dificultado a criação de consensos” – Neste quarto desafio, o governo britânico destaca a evolução das economias da China, India ou Brasil que podem concorrer “contra” o dinamismo económico da Europa, EUA ou Japão (SDSR, 2015: 15). O governo identifica ainda outros riscos (continuing risks) como as emergências civis, as catástrofes naturais, a segurança energética, a economia global ou e as alterações climáticas e escassez de recursos.

Quanto ao primeiro desafio, meritório de destaque pelos nossos propósitos, o governo britânico sublinha que “a ameaça dos grupos terroristas islamitas sobre o Reino Unido, incluindo cidadãos britânicos e seus interesses no exterior, tem aumentado”. (SDSR, 2015: 15). Segundo a estratégia, esses grupos estão ativos no Médio Oriente, em África e no

Sul da Ásia cujos membros, por via do recrutamento, têm alcançado o espaço europeu. O ISIS, em particular, é o grupo em destaque pois apesar de operar sobretudo nos territórios da Síria e do Iraque, tem conseguido recrutar com sucesso diversos “foreign fighters” em vários países europeus, sobretudo através da exploração intensiva dos meios digitais como as redes sociais. A estratégia revela que desde o início do conflito na Síria 800 cidadãos britânicos - em 2015 - já viajaram para o país, sendo muitos desconhecidos pelos serviços de segurança. Dos conhecidos, aproximadamente metade terá regressado ao Reino Unido, pelo que todos estes indivíduos constituem uma ameaça à segurança nacional. A estratégia enfatiza também que a ameaça é alimentada pelas ideologias extremistas as quais são disseminadas no mundo virtual com recurso a meios de encriptação, o que dificulta o trabalho das autoridades competentes (SDSR, 2015: 16). Neste primeiro desafio, o governo demonstra também preocupação com a migração, o crime organizado e a segurança sanitária.

O National Security Risk Assessment de 2015 (NSRA), um documento com periodicidade anual que avalia os riscos e as vulnerabilidades do Reino Unido, organiza os principais riscos domésticos e externos do país em três categorias, tiers one, two and three. Para os próximos 5 anos, o NSRA confirma a prioridade daquele primeiro desafio sendo o terrorismo o primeiro da lista na categoria tier one: “[it] will remain the most direct and immediate threat to our domestic security and overseas interests. ISIL [ISIS], al-Qaida and affiliates remain committed to attacking UK and Western targets” (SDSR, 2015: 87).

Em termos de instrumentos para implementar a SDSR, o Reino Unido segue uma abordagem holística, “whole-of-goverment”, fazendo recordar as orientações das Nações Unidas, a qual implica a colaboração de todas a estruturas governamentais. A fim de assegurar o cumprimento dos objetivos de segurança nacional, o Reino Unido dispõe-se a criar um conjunto de unidades, “cross-government teams” das quais destacamos a Euro- Atlantic Security Policy Unit9 e a criação de uma unidade para a International Counter- Terrorism Strategy (SDRS, 2015: 83). Todas estas orientações politico-securitárias estão subordinadas aos valores de um Estado de Direito no intuito de fomentar uma sociedade próspera e segura (SDSR, 2015: 10).

É ainda de referir que em termos de instituições privilegiadas para a prossecução destes objetivos o Reino Unido parece atribuir especial relevância às instâncias

9 “(…) which will bring together diplomatic and defence expertise to develop and implement UK policy for NATO and for EU Common Security and Defence Policy; provide strategic direction to our Brussels delegations; and provide national representation to NATO and relevant EU committees”.

multilaterais, nomeadamente ao enquadramento das Nações Unidas. “Vamos trabalhar com os nossos aliados e parceiros no intuito de fortalecer e adaptar as instituições e regras existentes para que se mantenham representativas e eficazes. (...) As Nações Unidas são tão eficazes quanto for o esforço dos seus membros para o efeito” (SDSR, 2015: 60). Neste sentido, o governo britânico compromete-se com a ONU através do financiamento e de uma diplomacia empenhada em cumprir com os Objetivos Globais para o desenvolvimento sustentável, com o Plano de Ação para a Prevenção do Extremismo Violento, ou ainda com o fortalecimento do papel da ONU na área do peacekeeping, a qual considera um dos seus papéis mais importantes. Para tal, o país disponibiliza o dobro de militares para as operações e, entre outros propósitos, intende criar uma UN Peacekeeping Policy Unit a fim maximizar o seu impacto militar e civil.