• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3: A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL,

4.3 As licenciaturas nos Institutos de Educação Profissional, Científica e Tecnológica

4.3.3 As licenciaturas no IFET3

O IFET3 determina como meta a:

(...) realização de pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade, apoiando os processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional, visando à promoção de produtos inovadores, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias sociais, notadamente as voltadas à preservação do meio ambiente. (IFET3, grifos nossos).

Assim como os demais institutos, percebemos que o IFET3 se propõe a desenvolver os processos educativos de forma associada aos modos de produção, numa perspectiva de atendimento às demandas locais e regionais para supressão das necessidades originadas dos sistemas produtivos. A categoria trabalho se confunde com o “emprego”. É uma forma inteligente do capital de, ao confundir essa relação trabalho e emprego, o fazer sob a ameaça de se extinguirem os postos de trabalho. Assim se estabelece um reducionismo da categoria trabalho. Percebemos uma tendência de se colocarem essas categorias numa relação linear,

em que têm a mesma representação social ou significação. Buscando superar esse entendimento, encontramos nos estudos de Langer (2004) aportes para uma melhor compreensão dessa relação.

(...) é a forma particular de trabalho chamado emprego que foi projetado para o centro da sociedade industrial. Esta forma particular e historicamente curta de trabalho é a mais difundida e valorizada. Não por nada que a escassez de empregos provoca tanto frenesi em todos os setores da sociedade, especialmente no meio político. É porque seu desaparecimento coloca em xeque a estrutura inteira da nossa sociedade. Tirar o emprego é o mesmo que abrir um abismo intransponível diante de nós. A crise de empregos que todas as sociedades ocidentais hoje experimentam, em menor ou maior grau, aponta para a sua centralidade nestas sociedades, mas, historicamente, também denuncia, a nosso ver, um “reducionismo” da noção e da natureza daquilo que denominamos trabalho (LANGER,2004, p.70).

Compreendemos que o conceito trabalho é elemento constitutivo disciplinar da formação de professores e de alunos da EPT. No entanto, observamos que trazer este conceito na ênfase dessa formação consiste em (des)ocultar a polissemia quanto ao entendimento da concepção e categorização do trabalho na para a educação profissional.

Sobre os cursos de licenciaturas, são ofertados quatro, a saber: educação física, letras (espanhol), ciências biológicas e matemática, esta na modalidade EaD. Apesar de a licenciatura em ciências biológicas ser presencial, o projeto do curso ressalta que:

no desenvolvimento dos componentes curriculares que compõem a Matriz Curricular do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, poderão ser utilizadas atividades semipresenciais, de acordo com a Portaria No 4.059/2004. Conforme o Art. 1O, § 2o da referida Portaria, poderão ser ofertadas disciplinas (componentes curriculares) de forma integral ou parcialmente, desde que esta oferta não ultrapasse 20 % (vinte por cento) da carga horária total do Curso (PROJETO DE CURSO IFET3).

A regulamentação legal possibilita o conforto da escola de que, caso não consiga manter o curso na modalidade presencial, possa recorrer à forma EaD. Em relação ao objetivo das licenciaturas, observamos que esse, além de proporcionar ao formando a possibilidade de “atuar como professor de Ciências no Ensino da Educação Básica (fundamental e médio), prevê a atuação nos cursos técnicos de nível médio”. Nesse sentido, a incorporação da atuação profissional na EPTNM é um avanço em relação aos demais IFETs que omitem a habilitação para a educação profissional. Contudo, ao analisarmos a matriz curricular dessas licenciaturas, percebemos que não há nenhuma evidencia da preparação do professor para a sua docência na EPT. Isso porque nas matrizes não consta nenhuma disciplina inerente à formação de

professores para a EPT, como por exemplo, fundamentos da EPT; história da EPT, educação e trabalho; etc.. No que se refere à proposta curricular para a formação pedagógica, essa instituição se limita a inserir disciplinas que tratam das “Teorias, Métodos e Técnicas de Ensino, Aprendizagem e Avaliação”. Na licenciatura em matemática, há a inserção da temática educação inclusiva e EJA, contudo não há referências obre a EPT. No nosso entendimento, essas questões são de suma importância, no entanto, não possibilitam extrapolar a perspectiva técnica e problematizar as questões contemporâneas e históricas que envolvem a relação entre educação, trabalho e capital.

Interessante observar que em alguns institutos encontra-se uma matriz curricular “adequada” à formação dos professores para a EPT, porém, ao informar o campo de atuação desse docente, omitem ou não enfatizam a possibilidade de atuação na EPT. Em outros, identificamos a ênfase de atuação na educação profissional, no entanto, quando se observa o programa de formação desse docente, a matriz curricular e o projeto do curso, não se tem a ênfase nas disciplinas necessárias ao atendimento das especificidades dessa formação. Essas observações nos permitem pressupor que falta um acompanhamento sistemático da SETEC/MEC no sentido de colaborar com os IFETs na construção da identidade das licenciaturas para que elas possam, de fato, formar professores para a educação básica, com ênfase no ensino médio e na EPT. E, ainda, consideramos que, apesar de anunciarem a criação das políticas de formação desse professor, elas ainda não se evidenciaram e não se materializaram. Sobre a titulação acadêmica dos docentes no IFET3, temos a seguinte situação:

Verificamos que no IFET3, assim como no IFET2, um percentual de docentes com doutorado muito insignificante. Em ambos, a maioria dos docentes é especialista ou mestre, sendo que no IFET3 ainda se encontram docentes com apenas o ensino técnico de nível médio. Todavia, ao nos remetermos ao PDI desse instituto, no que se refere à delimitação dos objetivos e metas institucionais, constatamos que há indícios de previsão para aprimoramento desse quadro. No entanto, não entendemos que exista a intenção de implantar cursos de pós- graduação stricto sensu. Esse entendimento se justifica por uma das diretrizes elaboradas para a pós-graduação, qual seja: “Articular e apoiar o relacionamento com agências de fomento, de forma a garantir o pleno desenvolvimento das atividades de pesquisa para projetos de iniciação cientifica, especializações, mestrados, doutorados e pós-doutorados”. Os termos “articular” e “apoiar” não implicam necessariamente realizar esses cursos. O desenvolvimento das atividades de pesquisa pode ocorrer por meio de projetos de parcerias. Destacamos, ainda, o seguinte objetivo e meta, conforme recorte do PDI e apresentação da Figura 12:

Figura 12 - PrtScn da tela do PDI do IFET3 sobre os Objetivos Específicos e as Metas Institucionais

Diante dessas metas, pressupomos que a intenção, a priori dessa instituição, se faz sobre a oferta da EPT, EJA, Graduação e pós-graduação lato sensu. Isso posto, acreditamos que a médio e longo prazo e com fomento do governo, a qualificação docente desses professores possa ser ampliada e aprimorada, o que possibilitará maiores investimentos em atividades de pesquisa. Contudo, ressaltamos que o governo, apesar de conhecer a infraestrutura física e humana das escolas pertencentes à RFEPCT, sobretudo das antigas EAFs, incentiva e exige que esses IFETs se responsabilizem pela formação de professores.