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CAPÍTULO 3: A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL,

4.1 A SETEC e a formação de professores na RFEPCT

Iniciaremos essa seção discutindo um pouco de nossa entrevista com o gestor representante da SETEC/MEC, o qual temos denominado como “Entrevistado 1” ao longo do trabalho. Dessa forma, saberemos identificar a sintonia entre o MEC e as políticas de formação de professores para os Institutos Federais. Nesse sentido, questionamos a SETEC o porquê de se investir em cursos de licenciaturas na rede federal.

Primeiro, a EPT até o governo Lula estava completamente colocada em escanteio. Porque o decreto nº 2.208/1997, com a separação do ensino médio e o ensino técnico, diz que a educação profissional não era educação. Tinha uma educação básica e uma educação profissional. Então, quando o governo Lula anuncia que a EPT é importante, com a revogação do decreto nº 2.208/1997 e do decreto que proibia a expansão das escolas técnicas, surge a necessidade de formar os professores, porque há agora uma oferta muito maior de matrículas. Teremos 500 mil matrículas na RFECT até 2014. Com a ideia da verticalização, com a formação dos trabalhadores, trabalhar na formação inicial e também na pós-graduação, quem é esse professor de EPT que vai dar conta? (Entrevistado 1)

Atentando para o objetivo macro dessa ideia da verticalização, compreendemos a iniciativa do governo em inserir a formação de professores nas escolas pertencentes à RFECT. No entanto, consideramos que deslocar a formação docente das universidades para os

institutos, que ainda se encontram em fase de (de)formação de uma identidade, onde não há uma trajetória histórica de acúmulos de experiências em cursos de licenciaturas, bem como inexiste o compromisso firmado e garantido no tripé ensino, pesquisa e extensão, possa comprometer a formação integrada desse profissional. Integrada no sentido de associar os diferentes campos da educação, necessários e inerentes à da formação docente, e o campo científico no que se refere à especialização de saberes científico-tecnológicos. Assim sendo, na preocupação de fortalecer entendimentos referentes à formação de professores adequados para ministrar disciplinas e conteúdos acadêmicos, científicos, tecnológicos e profissionalizantes, nas licenciaturas dos institutos, indagamos a esse entrevistado, se a RFEPCT contava em seu quadro docente de profissionais preparados para esse novo desafio.

Não. Já na especialização PROEJA houve todo um movimento para contratar professores de fora. Os institutos fizeram isso. Eu acho que vai ser um processo pra gente conseguir formar os formadores. Nesse momento, podemos abrir para outros professores, de outras instituições. Nós fizermos uma pesquisa e as áreas de ciências humanas estão em segundo lugar em pesquisas de educação nos institutos. Existe na rede mestres e doutores em educação (Entrevistado 1).

O entrevistado completa sua fala com a seguinte frase: “estamos elaborando as diretrizes da formação de professores da EPT. Embora a EPT não seja nova, vem desde as irmandades negras, movimento anarquista. O que é a EPT? É ensinar um ofício”. Observamos uma perspectiva de que as diretrizes ao serem promulgadas pelo MEC possam de alguma forma corroborar com uma formação de professores mais orgânica. Sob esse aspecto, consideramos que não basta que se “treine” uma equipe de “instrutores” em cursos de percursos aligeirados, reducionistas, fragmentados e descontínuos, pois a educação exige muito mais que instrutores e, portanto, a formação de professores é muito mais ampla e complexa do que apresenta esses programas efêmeros. Mesmo quando analisamos as propostas formativas da SETEC/MEC focadas em cursos aligeirados para a capacitação em massa de força de trabalho para o atendimento ao mercado, entendemos que o professor que irá possibilitar a formação dessa massa, necessita mais que os conhecimentos meramente técnicos.

À época desta pesquisa, o secretário de educação profissional e tecnológica, Sr. Eliezer Pacheco, afirmou que a “formação de professores para a EPT dar-se-á em caráter inicial e continuado. Nesse sentido, torna-se essencial a oferta de Licenciaturas para EPT e de cursos em nível de pós-graduação lato e stricto sensu” (PACHECO, 2008, p.6-7) Porém, ao regulamentarem a oferta das licenciaturas na RFEPCT, enfatizam as áreas de ciências e

matemática. “Ofertar cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vista à formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas

de ciências e matemática, de acordo com as demandas de âmbito local e regional” (DECRETO Nº 6.095/2007, grifos nossos).

No entendimento do Entrevistado 1, gestor representante do MEC/SETEC, há que se ter um certo zelo ao falarmos da necessidade de se ter licenciatura ou formação pedagógica para a docência na EPT. Em suas palavras:

Acho que a gente tem de cuidar com esse discurso porque temos no MEC hoje, pessoas competentes que são, por exemplo, engenheiro elétrico, como é o caso do Diretor de Desenvolvimento da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Temos pessoas que foram “picadas” pelo magistério na rede profissional. Acho que tem uma resistência das pessoas em aceitar outros profissionais não formados professores, porque nosso pedagogez é um pedagogez complicado. Usam-se termos característicos nas reuniões e se as pessoas não têm uma formação, mostra-se resistência e existe uma incompreensão de que ensinar é difícil (Entrevistado 1).

Pressupomos que a competência a que se refere esse entrevistado seja no domínio dos conhecimentos científicos. No entanto, para ser professor não basta apenas ser especialista de um saber científico. Segundo Nóvoa (1995) “não basta deter o conhecimento para o saber transmitir a alguém, é preciso compreender o conhecimento, ser capaz de reorganizá-lo e de transpô-lo em situação didática na sala de aula”. Partindo desse entendimento, acreditamos ainda que é imprescindível que a formação do professor seja inicial e continuada, para que ele possa refletir sobre sua própria prática. Interagindo com Tardif (2002, p. 39), apreendemos que o professor deve dominar os “conhecimentos científicos que irá ensinar nas escolas, mas, deve também, ser conhecedor de outros conhecimentos relativos à ciência da educação e à pedagogia”. Para tanto, não basta ser um engenheiro. Porém, considerando o diálogo com o Entrevistado 1, percebemos que o governo não vê problema de que um engenheiro, um médico, um farmacêutico, ou qualquer outro profissional possa exercer a profissão docente. Entendimentos como esses podem corroborar com a longevidade e manutenção de programas de formação docente e dificultar a materialização de políticas públicas educacionais para a formação de professores para a EPT.

No decorrer do diálogo com o Entrevistado 1, questionamos a sua percepção sobre a consolidação da temática EPT nos currículos das licenciaturas brasileiras. Obtivemos a seguinte afirmação: “as nossas licenciaturas (...), não formam para a educação profissional”.

Nesse sentido, questionamos: quem forma para a educação profissional? Onde se forma para a educação profissional?

Estamos propondo licenciaturas a distância. Conseguir por adesão de fazer um PPP único de licenciatura à distância e fazer um laboratório. Com momentos presenciais e projetos de intervenção. Enquanto isso não temos as diretrizes da formação de professores para a EPT aprovada porque não houve consenso da câmara educação básica com a educação superior. O risco deste texto é que tudo pode. Volta o esquema I e II (Entrevistado1).

É neste terreno frágil, onde a profissão docente ocupa um baixo status, que os Institutos assumem a responsabilidade de formar os professores para a EPT. Dessa forma passaremos a refletir sobre a configuração dessa formação nos institutos.

4.2 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores na Educação