• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3: A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL,

4.3 As licenciaturas nos Institutos de Educação Profissional, Científica e Tecnológica

4.3.1 As licenciaturas no IFET1

No que se refere ao quadro docente, o IFET1 possui 59 professores, sendo 40 efetivos e 19 substitutos. Segundo informação do PDI, mais de 90% desses docentes possuem cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado), entretanto, não se informa a porcentagem dos níveis separadamente. Os cursos de licenciatura ofertados são: matemática, ciências agrárias, ciências da natureza com ênfase na biologia e química, pedagogia e física. Quanto aos objetivos de atuação dos egressos dessas licenciaturas, exceto a pedagogia, temos o seguinte:

(...) atuar no Ensino Médio; atuar no ensino fundamental e médio; atuar em Escolas públicas e privadas que ofereçam Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos e; atuar em diferentes segmentos (escolas de ensino rural, Prefeituras, ONGs, cooperativas, associações e/ou entidades rurais etc)(PPP, IFET1).

Fica latente o não direcionamento quanto a questão de formar professores destinados à educação profissional. Ou seja, não se constata um zelo em evidenciar essa formação, nem nos currículos, nem nos objetivos do curso. O que nos possibilita apreender que a formação de professores para a educação profissional torna-se face oculta. É fato que a ênfase na habilitação desse professor é o ensino fundamental e médio. Pelas leituras dos documentos, PDI e PPI, não parece existir a intenção ou propósito de se formar para a educação profissional e tecnológica. Além do ensino fundamental e médio, constatamos a referência à possibilidade de atuação na EJA, mas não o fazem nem de forma explícita ou implícita, em relação à EPT. Observamos a partir dos documentos consultados, que a formação docente definida por estes institutos investigados comungam com os discursos originados do governo, a proeminência é formar professores para as disciplinas do ensino médio, sobretudo para a física, a química, a biologia e a matemática.

No que se refere ao curso de pedagogia, temos uma indicação de que a educação profissional possa ser contemplada. A Figura 10 é um recorte da matriz curricular desse curso.

Figura 10 - Recorte da matriz curricular do curso de pedagogia do IFET1

Apesar de não se enfatizar diretamente a educação profissional, a temática “educação e trabalho” nos possibilita pressupor a transversabilidade com questões inerentes a EPT e possam ser abordadas por essa via. Nesse sentido, buscamos na ementa da disciplina confirmar nossos pressupostos. Assim, percebemos que os conteúdos disciplinares são constituídos pelas seguintes temáticas:

os fundamentos ontológicos e históricos da relação trabalho e educação. Partem da concepção do trabalho como princípio educativo. Propõem-se a analisar a Educação dentro do contexto da sociedade capitalista, o que pressupõe a problematização da relação da educação com o mercado e a sua influência na formação do indivíduo. Requer, também, analisar a relação entre o sistema produtivo, o sistema de profissionalização e os sistemas de formação do trabalhador (PROJETO DE CURSO, IFET1).

Frente a essas temáticas, acreditamos que a formação desse professor possa evidenciar essências com as especificidades da EPT e que, portanto, a educação profissional possa tangenciar essas discussões à medida que se propõem como uma discussão o sistema produtivo e a formação do trabalhador. Contudo, ressaltamos a falta de clareza na destinação de se formar o professor para a EPT. Reafirmamos que não se trata de defendermos uma educação fragmentada, mas, sim, de reconhecer que a EPT tem suas especificidades que merecem ser analisados e problematizados com os futuros professores, formadores de trabalhadores que irão atuar nos mundos dos trabalhos, nesta sociedade capitalista. Portanto, vivenciarão as contradições do capital e necessitarão ter uma formação crítica que os possibilite intervir e problematizar os sistemas produtivos. Nesse sentido, entendemos que a formação de professores, apenas para o ensino médio, onde não há a abordagem sobre as

complexidades que envolvem a educação profissional e tecnológica, pode comprometer a atuação crítica do docente na EPT.

Percebemos que, além dessas licenciaturas e do curso de pedagogia, esse instituto oferece “cursos de formação de professores”. A princípio, não entendemos os motivos que levaram o IFET1 a distinguir os cursos de licenciaturas dos cursos de formação de professores. Afinal as licenciaturas formam professores, o que presume uma dualidade quanto aos processos formativos deste profissional. Trazer a terminologia curso presume formação integral, na medida em que se tem todo um arranjo disciplinar que poderá dialogar com a educação como ciência. Licenciatura traz efeito de sentido de se considerar metodologias de ensino, discussões sobre didática e alguns conteúdos que possam caracterizar o trabalho da docência sob o manejo da função de ensinar. No entanto, apesar de não explicitada no projeto, a distinção se refere ao fato de a licenciatura, portanto, reduz-se a programas de formação pedagógica. No projeto político institucional, encontramos que a finalidades desses cursos, ora denominado licenciatura, ora programas, ora cursos de formação de professores, é:

a capacitação para a docência dentro da Educação Profissional, tanto para quem já atua como docente, mas não é licenciado, como para quem tem um curso superior de bacharelado e pretende se capacitar para ingressar na docência. Portanto a Licenciatura em Educação Profissional, ofertada em vários campi do IFET1, contribui para a qualificação docente, sendo esse um dos desafios da educação brasileira. Em casos excepcionais, quando não for possível a oferta da licenciatura em Educação Profissional, poderão ser ofertados cursos especiais de formação pedagógica. Entretanto, o IFET1 entende que a licenciatura é o espaço mais adequado para uma formação de professores aptos a enfrentarem os desafios presentes na conjuntura atual (PPI, IFET1).

Na verdade essa instituição não oferece uma licenciatura em EPT e, sim, três cursos especiais de formação pedagógica. As quatro propostas do GT da SETEC, ainda não aprovadas pelo CNE, possibilitaram aos institutos um desenho curricular diferenciado do que está regulamentado pela resolução nº02/1997. Nesse sentido, o IFET1 oferece dois cursos de formação pedagógica organizados nos moldes dessa resolução, ambos de 540 horas, sendo uma denominada formação de professores para a educação profissional, licenciatura e outra formação de professores para os componentes curriculares da educação profissional. Observamos que o primeiro vem com a denominação de licenciatura. Contudo, trata-se de um programa. Atribuímos essa falta de clareza e de identidade na elaboração desses cursos ao governo, que não tem acompanhado e subsidiado essas instituições na construção desses projetos. E, ainda, reafirmamos o estranhamento desses IFETs, em sua maioria, com cursos de

educação superior, sobretudo cursos de formação de professores, licenciaturas ou programas de formação pedagógica, pelo fato desses processos expressarem novidades, bem como, enfrentamentos de desafios e frustrações pelos quais essas instituições no momento presente, não se mostram preparadas. O terceiro curso, denominado de licenciatura para a educação profissional e tecnológica, tem uma carga horária de 1.200 horas e está em harmonia com a proposta I do GT da SETEC, licenciatura para graduados. Segundo o IFET1:

a Licenciatura para a Educação Profissional e Tecnológica tem por objetivo proporcionar formação pedagógica na Educação Profissional a partir da problematização das trajetórias pessoais e profissionais, das teorias sobre as práticas educativas e das teorias sobre avaliação da aprendizagem, visando o desenvolvimento de propostas para intervenção no campo específico da Educação Profissional (IFET1, 2011).

Constatamos que a referência programas de formação pedagógica torna-se eixo das propostas, o que pode indicar certa familiaridade de oferta, bem como, zona de conforto, provisoriedade e imediatismo. No que tange à carga horária dos cursos de licenciaturas ofertados por essa instituição, observamos uma média de 3.200 horas, sendo esta, bem maior que a proposta de 1.200 horas para a licenciatura para a EPT.

Compete ressaltar que os programas especiais de formação pedagógica, sob a nomenclatura de “cursos de formação de professores”, são ofertados por essa instituição em 06 campi e que a apresentação e organização desses cursos não são homogêneas. No entanto, reconhecemos que todos proporcionam a discussão sobre a EPT, inclusive no que se refere à história da educação profissional; aos fundamentos da relação entre trabalho e educação; à produção de saberes no e sobre o trabalho; às políticas e legislação da EPT, dentre outros temas.

Em suma, esse IFET, ao oferecer as licenciaturas em matemática, ciências agrárias, ciências da natureza e física, não admite a possibilidade de atuação na EPT, no entanto, oferece curso de formação de professores para a docência na educação profissional. Desta forma, percebemos que há uma demarcação bem delimitada entre as fronteiras do ensino médio e do ensino técnico de nível médio. Portanto, entendemos que esta instituição não concebe a educação profissional como parte da educação básica. Neste sentido, reafirmamos nosso entendimento sobre a relevância de que todas as licenciaturas, independentemente da área cientifica – de formação geral ou de formação técnica - deveriam incorporar a formação de professores para a EPT, sobretudo os cursos ofertados pelos IFETs, que são instituições de educação profissional e tecnológica.