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CAPÍTULO 3: A EXPANSÃO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL,

4.3 As licenciaturas nos Institutos de Educação Profissional, Científica e Tecnológica

4.3.2 As licenciaturas no IFET2

No tocante às análises e reflexões sobre o IFET2, observamos uma particularidade que o diferencia dos demais institutos pesquisados. Esse atributo se refere à inclusão, nas matrizes curriculares, da temática “educação profissional” em todos os cursos de licenciatura de biologia, química, matemática e física. Entendemos essa proposta como uma estratégia favorável à formação de professores para a EPT, no sentido de proporcionar ao futuro professor dessa modalidade uma familiaridade com a educação profissional. Contudo, ressaltamos que essa é uma iniciativa da própria instituição e não uma política de formação de professores para a EPT. Na Figura 11 apresentamos a organização do núcleo pedagógico para os cursos de licenciaturas do IFET2.

Figura 11 - Núcleo pedagógico dos cursos de licenciatura em biologia, química, matemática e física

Fonte: Adaptado do PPP do IFET2

Essa figura é componente da matriz curricular dos cursos de licenciatura em biologia, química, matemática e física do IFET2. Tem o intuito de apresentar que algumas das temáticas inerentes à formação do trabalhador estão contempladas nesse desenho. É o caso da disciplina “educação, trabalho e sociedade”. No entanto, ao analisarmos a ementa dessa disciplina, constatamos que ela não enfoca a categoria trabalho. Sua ênfase está na

Sociologia como Ciência. Abordando a educação enquanto objeto da reflexão sociológica, analisando a contribuição das principais correntes teóricas. Propõe-se a analisar a relação entre a educação e a sociedade, bem como a produção das desigualdades sociais e a desigualdade de oportunidades educacionais (IFET2).

Nesse sentido, entendemos que essa disciplina poderia corroborar de forma mais efetiva com a formação de professores para a EPT na medida em que problematizasse as

contradições e complexidades postas nos mundos do trabalho. E, ainda, que fomentasse questionamentos e críticas ao debater as diferentes formas de se estabelecer conexões entre a educação, o trabalho e a sociedade, sobretudo a sociedade capitalista, que sobrevive de explorar a força de trabalho do trabalhador. Contudo, acreditamos que essas discussões possam aflorar naturalmente com a participação dos alunos nas salas de aulas, na interação entre professor e alunos.

No que se refere à disciplina “educação profissional”, segundo definido pela sua ementa, a discussão planejada se faz na perspectiva de se debater sobre o:

histórico da educação profissional e técnica no Brasil. Além de questionar as influências do Banco Mundial no governo brasileiro, a partir da década de 1990. Propõe-se a discutir as políticas educativas para os países em desenvolvimento, bem como refletir sobre questões referentes à equidade, progresso, desenvolvimento sustentável e pobreza. Temas como Educação e trabalho também foram pensados, assim como a proposta de discutir as políticas públicas para a educação profissional no Brasil considerando a lógica do neoliberalismo, que destina uma concepção mercadológica e instrumental a educação profissional. Por fim, a ementa da disciplina prevê a abordagem dos dilemas da reforma da educação profissional: mediações, adesões e resistências (PPP, IFET2).

Diante disso, consideramos que os temas apresentados pela ementa são essenciais e complexos porque requerem debater o cenário político, econômico e social do País, em diferentes épocas e governos. Todavia, isso nos possibilita acreditar que essa disciplina possa atender à especificidade da formação para docência na EPT na medida em que se propõem a desvelar as relações entre educação e trabalho, e, sobretudo, na perspectiva da conscientização da condição histórica de subordinação da EPT aos modos de produção, despertando uma educação que favoreça a desalienação, o que impactará na formação de um trabalhador crítico. No tocante ao quadro docente destinado a essas licenciaturas, o IFET2 conta com um total de 50 professores. Sobre a titulação docente, temos a situação descrita no Gráfico 25.

A imagem visualizada nesse gráfico retrata o cenário da titulação docente nas antigas escolas agrotécnicas, como é o caso do IFET2, anteriormente a sua transformação em instituto. Nas EAFs, os cursos superiores não faziam parte do quadro de oferta de cursos, o que significa reconhecer a falta de obrigatoriedade na qualificação de pós-graduação stricto sensu. Entretanto, sabemos que no governo Lula houve incentivo a essa qualificação e que, embora as agrotécnicas, em sua maioria, não ofertassem cursos superiores, havia outras motivações para a qualificação. Dentre elas, melhor remuneração. Merece destacar que a adesão de novos profissionais/professores, por meio de concursos públicos, aos IFETs, pode corroborar com o percentual relevante de mestres, nesta instituição, se considerarmos a trajetória formativa do projeto organizacional de escola, anterior ao modelo instituto.

No que se refere à oferta de cursos superiores pelas agrotécnicas, registramos que o parecer CNE/CEB nº 14/2004 se manifesta favorável à aprovação de cursos superiores de tecnologia, os tecnólogos, em onze escolas EAF, sendo oito no estado de Minas Gerais, uma em Alagoas, uma no Ceará e outra no Rio Grande do Sul. Nesse sentido, a EAF de Alagoas comunica à comunidade, por meio de uma nota veiculada em sua homepage, a qual apresentamos um recorte a seguir:

A Escola Agrotécnica Federal de Satuba/AL foi uma das 11 Escolas Agrotécnicas Federais do Brasil, dentre as 36 existentes, autorizadas a apresentar Projeto para a oferta de Ensino Superior. Esta autorização se deveu à qualificação dos professores e às condições de estrutura que a Escola dispõe para um Curso Superior. (...)O ato inicial desta autorização foi o Parecer do Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Básica, nº 14/2004, de 05/05/2004.70 (Grifos nossos).

Ainda sobre o parecer CNE/CEB nº 14/2004, observamos a indicação que: “As escolas técnicas e agrotécnicas federais não vinculadas a universidades, que ministrem cursos

superiores de tecnologia, devem, na forma da Portaria Ministerial 2.267/97, transformar-se em Centros de Educação Tecnológica” (PARECER CNE/CEB Nº 14/2004, p.03, grifos nossos). Destacamos, nos relatos da EAF e do parecer, dois pontos que consideramos relevantes para nossa pesquisa. O primeiro se refere ao fato de a EAF informar que a autorização para o funcionamento do curso superior de tecnologia naquela instituição está vinculada à qualificação do seu corpo docente. Nesse sentido, temos o pressuposto de que essas escolas atentavam para a relevância de se fomentar a qualificação dos professores por conceber que este é um fator preponderante ao crescimento da instituição. Sobressaltamos o

70 Notícia disponível em

http://www.eafs.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48&Itemid=43. Acessado em 10/07/2012.

segundo ponto para reafirmar o que apontamos no capítulo anterior, quando nos referimos ao fato de as EAF estarem, à época do processo de transformação em IFET, se mobilizando para a sua transformação em CEFET. E, conforme explicitado pelo parecer supracitado, as escolas que ofertavam cursos superiores de tecnologia poderiam se transformar em um centro federal de educação tecnológica. Nesse caso, as EAFs se movimentavam em busca desse direito, que foi abortado em função do projeto IFET.

Retomando o cenário da titulação docente do IFET2, consideramos que o processo de implantação dos institutos ainda está em procedimento de arranjos e rearranjos. Nesse sentido, entendemos que a participação desses docentes em programas de pós-graduação stricto sensu será requerida e fomentada. Sobretudo porque as políticas acadêmicas constantes no PDI dessa instituição, no que se refere à pós-graduação, determinam como objetivo “ministrar cursos de pós-graduação stricto sensu nível de mestrado e doutorado, que contribuam na promoção de bases sólidas em educação, ciência e tecnologia, com vistas no processo de geração e inovação tecnológica na qualificação de docentes e técnicos administrativos”. Nesse sentido, esse instituto poderá contar com um quadro docente melhor qualificado, no que se refere à formação acadêmico-profissional, para consolidar o processo de implantação dessas licenciaturas.