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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 A TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL

David Ausubel formou-se médico e especializou-se em psiquiatria. Dedicou sua carreira à área acadêmica, mais especificamente, à área da psicologia educacional. Em 1963, Ausubel escreve sua monografia intitulada The Psychology of Meaningful Verbal Learning14. Nessa obra, o autor procura explicar o processo de aprendizagem através de uma abordagem

13 Tradução livre da pesquisadora.

cognitivista. A monografia foi, na verdade, uma contra-argumentação à abordagem behaviorista, muito em voga na época, que defendia que o sujeito aprende por memorização. Para Ausubel (2003), esse tipo de aprendizagem é, na maioria das vezes, não significativa e de curto prazo de retenção. Defende, então, que aprender significa organizar e integrar material novo à estrutura cognitiva.

Ausubel revisa a obra de 1963 e, em 2000, uma nova edição é publicada com o título The acquisition and retention of knowledge: A cognitive view15.

Em seus estudos, Ausubel (2003) demonstra interesse e preocupação com a aprendizagem escolar mais especificamente, ou seja, com a que ocorre em contextos formais de ensino. Segundo argumenta o estudioso, o fator cognitivo de maior influência na aprendizagem de um indivíduo é aquilo que ele já sabe, pois isso serve de ponto de ancoragem para os novos conceitos ou para a nova informação.

Na teoria de Ausubel, um dos principais conceitos é o de aprendizagem significativa. Para ele (1963), aprendizagem significativa, originalmente chamada de aprendizagem verbal significativa, é o processo através do qual uma nova informação ancora-se, de maneira não arbitrária e substantiva, a conceitos ou as proposições relevantes da estrutura cognitiva do aluno. Assim, os conceitos ou as proposições que já existem na estrutura cognitiva dos indivíduos servem de subsunçores16, ou seja, de ponto de ancoragem para as novas informações ou novos conceitos. Nesse processo de ancoragem não arbitrária, os subsunçores iniciais são modificados e tornam-se mais elaborados.

Com relação a essa teoria, Ausubel (2003) faz uma distinção entre aprendizagem significativa e aprendizagem mecânica. Segundo esclarece, na aprendizagem mecânica, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária, literal e não substantiva, ou seja, ela não se relaciona a nenhum subsunçor relevante disponível na estrutura cognitiva do aprendiz; é distribuída ao acaso. Por isso, essa aprendizagem é geralmente de “duração, utilidade e significado transitório” (AUSUBEL, 2003, p. XII). No entanto, Ausubel encara a aprendizagem mecânica necessária, conforme argumenta Moreira (1999, p. 153),

[...] quando um indivíduo adquire informações em uma área de conhecimento completamente nova para ele, isto é, a aprendizagem mecânica ocorre até que alguns elementos de conhecimento, relevantes a novas informações na mesma área, existam na estrutura cognitiva e possam servir de subsunçores, ainda que pouco elaborados.

15

Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva.

16 A palavra “subsunçor” não existe no português, mas foi cunhada por Moreira (1999) numa tentativa de

Desse modo, a aprendizagem mecânica e a significativa não constituem uma dicotomia, mas extremos de um contínuo (MOREIRA, 1999).

Nas escolas, muitas vezes, o que ocorre é uma valorização do extremo próximo à aprendizagem mecânica. Nesses casos, as tarefas propostas aos alunos, bem como as questões de prova, exigem apenas uma simples reprodução ou memorização de conteúdo. Após as avaliações, o aluno tende a facilmente esquecer o conteúdo memorizado se não houve integração ou relação deste com elementos existentes em sua estrutura cognitiva.

Para Ausubel (2003), o conhecimento prévio é indispensável para que haja aprendizagem significativa, caso contrário a aprendizagem é apenas mecânica ou automática, que é tida como necessária quando não há conhecimento prévio ou subsunçores na estrutura cognitiva do indivíduo.

A fim de desencadear aprendizagens significativas, Ausubel (2003) sugere que sejam utilizados organizadores avançados, recursos pedagógicos que funcionam como uma ponte cognitiva entre o que o aluno já sabe e o que vai aprender. Esses organizadores auxiliam no desenvolvimento de subsunçores, os quais, por sua vez, promovem a assimilação ou a ancoragem de um novo conhecimento e, possivelmente, também sua retenção.

Podemos explicar o uso de organizadores avançados usando como exemplo um evento de sala de aula no qual os alunos são solicitados a ouvir um diálogo que aborda comportamentos inadequados no trânsito. O professor inicia a tarefa informando os alunos sobre tal contexto e solicita que antecipem ideias passíveis de serem mencionadas na conversa. Assim, conforme a necessidade, o professor ou mesmo os colegas mais experientes podem auxiliar na construção dessas ideias na língua estrangeira objeto de estudo (utilizando itens lexicais e estruturas sintáticas talvez desconhecidos do aprendiz e possibilitando, ainda, a familiarização do aluno com a pronúncia desses itens). Feito isso, o professor solicita aos alunos que ouçam a conversa a fim de identificar se as ideias apontadas pelos participantes do diálogo são semelhantes as que os alunos mencionaram e que outros comportamentos indesejáveis no trânsito são apresentados. Essa estratégia auxilia os alunos na compreensão do novo material, visto que as ideias antecipadas servem de âncora para o que lhes é novo.

A aprendizagem significativa, segundo Ausubel (2003), só ocorre quando o novo material de aprendizagem for potencialmente significativo, ou seja, quando esse material contenha algo novo e que esse novo tenha como esteio os subsunçores já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz.

Se relacionarmos o exposto ao discurso oral em língua estrangeira visto como material de aprendizagem, podemos dizer que, se esse discurso contiver novas ideias, novo

léxico e ou novas estruturas sintáticas, pode ser considerado material potencialmente significativo capaz de promover aprendizagens igualmente significativas. Este é o principal objetivo desta investigação, ou seja, o de verificar se o discurso oral do professor de língua inglesa pode ser considerado material de aprendizagem potencialmente significativo.